quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

UM POEMA DE JOSÉ RÉGIO

José  Régio

TOADA DE PORTALEGRE 

Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Morei numa casa velha, 
Velha, grande, tosca e bela, 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela... 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, 
– Quis-lhe bem como se fora 
Tão feita ao gosto de outrora 
Como ao do meu aconchego. 
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada 
De montes e de oliveiras 
Do vento soão queimada 
(Lá vem o vento soão!, 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão...) 
Em Portalegre, dizia, 
Cidade onde então sofria 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for, 
Na tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela, 
Tinha, então,
 Por única diversão, 
Uma pequena varanda 
Diante de uma janela. 
Toda aberta ao sol que abrasa, 
Ao frio que tolhe, gela, 
E ao vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda 
De redor da minha casa, 
Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos e sobreiros, 
Era uma bela varanda, 
Naquela bela janela! 
Serras deitadas nas nuvens, 
Vagas e azuis da distância, 
Azuis, cinzentas, lilases, 
Já roxas quando mais perto, 
Campos verdes e amarelos, 
Salpicados de oliveiras, 
E que o frio, ao vir, despia, 
Rasava, unia 
Num mesmo ar de deserto 
Ou de longínquas geleiras, 
Céus que lá em cima, estrelados, 
Boiando em lua, ou fechados 
Nos seus turbilhões de trevas, 
Pareciam engolir-me 
Quando, fitando-os suspenso 
Daquele silêncio imenso, 
Eu sentia o chão a fugir-me, 
– Se abriam diante dela 
Daquela 
Bela 
Varanda 
Daquela 
Minha 
Janela, 


Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Na casa em que morei, velha, 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, 
À qual quis como se fora 
Tão feita ao gosto de outrora 
Como ao do meu aconchego... 
Ora agora, 
Que havia o vento soão 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão, 
Que havia o vento soão 
De se lembrar de fazer? 
Em Portalegre, dizia, 
Cidade onde então sofria 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for, 
Que havia o vento soão 
De fazer, 
Senão trazer 
Àquela 
Minha 
Varanda 
Daquela 
Minha 
Janela, 


O testemunho maior 
De que Deus 
É protector 
Dos seus 
Que mais faz sofrer? 
Lá num craveiro, que eu tinha, 
Onde uma cepa cansada 
Mal dava cravos sem vida, 
Poisou qualquer sementinha 
Que o vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda, 
Achara no ar perdida, 
Errando entre terra e céus..., 
E, louvado seja Deus!, 
Eis que uma folha miudinha 
Rompeu, cresceu, recortada, 
Furando a cepa cansada 
Que dava cravos sem vida 
Naquela 
Bela 
Varanda 
Daquela 
Minha
Janela


Da tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela... 
Como é que o vento soão 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão, 
Me trouxe a mim que, dizia,
 Em Portalegre sofria 
Coisas que terei pudor
 De contar seja a quem for, 
Me trouxe a mim essa esmola, 
Esse pedido de paz 
Dum Deus que fere ... e consola 
Com o próprio mal que faz? 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for 
Me davam então tal vida 
Em Portalegre; cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Me davam então tal vida
 – Não vivida!, mas morrida 
No tédio e no desespero, 
No espanto e na solidão, 
Que a corda dos derradeiros 
Desejos dos desgraçados 
Por noites do tal soão 
Já várias vezes tentara 
Meus dedos verdes suados... 
Senão quando o amor de Deus 
Ao vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda, 
Confia uma sementinha 
Perdida entre terra e céus, 
E o vento a traz à varanda ~
Daquela 
Minha 
Janela


Da tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela! 
Lá no craveiro que eu tinha, 
Onde uma cepa cansada 
Mal dava cravos sem vida, 
Nasceu essa acaciazinha 
Que depois foi transplantada 
E cresceu; dom do meu Deus!, 
Aos pés lá da estranha casa 
Do largo do cemitério, 
Frente aos ciprestes que em frente 
Mostram os céus, 
Como dedos apontados 
De gigantes enterrados...
 Quem desespera dos homens, 
Se a alma lhe não secou, 
A tudo transfere a esperança 
Que a humanidade frustrou:
 E é capaz de amar as plantas,
 De esperar nos animais, 
De humanizar coisas brutas, 
E ter criancices tais, 
Tais e tantas!, 
Que será bom ter pudor 
De as contar seja a quem for! 
O amor, a amizade, e quantos 
Sonhos de cristal sonhara, 
Bens deste mundo, que o mundo 
Me levara, 
De tal maneira me tinham, 
Ao fugir-me, 
Deixando só, nulo, atónito, 
A mim que tanto esperava 
Ser fiel, 
E forte, 
E firme, 
Que não era mais que morte 
A vida que então vivia, 
Auto-cadáver... 
E era então que sucedia 
Que em Portalegre, cidade
 Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Aos pés lá da casa velha 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, – A minha acácia crescia. 
Vento soão!, obrigado 
Pela doce companhia 
Que em teu hálito empestado, 
Sem eu sonhar, me chegava!
 E a cada raminho novo 
Que a tenra acácia deitava, 
Será loucura!..., mas era 
Uma alegria 
Na longa e negra apatia 
Daquela miséria extrema Em que vivia, 
E vivera, 
Como se fizera um poema, 
Ou se um filho me nascera.

In "FADO"

"Outras Culturas, a Mesma Cidadania"

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Em Fátima, VI Encontro
de
Apoio Social ao Imigrante
Nos próximos dias 13, 14 e 15 de Janeiro realizar-se-á, em Fátima, Casa do Carmo, o VI Encontro de Apoio Social ao Imigrante, subordinado ao tema “Outras Culturas, a Mesma Cidadania”.
Com organização da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Caritas Portuguesa (CP) e Agência Ecclesia (AE), este encontro pretende aprofundar a relação entre Educação e Identidade Cultural; favorecer na Igreja a educação para a Interculturalidade e Formação contínua dos agentes sócio-pastorais das migrações.
“Educar para a Interculturalidade” por Roberto Carneiro, Coordenador do Observatório da Imigração do ACIME; “Acesso à Educação e à Cultura: um direito adquirido?” por Célia Marques Pinho, investigadora em relações interculturais; “Os media na educação intercultural” pelo jornalista Ricardo Dias Felner; “Escola como lugar de Interculturalidade” pelo Pe. Miguel Ponces de Carvalho; “Educação para o dialogo inter-religioso” por Ramon Sarró, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e “Cidadania, Entretenimento e Desporto” por Henrique Pinto, da Associação CAIS, serão alguns temas a debater neste encontro.Com este evento nacional “queremos celebrar o 92º Dia Mundial do Migrante e Refugiado (“Migrações: sinal dos tempos”) que a Igreja, pela primeira vez, vai assinalar com uma única data para as Conferencias Episcopais de todo o mundo, sob a indicação do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI)” – referem os promotores.
(Para conhecer o programa, clique aqui)

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

NO CUFC, na quarta-feira, dia 4 de Janeiro

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Laurinda Alves
Laurinda Alves em Aveiro
com cinco ideias para ser feliz
A jornalista Laurinda Alves vai estar no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), em Aveiro, em mais uma sessão do “Fórum::Universal”, um espaço mensal de debate e encontro de ideias com figuras de relevo. O encontro está marcado para o dia 4 de Janeiro de 2006, quarta-feira, às 21 horas, e tem entrada livre. Laurinda Alves, que vai estar no CUFC pela segunda vez, é directora da revista “XIS", onde apresenta sempre propostas para pensar. "XIS" é uma revista que sai com o jornal "Público", ao sábado, apostando num jornalismo pela positiva, que dá gosto ler semana a semana. No CUFC, a jornalista vai partilhar os seus projectos sobre “escrever pela vida... o gosto de existir”, esperando-se que ofereça, ainda, aos que comparecerem, cinco ideias para ser feliz.

OBRAS E BUGAS DE AVEIRO CANDIDATAS AO PRÉMIO TURISMO

Posted by Picasa Praça Marquês de Pombal
Segundo informou a Rádio Terra Nova, a Câmara Municipal de Aveiro formalizou a sua candidatura ao Prémio Turismo – Valorização do Espaço Público. Trata-se de um galardão atribuído pelo Instituto de Turismo de Portugal, que distingue Obras e Serviços. As Obras candidatas ao referido Prémio são a recuperação da calçada na Praça Marquês de Pombal e a requalificação do espaço paralelo ao Canal de S. Roque. Na área dos Serviços foi apresentada a candidatura das Bugas, as célebres bicicletas que podem ser utilizadas, gratuita e livremente, por quem desejar passear ou movimentar-se pela cidade.

ENDIVIDAMENTO FAMILIAR

ALERTA DE ESTUDO DA UE Perigos do endividamento familiar
Um estudo da Comissão Europeia (CE), intitulado «O comportamento das famílias numa união monetária: o que podemos aprender do caso português?», alerta para os perigos do endividamento familiar no crescimento da economia nacional. O relatório mostra que os lares portugueses têm um dos níveis de endividamento mais elevados da Zona Euro e não escapam aos efeitos da subida dos juros já iniciada este ano e que se prolongará por 2006.
Como avança a Rádio Renascença, o documento da Comissão Europeia aponta para que a economia nacional sofra com as dívidas, sobretudo dos particulares, sendo que, com a crise estrutural em que o país se encontra, Portugal está particularmente vulnerável.
As famílias nacionais estão assim mais expostas à subida das taxas, sendo que o relatório refere mesmo que será difícil evitar uma subida com os custos com os créditos bancários, o que prejudica o rendimento disponível dos particulares e logo o seu nível de consumo.

MILÃO: ENCONTRO EUROPEU DE TAIZÉ

Posted by Picasa Jovens em Milão
Alargar os corações
Encontro Europeu de Jovens em Milão - balanço e perspectivas
50 mil jovens juntaram-se em Milão, de 27 de Dezembro a 1 de Janeiro, para mais uma aventura vivida sob o signo Taizé. O novo prior da comunidade, o irmão Aloïs, assumiu pela primeira vez a orientação de um Encontro Europeu de Jovens, apresentando a todos os participantes uma série de intervenções sobre temas chave da reflexão promovida, há décadas, por esta comunidade ecuménica.As suas meditações na oração que encerrava os dias do encontro mostraram que a morte de Frère Roger não irá alterar a vontade dos monges de Taizé em testemunharem o seu compromisso em favor da unidade dos cristãos, da paz e da reconciliação, procurando contagiar os jovens com o testemunho de uma vida simples, na oração.“Cada um pode estar mais atento a aliviar as penas e os tormentos dos que estão mais próximos.
Pela abertura do nosso coração, ao tornar mais feliz uma só pessoa que precise, tornamos o mundo mais humano”, disse no último encontro com os jovens, retomando uma marca central nas intervenções que o irmão Roger costumava fazer: a valorização da simplicidade e da humildade.
A Carta do irmão Roger para este Encontro, que ficou por acabar, dominou as atenções. Não há a intenção de continuar o texto, mas fica o desafio do novo prior: “É agora, através da nossa vida, que todos nós gostaríamos de a completar. Será através da nossa vida que iremos procurar formas de responder a este chamamento do irmão Roger para «criarmos na família humana possibilidades para alargar…»”.“A morte violenta do irmão Roger foi uma grande prova para a nossa comunidade. Esta morte trágica continua para nós um mistério.
Ao longo da sua vida, o irmão Roger colocou frequentemente a questão: porquê o sofrimento dos inocentes? E eis que ele mesmo se juntou ao número daqueles cuja morte permanece sem explicação”, reconheceu o irmão Aloïs.
(Para ler mais, clique ECCLESIA)

Um artigo de António Rego

O regresso
Para muitos, o Natal também é a visita breve ao planeta da infância, da pequena terra, da casa à medida da primeira história pessoal e familiar. Esse retorno é muito mais que mítico ou fantástico. É uma viagem real ao que fomos e somos. Noutra dimensão, espaço e convivência. Trata-se duma verdadeira fuga ao quotidiano, à rotina, ao pão ganho com o suor do rosto, aos cálculos minuciosos na gestão dos dias e das horas, do que se tem e do que falta. É uma verdadeira viagem ao paraíso perdido por razões aparentemente óbvias mas realmente inexplicáveis.
E, todavia, para os sempre urbanos que “não têm terra para visitar no Natal” há uma nostalgia íntima que se não sabe explicitar mas que tem a ver com outro espaço, único porventura, que todo o ser humano precisa para se situar, referir, explicar, personalizar sob o signo do afecto pela terra, pelos sabores, horizontes, pela aproximações familiares aos objectos e recantos por onde a imaginação nunca deixou de vaguear. A peregrinação da vida tem a ver com o nosso passado e com o nosso futuro. Nunca teremos suficientemente clarificada a infinitude de razões que nos situam onde estamos e encorajam na viagem para onde queremos ir. Ficou-nos no coração a magia desta semente na caminhada para o infinito mais ou menos definido. Vamos passando por pequenas fontes, sempre convictos de que a sede voltará outra vez, até que um dia sejamos definitivamente saciados. A plenitude como desiderato é sempre um propulsor de recriação e conversão dos nossos pequenos e grandes passos.
Tudo isto a quê? À necessidade de ampliarmos as nossas experiências estreitas e breves para um Além que nos atrai irresistivelmente. O mistério do Natal ora vivido veio, com especial vitalidade de símbolos e vivências aparentemente insignificantes, projectar-nos numa área do infinito de Deus revelado na insignificância exterior do Seu Filho num presépio. Muitos dos nossos passos foram errantes e sequiosos duma Estrela como a que guiou os Magos até ao local onde Jesus nasceu. Regressamos ao quotidiano com a convicção interior de que há horizontes e experiências para além do colete de forças a que frequentemente nos sujeitamos.

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