sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

O Messias vai chegar. Que devemos fazer?

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo III do Advento - Lc 3, 10-18

Papa em Nicósia, Chipre

Pergunta simples que manifesta a vontade de coerência de atitudes com a exortação de João que faz sentir o desconforto e leva à descoberta da verdade. Pergunta feita, não individualmente, mas em conjunto, por multidões, publicanos e soldados que se dirigem a João Baptista. Pergunta que desvenda a eficácia do anúncio da Boa Nova, a força do testemunho de João e a acutilância da sua palavra.
Hoje, a voz de João vibra na palavra do Papa Bergoglio em Nicósia, Chipre, na igreja paroquial. Após denunciar os tormentos dos migrantes em campos de concentração, afirma: “Meus irmãos, isto está a acontecer hoje, em faixas costeiras próximas [daqui], lugares de escravidão. Vi algumas cenas filmadas sobre isso, lugares de tortura e de venda de pessoas.
Digo isto porque é responsabilidade minha ajudar a abrir os olhos”.
A resposta à pregação de João, segundo narra Lucas, sai pronta e assertiva: repartam os bens, pratiquem a justiça, amem e promovam a paz. Ontem, como hoje. Àqueles que a ouvem, nas categorias apresentadas segundo a organização social de então ou em linguagem mais do nosso tempo: os homens da violência e da guerra, os profissionais da máquina administrativa e da fiscalização legal, os reguladores dos circuitos comerciais e respectivos produtos, das redes que controlam os migrantes.
Hoje, face à escassez crescente de bens para uns e o acumular de riqueza para outros, repartir é a palavra de ordem portadora de boas notícias; face à corrupção e à fraude, a verdade e a honradez constituem imperativo ético e jurídico; face a comportamentos individuais e insensibilidade de minorias abastadas urge contrapor atitudes solidárias, fruto da consciência crítica e libertadora.
A sábia resposta de João levanta uma dúvida ao povo ouvinte. Não será ele o Messias? A expectativa era enorme e fazia parte do património de esperança de Israel. Não, não sou – responde sem reticências. E, em jeito de esclarecimento, adianta: “está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias”.
O olhar e o coração dos ouvintes convergem, agora, naquele que é a novidade de Deus, que vem “joeirar” os corações, e destrinçar o trigo do bem e a palha do mal, baptizar com o fogo do Espírito Santo. João cede o lugar a Jesus que credencia aqueles sinais e lhes dá um novo alcance, o de serem sinais/acontecimentos de salvação.
O Papa no encontro com jovens artistas e desportistas convidou a preparar o próximo Natal com “pequenos gestos de amor”, sublinhando a importância da “compaixão” para celebrar o nascimento de Jesus, em tempos de pandemia.
“A festa do nascimento de Cristo não é dissonante em relação à provação que vivemos, porque é por excelência a festa da compaixão, a festa da ternura. A sua beleza é humilde e cheia de calor humano”. A beleza do Natal “transparece na partilha de pequenos gestos de amor concreto”.
“Não é alienante, não é superficial, não é evasivo; pelo contrário, alarga o coração, abre-o à gratuidade – gratuidade, palavra que os artistas bem entendem -, ao dom de si, podendo também gerar dinâmicas culturais, sociais e educativas”. E agradeceu “aos jovens, artistas e desportistas, por não se esquecerem de ser guardiões desta beleza que o Natal do Senhor faz resplandecer, em cada gesto quotidiano de amor, partilha e serviço”.

Pe. Georgino Rocha

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