sexta-feira, 27 de março de 2009

POR VOSSA CAUSA

Esta afirmação resume, de modo feliz e interpelante, a explicação dada por Jesus a propósito do que estava a acontecer num encontro em Jerusalém: uma voz semelhante a um trovão faz-se ouvir, a multidão inquieta e perplexa tenta uma explicação, Jesus anuncia a chegada da hora da sua glorificação, o pedido dos peregrinos gregos é satisfeito de modo exemplar e significativo. Servem de mediadores Filipe e André que escutam, acolhem e encaminham o desejo destes peregrinos. Por vossa causa, abre Jesus o seu coração, comunica sentimentos, manifesta perturbação e angústia, parece hesitar na decisão tomada, reafirma a opção feita de, por amor, ir até ao fim. Revela-se tão humano na provação e na debilidade. Tão generoso na ousadia e na confiança. Que exemplo para quem assume a vida com honradez e seriedade! Por vossa causa, ecoa a voz que sintoniza com a prece de Jesus e manifesta o sentido profundo e realista daquela experiência de aflição de morte, desvendando a presença discreta de Deus Pai. Uma voz se faz ouvir na confusão de tantas vozes da multidão. Ontem como hoje. Importa saber escutar o que diz a voz da verdade inteira e não ficar com meias verdades, ainda que nos custe. Só a verdade gera a liberdade. Por vossa causa, chega a hora de Jesus manifestar o seu amor por nós, amor mais forte do que a morte, sobretudo quando esta é acompanhada de falsas acusações, insultos e afrontas que visam degradar o estatuto social do condenado e vilipendiar a sua memória junto dos conterrâneos e transeuntes. Também para nós, chega a hora de amar sem restrições nem adiamentos, dando preferências aos que “sofridos da vida”, os desiludidos e desencantados. Por vossa causa, fica lavrada a sentença de avaliação definitiva dos nossos comportamentos actuais: salva-se quem ama e é coerente em acções de bem-fazer; perde-se quem é egoísta e faz valer os seus interesses individuais. Estamos em auto-avaliação contínua. O método e os critérios são claros; As estratégias bem definidas. Os protagonistas somos nós, cada um por si e todos em solidariedade. Georgino Rocha

Idosos com ritmo

No Jardim Oudinot há espaços para tudo. Para passear, para descansar e até para ginástica rítmica, ao som da música. O filme não tem grande qualidade, mas dá para ajudar a perceber o que eu afirmo.

Jardim Oudinot já com animação

Com a chegada da Primavera, que afugentou o frio e a chuva, posso garantir que o Jardim Oudinot retomou a sua vida. Hoje, com um sol esplendoroso, pude constatar isso mesmo. Nem chuva, nem frio e nem vento me incomodaram, nem incomodaram quem por lá passeou e se divertiu. Crianças de uma escola da Gafanha da Nazaré, com os seus professores e empregadas, por ali andaram, com a alegria e a liberdade que a temperatura muito agradável permitiu. Apreciaram a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, que é o templo mais antigo das Gafanhas, e jogaram, com a boa disposição que os ares da maresia suscitam em toda a gente. Um grupo de idosos, perto do navio-museu Santo André, dançava, ritmadamente, ao som de música que todos conhecemos e sob as orientações de uma professora, que a todos contagiava com a sua boa forma física e com o seu entusiasmo. Na laguna, pescadores andavam na safra, enquanto lanchas e traineiras passavam, acompanhadas pelas gaivotas que miravam as águas na busca de algum peixe que saltasse. Gostei de ver o ambiente que ali já se faz sentir e que prenuncia um Verão muito vivo, que para nós vem a passos largos. FM

Direcção do Stella Maris iniciou segundo triénio

Stella Maris: Tomada de posse da direcção
O Bispo de Aveiro deu posse no dia 20 de Março à direcção do Clube Stella Maris, reconduzida por um novo período de três anos (2009-11). A direcção é constituída por Joaquim Simões (presidente), António Manuel Silva, José Ferreira, João Alberto Bola, Maria de Lurdes Bola, Maria La Salete Ferreira, Maria Isabel Simões e Padre Francisco Melo (assistente). No Relatório de Actividades 2006/08, pode ler-se que a direcção, ao longo dos últimos três anos, além da actividade habitual de manter a casa aberta com refeições e alojamento, o Stella Maris promoveu três almoços solidários (oferecidos a 350 pessoas), organizou seis jantares, noite de fados, ilusionismo e jogo da malha, festejou os 25 anos do lançamento da primeira pedra do actual edifício, e organizou uma peregrinação a Fátima de bicicleta, entre outras actividades locais e nacionais, ligadas ao Apostolado do Mar.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Gritos de ontem e de hoje, realidades e apelos de sempre

Há sessenta anos um padre francês, Henri Godin, acordou a Igreja da sua terra, com a publicação do livro “França, país de missão”. Escândalo para uns, grito que incomodou outros. O mesmo padre deu origem à “Missão de França”. Desencadeou-se, então, um movimento imparável: o Cardeal Suhard institui a Missão de Paris (1944); multiplicaram-se os “padres operários”, mais de uma centena entre 1944 e 1954 e cerca de 800 em 1978; o Cardeal Suennes, belga, publica o seu livro “Igreja em estado de missão”; um pároco de Paris partilha a sua reflexão e inquietação no livro “Paróquia, comunidade missionária”; dois padres da Vandeia, a terra das muitas vocações sacerdotais e religiosas, então professores do Seminário de Luçon, reflectem, no livro “Seminários em estado de missão”, a sua vontade de formar os seminaristas para um mundo novo, dando início às “férias missionárias” para que pudessem contactar, de perto, com a realidade das suas dioceses. Também por essa altura, o Cardeal Cerejeira, a seu modo, dizia que “ A África fica às portas de Lisboa”. Ontem um profetismo de apelo à evangelização dos lisboetas da periferia. Hoje, seria mais ainda como atenção especial à presença numerosa dos africanos. Entrei na vida pastoral, como padre, neste clima que, então, por cá não se sentia nem se respirava por aí além, mas que, ao chegar a Roma (1955), pouco tempo após a intervenção de Pio XII sobre os padres operários (Março de 1954), me fez acordar para uma realidade, que nunca mais deixou de ser para mim, incómoda e interpeladora. A Europa estava-se paganizando, não obstante a estar Igreja implantada em todo o continente. Há poucos dias, a “Vida Nueva” (7-13 de Março), revista semanal da Igreja de Espanha, dizia que a “Espanha já é terra de missão”. Vimo-lo dizendo em relação a Portugal, como um facto evidente da realidade religiosa e como eco das intervenções dos últimos papas aos bispos portugueses. Sobre tudo isto, juízos diferentes, ora de assentimento, ora de se pensar que se trata de um exagero, ora levando a reflectir e a unir esforços. Mesmo quando as coisas não eram ainda tão claras, João XXIII, por certo incomodado e perplexo pela posição de Pio XII sobre os padres operários, deixou-lhes o seu parecer nestas palavras, então as mais objectivas e sensatas: “Eu compreendo-vos, mas, nas circunstâncias presentes, não vos posso atender. Entretanto, já convoquei um Concílio. Este e o meu sucessor farão aquilo que eu agora não posso fazer” (Fevereiro de 1960). Assim aconteceu. Em 1965 os bispos franceses oficializam os padres operários e Paulo VI, tempos depois, convida um deles para pregar, no Vaticano, o seu retiro espiritual. A semente estava lançada. Vinha da JOC e dos seus assistentes religiosos, desde 1925. A situação social foi-se modificando, outros caminhos se abriram. Porém, a evangelização permanece como o grande desafio posto à Igreja, que não tem fronteiras nem geográficas nem humanas e para a qual não há soluções definitivas. O anúncio da fé que leva à conversão e personalização do crente e a edificação de comunidades cristãs, testemunhas do Evangelho no mundo, exigem dos evangelizadores a fidelidade diária ao projecto de Deus e a inovação cuidada que a realidade pede e a verdade revelada apoia em cada dia e circunstância. O laicado cristão tornou-se, no mundo de hoje, indispensável como motor e executor da missão evangelizadora da Igreja. Não apenas tarefa do clero e de uns tantos que o rodeiam e seguem, de modo obediente e pouco crítico. O papel dos leigos é, de facto, prioritário no anúncio e difusão do Evangelho. Com eles se recuperará a família com todos os seus membros, e a Igreja se tornará presença válida nas instâncias seculares, carentes da inspiração e dinamismo evangélico. A pastoral de conservação, mesmo que generosa, já não é caminho. Um mundo em mudança tem gritos novos. Assim a Igreja, lembrando a história, lhes dê ouvidos e atenção. Estamos todos em missão. António Marcelino

O fio do tempo

Fernando Nobre
Incentivar a Participação
1. Sabe-se como é essencial, e pedagogicamente importante até como verdade democrática, a participação. Mas muitas vezes tem-se medo dela, pois pode ser desinstaladora de paradigmas cristalizados. Quantos regimes sociopolíticos e/ou determinadas estruturas institucionais dizem-se arautos da participação mas, efectivamente, quando ela dá frutos surpreendentes ao modelo pré-existente o cenário fica sem resolução… Claro que não se pretenderá uma participação qualquer, desarticulada, que possa gerar efeitos contraproducentes, mas o discernir dos essenciais. A participação terá de possuir uma dose de racionalidade para ser eficaz. Mas, e talvez nos tempos que correm seja mesmo o essencial, pretender-se-á, ainda que como aguilhão despertador, que a participação vença a indiferença.
2. Os tempos que correm, de tão pródigos em termos de tecnologias de informação e comunicação, e mesmo que na verdade de outras novas formas de participação on-line, dão a conhecer uma era apressada e desgarrada em termos de fecundidade de comunicação entre as pessoas. Não será juízo de valor o observar-se que com um certo desmoronamento da instituição familiar, com o défice dessa imprescindível escola informal e familiar de valores (onde se aprende sem códigos legais a agradecer e a desculpar), a participação como valor cívico acaba por sofrer os próprios efeitos colaterais. A participação como fenómeno social mais amplo está umbilicalmente ligada à informalidade da educação diária.
3. Os que vão liderando processos e organismos humanitários (como o presidente da AMI, Fernando Nobre) vão gritando “contra a indiferença”. Caberá a todas as escolas de saber, das formais às informais (de que destacamos um projecto com 20 anos, Movimento de Voluntariado Diocesano Vida Mais), estimular pela positiva à participação, esta que poder gerar dinamismos mais proactivos e ampliadores na co-responsabilidade. Alexandre Cruz

Crónica de um Professor

“To be or not to be, that’s the question”- Hamlet
Shakespeare
Várias vezes, aquela aluna a solicitara, para obter informação mais avançada, no domínio da Língua Inglesa. Queria saber mais… queria conhecer o significante em Inglês, daquelas palavras que lhe povoavam a mente. Palavras soltas que ouvia nas canções dos seus ídolos. Espantava-se a teacher, com aquela inusitada curiosidade, acerca da língua estrangeira que preenchia o seu currículo e cuja aprendizagem agora iniciava. Sim, a Cristiana, aquela menina de longos cabelos de azeviche e olhos de amêndoa, com a profundidade do oceano, dava os primeiros passos no decifrar da Torre de Babel. Era a teacher uma privilegiada neste campo, pois tinha ali, na sua frente, uma discípula ávida por desvendar as língua dos Beatles, dos Rolling Stones e de tantos que fizeram as delícias da sua juventude. Que reconfortante ter no meio daquela massa de gente, às vezes amorfa, às vezes hiperactiva, alguém que lhe bebia as palavras e queria descobrir-lhe os segredos. - É a letra duma canção, Sra Professora! Não percebo esta palavra… Estando, ainda na iniciação à Língua Estrangeira, espantava-se a teacher com o acervo de palavras, de significantes que aquela aluna já possuía. Não era vulgar na sua idade e na sua condição de beginner! O desejo de entender as letras das sua canções preferidas… fazia aquele milagre. Um dia, segurando na mão um papel escrito, dirige-se à mestra e diz-lhe: - Podia passar-me para Inglês este texto? É a letra duma canção que escrevi. É que… eu quero ser cantora! Abriu a boca de espanto... sorrindo ao mesmo tempo, pois isso evocava-lhe os tempos, não muito longínquos, em que as suas colegas a haviam solicitado, para escrever os hinos da escola: o Hino ao Ambiente, musicado e já gravado em cassete, e o Hino da Escola, ainda nas mãos do compositor. Será que a sigla dos nomes de ambas as intervenientes neste episódio, CD, seria premonitória de algum compact disk a sair num futuro risonho? Hoje, no fim da aula, veio revelar-lhe, com a satisfação dos afortunados, que fora convidada para cantar num sarau. A Escola que “... fazes desabrochar sementes em ti caídas...” tal como diz o seu hino, fora ao encontro dos seus desejos. E… a Cristiana era uma menina feliz, no dealbar de uma promissora carreira, quem sabe? A teacher ali estava, para acarinhar e orientar talentos emergentes, e... ser ou não ser uma cantora é o dilema existencial que vai dominar o pensamento e a vontade desta lírica criatura!
Mª Donzília Almeida 23.03.09