no Diário de Notícias
Há perguntas ingénuas que parece quase tocarem o ridículo. No entanto, são das mais interessantes.
1 Exemplos: onde começa um ser humano? Começar, não apenas no sentido cronológico, mas quase diria topográfico... Em que instante começou um ser humano? Aliás, a pergunta do início é similar à do fim: Que instante é esse em que um ser humano deixa, pela morte, de pertencer a este mundo e ao tempo? No tal sentido quase topográfico, a pergunta poderia ser: o que é que um ser humano vê, quando olha, não os olhos, mas o olhar de alguém? Hegel disse que vê o abismo do mundo. Se estivermos atentos, é isso: quando dois olhares se olham no olhar contemplam o abismo do mundo e o seu mistério.
A pergunta pode explicitar-se, perguntando: o que é que está por detrás e no íntimo e no fundo do que se vê? O que é o invisível do visível? Ou então: o que é que o visível torna visível? Melhor: o que é que o visível, precisamente ao mostrar, esconde? O que é que está na raiz do que vem à luz, do que se manifesta?