A CAIXA MÉTRICA
Caríssima/o:
Estou a vê-la daqui; tenho-a ali arrumada de forma a poder, ainda hoje e apesar de todos os comentários depreciativos, olhá-la e, como se de “caixa mágica” se tratasse, ocupar a vista e as mãos com o que do seu interior íamos tirando.
Logo os sólidos de madeira polida e luzidios. (Para muitos de nós, companheiros de tábuas mal serradas e de casqueiras a fazer de tabiques em muitas das nossas casas, este polimento e macieza era uma carícia e uma interrogação da forma da esfera e entroncava naquele cone cortado a viés e cuja utilidade nunca atingimos!)
Depois saía a balança com pesos a sério, uns hexagonais e os outros cilíndricos e amarelinhos. Quantas pesagens de sonhos deslizavam com os pratos mal equilibrados!
E um metro articulado, igualzinho ao que os nossos pais desdobravam para medir... E aquela dobradiça amarela nas nossas mãos esticava-se para medir a altura do companheiro, mais alto uns escassos três centímetros ... Mas onde a curiosidade se estendia era numa “bicha metálica” de arame, com elos e uma argolas redondas qual brinco de mulher – até o nome que lhe davam era comprido e difícil de apanhar: cadeia de agrimensor. Toca a esticar e a medir o comprimento da sala! Ainda neste sector de medir e comparar comprimentos, a régua e o esquadro encostavam-se ao quadro para riscar e fazer esquadrias, por vezes, paralelas inclinadas.
Outros alunos simpatizavam mais com as medidas dos feijões como as que a mãe usava lá em casa; e como nos divertíamos ao ver que o litro de folha ficava com um dedo vazio se lhe despejávamos a areia do litro dos secos (o tal feijão, grão,..). Umas medidas eram tão pequerrochinhas que nem cabia lá dentro o dedo mendinho! Utilidade?... Centilitro, homem!...
Será que ainda se desencantava algo mais?
Uma geringonça com umas travessas a subir e a descer, parecia uma guilhotina, mas não era aguçada. Foi-nos explicado que aquilo era um “estere” e servia para medir lenha, pois então! E um estere equivale a um metro cúbico!
O compasso e o transferidor atrapalhavam os nossos movimentos no quadro quando se tratava de traçar circunferências (onde está o centro?...lá se mexeu outra vez...segura bem...) ou de medir ângulos (que nessa altura iam do nulo ao de volta inteira ou giro, sem esquecer o raso, o obtuso, o recto e o agudo... até dá para suar!).
Certo cansaço vence a pouca curiosidade que transparece do vosso rosto e é mister fechar-lhe a porta. Antes, porém, peguemos com as nossas mãos no nível de bolha de ar e no fio de prumo... Sem autorização dos nossos pais, que os utilizavam no seu trabalho diário com destreza e mestria, e com o apoio e o incentivo do professor que nos perpendiculava na horizontal!
Manuel
Caríssima/o:
Estou a vê-la daqui; tenho-a ali arrumada de forma a poder, ainda hoje e apesar de todos os comentários depreciativos, olhá-la e, como se de “caixa mágica” se tratasse, ocupar a vista e as mãos com o que do seu interior íamos tirando.
Logo os sólidos de madeira polida e luzidios. (Para muitos de nós, companheiros de tábuas mal serradas e de casqueiras a fazer de tabiques em muitas das nossas casas, este polimento e macieza era uma carícia e uma interrogação da forma da esfera e entroncava naquele cone cortado a viés e cuja utilidade nunca atingimos!)
Depois saía a balança com pesos a sério, uns hexagonais e os outros cilíndricos e amarelinhos. Quantas pesagens de sonhos deslizavam com os pratos mal equilibrados!
E um metro articulado, igualzinho ao que os nossos pais desdobravam para medir... E aquela dobradiça amarela nas nossas mãos esticava-se para medir a altura do companheiro, mais alto uns escassos três centímetros ... Mas onde a curiosidade se estendia era numa “bicha metálica” de arame, com elos e uma argolas redondas qual brinco de mulher – até o nome que lhe davam era comprido e difícil de apanhar: cadeia de agrimensor. Toca a esticar e a medir o comprimento da sala! Ainda neste sector de medir e comparar comprimentos, a régua e o esquadro encostavam-se ao quadro para riscar e fazer esquadrias, por vezes, paralelas inclinadas.
Outros alunos simpatizavam mais com as medidas dos feijões como as que a mãe usava lá em casa; e como nos divertíamos ao ver que o litro de folha ficava com um dedo vazio se lhe despejávamos a areia do litro dos secos (o tal feijão, grão,..). Umas medidas eram tão pequerrochinhas que nem cabia lá dentro o dedo mendinho! Utilidade?... Centilitro, homem!...
Será que ainda se desencantava algo mais?
Uma geringonça com umas travessas a subir e a descer, parecia uma guilhotina, mas não era aguçada. Foi-nos explicado que aquilo era um “estere” e servia para medir lenha, pois então! E um estere equivale a um metro cúbico!
O compasso e o transferidor atrapalhavam os nossos movimentos no quadro quando se tratava de traçar circunferências (onde está o centro?...lá se mexeu outra vez...segura bem...) ou de medir ângulos (que nessa altura iam do nulo ao de volta inteira ou giro, sem esquecer o raso, o obtuso, o recto e o agudo... até dá para suar!).
Certo cansaço vence a pouca curiosidade que transparece do vosso rosto e é mister fechar-lhe a porta. Antes, porém, peguemos com as nossas mãos no nível de bolha de ar e no fio de prumo... Sem autorização dos nossos pais, que os utilizavam no seu trabalho diário com destreza e mestria, e com o apoio e o incentivo do professor que nos perpendiculava na horizontal!
Manuel