Quem pela idade se vê aconselhado a ficar por casa, bem agasalhado, e entregue a pensamentos nem sempre saudáveis, por força da pandemia e de outros males causados pelo frio, gosta de receber uma ou outra visita de amigos que nos ofertam novidades normalmente agradáveis. Hoje recebi a visita de um amigo e ex-aluno que me animou o dia. Vinha falar de uma personalidade marcante da nossa terra, o senhor Egas Salgueiro, cuja biografia, elaborada pelo historiador Manuel Ferreira Rodrigues, acaba de ser lançada, com edição reduzida a umas dezenas de exemplares. Acho que o empresário de visão larga e solidária merecia ser mais conhecido, não só por aquilo que criou e amplificou, dando trabalho a muitas centenas de pessoas das mais diversas regiões do país e criando estruturas sociais de apoio aos seus empregados. Não sei se conseguirei comprar um exemplar, mas tentarei tudo para o conseguir. Porque o admirei, porque foi o patrão do meu pai, porque foi um animador social, porque foi um multifacetado industrial e exemplo de tenacidade. Aveiro homenageou-o com um busto pequeno para a dimensão humana do cidadão e industrial. Tanto quanto sei, a Gafanha está à espera da maré.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2022
O Nosso Menino Jesus
Vestido a rigor pela Lita que sempre teve jeito para tarefas de costura. Quando alguém compra roupa ela descobre com toda a naturalidade um ou outro defeito e se puder põe tudo como deve ser.
Como dizia, a Lita confecionou a roupa para o Menino adequada ao inverno. Podia lá ser obrigar o Jesus Menino passar frio, se calhar para nos dar a ideia de pobreza extrema, o que não seria verdade.
Finda a quadra natalícia, o Menino fica guardado para no próximo ano nos olhar de novo com toda a sua ternura. Mas antes disso, a Lita encarrega-se de o dar a beijar a toda a família.
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
PARTILHA DO BEM E DO BELO
NESTE NATAL
“Neste Natal quero armar uma árvore
dentro do meu coração
E nela pendurar, em vez de presentes,
Os nomes de todos os meus amigos.
Os amigos antigos e os mais recentes.
Os amigos de longe e os amigos de perto.
Os que vejo em cada dia e os que raramente encontro.
Os sempre lembrados e os que às vezes ficam esquecidos.
Os das horas difíceis e os das horas alegres.
Os que sem querer eu magoei ou sem querer me magoaram.
Os meus amigos humildes e os meus amigos importantes.
Os nomes de todos os que já passaram pela minha vida.
Muito especialmente aqueles que já partiram e de quem me lembro com tanta saudade.
Que o Natal permaneça vivo em cada dia do ano novo.
E que a nossa amizade seja sempre uma fonte de luz e paz
em todas as lutas da vida.”
De autor desconhecido;
publicado na Revista Xis,
no Natal de 2003
DEUS CONNOSCO
Deus connosco, a inteira humanidade surpreendes
porque não existes na omnipotência do tirano,
mas na promessa de um nascimento que vem.
Acompanha-nos no nosso caminho para o amor,
e assim tua presença no outro perceberemos.
Deus connosco, Tu ergues a justiça e a paz,
apesar da guerra, da intolerância, do ódio.
Ensina-nos a acolher-te sem te manipular,
a construir contigo um mundo mais fraterno,
e assim nossos desertos em pomares se mudarão.
Deus connosco, Tu respondes à nossa esperança
quando connosco partilhas a tua sede de libertação.
Grava nas nossas almas a fome da tua salvação,
para que, com Maria, saboreemos a alegria
de um dia estarmos todos reunidos no teu Reino.
Deus connosco, todos os dias nos vens salvar
pelo desarmado amor do menino de Belém.
Sê a nossa estrela na noite das nossas inquietudes,
com sinais de perdão manifesta a tua vinda,
Tu, o Emanuel, do presépio ao túmulo vazio.
Jacques Gautier
Trad.: Rui Jorge Martins
segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
Provocações do Natal
A própria publicidade natalícia do comércio mostra aquilo a que uns podem ter acesso e o que falta a muitas pessoas que nem um curral têm para dormir. Nesta publicidade, nem tudo é sempre negativo. Pode suscitar o alarme social contra essa clamorosa injustiça, não suscitando, apenas, um cabaz de Natal que se esgota naquele dia e acabou, mas desencadeando movimentos e associações de voluntários que cuidam da dignidade dos pobres e dos sem-abrigo, durante o ano inteiro. Não é para perpetuar situações desumanas, mediante atitudes assistencialistas, mas para promover, simultaneamente, atitudes de cidadania participativa.
domingo, 18 de dezembro de 2022
Ainda é Advento
Com esta expressão - é sempre Advento, ainda é Advento -, Ernst Bloch queria apelar para a esperança. O mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsia e possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar.
Quando se pensa nas raízes da Europa, é claro que, para quem está atento e não tem preconceitos, um dos fundamentos determinantes da Europa é o cristianismo. É necessário confessar os erros e crimes do cristianismo histórico, mas é indubitável que da compreensão dos direitos humanos e da democracia, da tomada de consciência da dignidade inviolável do ser humano, da própria ideia de pessoa, da história e do progresso, da separação da Igreja e do Estado, de tal maneira que crentes e ateus têm os mesmos direitos, faz parte inalienável a mensagem originária do cristianismo.