domingo, 19 de abril de 2009

A cultura da polivalência

Leonardo da Vinci
1. Os grandes autores da época do Renascimento primaram pelo espírito aberto de polivalência, do saber de tudo um pouco, da procura da visão de conjunto. Não, porventura, numa tentativa de explicação fixista unitária de tudo, mas na dinâmica procuradora do desenvolvimento humano integral, onde todas as faces da vida que nos envolve merecerão ter da parte do ser humano uma abordagem. Um dos maiores génios de sempre da humanidade vem desta época, Leonardo da Vinci (1452-1519). Das suas habilidades, do que nós hoje chamaríamos de polivalência, ele foi: pintor, escultor, arquitecto, matemático, engenheiro, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico, mecânico, escritor, poeta e músico do chamado Renascimento italiano. Teve, ainda, além de outras, intuições na área da futura aviação. 2. Claro que não vamos pedir tanto a nós próprios nem aos que hoje estudam ou ontem estudaram! Génio é génio! Mas haveremos sempre de pedir não um afunilamento demasiado na especialidade que faça perder a noção da globalidade (E. Morin). Poderemos mesmo colocar em esquema esta dúvida: o mercado de trabalho reclama polivalência adaptativa à realidade, mas, objectivamente, os circuitos dos estudos vão-se apurando sempre mais na especialização. Como articular? Por vezes perguntamo-nos a nós próprios: como pedir POLIVALÊNCIA, esta que traz consigo também a exigência e aceitação humanista e a capacidade de adaptação e recriação mediante as novas situações e mesmo as dificuldades…quando a formação aposta fortemente mais numa especialização no pormenor (?). 3. Nos tempos actuais (não dizemos se de crise, pré-crise ou pós-crise), esta capacidade de adaptabilidade generosa, na aceitação própria da gradualidade da construção da casa (seja física seja da vida), dará garantias de ser-se melhor profissional e mais cidadão na procura de cada dia (no pressuposto da ética) nos irmos moldando. Um novo renascimento! Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 127

BACALHAU EM DATAS - 17

Júlia I

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX - BENSAÚDE E MARIANO
Caríssimo/a:
E continuemos a nossa saga...
1857 - «…Mas em 1857, a Companhia [de Pescarias Lisbonense] viu-se forçada a suspender a sua actividade, por razões que se prenderam com o agravamento das leis fiscais.» [Creoula, 09; HPB, 27; Oc45, 79] 1865 - «O “imposto de pescado” já se elevava a 6 %.» [HPB, 26/28] 1866 - «Em 1866 voltou a ressurgir a Faina Maior com a empresa Bensaúde & C.ª, do Faial, que, por razões climatéricas, transferiu mais tarde a seca do bacalhau e as instalações principais para o Barreiro.»[Creoula, 09] «Nove anos depois da falência da Companhia das Pescarias Lisbonense (1857), em 1866, apareceram dois novos armadores “Bensaúde e C.a” e “Mariano e Irmãos” que armaram nesse ano 4 veleiros: HORTENSE, 98 t, SOCIAL, 148 t e 25 homens; JULIA I, 217 t e 41 homens; JULIA II, 145 t e 28 homens. O JULIA I e o JULIA II serão mesmo armados em lugres-patacho. De 1866 a 1903, estas duas empresas acabaram por ter praticamente o exclusivo da pesca do bacalhau.» [HPB, 28] 1875 - «A grande revolução nos métodos de pesca empregados ocorreu em 1875, ano em que se fez o primeiro ensaio com "dories", embarcações ligeiras de fundo chato, utilizadas há muito pelos pescadores americanos. As pesadas chalupas de difícil e perigosa manobra, quer no arrear, quer no içar para bordo, viram assim terminado o seu ciclo de utilização diário. Entre os franceses, cada dory era tripulado por dois homens, visto serem ligeiramente maiores que os dories usados pelos portugueses, estes ocupados por um só homem. A pesca era agora feita pelos pescadores isolados nas suas pequenas embarcações, senhores e donos do seu trabalho e do seu destino, ficando o navio fundeado no mesmo sítio durante vários dias, enquanto a abundância de pesca o justificasse.»[HDGTM, 40] 1885 - «Na Figueira da Foz, diz Rui Cascão, a pesca do bacalhau “reiniciou-se de facto em 1885, utilizando um só navio – o JÚLIA 1.º – com apenas 82 toneladas de lotação – sob o comando do capitão José da Cunha Ferreira (1856-1945).” »[Oc45, 79] 1886 - «Segundo Rui Cascão partiram para a Terra Nova dois navios – JÚLIA 1.º e JÚLIA 2.º, com a tonelagem de 270 m3.» [Oc45, 80] 1888 - «Das cerca de 21.000 toneladas que entraram no país, apenas 923 foram pescadas por navios nacionais.» [Oc45, 67] 1889 - «Segundo Rui Cascão “As campanhas [da pesca do bacalhau] foram feitas com 3 navios de 1889 a 1901, com excepção dos anos 1895/1896 e 1900”.» [Oc45, 80] 1890 - «Construção do navio ADÍLIA nos terrenos marginais da Cale da Vila, pelo pai do celebrado Mestre Mónica.» [Tim, Set/1990, “Toca a Marchar”] 1891 - «Em 1891, a empresa Bensaúde & C.ª deu origem à Parceria Geral de Pescarias que a par com a Mariano e Irmãos, da Figueira da Foz, deteve o exclusivo da pesca do bacalhau em Portugal.»[Creoula, 09]
Manuel

sábado, 18 de abril de 2009

Padre Miguel Lencastre: o encontro sempre apetecido

80 anos de vida ao serviço do Reino de Deus


Quando criamos afinidades com alguma pessoa, é sempre um prazer encontrá-la e estar com ela. Hoje, tive o grato prazer de conversar com o Padre Miguel Lencastre, não tanto tempo quanto desejaria, mas o suficiente para recordar um convívio são de há muitos anos, cheio de cumplicidades e de mútua estima.
Conheci o Padre Miguel numa data imprecisa, anterior a 1970. Tinha sido ordenado presbítero em 1966 e passava na altura pela Gafanha da Nazaré, julgo que a convite do Padre Domingos Rebelo dos Santos, prior da freguesia. Foi no Café Central, na hora da bica, que o Padre Domingos mo apresentou. Desde aí, fiquei a saber um pouco da sua vida e a apreciar a capacidade de diálogo e empenho apostólico que ainda cultiva.
Entre Junho de 1970 e Setembro de 1972 exerceu, entre nós, o cargo de coadjutor da paróquia, assumindo, em Abril de 1973, a paroquialidade da Gafanha da Nazaré. Deixou essa missão em Outubro de 1982, sendo substituído pelo Padre Rubens Severino.
Como sacerdote de Schoenstatt, conhece meio mundo, ao serviço dos ideais que aceitou já adulto. Um simples telefonema foi o suficiente para acertarmos a hora do encontro. E da conversa que mantivemos, ao jeito de matar saudades, que eu tanto aprecio, registei algumas notas que aqui partilho, como simples homenagem que, na minha óptica, ele bem merece.


Quando estou com o Padre Miguel, é certo e sabido que aprendo alguma coisa, marcadamente inédita. Vejam só: hoje aprendi dele que podemos, se quisermos, descobrir, por cálculos mais ou menos lógicos, o dia em que passámos a viver no ventre de nossa mãe. Pois o Padre Miguel, que completa 80 anos em 12 de Junho próximo, dia em que pela primeira vez terá sentido a luz do dia, vai lá para trás, nove meses, para assinalar a sua concepção. Regista o 12 de Setembro, altura em que começou a viver, no seio de sua mãe, em perfeita comunhão com ela e dela recebendo as bases fundamentais da própria personalidade que foi desenvolvendo ao longo de tantos anos. Iniciou, portanto, nessa data, as comemorações do seu 80.º aniversário. Porque o 12 de Junho está já reservado para outros encontros, estabeleceu o 20 de Junho para celebrar o 80.º aniversário no Mosteiro da Batalha, junto à estátua de D. Nuno Álvares Pereira, padroeiro do seu sacerdócio e por quem nutre muita devoção. Recorda, a propósito, que D. Nuno foi o grande obreiro do conceito de patriotismo, com as lutas que travou, à frente do povo português, contra as pretensões do rei de Castela, assegurando a nossa independência. Por isso, estará, se Deus quiser, na cerimónia de canonização, que ocorre em Roma, no próximo dia 26 de Abril.

Questionado sobre o que vai fazer, de significativo, a partir dos 80 anos, o Padre Miguel adiantou quatro grandes objectivos:
– Passar a escrito a sua autobiografia, o Livro da sua Vida;
– Continuar o seu trabalho com o Terço dos Homens, no Brasil, onde já há meio milhão de homens que o rezam, semanalmente, nas suas paróquias e capelas;
– Promover a unidade, cada vez mais forte, da família, através do restauro da casa onde nasceu, berço onde começou o Movimento de Schoenstatt, em Portugal;
– Por último, ou o primeiro objectivo, esforçar-se por atingir a santidade. Não sabe, concretamente, qual vai ser o mais difícil de conseguir, mas espera que todos se realizem. Resta-me desejar ao Padre Miguel Lencastre que daqui a uns tempos possamos chegar à bonita conclusão de que tudo foi alcançado.
 Fernando Martins

Crise e crítica na Igreja

Quem se não apercebeu ainda da crise por que passa hoje a Igreja Católica? Um grupo de 300 teólogos e responsáveis de comunidades de base espanhóis - alguns, como A. Torres Queiruga, Juan Masiá, J. A. Estrada, J. J. Tamayo, J. I. González Faus, teólogos de renome - acaba de publicar um documento intitulado Ante la crisis eclesial, no qual defende que "a causa principal da crise é a infidelidade ao Concílio Vaticano II e o medo das reformas exigidas".
Num procedimento que eles próprios consideram ser "extraordinário" - não é também extraordinária a causa que o motiva: "a perda de credibilidade da instituição católica"? -, reconhecem que "este descrédito pode servir de desculpa para muitos que não querem crer, mas é também causa de dor e desconcerto para muitos crentes".
Responsável fundamental é a Cúria Romana. O Concílio teceu-lhe críticas duríssimas, Paulo VI tentou pôr em marcha uma reforma, mas ela própria bloqueou--a. As culpas não são, pois, exclusivamente de Bento XVI, com quem aliás se solidarizam: "O erro grave de todos os pontificados anteriores foi precisamente deixar bloquear essa reforma urgente."
A primeira consequência do bloqueio é "o poder injusto da Cúria sobre o colégio episcopal", derivando daí "uma série de nomeações de bispos à margem das Igrejas locais e que busca não os pastores que cada Igreja precisa, mas peões que defendam os interesses do poder central".
Aqui assentam outras duas consequências: a mão estendida a posições da extrema-direita autoritária e ataques sem misericórdia contra quem está próximo da liberdade evangélica, da fraternidade cristã e da igualdade de todos os filhos e filhas de Deus, "tão clamorosamente negada hoje". Depois, há "a incapacidade para escutar", que faz com que "a instituição esteja a cometer ridículos maiores do que os do caso de Galileu". De facto, a ciência oferece dados que a Cúria prefere desconhecer, concretamente nos "problemas referentes ao início e ao fim da vida". A proclamada síntese entre fé e razão fica anulada.
Estas são "horas negras" para o catolicismo romano. Os autores lembram as rupturas de Fócio, que desembocou no grande cisma de 1054, e de Lutero, para sublinhar que também hoje "se não pode esticar demasiado a corda em tensão". Mas "Deus é maior do que a instituição" e "a alegria que brota do Evangelho dá forças para carregar com os pesos mortos". Por isso, os subscritores do documento, animado exclusivamente pelo amor a uma Igreja enferma, não se sentem superiores nem vão abandoná-la, mesmo que tenham de suportar as iras da hierarquia.
A quem se possa escandalizar lembram que a Igreja foi ao longo da sua história "uma plataforma de palavra livre". Assim, Santo António de Lisboa pôde pregar publicamente que Jesus tinha dito: "apascentai as minhas ovelhas", mas os bispos da altura entenderam: "ordenhai-as e tosquiai-as". O místico São Bernardo escreveu ao Papa, dizendo--lhe que não parecia sucessor de Pedro, mas de Constantino, perguntando: "Era isto que faziam São Pedro e São Paulo?" Comentando, o actual Papa escreveu, em 1962: "Se o teólogo de hoje não se atreve a falar dessa forma, é sinal de que os tempos melhoraram? Ou é, pelo contrário, sinal de que diminuiu o amor, que se tornou apático e já não se atreve a correr o risco da dor pela amada?"
Neste contexto e por ocasião da passagem dos 25 anos da sua morte, deixo aqui a minha homenagem ao antigo professor, Karl Rahner, um dos maiores teólogos católicos do século XX, que escreveu num pequeno livro que então traduzi - Liberdade e Manipulação - que a liberdade tem prioridade sobre a autoridade, que só se legitima como função de serviço; esta reinterpretação funcional da autoridade obrigará a superar "a mentalidade institucionalizada dos bispos, feudal, descortês e paternalista" e implicará a limitação temporal nos cargos eclesiásticos, incluindo o papal, que as decisões e directrizes sejam, em princípio, explicadas ao público, com razões, e que se volte a "pensar numa colaboração do povo na nomeação dos hierarcas".

Gafanha da Nazaré: Alterações de trânsito trouxeram incómodos

A Av. José Estêvão vai ser sujeita
a alterações rodoviárias e urbanísticas
:
"Manuel Serra, presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, reconhece que as alterações de trânsito introduzidas na Rua Dom Manuel Trindade Salgueiro provocam transtorno aos residentes. “Não será a situação mais cómoda para a população, mas é útil em questões de segurança”, afirmou em entrevista à rádio Aveiro FM. “Alguns estabelecimentos comerciais” foram prejudicados com as correcções efectuadas no local. O autarca do PSD lembra que os automobilistas que circulavam naquela artéria eram confrontados com “ciladas” que punham em causa a sua segurança. “Só não havia mais acidentes porque as pessoas tinham muito cuidado”, declarou. A Avenida José Estêvão, principal artéria da freguesia, será igualmente sujeita a alterações rodoviárias e urbanísticas." Lê-se no Diário de Aveiro de hoje.

Misericórdia de Aveiro com "prejuízos operacionais elevados"

Lacerda Pais com o padre Lino Maia, presidente da CNIS (foto do meu arquivo)
Em longa entrevista ao semanário O Aveiro, que é distribuído com o EXPRESSO, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Lacerda Pais, garante que a instituição que dirige tem elevados prejuízos operacionais, da ordem dos 500 mil euros por ano. Isso tem obrigado os dirigentes a vender alguns bens. Ler a entrevista aqui.

Para mim, VIVER É CRISTO

Acaba de me chegar às mãos o primeiro número, de uma série de oito, de para mim, VIVER É CRISTO. Trata-se de uma publicação de quatro páginas, da responsabilidade do Arciprestado de Ílhavo, para o Tempo Pascal, sobre São Paulo, precisamente por estarmos a viver o Ano Paulino, uma proposta do Papa Bento XVI. Esta publicação oferece uma catequese adaptada do Papa sobre o Apóstolo, entre outros escritos históricos, e ainda um texto do próprio Paulo, que se dirige "a todos os amados que estão nas paróquias do arciprestado de Ílhavo". Este pequeno jornal reflecte, sem dúvida, um exemplar trabalho pastoral de âmbito arciprestal, sendo uma boa aposta para, em família, todos caminharem na procura de São Paulo, tentando descobrir a sua leitura da Boa Nova de Jesus Cristo, adaptada aos tempos que correm. A distribuição, gratuita, é feita nas missas dominicais.

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