D. Manuel II e Aveiro
– Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)
Em curta conversa que mantive com Armando Tavares da Silva, professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra, percebi que se trata de um apaixonado pelos temas relacionados com a nossa História. O livro que teve a gentileza de me oferecer, “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, reflecte isso mesmo. Mas também fiquei a saber que há outros trabalhos em carteira, que virão a lume com marcas da mesma sensibilidade e rigor com que cuidou de me oferecer este.
Li-o com gosto. Reli passagens que me despertaram mais curiosidade e apreciei, com redobrada atenção, as muitas fotografias da época da visita, quase a completarem um século. Em jeito de quem tenta descobrir nos rostos retratados sinais das nossas gentes.
Depois do regicídio, em que foram baleados D. Carlos e seu primogénito, D. Luís Filipe, impunha-se que o novo rei de Portugal, D. Manuel II, se aproximasse mais do povo, levando-o a acreditar e a identificar-se com a Monarquia. A visita foi memorável e disso nos dá conta, neste trabalho, Armando Tavares da Silva, pessoa de certo modo identificada com a nossa região, ou não tivesse casa na Praia da Barra.
Curiosamente, o autor, que sublinha a importância histórica da visita do rei, que Aveiro preparou com simpatia e carinho, acorrendo as suas gentes a vê-lo e a aplaudi-lo, também não ignora, neste seu escrito muito bem conseguido, os protestos dos republicanos descontentes, no exercício de uma liberdade que nunca lhes foi negada, tanto na autarquia aveirense como nos jornais. Por exemplo, enquanto “O Campeão das Províncias” e o “Districto de Aveiro” davam honras de primeira página à visita do rei, com textos laudatórios e fotos, “o Democrata” considerava, também na primeira página, sem qualquer ilustração, a visita de D. Manuel II como “Real bambochata”. Escusado será dizer que o autor buscou nas melhores fontes da época, a comunicação social, os reflexos da presença do rei em Aveiro, sem descurar a informação rigorosa de quantos muito se debruçaram sobre esse período da História de Portugal, com uma monarquia que não soube dar os passos certos para incrementar a democracia e para desenvolver o país. Daí que a República caminhasse a passos largos para acabar com um regime que construiu Portugal com rasgos de génio, desde os seus fundamentos. Com altos e baixos, obviamente. Sobre este acontecimento não se tem falado muito entre nós. Talvez a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, dois anos depois de D. Manuel II ter estado em Aveiro, tenha ofuscado aquela visita.
Como é próprio do povo, que reage com emoção inúmeras vezes pondo de lado a razão, frequentemente deixa-se manipular pelos políticos. Os mesmos que aplaudiram D. Manuel II, voltaram-se pouco tempo depois para o outro lado, para vitoriarem a República, como sublinha o autor. E com razão. Tal como aconteceu com o 25 de Abril. Muitos que batiam palmas a Salazar e a Marcelo Caetano acorreram em massa para saudar e cantar a revolução dos cravos, ao som da Vila Morena.
Li-o com gosto. Reli passagens que me despertaram mais curiosidade e apreciei, com redobrada atenção, as muitas fotografias da época da visita, quase a completarem um século. Em jeito de quem tenta descobrir nos rostos retratados sinais das nossas gentes.
Depois do regicídio, em que foram baleados D. Carlos e seu primogénito, D. Luís Filipe, impunha-se que o novo rei de Portugal, D. Manuel II, se aproximasse mais do povo, levando-o a acreditar e a identificar-se com a Monarquia. A visita foi memorável e disso nos dá conta, neste trabalho, Armando Tavares da Silva, pessoa de certo modo identificada com a nossa região, ou não tivesse casa na Praia da Barra.
Curiosamente, o autor, que sublinha a importância histórica da visita do rei, que Aveiro preparou com simpatia e carinho, acorrendo as suas gentes a vê-lo e a aplaudi-lo, também não ignora, neste seu escrito muito bem conseguido, os protestos dos republicanos descontentes, no exercício de uma liberdade que nunca lhes foi negada, tanto na autarquia aveirense como nos jornais. Por exemplo, enquanto “O Campeão das Províncias” e o “Districto de Aveiro” davam honras de primeira página à visita do rei, com textos laudatórios e fotos, “o Democrata” considerava, também na primeira página, sem qualquer ilustração, a visita de D. Manuel II como “Real bambochata”. Escusado será dizer que o autor buscou nas melhores fontes da época, a comunicação social, os reflexos da presença do rei em Aveiro, sem descurar a informação rigorosa de quantos muito se debruçaram sobre esse período da História de Portugal, com uma monarquia que não soube dar os passos certos para incrementar a democracia e para desenvolver o país. Daí que a República caminhasse a passos largos para acabar com um regime que construiu Portugal com rasgos de génio, desde os seus fundamentos. Com altos e baixos, obviamente. Sobre este acontecimento não se tem falado muito entre nós. Talvez a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, dois anos depois de D. Manuel II ter estado em Aveiro, tenha ofuscado aquela visita.
Como é próprio do povo, que reage com emoção inúmeras vezes pondo de lado a razão, frequentemente deixa-se manipular pelos políticos. Os mesmos que aplaudiram D. Manuel II, voltaram-se pouco tempo depois para o outro lado, para vitoriarem a República, como sublinha o autor. E com razão. Tal como aconteceu com o 25 de Abril. Muitos que batiam palmas a Salazar e a Marcelo Caetano acorreram em massa para saudar e cantar a revolução dos cravos, ao som da Vila Morena.
"D. Manuel II e Aveiro - Uma Visita História (27 de Novembro de 1908)" é um livro para ler e para guardar. As fotografias que o ilustram constituem uma mais-valia para curiosos e estudiosos. São de proveniências diversas, com destaque para Aurélio da Paz dos Reis e Joshua Benoliel. Ainda da Imagoteca da CMA e de outros arquivos.
Fernando Martins
NB: Mais considerações e fotos, sobre o livro, num dia destes, onde a Gafanha da Nazaré também estará presente. Há curiosidades que vale a pena conhecer.
Fernando Martins
NB: Mais considerações e fotos, sobre o livro, num dia destes, onde a Gafanha da Nazaré também estará presente. Há curiosidades que vale a pena conhecer.