terça-feira, 11 de abril de 2006

Um artigo de Alexandre Cruz

A inutilidade
do sofrimento? 1. O sofrimento, enquanto experiência humana do limite em nós próprios, apresenta-se como uma realidade certa que, mais cedo ou mais tarde, bate à porta de todos. E é particularmente na experiência do sofrimento que, após levantadas todas as dúvidas e questões fundamentais, novas caminhadas de sentido de vida se fazem, novas janelas de entendimento sobre o “essencial” da vida se abrem, mostrando a esperança e a clarividência para um sempre melhor discernimento diante de tantos acessórios insignificantes. É por isso que nas sofridas fronteiras da vida, todos os ideais se renovam, (quase) todas as pazes se fazem, todas as esperanças e projectos se levantam. Mas, com sensibilidade, precisamos de apurar a nossa própria atenção porque ao falarmos do sofrimento humano (ele por si não existe) não falamos de teorias mas de pessoas concretas que sofrem; tal como ao falarmos de humanidade, teremos sempre de fazer o esforço de passar da abstracção à realidade concreta das pessoas que caminham, que procuram e encontram, pessoas essas que somos “nós”… É no superar das generalidades teóricas ao encontro de vidas muito pessoais que navegamos quando, especialmente, avançamos por estas águas de escrita, também num tempo pré-pascal em que caminhamos… 2. Vem esta reflexão a propósito de uma obra publicada e publicitada com destaque na revista Notícias Magazine (do JN de 2 Abril). Trata-se de uma visão, livro com o título “A Inutilidade do Sofrimento”, de uma psicóloga com 25 anos de experiência e que constata que não fomos educados para gerir os sofrimentos e perdas naturais da vida, e que insistimos em diante do mesmo acontecimento preferir ver as coisas de forma pessimista; optamos por ver o “copo meio vazio” em vez de o “copo meio cheio”. Despertou-nos o título, e uma primeira visão de perspectiva, uma sensação de confirmação em que estamos mesmo a querer afastar a experiência do sofrimento da própria experiência humana realista; preferimos as modas, as estéticas, as elegâncias, só uma face (a linda!) da moeda da vida. Ainda que abordando a obra oportunos horizontes de equilibro emocional, auto-estima, auto-conhecimento, superação e gestão das ansiedades, contudo, em última análise, considerando os sistemas éticos, normativos e religiosos como “imposições de culpabilidade” que não deixam a libertação do ser florescer…num levar às últimas consequências, ao limite, correr-se-ia o terrível perigo de não olhar a meios para atingir fins, perdendo a vida todo o sentido diante do sofrimento tão realista, um passo “eutanasiante”. Quererá esta visão a promoção de uma sociedade de perfeitos? Será a ideia de “esconder” ainda mais da vida pública as feridas das pessoas? Será esta afirmação da psicologia sobre a “inutilidade do sofrimento” sinal de que cada vez é mais difícil reconhecermos em nós próprios a limitação?... 3. O sofrimento está aí, todos os dias! Integrar positivamente, no mais possível, para melhor viver será o caminho… Não, como algumas perigosas teorias apontam, que seja um mal necessário para a purificação; não que o sofrimento tenha mesmo de acontecer para apurar sentidos de vida, arrependimento, de forma alguma. Esta visão perderia o sentido da plena liberdade humana em que cada momento de vida é apelo à própria felicidade… Mas que na experiência do sofrimento, quer pessoal quer de dedicação aos outros, é possível uma abertura a toda a esperança e, fruto de um sentido / integração positiva do sofrimento (que nunca é um fim em si mesmo) é possível dar felizes passos adiante, isso é bem verdade. A autora, psicóloga Maria Jesus Reyes, toca, em contrapartida, em alguns aspectos fundamentais da nossa vida em sociedade e das escolas da maturidade de vida, no que constroem em nós (ou não) deste espírito de aprendizagem em lidar com o menos positivo: “Fazemos cursos para ensinar os executivos a controlar a ansiedade e é o que mais agradecem, porque lhes ensinaram a negociar, algo a trabalhar em equipa, a liderar, mas não lhes ensinaram a ser felizes, a controlar as emoções negativas. E com o mesmo trabalho, a mesma família, os mesmos problemas, pode-se viver muito bem ou muito mal. Essa é a grande diferença.” Sem dúvida que uma vida bem trabalhada por dentro pode aliviar muito do peso sofrido dos medos, das ansiedades, das perdas, mesmo das dores. Mas também é certo que a arte de viver em que tudo tem sentidos de esperança (inclusive a leitura do sofrimento humano), será a via capaz de melhor reavivar a “inteligência emocional” para a reconstrução da grandeza do SER. O sentido pascal, da passagem esperançosa fruto de aperfeiçoamento da própria vida, desperta de forma mais feliz este estímulo positivo. Claro que teorias nada são comparadas com as cruas feridas e dores do corpo… mas nelas saber ler a serenidade, a esperança e a paz, é o melhor discurso silencioso que faz ver bem mais longe o quanto valemos e a que dignidade absoluta somos chamados!

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