1. Jesus inicia a missão que pretende realizar. Percorre cidades e aldeias na região de Cafarnaúm. Provoca encontros nas ruas, entra nas sinagogas, detém-se na praça pública. Observa atentamente as pessoas, a organização da sociedade e as condições de vida. O seu olhar penetrante chega ao mais íntimo do ser humano. Os seus ouvidos escutam o inaudito que o faz vibrar. O seu coração estremece de emoção cheia de amor. E, sem mais demoras, dá largas à acção que liberta e à palavra que rasga horizontes. E numa ousadia, sem precedentes, chama pelo nome os homens que quer, começando assim a lançar os fundamentos da Igreja. Considera tão importante o que lhes vai pedir que reconhece a sua identidade pessoal, transmite-lhes a mensagem que hão-de anunciar, define-lhes as prioridades no agir e apresenta-lhes uma espécie de regras de actuação.
2. Outrora eram as multidões; hoje é o povo, de que fazem parte os indivíduos. O cansaço e o abandono espelham o seu estado de ânimo, mostram o seu desalento perante as condições de vida, a sem esperança com que encaram o futuro, prolongamento cego de um presente amargado. E, hoje como ontem, o cortejo dos abatidos integra os empobrecidos de bens indispensáveis, os solitários de todas as companhias, os explorados da dignidade inalienável, os ignorantes de todos os direitos, os “atirados” para as margens da vida como material descartável, os sujeitos às mais diversas formas de trabalho precário, os “mal vistos” pelas instituições do poder e pelos fazedores da opinião publicada: os rebeldes sociais e políticos, as mulheres libertárias, as vítimas das atrocidades autoritárias, os pesquisadores de energias alternativas e de organizações mais participativas da sociedade, os “cobradores” de outras economias que sabem fazer do lucro um meio para gerar bem estar social para todos. Os cansados da vida constituem presa fácil do desespero, da violência e do fanatismo, sobretudo quando abandonados e vilipendiados.
3. Hoje e sempre é Jesus que, de muitos modos, vai à frente na manifestação de reacções positivas, vencendo a indiferença e a distância, no apreço pela consideração de cada um e de todos, nas propostas inclusivas de humanização, nas atitudes de solidariedade, nos gestos de amizade, nas parcerias de acção. Se vai à frente, outros vão com ele, são seus companheiros desejosos de se tornarem discípulos, apóstolos e testemunhas. Outrora foram uns que têm o seu nome nos Evangelhos. Hoje somos nós os convidados para tão nobre e entusiasmante missão. Somos nós o “coração” de Igreja solícita e compassiva, o rosto sensível da humanidade nova, os artífices confiantes de uma sociedade inclusiva das pessoas e do bem integral para todos.
Georgino Rocha