segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Crónica de férias

Madrasta
Passou-se numa das lojinhas do comércio local. Aquele que ainda permite às pessoas um breve encontro com os vizinhos, os amigos ou alguma pessoa conhecida daqui ou dali. Dois dedos de conversa e as pessoas ainda não passaram ao anonimato e à despersonalização que acontece nos grandes centros comerciais Assim aconteceu, e deu de caras com esta cena enternecedora, pouco comum nos dias que correm, dumas férias que são também para muita gente, um reencontro! A menina duns tenros dez aninhos de idade, estava tão agarrada àquela jovem senhora, que suscitou a pergunta:_ É a mãezinha, não é? Estavas com saudades dela? A cena era realmente comovente dada a intensidade com que a criança abraçava a suposta mãe! _Não, sou a madrasta, replicou a jovem, bonita, fresca na idade e na postura! O discurso foi aquele que profere uma pessoa sensível, sensata, de boa formação humana, perante uma situação delicada, mas que está perfeitamente à altura da mesma. Estava consciente do seu papel de maternal, prestadora de carinho e afecto, mesmo não sendo sua filha de sangue. Uma clara prova de inteligência, num relacionamento que se pretende válido, gratificante e duradouro! Verdadeiramente exemplar! Conhecia bem aquela menina, sua aluna lá da Escola e estava dentro da problemática da custódia dos filhos, resultante duma quebra dos laços familiares. O rendimento escolar da aluna, marcada por conflitos familiares desestabilizadores para o equilíbrio de qualquer ser humano, variava ao ritmo da instabilidade emocional em que a mesma vivia. Percebia-se ali, traduzido por gestos e palavras, uma carência afectiva profunda que perturbava a atenção e a concentração da criança. Todos os professores estavam atentos a este historial e tentavam, da melhor forma, compensar essa lacuna. Nem sempre era fácil, já que os docentes são seres humanos com as suas próprias dificuldades e que têm de gerir “n” conflitos e situações, emergentes do seu quotidiano. Aqui e sempre, o papel polivalente do Professor! Dava aqui pano para mangas, reflectir sobre as consequências para os filhos da separação dos pais. Estes tentam resolver os seus problemas conjugais, ignorando, por vezes, o enorme sofrimento que causam aos filhos. Os novos companheiros que vão ocupar o lugar afectivo e efectivo, pensa-se, junto dos progenitores, nem sempre entendem que as crianças têm um lugar importante. Devem ser tratadas como gente importante, e não é raro deparar com casais em que o papel da madrasta e aqui refere-se mesmo o elemento feminino, faz jus ao termo carregado de conotação negativa. “Madrasta, o nome lhe basta”, diz o povo e é bem verdade. É das tais palavras que, tal como outras já referidas em contextos específicos, soa mal, inspira mal e as mais das vezes tem mesmo correspondência na vida real. No caso, ora citado, acontece a meritória excepção que vem com toda a força, confirmar a regra! Mª Donzília Almeida 02.08.09

6 comentários:

  1. Obrigado Mª Donzília pelo comentário que foi fazendo enquanto divagava.
    Se todos os noivos antes de casarem
    pensassem como um poeta coimbrão, a vida para eles seria muito melhor.Disse ele:

    Amor quando é amor
    é para durar a vida inteira
    quem ama segunda vez
    é porque não amou bem da primeira.

    Ângelo Ribau

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  2. Caro ângelo!
    Diz muito bem sobre o amor! O tema tem muito que se lhe diga! Dava pano para mangas, mesmo sem eu saber de costura! A quadra que refere tem muita lógica, mas também 'inda tenho nos ouvidos uma que a minha mãezinha dizia e que reza assim:
    O casamento é uma açorda
    Que se come enquanto quente!
    Enquanto dura o pão da boda,
    'inda a noiva está contente!
    Então? Em que ficamos?
    E...eu sou das criaturas que 'inda acredita no Amor!
    DA

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  3. É do mais elementar senso comum, que a carência de afecto, de carinho, se amor, provoca danos graves, que resultam em desequilíbrio para o ser humano, qualquer que seja a faixa etária em que se encontre.Quem ousar negá-lo, está a contradizer a própria essência do Homem!. Não admira que numa criança se verifiquem estes comportamentos!
    O amor é a argamassa das emoções (boas)!

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  4. Cara Mª Donzilia:
    Eu conhecia a sua quadra, mas estava escondida bem lá no fundo.
    Só ao relê-la lembrei a pessoa a quem um dia a ouvi declamar.O meu vizinho Sarabando, homem de muitas leituras e excepcional conversador.
    ´inda assim, prefiro a "minha" Angelo Ribau

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  5. Claro que a sua é a melhor...no conteúdo, claro!

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  6. Ainda voltando à sua quadra! Não tem a métrica nem a rima cruzada perfeita...como dizem as regras da quadra de redondilha maior, mas....tem o sentido do que é, ou deveria ser perfeito! E isso é o que verdadeiramente conta...não é mêmo, como diz o brázilêro!

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