sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Georgino Rocha - Cristãos na vida pública





Acontecimentos recentes dão visibilidade a uma realidade provocadora: Onde estão e quem apoia os cristãos empenhados na vida pública? Que formas associadas são acarinhadas e promovidas pela Igreja instituição e seus responsáveis primeiros, seus movimentos e paróquias? Que sensibilidade social desperta a leitura orante do Evangelho que alguns grupos vão fazendo? Perguntas que podem incomodar os que estão satisfeitos porque há ainda quem aparece, pede ritos sagrados, toma parte em devoções piedosas, tem gestos e conselhos de bem-fazer. Dá a impressão que se cultiva uma fé “descafeinada”.

O Evangelho é força de renovação. O exemplo de Jesus histórico, situado no tempo e na cultura, não deixa dúvidas. E o Cristo ressuscitado, o da glória, percorreu os caminhos da história, assumiu a limitada medida humana, redimensionou a fragilidade, abriu horizontes às sementes de esperança, fez brilhar a energia escondida no fermento de uma sociedade envelhecida a renovar. E deixa esta bela missão aos seus discípulos e pastores.

A valorização dos leigos como “categoria” à parte na Igreja constitui um empobrecimento tremendo, se antes não for valorizada a sua pertença ao Povo de Deus, a par de outros membros como os diáconos, os presbíteros e os bispos, todos chamados a ser santos no quotidiano das suas vidas. Os religiosos representam um sinal especial que visualiza esta vocação universal.

Sendo importante ver onde estão os leigos e o que fazem, é mais urgente ponderar onde estão os cristãos como discípulos missionários na Igreja “hospital de campanha” que quer ser fiel a Jesus Cristo que grita em surdina na consciência das pessoas subdesenvolvidas nas suas capacidades, adormecidas na sua dignidade, congeladas nas suas aspirações a um desenvolvimento integral, limitadas ao imediato saturante, esforçadas em gestos de precária duração, atormentadas por feridas purgantes de sonhos truncados. A humanidade e a mãe natureza fazem sentir a sua amargura, o ambiente o seu descontrole, as alterações o seu clamor ensurdecedor. Paulo na carta aos cristãos de Roma já deixava alertas sonoros, embora em forma de gemidos. (Rom 8, 22). Hoje, como facilmente se comprova, os seus efeitos são desastrosos.

A vida pública não exclui a privada, pois a pessoa é um todo em busca de harmonia crescente das suas diversidades enriquecedoras. Ela é individualidade sociável, natureza civilizada, relação convivial, tempo situado na história, eternidade configurada no limite aberto ao definitivo do futuro de Deus. Em todas estas áreas está chamada a realizar-se progressivamente.

A Igreja constitui o sacramento desta vocação da humanidade e, por vontade de Jesus Cristo, força de semente a germinar constantemente, energia de fermento a levedar a massa, sacramento a garantir que Deus quer a colaboração de todos na realização do seu projecto de salvação universal.

Situa-se neste dinamismo o Encontro Nacional de Leigos recentemente realizado, em Viseu, encontro que analisa o tema “Nada nos é indiferente entre a terra e o céu” e quer ser “um apelo sobre os fundamentos da nova esperança e a responsabilidade politica e social para a construção da justiça e da paz”. A presidente da CNAL, Alexandra Viana Lopes, em declarações à Rádio Vaticano, destaca os apelos que o Papa tem feito: “a sair das suas portas, viver plenamente no mundo, ir trabalhar para todos e com todos”, apelos “a chegar sobretudo àqueles que ainda não encontraram Deus, que vivem na maior fragilidade humana, social e cultural”.

Muito caminho já se fez; mas muito mais há para fazer. Onde estão os cristãos na vida pública? Como se organizam para a eficácia da indispensável acção concertada? Que espiritualidade os anima? Quem lhes/nos apoia na ousadia apostólica de dar razões de esperança nos ambientes em que vivemos? Perguntas que indicam um rumo auspicioso sob o olhar atraente de Jesus, Senhor do Universo.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Filarmónica Gafanhense - Concerto de Natal



A Filarmónica Gafanhense vai brindar-nos, mais uma vez, com um concerto de Natal na igreja matriz, no próximo dia 16 de dezembro: Como já é habitual, serão apresentadas melodias a condizer com a época, ao jeito de estímulo para levarmos à prática a fraternidade universal, própria da mensagem de ternura do Menino Deus.

Homem livre e o mar


 
"Homem livre, tu sempre gostarás do mar"

Charles Baudelaire 

Georgino Rocha - A atenção aos pobres faz brilhar a glória do Senhor



Jesus manifesta grande preocupação em deixar claro aos discípulos o futuro definitivo e a sua articulação com o dia-a-dia da vida presente. Hoje recorre a uma visão profética, antecipando o que vai acontecer. Mateus, inspirando-se em relatos bíblicos solenes, apresenta os ensinamentos de Jesus de uma forma majestática: sentado em trono de glória, à maneira de juiz universal, a convocar todas as nações como um pastor ao seu rebanho, a fazer o discernimento final, a indicar a sorte de todos que será coerente com as decisões tomadas por cada um. É um momento que faz suster a respiração. É um instante que desvenda o sentido da vida e o seu desfecho definitivo, eterno. Sem possibilidades de recomeçar, de voltar atrás.

A imponência do juiz é suavizada pela proximidade e pela ternura do pastor que sem cessar cuida de cada uma, mesmo perdida em vales tenebrosos; pela solicitude que o leva a dar a vida pelo rebanho, a procurar o melhor alimento de que precisa. De facto, Jesus, Rei de Glória, pela ressurreição, é o mesmo que no poço de Jacob conversa com a samaritana e lhe pede de beber, o mesmo que colhe espigas de campo alheio para saciar a fome, o mesmo que se senta à mesa de Zaqueu, o mesmo que não tem onde repousar a cabeça por se ter doado inteiramente pelo bem dos outros. Que prodigiosa manifestação e que assombrosa catequese! A transformação operada na ressurreição confirma e eleva o sentido das acções quotidianas, da relação de convivío, do gesto de ajuda gratuita. Este é o critério decisivo. Cada um semeia no tempo o que colherá na eternidade. Não porque Deus se desinteresse de nós, mas porque respeita incondicionalmente a nossa liberdade. Que responsabilidade assumimos ao sermos livres! Sejamos dignos da confiança que Deus tem em nós e poupemos-lhe o risco de nos ver afastados para sempre do seu abraço de Pai.

O espanto dos convocados é geral. Nem sequer suspeitam do alcance do bem que fizeram aos pobres, de toda a espécie. “Quando é que Te vimos com fome e te demos de comer?” E a lista das obras de misericórdia continua, abrangendo as necessidades fundamentais do ser humano. A resposta não deixa dúvidas: “Sempre que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes”. Ou o contrário: deixastes de fazer a eles, a Mim o deixastes de fazer. A estes é confirmada a sua opção de afastamento realizada na recusa; àqueles, é reconhecida a sua atitude de bem-fazer e selada com uma grande abraço, acompanhado do convite amoroso: “Vinde benditos de Meu Pai. Recebei em herança o Reino preparado para vós”.

O Papa Francisco, na homilia da missa do Dia Mundial dos Pobres, afirma que “nos pobres "manifesta-se a presença de Jesus, que, sendo rico, fez-se pobre”. Neles, pois, “na sua fraqueza, há uma ‘força de salvação’. E, se aos olhos do mundo eles têm pouco valor, são eles que nos abrem o caminho para o céu, são o ‘nosso passaporte para o paraíso’”. E "para nós, é um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa verdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais". E insistiu que "nos fará bem" lembrar-nos disso. Na verdade, concluiu: "aproximar-se de quem é mais pobre do que nós, tocará as nossas vidas”.

‘Para mim, o que conta na vida? Em que invisto? Na riqueza que passa, da qual o mundo nunca se sacia, ou na riqueza de Deus, que dá a vida eterna?’ Diante de nós está esta escolha: viver para ter na terra ou dar para ganhar o céu. Com efeito, para o céu, não vale o que se tem, mas o que se dá”, conclui o Papa a sua forte interpelação.

Jesus é um Rei surpreendente e desconcertante. Ele, o Senhor da Glória, deixa-nos o exemplo e o apelo, o valor da atenção gratuita e da relação confiante, do sentido das coisas e do seu uso funcional, da solidariedade operativa e da caridade que realiza por amor o que não se faria por preço nenhum deste mundo. Este é o nosso Rei e Senhor. Não desfiguremos o seu rosto. Avivemos os seus traços com as nossas atitudes.
 

De pequenino é que se torce o pepino


Diz o ditado, com razão, que de pequenino é que se torce o pepino. E a paciência e as artes precisam de treino. Ao lado do pai, supostamente, o menino ali está lançando o anzol com isco na esperança de apanhar uns peixinhos. Fotografei sem pretender identificar os protagonistas da cena, porque o que vi retrata claramente qualidades que eu gostaria de possuir em alto grau: Paciência, serenidade para não desesperar, capacidade de atenção e de precisão, gosto pela natureza, paixão pela ria e pelo mar.

António Aleixo — Quadras soltas



O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
— quando consigas fazer
mais pelos outros que por ti!

A esmola não cura a chaga;
mas quem a dá não percebe
que ela avilta, que ela esmaga
o infeliz que a recebe.

Tu que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes esqueceste
— tudo quanto prometias…

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não o ser.

António Aleixo
In “Este livro que vos deixo…”

Nota: Em memória da amiga Rosa Branca que há anos me enviou algumas quadras do poeta para o meu blogue. 

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