Um texto póstumo de Ângelo Ribau
A Botadela
Cada um pega na sua canastra e toca de acartar a areia dos areeiros para os meios. Os moços mais velhos iam dizendo qual a quantidade necessária para cada meio ao mesmo tempo que, com uma pá grande (pá de arear) iam espelhando a areia, que tinha de ficar com uma espessura tanto quanto possível igual. Para que isso acontecesse usavam uma técnica especial: enchiam a pá de areia e, enquanto a espalhavam, a pá era progressivamente voltada ao contrário, de modo a que quando acabava a areia, a pá estava de pernas para o ar.
Findo este trabalho, o moço mais velho que era habilidoso a cozinhar, foi tratar da bacalhoada, enquanto eram ultimados outros serviços.
O Ti “Marendeiro” preparando a bacalhoada.
Aproximava-se o meio-dia velho, hora de mais calor, altura em que se deveria abrir o tabuleiro do meio, dando passagem à água das partes de cima para as partes de baixo, onde iria formar-se o sal.
Era um trabalho altamente especializado que ficava a cargo do marnoto. Era executado com a pá do tabuleiro (pá em forma de cunha) que abria uma pequena passagem no portal existente no tabuleiro de meio. Dessa passagem dependia que a marinha “pegasse” bem, isto é, começasse a fazer sal logo no dia seguinte, ou não. Era uma greta pequena, para permitir a passagem de uma pequena quantidade de água, que vagarosamente se ia espalhando pela areia do meio.