terça-feira, 8 de março de 2005

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 2

As mulheres da Gafanha As mulheres da Gafanha merecem um estudo profundo sobre o seu papel na construção das povoações e das comunidades desta região banhada pela Ria de Aveiro. É certo, porém, que alguns estudiosos e escritores de renome já se debruçaram sobre elas, cantando loas à sua tenacidade e coragem, mas elas merecem mais. Há décadas, e é sobre essas mulheres que nos debruçamos hoje, elas eram as mães solícitas e amorosas dos filhos, mas também os "pais" que garantiam o sustento da casa, enquanto os maridos se aventuravam nas ondas do mar na busca de mais algum dinheiro que escasseava em terra. Em jeito de desafio a quantos podem e devem, pelos seus estudos e graus académicos, retratar as nossas avós, com rigor histórico, já que, hoje e aqui, não há lugar nem tempo para isso, apenas indicamos algumas pistas, que há mais de 50 anos nos foram oferecidas por Maria Lamas, na célebre obra "As mulheres do meu país" que viu há tempos a luz do dia em 2ª edição, numa iniciativa da "CAMINHO", e que tão esquecida tem andado. Diz a escritora que "A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões", acrescentando que, "Pelos costumes e ambiente em que vivem e ainda porque tanto se entregam à lavoura como à faina da seca ou qualquer outra que se lhes proporcione, elas conservam, sob certos aspectos, a mentalidade da mulher do campo; mas a disciplina das tarefas realizadas em comum ou distribuídas numa coordenação de actividades, o sentido das responsabilidade, os horários fixos e ainda o contacto com outras realidades directamente ligadas ao seu próprio esforço vão-lhes dando uma noção diferente da vida e criando consciência da importância do seu labor". Mais adiante, tece algumas considerações sobre as raparigas da Gafanha, sublinhando: "Estas jovens do povo parece que se vão distanciando, no trajar e nos gostos, das suas mães. Trabalham na terra, quando a faina da seca termina, mas quando vão à cidade apresentam-se vestidas como se lá vivessem. Gostam de ir ao cinema, se têm ocasião para isso; discutem o 'que se usa'; são raras, porém, as que mostram interesse pela leitura. Casam, quase sempre, com operários dos estaleiros ou pescadores de bacalhau. Depois de casadas perdem muito da sua vivacidade e até o gosto na sua pessoa - a não ser uma ou outra de personalidade mais definida. A pouco e pouco vão seguindo o caminho das outras mulheres que, antes delas, foram novas, engraçadas e um tanto rebeldes contra o pensar das mães. Insensivelmente, adaptam-se à vida sacrificada, em que tudo é trabalho, sobressaltos e luta pelo pão. Mesmo quando conseguem certo desafogo económico, o espírito mantém-se-lhes embotado e alheio ao progresso do Mundo, fora dos seus interesses pessoais e imediatos". Ao recordar este estudo de Maria Lamas, quisemos tão-só homenagear as mulheres trabalhadoras e corajosas que ajudaram, e de que maneira, a construir a Gafanha que hoje conhecemos. Fotos de gafanhoas ilustram "As mulheres do meu país". E aqui ficam, algumas, como desafio a todos os gafanhões, para que sejam identificadas pelas actuais gerações. Fernando Martins

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