quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Mourão-Ferreira — Natal, e não dezembro




NATAL, E NÃO DEZEMBRO

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira


Nota: Gosto da poesia de Natal  de David Mourão-Ferreira. Publicação repetida.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

DIFERENÇAS — Cardeal Tolentino

O estribilho tenho-o ouvido com frequência: “Não temos hoje a afirmação de um pensamento católico consistente”. Parece que rareia - é certo. Mas há sempre magníficas excepções. E o Cardeal Tolentino é uma exemplar de primeira grandeza. Teólogo esclarecido, profundo e aberto aos desafios do nosso tempo, biblista, filósofo da interioridade; o homem que sabe dizer para além das palavras, em poesia humanista, filosófica e mística a um tempo; conferencista plurifacetado… 
Não admira que tenha sido chamado às responsabilidades de que se desempenha na Cúria Romana, não espanta ter ganho o Prémio Pessoa 2023 e ter sido investido pela Universidade de Aveiro como Doutor Honoris Causa. 
Faz a diferença em relação a tantos atavismos teológicos, a tanta inércia de saudosismos passadistas, a tanto medo (ou cobardia) rotulado de prudência. Também com esta pena iluminada se faz Natal, no meio da selva de tanto dizer sem nada dizer, de tanta ‘teologia de bolso’, de tantos muros erguidos face à cultura, de tantas janelas a fecharem-se, numa rota de preservar a Igreja condenando-a ao mofo da insignificância.

Querubim Silva 
no Correio do Vouga de hoje 

Os sonhos comandam a vida

 “Neste Natal, atreva-se a sonhar.” Li esta frase, há anos, num saco publicitário, e ficou guardada no meu cérebro para sempre, em especial no Natal. De pequenino senti que o Natal era um sonho que continuará até ao fim dos tempos. E quem não gosta de sonhar?

Neste Natal, tenho sonhado com o fim das guerras, tantas guerras, ao longo da história. E nenhuma levou os homens e mulheres procurarem a paz para sempre. Tanto a nível pessoal, local e universal.

O sonho, diz o poeta António Gedeão, comanda a vida. E se assim é, há que encher a vida de sonhos. Sonhos que nos alimentem o espírito e nos garantam forças para prosseguir na jornada, em caminhos de optimismo, tolerância e verdade.

Importa, pois, sonhar, porque a vida não pode ser só trabalho, canseiras, preocupações, tristezas. De permeio, há felicidades pessoais ou coletivas a conquistar.

Urge crer num mundo melhor e lutar por uma sociedade mais justa e mais solidária, para nós e para os nossos filhos e netos. Urge tornar fáceis, através dos sonhos, mas não só, os caminhos que trilhamos, iluminando os que nos rodeiam com sorrisos e projetos de beleza e paz. Urge prosseguir no dia a dia na busca do que é bom para todos os homens e mulheres de boa vontade.

Será ótimo sonhar em espírito natalício todos os dias do ano! É que o sonho, a alma de uma vida melhor, é luz que brilha e ilumina projetos com sentido, porque assentes na ternura que o MENINO do presépio de Belém nos deu para sempre.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Recordando um amigo: Georgino Rocha

Lembrei-me hoje de um amigo que já está no seio de Deus: Georgino Rocha. Um padre amigo e sempre disponível para colaborar neste meu blogue, com reflexões adequadas aos tempos litúrgicos. Não era preciso telefonar-lhe nem sugerir-lhe assuntos para os seus escritos. Estou convicto de que o meu amigo de tantos anos não me levará a mal este modesto elogio, mas sinto que devo fazê-lo por razões de justiça.
A sua fidelidade era tal, que, mesmo doente, os seus escritos não faltavam na hora própria, dando testemunho da sua fé e da sua cultura, que era muito acima do normal. Não será necessário citar os seus doutoramentos porque o padre Georgino não fazia gala disso, embora o provasse, quando escrevia ou falava para gente humilde ou culta.
Em sua memória, republicarei alguns textos seus. É que o padre Georgino continua a acompanhar-me na minha vida terrena.

Fernando Martins

domingo, 17 de dezembro de 2023

O PRESÉPIO de João Saraiva

Menino vestido pela Lita por causa do frio
 

Numas palhinhas deitado,

abrindo os olhos à luz,

loiro, gordinho, rosado,

nasce o Menino Jesus.


Uma vaquinha bafeja

seu lindo corpo divino, 

de mansinho, que a não veja 

e não se assuste o Menino!


Meia-noite. Canta o galo.

Por essa Judeia além

dormem os que hão de matá-lo 

quando for homem também!


E, pensativa, a Mãe pura

ouve, embalando Jesus,

os rouxinóis na espessura

dum cedro que há de ser cruz!


PAPA FAZ HOJE 87 ANOS — PARABÉNS!

PAPA FRANCISCO FAZ HOJE 87 ANOS

 

Pascal: o Homem e Deus

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

Entre o nada e o Infinito, outras tensões, Jesus Cristo e a salvação.
Desproporção no homem. "O que é um homem no infinito? O que é um homem na natureza? Um nada diante do infinito, um tudo diante do nada, um meio entre nada e tudo, infinitamente longe de compreender os extremos. Todas as coisas saíram do nada e são elevadas até ao infinito."
O homem não se compreende porque está no meio e não se contenta senão com o infinito. "Todos os homens procuram ser felizes. O que não conhece excepção por muito diferentes que sejam os meios para esse fim. A vontade não faz a mais pequena diligência a não ser tendo em vista esse objecto. É este o motivo de todas as acções de todos os homens, até mesmo dos que se enforcam.

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