Por Maria Donzília Almeida
É um regalo na vida
À beira d’água morar!
Quem tem sede vai beber
Quem tem calma vai nadar!
Ouvia este aforismo popular, da boca da mãe, quando esta se sentia invadida por um sentimento de gratidão ao Criador, pelo privilégio de morar neste local tão pitoresco.
Na verdade, hoje sinto-me como peixe na água, por morar aqui mesmo, neste dia que se comemora.
Por um lado, posso refrescar-me nas revitalizantes águas deste Oceano Atlântico, pois as temperaturas cálidas perduram, neste verão que se mantém na meteorologia, embora se tenha despedido no calendário. Por outro lado, posso fazer uma das coisas que me dá imenso prazer, que é o simples ato de andar de bicicleta. Nesta planície imensa que é a zona das Gafanhas, pode circular-se com toda a comodidade e há imensa gente a fazê-lo, não só por mero desporto, mas também como meio de transporte. Hoje, a bicla está na mó de cima!
O Dia Europeu sem Carros surgiu em França em 1998, tendo sido adotado em 2000, pela União Europeia. Pretende consciencializar as populações sobre as questões da mobilidade e qualidade de vida urbana. Após o sucesso do Dia Europeu sem Carros, em 2000 e 2001, foi lançada em 2002 a Semana Europeia da Mobilidade.
Assim, anualmente de 16 a 22 de setembro, os cidadãos europeus têm a oportunidade de gozar uma semana inteira de atividades dedicadas, à mobilidade sustentável. O objetivo é proporcionar um debate alargado sobre a necessidade de mudança de comportamentos, relativamente à mobilidade, principalmente, no que concerne à utilização do automóvel particular. A campanha DESC surgiu na sequência de uma diretiva europeia, relacionada com a qualidade do ar das nossas cidades. Tendo em conta os crescentes problemas originados pelo uso do automóvel, vários países da União Europeia, incluindo Portugal, lançaram esta iniciativa pela primeira vez, à escala europeia, em 22 de Setembro de 2000.
Tem toda a pertinência e muitas cidades aderem ao programa, criando atividades lúdicas e proporcionando aos cidadãos uma nova perspetiva sobre os transportes.
Eu que sou uma fã destas iniciativas, em prol do ambiente, regozijo-me com as medidas tomadas aplaudindo e promovendo a utilização frequente da bicicleta.
As temperaturas estivais, a entrar pelo Outono, têm-me permitido fazer o percurso para o meu trabalho, neste ecológico meio de transporte! Absolutamente limpo para o ambiente, apenas movido pela força muscular das pernas, preenche cabalmente a função para que foi criado. Dizem alguns colegas, “invejosos” deste meu veículo de “caixa aberta”, que também gostariam de o utilizar, não fosse a distância que os separa das suas residências. Apenas um prof de Ed. Física, morador na Gafanha do Carmo, me apoia neste ato pedagógico.
Acérrima defensora do ambiente não poluído, integro, no final do ano, a caravana ciclista que parte da escola e percorre as ruas desta área costeira, num convívio salutar e ecológico. A, já célebre, Pedalada pelo Ambiente incorpora miúdos e graúdos num pedagógico movimento ciclista. Devo confessar, que apesar da minha provecta idade, ainda sou das primeiras a chegar à meta! Não que tenha mais pedalada que as crianças e jovens, mas simplesmente, porque venho apenas concentrada na meta a atingir, neste caso conquistar a camisola amarela! As crianças, dadas à brincadeira e em despique com os elementos distratores do ambiente circundante, facilmente permitem, à teacher........sentir, por momentos o sabor da vitória! Sem pretender chegar aos calcanhares de Alves Barbosa, Joaquim Agostinho, Fernando Mendes, Marco Chagas, Joaquim Gomes, Sérgio Paulinho, ou Ricardo Mestre, ciclistas campeões, e muito menos às suas pernas, assumo-me como uma humilde cicloturista e amante desta modalidade desportiva. Todos os anos, vibro com a animação da Volta a Portugal e acompanho de perto, os sprints dos melhores ciclistas. Evoco, saudosamente, o entusiasmo com que me desloquei a diversas zonas do país, para ver chegar a caravana da Volta. A Serra da Estrela ficou nesse álbum de recordações, quando assisti à chegada de Vítor Gamito, no ano de 2000, e que viria a ser sagrado vencedor final, pela equipa Porta da Ravessa! Estava um calor de rachar, em Agosto, na serra, mas a emoção superava tudo!
Era um delírio ver toda aquela movimentação de massas, a animação que havia nas ruas, nos percursos por onde passavam os ciclistas! Terá vindo daí esta minha dedicação ao velocípede de duas rodas? Não sei!
Sei apenas, que nestas terras da Gafanhas, a bicicleta foi durante muitos anos o meio de transporte da classe trabalhadora, que se deslocava para os mais diversos destinos. Recordo os tempos em que o progenitor se deslocava para Aveiro, no cumprimento do seu dever laboral na instituição de segurança a que pertencia, PSP e..........muitas vezes pela noite fora, quando tinha turnos de madrugada. Boa cepa a dele, que venceu tanta adversidade para ganhar o pão-nosso de cada dia e educar a sua prole. A prova de que as dificuldades fazem o homem de envergadura, está ali, na sua presença viva e ainda opinante! Ainda hoje, lhe sigo os conselhos, quando a circunstância o permite.
Longe vão os tempos em que a posse de um automóvel era sinal de estatuto social. Perde-se nas brumas do século passado, em que ter um carro era um fator que pesava na escolha de namorado! Mancebo que possuísse um veículo de quatro rodas, era olhado por muitas moças, como alvo apetecível. Os carros eram caros e só estavam ao alcance dos mais endinheirados!
Hoje, com a proliferação da indústria automóvel e a melhoria do poder de compra (!?) da classe trabalhadora, possuir um automóvel, um carro ou um carrito, está ao alcance de quase toda a gente. Daí, o parque automóvel ter crescido exponencialmente e ter asfixiado as artérias das nossas cidades. Circula-se a passo de caracol, polui-se, gravemente, o ambiente e gasta-se uma pipa de massa, p’ra não dizer um barril de petróleo!
Se Portugal tivesse o bom hábito de copiar o que, de bom, se faz nos países mais desenvolvidos da Europa, há muito que o meu exemplo de ir de bike para o trabalho tinha ganho adeptos e descongestionavam-se as cidades portuguesas. Nesses países, Holanda, Bélgica, Dinamarca, etc, só p’ra enumerar alguns, são os executivos das grandes empresas que dão o exemplo a este país sem regras. Vão de bicicleta para o escritório ou gabinete, de fato e gravata. Perdem a sua categoria profissional? Onde está o estatuto, nesses países?
Libertemos as nossas cidades e deixemos para os nossos vindouros um ambiente limpo e respirável.
22.09.2012