De asas brancas, a voar,
Ao vento, leves, ligeiros,
Por sobre a ria a singrar.
Vão no longe moliceiros
De grandes velas a arfar.
Andam na faina do dia,
Desde a manhã ao sol-pôr.
Buscam nas águas da ria,
O moliço — verde cor.
Andam na faina do dia,
Colorido, encantador.
Vogam num lago de prata,
Circundado de cristal,
Qual sonho de serenata
Numa noite sensual!
Vogam num lago de prata
Sob o céu celestial.
Cortam as ondas de espuma
Pelas águas a boiar,
E essas vagas, uma a uma,
Vão mais longe desmaiar.
Cortam as ondas de espuma
Erguidas na preia-mar.
Parecem os bandos de aves,
Que no céu vão a subir,
E depois voltam, suaves,
Muito leves, a cair.
Parecem os bandos de aves,
A luz do sol a fugir.
Descrevem curvas serenas,
Como talhada magia,
Umas maiores, mais pequenas,
Duma estranha bizarria.
Descrevem curvas serenas
Nas transparências da ria.
As proas são rendilhadas
Por coloridas pinturas,
Com frases adequadas
A populares formosuras.
As proas são rendilhadas,
São ornadas de figuras.
Vão no longe moliceiros,
De asas brancas a voar...
Singram na ria, altaneiros,
À luz do sol, ao luar,
Vão no longe moliceiros,
— Majestoso deslizar!
Amadeu de Sousa
Fonte: Boletim Municipal de Aveiro
Ano III, 1985,n.º 6