António Marcelino
O senhor deputado na Europa, que também é professor universitário, na sua tribuna semanal dissertou sobre Princípios e Valores. Lá foi dizendo que os princípios são mais libertários e progressistas e os valores mais autoritários e conservadores; que os princípios abrem horizontes e são o começo da história e os valores são a resistência à mudança, o temor do novo, a expressão da insegurança… Concluiu, logicamente, que ele é pelos princípios. Nem se esperava de outra maneira.
No mesmo dia os jornais anunciavam que um novo dicionário escolar para o ensino básico trazia todos os palavrões que as crianças no terceiro ano, portanto aí pelos oito anos, devem saber e dizer para estarem ao nível das pessoas grandes e serem cidadãos instruídos. Os pais reagiram e quem mais defendia a necessidade de tal aprendizagem eram professores. Por cinco euros, o novo dicionário põe nas mãos dos miúdos essa informação. Nem era preciso, porque na rua, na televisão, nas capas de livros esse palavreado já abunda.
Com alguns princípios “libertários”, sem valores “conservadores”, mas com palavrões ilustrativos, está aberto caminho às novas gerações.
Por mim, acho que é bem mais urgente ensinar palavras mais comuns, que traduzem valores, ou sentimentos que valem, como respeito pelos outros, amor ao trabalho, honestidade, verdade, gratidão para com os pais, acolhimento dos idosos, solidariedade fraterna, justiça… Mas isto, para os ilustrados deste país, cheira a mofo. O Ministério da Educação limitou-se a dizer que não é obrigatório comprar esse dicionário…