Sandra Costa Saldanha
Tema transversal a diversos domínios, o património cultural parece eternizar-se, todavia, entre uma das áreas em que o Estado e a Igreja Católica mais assuntos têm por resolver
Ultimadas as imensas celebrações em torno do centenário da República, 2011 é o ano em que se evoca a Lei da Separação, acontecimento que, de um modo conse-quente, mais atingiu a Igreja Católica em Portugal. Com iniciativas já programadas e anunciadas entre algumas instituições, subsiste, todavia, a aparente diluição do tema nas anteriores comemorações que, em boa verdade, assimilaram, num corolário lógico, os acontecimentos decorridos em 1911.
Tema transversal a diversos domínios, o património cultural parece eternizar-se, todavia, entre uma das áreas em que o Estado e a Igreja Católica mais assuntos têm por resolver. Tema sensível, já oportunamente lembrado por responsáveis e prelados, a necessidade de encontrar caminhos para resolver as questões do património, em concreto, daquele afecto ao culto católico, é emergente.
Organismos com responsabilidades inalienáveis, que desde a primeira hora deveriam, por imperiosa necessidade, actuar em estreita articulação, trabalharam, durante décadas, isolados, quando não mesmo, em conflito. Volvidos 100 anos, um novo rumo pode emergir, sem dúvida, de uma renovada conjugação de vontades. É notória uma estratégia de proximidade, ancorada em competências específicas e objectivos comuns. Estabelecem-se protocolos, promovem-se acordos, estreita-se uma linha de diálogo e de confiança mútua.
Mas não chega. Ainda que indispensável, são crescentes as expectativas em torno de uma política consequente e sustentada de salvaguarda e valorização dos bens culturais da Igreja. Sucessos ocasionais não respondem a necessidades estruturais. Há que potenciar essas relações e operacionalizar uma articulação efectiva entre instituições da Igreja e organismos do Estado. Em ano de centenário, porque não ponderar?