Por António Marcelino
«Paróquia que não se abre aos leigos ou que os aprecia apenas
pelo serviço que prestam no templo, é paróquia que perde a sua fisionomia de
comunidade eclesial e empobrece cada ia no seu esforço de evangelização.
Certamente que também os leigos não podem deixar de ter obrigações para com o
padre e a comunidade. Um serviço por vocação, a tempo pleno, não dispensa as
manifestações de respeito, acolhimento, amor e compreensão, ajuda concreta dos
leigos para com o seu pastor.»
O decreto conciliar sobre “o ministério e a vida do padre”
permite tomar consciência do seu lugar do padre na Igreja. A compreensão parte
da sua relação com Deus e com os outros, da comunhão com o bispo de quem é
cooperador necessário, da integração no presbitério e da condição de servidor.
O ministério pastoral do padre é o do bispo no que lhe permite o grau
sacramental da Ordem. No centro está sempre a ligação a Cristo e à Igreja, com
a missão que realiza no seu dia a dia e até ao fim dos tempos.
Membro da hierarquia, a vida do padre está marcada pelo
sentido de serviço ao Povo de Deus, em ordem à edificação do Seu Reino no
mundo. É o serviço da Palavra nas mais diversas formas, marcado pelo dever de a
todos evangelizar e educar na fé. O serviço dos sacramentos num itinerário de
vida cristã que nasce no Batismo, com sentido apostólico na Confirmação, que
tem o seu ponto alto e determinante na Eucaristia, não dispensando a
Reconciliação e o compromisso público na Ordem ou no Matrimónio. O padre está em
todos os momentos deste itinerário, abrindo ao discipulado e à vida
comunitária. O padre, na sua ligação com o bispo, preside à comunidade cristã
com o dever de a ajudar a ser comunidade de crentes e de apóstolos, aberta ao
seu crescimento dos membros, à sua vocação e dimensão missionária.
A vida do padre processa-se na sua relação necessária com o
bispo, a quem deve amor efetivo e afetivo e obediência no que à sua missão diz
respeito. Mas processa-se, também, na sua comunhão com todos os padres do presbitério,
pois estes lhe impuseram as mãos na sua ordenação, ou eles a impôs aos mais
novos. O padre isolado não tem futuro, nem pessoal, nem apostólico. Ele será
sempre um de uma família que tem a mesma missão e a realiza em ajuda mútua. A
cooperação dos padres entre si, traduz-se em convívio e em acolhimento fraterno
aos mais velhos e aos mais novos do presbitério. Assim se manifesta o espírito
sacerdotal fraterno, em comunhão.
O Concílio insiste, pela sua importância, nas relações do
padre com os leigos. Estes não são súbditos do padre, mas irmãos da mesma
família dos filhos de Deus iguais em dignidade. Daí a obrigação de reconhecer e
promover esta dignidade, de acolher os seus dons e carismas, de os ouvir, de
respeitar a sua legítima autonomia em virtude da sua condição de cristãos no
mundo. Paróquia que não se abre aos leigos ou que os aprecia apenas pelo
serviço que prestam no templo, é paróquia que perde a sua fisionomia de
comunidade eclesial e empobrece cada ia no seu esforço de evangelização. Certamente
que também os leigos não podem deixar de ter obrigações para com o padre a
comunidade. Um serviço por vocação, a tempo pleno, não dispensa as
manifestações de respeito, acolhimento, amor e compreensão, ajuda concreta dos
leigos para com o seu pastor.
O padre é o primeiro promotor vocacional pela sua oração e
presença aos jovens, às famílias, aos grupos de formação e apostolado. A ele
compete manter na comunidade a preocupação para que cada um encontre o seu
caminho de realização à luz da sua fé e do sentido de Deus na sua vida.
A vida do padre deve estar orientada, como recorda o
Concílio, no sentido de resposta pessoal à santidade, de cuidar da sua
preparação para evangelizar um mundo concreto, da formação permanente a nível
espiritual, intelectual, pastoral, não podendo descuidar o tempo de oração e de
estudo, de repouso e de convivência sadia, tendo no horizonte a fidelidade aos
seus compromissos, livremente assumidos na ordenação e no exercício diário da
missão pastoral. Parco no uso dos bens, espírito pobre para compreender os
pobres e ser para eles a mão amiga, disponível para a missão, ainda que, em
comunhão com o seu bispo, a realize fora da diocese.
Não é fácil hoje a vida do padre. Mais julgado e criticado
do que amado e apoiado por aqueles aos quais dedica todos os dias a sua vida.
Também, pelas dificuldades emergentes de um mundo laico, muitas vezes hostil ou
desinteressado das coisas de Deus. O padre não está só. A Igreja empenha-se
cada vez mais no bem-estar do padre e na formação de equipas de vida e de ação
apostólica, para as quais cada padre deve estar aberto. É fácil verificar que,
na Igreja, não se constrói nada de válido com o isolamento, o individualismo, a
independência pessoal, mas sim com formas de comunhão e de entreajuda mútua. João
Paulo II concretiza, de modo claro, na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei
pastores ” (1992), aspetos essenciais da vida e do ministério do padre.