Rosinda Clotilde de Almeida Borrelho, natural de S. Salvador, Ílhavo, onde nasceu a 3 de março de 1928, exerceu a profissão de parteira da Casa dos Pescadores, na década de 50 do século passado. Trabalhou no Posto Médico de Aveiro, situado na Av. Dr. Lourenço Peixinho, e posteriormente foi colocada no Posto da Gafanha da Nazaré, desde o seu início. Reformou-se por limite de idade.
Entre nós, era conhecida por Dona Rosinda, parteira, que ajudou inúmeros gafanhões a entrarem no mundo, sem regatear esforços para atender as parturientes. Tanto quanto me lembro, era uma profissional serena, disponível e muito experiente, percebendo, exatamente, o momento em que devia sair de sua casa para ajudar quem estava mesmo a precisar dos seus serviços.
Já lá vão algumas décadas quando um dia fui acordado para chamar a Dona Rosinda. Alta madrugada, levantei-me apressado e dirigi-me a sua casa, na Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, rogando-lhe o favor de me acompanhar para um parto. Perguntou-me quando teriam começado as dores e eu lá lhe disse que estariam no início. “Então, venha cá daqui a duas horas”, disse-me ela.
Regressei a casa da parturiente e confirmei o que havia dito à Dona Rosinda. Não fui dormir e na hora combinada bati novamente à sua porta. No meu carro, adiantou-me, com toda a naturalidade, que as dores do parto assustam muito quem está a sofrer e os familiares ou amigos, motivo por que devemos ter isso em conta. Chegou, tranquilizou quem estava, pediu o que tinha a pedir e fez o seu trabalho com toda a tranquilidade. E levei-a, no final, a sua casa.
Escrevo estas notas sobre a Dona Rosinda porque soube que, apesar dos seus 90 anos, está obviamente limitada, mas continua entre nós, viva e rija. Mas também o faço por uma questão de justiça e em jeito de homenagem a uma profissional que, como tantos outros, nas mais diversas atividades, cumpriu os seus deveres com dedicação, superando-se, caindo depois no esquecimento.
Votos de saúde e paz interior para a Dona Rosinda.
Fernando Martins