Manuel Pata
Tudo o que sou o devo à Ação Católica
Manuel Capitolino Pata, 79 anos, casado com Angelina Ribau, seis filhos e sete netos, é militante da Ação Católica desde praticamente a infância, por influência de seu irmão António Pata, um dos fundadores da JOC (Juventude Operária Católica) na Gafanha da Nazaré. Por volta dos dez anos, começou a ler o jornal “O Trabalhador” de que seu irmão era assinante e distribuidor nos ambientes de trabalho e não só. Defendia este jornal, onde pontificava o Padre Abel Varzim, a aplicação da Doutrina Social da Igreja no mundo do trabalho e da vida em geral.
Desde essa altura e ainda hoje o Manuel Pata mantém-se nos quadros da Ação Católica, agora na LOC (Liga Operária Católica), neste caso depois do seu casamento. Presentemente é coordenador da secção daquele organismo na Gafanha da Nazaré e membro da equipa diocesana. Há anos, porém, a LOC ligou-se ao Movimento de Trabalhadores Cristão, ao assumir uma perspetiva mais ampla, já que os trabalhadores não se enquadram na sua generalidade no operariado.
Quando nos falou das suas leituras de menino e jovem, sobretudo do jornal “O Trabalhador”, frisou a importância da ação do Padre Abel Varzim, formado em sociologia na Bélgica, onde se apaixonou pela defesa dos operários. Defendia os sindicatos livres e a aplicação da Doutrina Social da Igreja na vida toda, como essencial à promoção da dignidade do ser humano.
A partir das leituras, a curiosidade instalou-se no espírito do Manuel Pata, ainda menino e jovem. Daí surgiram um sem-número de perguntas que dirigia ao irmão António, muitas delas sobre a situação dos trabalhadores que «viviam miseravelmente, sem nenhumas condições de vida, sem liberdade, sem higiene e sem direitos no trabalho». E quem olha para o presente, em que os trabalhadores têm liberdade de falar e de reivindicar os seus direitos, não faz a mínima ideia do que era antes do 25 de Abril, frisou o nosso entrevistado.
Ao recordar esses tempos de má memória, Manuel Pata evoca os contactos que teve com o Padre Abel Varzim, «uma pessoa excecional», que veio muitas vezes a Aveiro orientar cursos de formação nos quais participou com redobrado empenho. E nessa evocação sublinha, com mágoa, como o Padre Abel Varzim foi destituído de todos os cargos da Ação Católica, pelo incómodo que as suas ideias provocavam em alguns dirigentes políticos e eclesiásticos do tempo. Mas nem assim o Padre Abel se desligou dos seus ideais de promoção social, cultural e espiritual do povo.
Manuel Capitolino Pata nunca descurou, em especial a partir dos seus 17 anos, cursos e recoleções, reuniões, encontros e assembleias, de âmbito local, regional e nacional, procurando depois levar à prática, nas oficinas em que trabalhou como serralheiro, a vivência cristã, pelo testemunho e pela luta em favor dos direitos dos trabalhadores. Reconhece, contudo, que muitos dirigentes formados nos quadros da Ação Católica enveredaram, com toda a legitimidade, pela política e pelo sindicalismo, onde continuaram a viver inspirados pelos ideais propostos pelo fundador da JOC, Padre Cardijn (Cardeal no fim da vida), belga, no sentido de «libertar a juventude de todas as formas de opressão e exploração, tornando-os protagonistas da sua própria vida e da sua liberdade», como se lê no “site” daquele organismo da Ação Católica.
O nosso entrevistado refere a mais-valia que representa o método de ação e intervenção social da JOC e da LOC, que se consubstancia no “Ver, Julgar e Agir”, rigorosamente seguido nas reuniões semanais e noutras. Os casos de vida dos membros dos grupos, quer de âmbito profissional, familiar e social, eram apresentados, dando-se prioridade aos assuntos mais premente, no sentido de os analisar à luz da Doutrina Social da Igreja; posteriormente, eram avançadas propostas de resolução, envidando-se todos os esforços para que os problemas fossem solucionados. Como seguidor deste método, Manuel Capitolino Pata considera-se um herdeiro desse movimento. E fez questão de dizer: «Tudo o que sou, a nível familiar, profissional e cristão, o devo à Ação Católica.»
Fernando Martins
Movimento Bíblico na Gafanha da Nazaré
O Movimento Bíblico foi introduzido na Gafanha da Nazaré em 1983. Nesse ano, um Curso Bíblico orientado por Frei Acílio Mendes, dos Franciscano Capuchinhos, orientou um curso de três dias na nossa paróquia, a pedido do pároco, Padre Rubens Severino. No final do curso, foi lançada a proposta da criação de grupos para estudo e reflexão regulares da Palavra de Deus, com orientação da revista Bíblica dos Capuchinho, afirmou Manuel Capitolino Pata.
A formação periódica, mais aprofundada, era da responsabilidade daqueles frades, tendo dado uma contribuição sistemática a Irmã Lurdes Roque, formada em Bíblia e com familiares na nossa terra.
Dos três grupos iniciais, resta um, cujos membros se reúnem uma vez por semana, para refletirem sobre as leituras das eucaristias dominicais. Também uma vez por ano há um encontro organizado pela Escola Bíblica, do Secretariado Diocesano.
Manuel Pata informou o Timoneiro de que em breve a Escola Bíblica vai iniciar o estudo de temas relacionados com o Ano da Fé, de iniciativa do Papa Bento XVI.
A coordenadora atual do Secretariado Bíblico Diocesano e professora de Educação Moral e Religiosa Católica, Palmira Reis, é formada em teologia pela Universidade Católica e tem orientado cursos que decorrem, rotativamente, onde há Grupos Bíblicos, nomeadamente, na Gafanha da Nazaré, Ílhavo, Quintãs e Oliveirinha. Os membros do grupo também participam no encontro nacional, que se realiza em Fátima.
Manuel Capitolino Pata apela aos católicos, e não só, para que integrem o Grupo Bíblico, porque o conhecimento da Palavra de Deus é um excelente contributo para a construção de um mundo melhor.
FM