sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Amálgama humana em paredes de tijolo V Encontro Nacional de Apoio ao Imigrante “Imigração com Abrigo” é o tema do V Encontro de Apoio Social ao Imigrante, a realizar dias 14, 15 e 16 de Janeiro, em Fátima. Para auscultar e reflectir experiências de habitabilidade e integração é organizado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) e a Cáritas Portuguesa, em parceria com a Agência Ecclesia, Comissão Justiça e Paz dos Religiosos e o Centro Social Bairro 6 de Maio.Reflectir para agir, sobre a “experiência de quem dorme em cama quente por a dividir em horários diferentes, o subarrendamento, sem esquecer os doentes migrantes que não podem ter alta nos hospitais, porque não têm família ou centro de acolhimento que os receba” é a expectativa de Eugénia Costa, da Acção Social da OCPM. As embaixadas, mesmo de países ricos, encontram solução em pequenos quartos de pensões, numa amálgama de idosos e crianças, doentes e saudáveis, muitos em condições sub-humanas, sem janelas e com W.C. comum.A habitação é um direito que condiciona outros. “O acesso à saúde, à educação e a apoios sociais” dependem de um endereço. Entre imigrantes, os sem abrigo estão mais desprotegidos que os irregulares.O sucesso dos realojamentos está no projectar do espaço e das condições mínimas de habitabilidade, mas sobretudo no atender à teia de relações humanas estabelecidas. Os tijolos são secundários à solidez relacional da afinidade familiar e afectiva. O preconceito estigmatiza os bairros e gera “novas segregações, na integração no mercado de trabalho”. A “marginalidade periférica” do endereço é passaporte para a desconfiança e desintegração laboral. No ascender por meios legítimos, “vontade de trabalhar e um curso não são suficientes” para a afirmação social.Os “realojamentos camarários” não têm valor acrescentado, quando “reproduzem o modelo do bairro de lata”, numa “discriminação negativa”, pois os habitantes “não precisam sair de lá!” – e cita o exemplo do Bairro da Cabrinha, em Lisboa “com esquadra e serviços integrados”. Os condomínios fechados são paradigma da “segregação opcional”, por contraste à involuntária – contrapõe de forma provocativa um dos painéis do Encontro Nacional.A aprendizagem intercultural é fundamental no projectar dos espaços, num respeito integrador. Há que “aprender a lidar com as alturas quando viveram sempre em espaço térreo e horizontal!. Há casas de banho frente a cozinhas! É escandaloso assistir a novas formas de guetização com casas de tijolo, escondidas dos acessos e transportes. Não basta dar-lhes uma casa!”. Há culturas que “não damos por elas! Descobrem o seu espaço” mas também se isolam, como os “chineses e paquistaneses”.A indignidade e a precariedade afecta portugueses, imigrantes e refugiados, no mercado de trabalho e na compra de casa. Experiências de vida árdua contrastam com casos de sucesso, visões institucionais e camarárias, com as de Igreja e CLAI’s à sua responsabilidade, na descoberta de microcosmos silenciosos da cultura. Cidália Calisto, Gabinete de Imprensa da OCPM

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