TEXTO DE MARIA DONZÍLIA ALMEIDA
Teatro grego
“O mundo inteiro é um palco,
e todos os homens e mulheres
são apenas atores”
(William Shakespeare,
1564-1616)
Debrucei-me sobre o tema em epígrafe, por força da organização curricular, do curso que frequentava na faculdade. Desde o teatro medieval, apresentado nos autos de moralidade, dos quais o Everyman, na literatura inglesa é o mais significativo, passando pelo teatro isabelino, no século XVI, em que William Shakespeare foi o expoente máximo; o Teatro do Absurdo que nasceu do Surrealismo, com Samuel Becket, sob forte influência do drama existencial que propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita; teatro de vanguarda, protagonizado pelo dramaturgo alemão, Bertolt Brect, movimento de contestação artística nascido, na Europa, no fim do século XIX, reunindo correntes estéticas que advogam novos padrões, voltadas contra o realismo, o naturalismo e as convenções.
Hoje estou a fazer uma sinopse de tudo o que aprendi.
A génese do teatro remonta às sociedades primitivas, em que se acreditava no uso de danças, como desencadeadoras de poderes sobrenaturais que controlavam os factos necessários à sobrevivência (fertilidade da terra, casa, sucesso nas batalhas etc), possuindo também, poder de exorcização dos maus espíritos. O teatro possuía um caráter ritualístico.
Com o domínio e conhecimento dos fenómenos naturais, por parte do homem, o teatro vai deixando as suas características ritualistas, passando a uma vertente mais educativa.
Na Grécia antiga, os festivais anuais em honra do deus Dionísio (Baco, para os latinos) compreendiam, entre os seus eventos, a representação de tragédias e comédias. As primeiras formas dramáticas na Grécia surgiram neste contexto, inicialmente com as canções dionisíacas, os ditirambos.
A introdução de segundos e terceiros atores nas tragédias veio com Ésquilo e Sófocles. Surgiu também a peça satírica: o conservador Aristófanes cria um género sem paralelo no teatro moderno, pois a comédia mesclava a paródia mitológica com a sátira política. Todos os papéis eram representados por homens, pois não era permitida a participação de mulheres.
O espaço utilizado para as encenações, em Atenas, era apenas um grande círculo. Com o passar do tempo, grandes inovações foram sendo adicionadas ao teatro grego, como a profissionalização, a estrutura dos espaços cénicos.
Nesse mesmo período, os romanos já possuíam seu teatro, influenciado pelo teatro grego, do qual tirou todos os modelos. Plauto e Terêncio foram nomes importantes do teatro romano. Roma não possuiu um teatro permanente até o ano de 55 a.C., mas segundo consta, eram erguidas enormes tendas, com capacidade para abrigarem cerca de 40.000 espectadores.
Com o advento do Cristianismo, o teatro não encontrou apoio de patrocinadores, sendo considerado pagão. Desta forma, as representações teatrais foram totalmente extintas.
O renascimento do teatro deu-se, paradoxalmente, através da própria igreja, na era medieval. O renascimento do teatro deveu-se à representação da história da ressurreição de Cristo. A partir deste momento, o teatro era utilizado como veículo de propagação de conteúdos bíblicos, tendo sido representados por membros da igreja, padres e monges. O teatro medieval religioso entrou em franco declínio a partir de meados do século XVI.
Desde o século XV, grupos teatrais agregavam-se aos domínios de senhores nobres e reis, constituindo o chamado teatro isabelino. Os atores, ainda com a participação exclusiva de atores homens, eram empregados pela nobreza e por membros da realeza. O próprio Shakespeare, assim como o ator original de Otelo e Hamlet, Richard Burbage, eram empregados pelo Lorde Chamberlain, e mais tarde foram empregados pelo próprio rei.
Nesta panóplia de ilustres estrangeiros, merece um lugar de destaque aquele que foi considerado o “pai do teatro português”- Gil Vicente. É considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. São da sua autoria os autos de moralidade, farsas e alegorias. O Auto da Alma foi durante muitos anos, obra de leitura obrigatória, do ensino liceal. O auto da Barca do Inferno, A Farsa de Inês Pereira, o Monólogo do Vaqueiro são outras tantas obras reconhecidas do autor. O Monólogo do Vaqueiro é muitas vezes invocado pela classe docente, quando o aluno não responde às solicitações do professor e o diálogo pedagógico fica reduzido a uma comunicação unilateral!
Na Espanha, atores profissionais trabalhavam por conta própria. Anualmente, as companhias realizavam festivais religiosos, e sobretudo no século XVII, as representações, nas cortes espanholas, encontravam-se fortemente influenciadas pelas encenações italianas. Os nomes mais proeminentes deste período (a chamada idade de ouro do teatro espanhol) foram Calderon de La Barca e Lope de Veja
Foi na Itália que o teatro renascentista rompeu com as tradições do teatro medieval. Houve uma verdadeira recriação das estruturas teatrais, através das representações do chamado teatro humanista. Os atores italianos, eram, basicamente, amadores, embora já no século XVI tenha havido um intenso processo de profissionalização, com o surgimento da chamada "Commedia Dell'Arte". Foi a partir do século XVII que as mulheres passaram a fazer parte das atuações teatrais na Inglaterra e na França.
Na França, uma das atrizes que outrora havia sido integrante do grupo de Molière, passou a fazer parte do elenco das peças de Racine. Therese du Parc, conhecida depois como La Champmesle, foi a atriz que primeiro interpretou o papel principal de Fedra, da obra de Racine, tornando-se então uma das principais atrizes da chamada "Commedie Française".
Ao longo do século XVIII, as mudanças na estrutura dramática das peças foram o espelho de acontecimentos históricos, como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Surgiram formas como o melodrama, que atendia ao gosto do grande público.
No final do século XIX uma série de autores passaram a assumir uma postura de criação bastante diversa da de seus predecessores românticos, visando a arte como veículo de denúncia da realidade. Escritores como Henrik Ibsen e Emile Zola foram partidários dessa nova tendência, cada qual com sua visão particular.
O teatro do século XX caracteriza-se pelo ecletismo e pela grande quebra de antigas tradições. O "design" cénico, a direção teatral, a infra-estrutura e os estilos de interpretação não se vincularam a um único padrão predominante. Entretanto, pode-se dizer que as idéias de Bertolt Brecht foram as que mais influenciaram o teatro moderno. Segundo dizia, o ator deve manter-se consciente do facto que está atuando e que jamais pode emprestar a sua personalidade à personagem interpretada. A peça em si, por sua vez, assim como a mensagem social nela contida, deveria ser o supremo objeto de interesse. É o cerne do teatro de vanguarda, tal como aprendi, nos tempos de estudante, nos anos setenta.
Dado o seu temor no caso dos atores se mostrarem incapazes de desempenhar os papéis com tanta imparcialidade, Brecht utilizou vários recursos que libertariam as encenações de quaisquer ilusões de realidade que poderiam ser criadas nas mentes dos espectadores. A cenografia dirigia-se a muitos efeitos não-realísticos, assim como as próprias atividades de mudança de palco podiam ser vistas pelo público. No teatro contemporâneo tanto as tradições realistas como as não-realistas convivem simultaneamente.
Depois de ter estudado tanto teatro, não numa Escola de Artes... , mas sim uma Faculdade de Letras, fica, no ar, a questão: Porque não me tornei atriz?
27.03.2012