PRIMEIRA OU TERCEIRA IDADE?
O dia amanhecera cinzento. Uma sarria daquelas que as más-línguas apelidam de chuva molha-tolos, foi a companhia dos veraneantes que escolheram para as suas férias, aquela Ria a gosto.
Deambulava pela marginal duma Nova Costa do Prado, com um visual diferente, remoçado, atractivo e desafiador de uns largos passeios na calçada. Mais apeteceria dizer do calçadão, pois se calhar, não fica atrás dessas longas avenidas que atraem os turistas ao Rio de Janeiro. Sim, é de facto uma delícia passear-se, no amplo espaço agora criado, na marginal desta zona balnear de casas às risquinhas e tradições seculares.
Abrindo aqui um parêntesis, é de louvar o esforço de descentralização do poder que emergiu após a revolução de Abril e que não se pauta só pelo negativo. Há que ter uma visão crítica das coisas, mas reconhecer e dar o devido valor a quem o tem. Aqui, neste particular, estão as autarquias em destaque, já que, numa dinâmica de regionalização bem patente, têm dado cartas, no que concerne ao desenvolvimento local, quer no interior, outrora relegado para segundo ou terceiríssimo plano, quer mesmo no litoral. Aqui é notório o avanço que foi dado às infra-estruturas locais, para melhor e mais efectivamente servirem as populações residentes.
Foi, como referido atrás, numa dessas marginais que acompanha a ria no seu curso, que encontrou aquele trio de sexagenárias. O alarido era tanto, no veículo que conduziam, de quatro rodas, que chamava a atenção dos transeuntes. Como chamar-lhe? Bicicleta? Não. Pois não tem apenas duas rodas. Triciclo, também não. Quadriciclo? Não existe ainda em linguagem corrente, mas será, a curto prazo, incorporado, para designar uma nova realidade linguística e um novo meio de transporte! Sem gastar qualquer combustível poluente para a atmosfera, que agradece; apenas movido pelo esforço físico de pedalar. E que bem o faziam a Nor, a Lia e a Dá! Detentoras duma já madura idade, faziam coro na gargalhada fácil e estridente e desafiavam os casais jovens que passeavam com os seus rebentos. Cruzou-se com elas, numa pequena paragem do seu circuito turístico e aí, se formou, rapidamente, um quarteto para a galhofa! Não dizem que rir é a melhor terapia? E... que melhor época do que as férias, para fazer do riso umas termas recuperadoras de energias? Sem dúvida que ali, naquele passeio pela marginal, capitalizaram uma grande reserva de saúde para aplicação futura. E... honra seja feita aos fautores daquele calçadão, que retempera as forças depauperadas, nas liças da vida hodierna. Parabéns à autarquia local, pelo prazer que proporcionou a este quarteto de gente madura, que sintetizou a boa disposição ali auferida, da seguinte forma:
Primeira ou terceira idade?
Que importa, se há juventude?
Não tenham de nós, piedade!
Na meia, está a virtude!
Mª Donzília Almeida
17.08.09