Símbolos
A sociedade de consumo tem mau nome desde os anos 60. Nem sempre pelos bons motivos. Muitos dos críticos da sociedade de consumo beneficiam das suas vantagens, mas não gostam que elas se estendam a outros. Veja-se o automóvel a sua democratização eliminou-o como factor de distinção social e complicou a vida aos que já o possuíam, ao congestionar o trânsito. Por outro lado, a crítica "moral" soa às vezes a falso: os hippies cultivavam um hedonismo muito próximo do espírito consumista que denunciavam.
Dito isto, é verdade que a sociedade de consumo portuguesa tem traços chocantes. A poupança dos portugueses cai desde 1990, subindo entretanto o nível de endividamento das famílias. Temos 10,6 milhões de telemóveis - mais de um por residente, incluindo crianças. Em Portugal existem mais carros por habitante do que em países ricos, como a Dinamarca. Com o reverso da medalha Lisboa é das cidades mais poluídas da Europa, apesar do vento e da proximidade do mar.
Nos últimos trinta anos mudou em Portugal a atitude face aos símbolos de uma certa pobreza. A generalidade da população já não aceita prescindir de bens de consumo que associa ao estatuto de classe média. Nem aceita - apesar do desemprego - tarefas consideradas inferiores, como trabalhar na construção civil ou servir à mesa em restaurantes. Para isso é preciso recorrer a imigrantes, tal como acontece em França ou na Alemanha. Compreende-se a atitude de quem quer varrer da memória a pobreza ancestral. O problema está em que ter entrado para a CEE em 1986 não nos deu automaticamente a riqueza de franceses e alemães. Desde há anos que estamos, até, a afastar-nos da riqueza deles. Ora ter hábitos de rico quando se é pobre torna perigosa a situação. Sobretudo quando não se faz por produzir mais.