sexta-feira, 25 de abril de 2008

O 25 DE ABRIL E O FUTURO


Passados 34 anos sobre o 25 de Abril de 1974, altura em que foi derrubado o regime que vigorou em Portugal durante quarenta e oito anos, muitas são as opiniões divergentes, que ainda hoje se fazem sentir. É natural e salutar que assim seja.
Para uns, tratou-se do corolário de uma luta, de décadas, que culminou na “revolução dos cravos”, acabando com o regime fascista, corrupto, ditatorial e sangrento que governava Portugal.
Para outros, foi o fim do sonho do grande império colonial, que começava no Minho e acabava em Timor, sendo um dos baluartes dos valores cristãos e da luta anticomunista que o mundo ocidental travava contra os chamados “países da cortina de ferro”.
Para alguns, o 25 de Abril, foi uma oportunidade de assumirem a personagem de “vira-casaca” adaptando-se às novas circunstâncias criadas e tirando delas os máximos benefícios, em proveito próprio.
Um outro grupo de portugueses – bem minoritário – para quem o 25 de Abril de 1974 representava uma ruptura com um passado bolorento e caduco, via a grande oportunidade de iniciarem reformas de fundo, em nome dos princípios então em voga: liberdade, igualdade e fraternidade, através de uma democracia de qualidade.
Os exemplos poderiam continuar, mas estes bastam para dizer que cada português teve, ou não, o seu 25 de Abril, através da forma como o viveu e como este lhe modificou, para melhor ou pior, o seu modo de viver e de pensar, a sua qualidade de vida e as expectativas que lhe foi gerando relativamente ao seu futuro pessoal e colectivo.
O Primeiro-ministro sueco, Olaf Palme (1927-1986) disse, relativamente ao 25 de Abril de 1974, que “Fazer uma revolução era fácil; difícil é fazer reformas”.
Dito de outro modo: falar é fácil, pelo menos a partir de Abril de 1974 passou a sê-lo; o difícil é, como noutras ocasiões, encontrar quem tenha competência e vontade de trabalhar, em nome do bem comum.
Mesmo descontando a tendência que o português tem para um pessimismo doentio e miserabilista, será que se fez tudo o que era possível para sermos um povo com mais esperança no presente e com mais confiança no futuro?
Deveríamos e poderíamos ter ido muito mais além, na criação de melhores condições de vida para os portugueses e se tal não aconteceu foi pela fraca prestação daqueles que se têm ocupado da gestão dos bens públicos – sobretudo os partidos políticos, e mais concretamente os que têm ocupado funções de poder.
Não menos importante, é o fraco grau de cidadania assumida pelos portugueses e a sua falta de exigência, justa e legítima, perante quem os deve ajudar, servindo-os. Costuma-se dizer que “quem cala consente” e o conformismo e o silêncio são os piores inimigos para o desenvolvimento de uma sociedade.
António Barreto, concorde-se ou não com a pessoa ou com o seu percurso político-partidário, escreveu no jornal “Público”, de 27 de Janeiro de 2008: “Este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade.”
Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos cidadãos.
Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.

Vítor Amorim

A CIDADE ENCHEU-SE DE ALEGRIA


A afirmação é de Lucas, o médico. Expressa o ambiente social criado pela actuação de Filipe, o fugitivo de Jerusalém, após a morte de Estêvão. Relaciona a verdadeira alegria com Jesus Cristo. Atesta a simpatia e a atenção que as multidões lhe dispensam. Testemunha a transformação operada na cidade liberta de males ameaçadores.
O anúncio de Jesus é feito por palavras acompanhadas de gestos concretos. A união de ambos torna credível a mensagem. O povo da Samaria, apesar de praticar uma religião híbrida, adere cheio de entusiasmo. O facto torna-se notícia e chega a Jerusalém. Os Apóstolos vêem-se perante uma situação nova e enviam Pedro e João para verificarem o sucedido. Reunida a assembleia, oram e confirmam o trabalho feito por Filipe, impondo as mãos aos que haviam sido baptizados. E o Espírito Santo revela-se presente com os seus dons e dando os seus frutos.
Aceitar Jesus é viver este dinamismo de transformação, nascido no coração e configurado nos comportamentos sociais; é reconhecer na cidade a presença de forças opressoras que devem ser banidas porque indignas da condição humana; é apreciar a verdade, fonte da autêntica liberdade e nutriente da genuína responsabilidade; é abrir horizontes à realização humana que tem em Jesus Cristo a sua medida plena e o seu modelo perfeito; é assumir a dimensão pública da fé e da ética, sem preconceitos redutores nem tentativas avassaladoras.
Aceitar Jesus é acolher o Seu Espírito Santo e deixar-se moldar por ele. A acção do Espírito em nós é suave e não abrupta, assertiva e não negativa ou proibitiva, propositiva e não impositiva, performativa e não estática e esterilizada.
O Espírito de Jesus guia-nos para a verdade do ser e do agir humanos, para a lucidez crítica dos factos e dos comportamentos, para a compreensão inteligente das situações e dos rumos do futuro que o presente vai desenhando, para a aceitação responsável e histórica da nossa atitude.
Realmente, agora é a nossa vez. Amanhã será de outros. É no hoje de cada dia que imprimo a minha marca e deixo o meu selo na edificação de um mundo melhor para todos e na transformação das condições de vida de cada um de modo que “a cidade se encha de alegria”.
Senhor Jesus, o Teu Espírito faz-nos donos de nós mesmos e responsáveis pela nossa vida; atesta a nossa dignidade humana e dá-nos maturidade para pensar e decidir; credencia a nossa liberdade quando procura a verdade e revigora a nossa esperança alicerçada nos valores humanos por Ti vividos de forma exemplar e definitiva.

Georgino Rocha

quinta-feira, 24 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA BARRA DE AVEIRO - 6




(Clicar nas fotos para ampliar)

O Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro continua a ser lembrado na exposição que está patente ao público na antiga Capitania. Se ainda lá não foi, aproveite esta boa oportuniada. Eu fui ver a exposição mais uma vez. Tive pena de não encontrar por ali muita gente. E o mais curioso é que a mostra está num lugar central da cidade. Depois queixamo-nos de que entre nós não há acções culturais de relevo.

FORTE DA BARRA NA AGENDA POLÍTICA


Tenho-me dado conta de que o Forte da Barra começa a estar na agenda dos partidos políticos. Isso mesmo se verificou no programa "Discurso Directo" da Rádio Terra Nova. Já não era sem tempo. Penso que o património histórico que nos foi legado pelos nossos antepassados deve estar, permanentemente, tanto na agenda dos partidos políticos como nas preocupações de todos nós. Por isso, congratulo-me com o interesse manifestado, deixando aqui, ainda, uma palavra de estímulo a todos, para que o Forte da Barra não caia no esquecimento.
FM

Modernidade, casamento, família e divórcio


Li, com cuidado, a longa “Exposição de motivos”, dezasseis folhas, nada menos, com que o PS apresenta e justifica o seu Projecto de Lei, no qual propõe Alterações ao Regime Jurídico do Divórcio e que, a meu ver, vai acelerar a destruição da família. Aqui se verifica que a modernidade com seus postulados é para os legisladores da maioria, e neste ponto com outros colegas a ler pela mesma cartilha, o novo dogma e o ponto de partida indiscutível para leis e orientações superiores. Na modernidade estão implícitos os apregoados “valores republicanos”, como é evidente.
Deste modo, o que, por sua natureza, tem carácter de responsável e permanente dá de mão beijada lugar ao transitório e ao efémero, sem história nem futuro, ainda que culturalmente disseminado e acolhido por muita gente. Trata-se de um legado, pobre e discutível, que se transmite para o futuro de um país que, em alguns aspectos essenciais, já vagueia sem rumo, nem sentido. O destino de um povo não pode estar dependente de correntes culturais, nem de decisões apressadas e sem horizontes largos.
Nada mais efémero que o tempo e nenhuma corrente cultural que nele se vai gerando tem força para ser a última palavra pronunciada no mundo da cultura ou o último elo de uma cadeia importante e feliz para que o tempo a respeite.
Quem vive e decide pelo que ouve e copia dos outros, sem critérios nem discernimento, quem corre atrás das emoções, desligando estas da inteligência emocional e social que abre caminhos novos à realização pessoal e interpessoal, quem desliga a vida do que sem ela fica sem consistência nem futuro, quem acha que só os afectos são determinantes para que a família perdure, agarra-se ao chavão da modernidade, cujo sentido se captou, talvez muito superficialmente.
A modernidade, como corrente cultural, trouxe aquisições de aproveitar sem as desvirtuar, nem as desligar de outros valores humanos não negociáveis, sejam eles inatos ou adquiridos. A personalização, a participação democrática, a igualdade radical, a liberdade interior, por exemplo, são valores não inventados agora, mas que a modernidade sublinhou e que não se podem ignorar ou menosprezar. Porém, considerados sem ligação a outros, inseparáveis da sua compreensão, levam normalmente a individualismos empobrecedores, a quistos sociais de interesses, partidários ou de grupos ideológicos fechados, à aniquilação dos mais fracos para os quais liberdade, igualdade e respeito não são mais que palavras, que não dizem o mesmo para todos. Entrando neste caminho, fala-se de realização pessoal, direito a ser feliz, vida à base de afectos, rotura e desprezo necessário por instituições que exigem responsabilidades e geram compromissos. Neste contexto, pretende-se dar resposta fácil a casos pontuais de dificuldade ou rotura familiar, com pouco lugar para a justiça, respeito e cuidado em atender aos direitos e exigências dos intervenientes, senão com receitas legais, discutíveis e, por vezes, mesmo contraditórias.O verdadeiro humanismo é sempre integral e solidário, e as leis, por sua natureza, não são orientadas para o bem individual, mas sim para o bem comum.
A Igreja não denuncia a facilitação do divórcio por causa dos matrimónios canónicos, como se pretende agora, mas sim pela defesa e dignidade de uma instituição que deve ser considerada e defendida pelo Estado como básica e responsável, como deve ser o casamento, seja ele religioso ou civil; por causa da família, nascida de um casamento a sério, pois ela é o mais indispensável espaço de humanização, partilha de vivências e de afectos consistentes, clima normal da transmissão de valores, reconhecimento da dignidade das pessoas e das relações interpessoais normais; por causa do divórcio convidativo e fácil, a grande chaga de uma sociedade sem rumo, nem princípios.
Quando se abandalha o casamento, subverte-se a família e já nada se pode esperar dela.
Há situações difíceis. Porém, se não acreditamos no valor do perdão, nas possibilidades do diálogo, na capacidade do reencontro, e se o horizonte legal é de canonizar rupturas, o difícil torna-se impossível. O divórcio será sempre solução de excepção.
Por fidelidade à pessoa e defesa da família, a Igreja nunca se calará.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A MEMÓRIA DE 1506


A MEMÓRIA DE 1506. Esta ideia de civilização era tão recente. Estavámos em 70. d.C. e a destruição de Jerusalém obrigou à dispersão dos judeus pelo mundo, ao exílio, diáspora, גלות. Até meados do século XV, a Península Ibérica foi um mundo possível para os judeus sefarditas. Em Portugal, obtiveram relativa liberdade religiosa e destacaram-se na vida pública até que veio um doloroso baixar de pano. As perseguições começaram em Espanha: em 1355, 12 mil judeus morreram em Toledo; em 1391, foram 50 mil em Palma de Maiorca. A Inquisição iniciou operações e o terror alastrou em larga escala, veio o édito de expulsão e milhares de judeus procuraram refúgio em Portugal. Triste rumo.
Leia mais aqui e aqui

O marnoto de Santiago


Morreu o senhor Manuel. Com os pés desfeitos e o coração aos pedaços. Vivera os últimos tempos de pobre envergonhado, que só estendia a mão a quem o conhecia. Triste e injustiçado protagonista de uma história que merecia outro fim.
Falei aqui dele. Uma generosa voluntária, obreira de amor e de caridade que percorre ruas e casas do Bairro, deu-me a notícia da sua partida sem regresso.
Sabia que já não o encontraria, mas fui ao Bairro. Falei com vizinhos e amigos, ali junto ao café onde nos encontrávamos e conversámos.
Porque persiste, como chaga cruenta, a pobreza imerecida? Porque vale tão pouco o trabalho honesto dos humildes, que morrem tristes e desiludidos com uma sociedade ingrata, onde a uns sobra e a outros falta, onde uns contam milhões e outros nem sequer tostões? Porquê?
Porque se empenham tanto legisladores e governantes em leis e decisões que se consolam o individualismo de uns, destroem a vida e a esperança de outros? Porque não se preocupam os donos do poder, com os pobres que se descontaram para a sua reforma pouco do seu pouco, descontaram, porém, uma vida toda de trabalho, sem férias nem feriados, para que o país progredisse? Porquê?
O senhor Manuel é um grito doloroso que me acompanha e que não vou deixar de fazer ecoar. Porque, se ele já morreu, continua vivo em muitos que por aí andam, envergonhados de viver, esquecidos por quem os devia conhecer e deles cuidar com amor e gratidão.

António Marcelino

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O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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