quarta-feira, 15 de junho de 2005

Portugueses infelizes?

Segundo o Eurobarómetro, os portugueses são dos que, na UE, menos se interessam pela política e dos que mais se manifestam infelizes com a vida que levam, logo depois dos povos de cinco novos Estados-membros. E quanto à religiosidade, os portugueses são dos que se declaram mais crentes. Pensando bem, estes valores devem mesmo estar certos. Pelo menos, é essa a sensação que tenho de conversas mantidas com muita gente. A ignorância política é demasiado conhecida. Acho que os portugueses gostam pouco de pensar a política, optando, habitualmente, por se deixarem guiar pelos líderes políticos. A cegueira e os interesses partidários (de todos os partidos, claro) são confrangedoramente notórios, em muitos casos, contribuindo para o deficiente envolvimento do povo, em minha opinião. E sobre a infelicidade que tantos sentem, penso que isso deve estar ligado às incertezas do futuro, à luta terrível pela sobrevivência a todos os níveis, às expectativas criadas pelas pessoas e difíceis de alcançar. A cultura do ter, em detrimento do ser, leva muita gente a ficar deprimida, por não conseguir chegar onde sonhou. A propósito da religiosidade, o estudo revela que os portugueses são dos mais crentes, mas logo esclarece que muitos confessam não dedicar muito tempo a pensar no sentido da vida. Julgo que muitos se declaram crentes por tradição, pela educação religiosa recebida na infância, na família e na catequese, mas também se sabe que bastantes jovens, pouco tempo depois, se afastam da frequência do culto. Cerca de 81 por cento dos portugueses, sublinha o inquérito, dizem acreditar que Deus existe, 12 por cento acreditam na existência de alguma força de vida ou espiritual e apenas seis por cento não crêem em Deus ou em qualquer força espiritual. Sobre a existência de Deus, estão à frente de Portugal, na UE, os malteses, com 95 por cento de crentes, e os cipriotas, com 90 por cento. A média da UE, neste item, é de 52 por cento Em resumo, há muito que fazer no nosso País, quer ao nível da sensibilização para a política, porque os Governos e os seus projectos dependem, essencialmente, da força dos votos dos eleitores. Mas também se torna urgente descobrir, com realismo, as causas da infelicidade de tantos compatriotas nossos. Não creio que seja uma questão genética. Quanto à religiosidade, uma questão sempre em debate no seio da Igreja Católica, penso que é imperioso esclarecer mais sobre a importância da formação da fé e para a fé, apresentar com mais clareza os ensinamentos eclesiais e testemunhar com mais coragem a Boa Nova de Jesus Cristo. Fernando Martins

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