Texto de António Marcelino
no Correio do Vouga
Procissão dos Passos na Vera Cruz
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Não faltam por aí procissões dos Passos. Por vezes, até em duplicado, na mesma terra. As tradições religiosas persistem e pesam, mesmo quando a fé que as motivou esmorece e fenece. O Senhor dos Passos, na sua imagem, ensina aos cristãos e às comunidades o sentido dos seus passos pelas estradas da Palestina, pelas ruas de Jerusalém e, por fim, no caminho ingreme e doloroso que O levou ao Calvário. Ele não foi um instalado. Andou e passou, por todo o lado, fazendo o bem, como disse Pedro.
Passos de Jesus não são turismo, nem mesmo turismo religioso. Não são exposições de atos de bairrismo, de que a fama é publicidade. São convite à reflexão, à oração, ao silêncio, à gratidão. São tempo de aprendizagem a andar por onde Jesus andou.
A fidelidade a tradições, ainda que de séculos, pode não ser fidelidade a Deus, nem expressão de fé comprometida. Muitas vezes não é mesmo, com provas à vista, na vida daqueles que se esfalfam por manter e alindar as tradições religiosas da sua terra. A liturgia não é um museu de coisas antigas. É celebração de fé e de vida.
Fala-se agora da nova evangelização. Também esta tem a ver com tudo isto. De uma evangelização verdadeira que esteve na origem destas manifestações religiosas, pode não restar mais que uma casca luzidia, sem nada lá dentro.
Passos do Senhor? Se não foram passos com Ele, serão passos em vão. Que haja coragem para o assumir e para dar sentido às coisas religiosas, quando já perderam o sentido.
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