AS NOSSAS BICICLETAS - III
Caríssima/o:
Há memórias privilegiadas...
De meu irmão Artur destaco duas passagens que nos podem ajudar a recuar no tempo.
«QUE GRANDE ESTOIRO!
Depois do trabalho, em direcção a casa, não sei precisar se antes se depois do que se passou na loja, na Malhada, antes de chegar à ponte quem vem da Gafanha em direcção a Ílhavo, parámos para dar ar à bicicleta, na garagem que aí havia.
O Pai disse-me:
- Vou dar ar para um ano; assim não paramos tantas vezes para dar ar.
Toca de encher a roda e ele apalpava e dizia-me:
-Ainda não está boa!
E eu não respondia e ele continuava a dar ar.
A certa altura aquilo dá um estoiro tão forte que toda a gente veio à porta ver o que se passava. O pneu e a câmara de ar saíram do aro e eu nem sabia onde estava com o barulho que tudo aquilo fez!
«PASSAGEM COM FINAL FELIZ!Vem-me sempre à memória uma passagem que começou com alegria e acabou praticamente com lágrimas.
Num sábado, na barbearia do Hortênsio, o Teixeira, o Ângelo e eu resolvemos ir fazer umas serenatas à Maluca.
Lá fomos; a noite estava quente mas muito escura e, além disso, não havia luz nas ruas.
Entrámos num caminho; aí havia um poço de rega ao qual encostámos as bicicletas.
Acabada a serenata, quando chegámos para ir buscar as bicicletas, a minha não se encontrava lá!
Que grande aflição que eu tive! Procurámos por todo o lado e nada! Logo pensei o mal!
Fomos embora; isto já sobre a madrugada. Chegado a casa disse ao Pai que me tinham roubado a bicicleta. Ele respondeu-me:
- Amanhã é segunda-feira e eu preciso dela para ir trabalhar.
Fui para o meu quarto; como não conseguia dormir, resolvi ir, sozinho e a pé, novamente ao mesmo sítio que era perto da igreja. Muita coisa pensei por esse caminho!
Mas, quando lá cheguei, vi a bicicleta! Que grande alegria! Nem queria acreditar! Parece que tinha nascido outra vez!
Cheguei a casa às 7 horas da manhã e o meu Pai já andava a pé. Perguntou o que se tinha passado, mas não me disse nada desagradável.
Passei um mau momento!»
Manuel