TANTOS LIVROS DO “FIM”. PORQUÊ?
1. Há dias veio à ribalta a última obra do escritor Sam Harris. O título, desafiador à maturidade humana, intelectual e filosófica do leitor, é o seguinte: O Fim da fé – Religião, terrorismo e o futuro da razão (Lisboa: Tinta da China, 2007, original de 2006). Vivemos, já acolhendo os efeitos das novas revoluções científicas e comunicacionais, o tempo de profunda transformação de paradigmas (como tanto sublinha o estudioso destas questões, Thomas Kuhn); época de globalização que vai revelando tanto um pessimismo existencial como (e que acabará por ser) de metamorfose (mudança) de referenciais… Nada de novo e tudo de novo! Tempestades e ansiedades querem ser oportunidades!
2. As literaturas universais vão espelhando esse sentir, marcadamente pessimista e ilusório, e muitas delas mesmo para os campos da busca de segurança no exotérico irracional. Veja-se como progridem os misticismos e todas as formas de magias a par das literaturas (muitas já transformadas em cinema), cheias de “anéis”, de “cálices”, etc. Tudo impregnado de seguranças mágicas, como que substituidoras do empenho de uma “razão” humana que, avançada pela tecnologia fora, foi perdendo o contacto com o mais profundo do humano. Tudo avança, paulatinamente, pois “a ideia não tem pressa” como diria Hegel.
3. Considerando “o fim da fé” como um ponto de chegada deste género de escritos quase apocalípticos, demonstrativos do sentir social de transformação, então valerá a pena registar os seus antecedentes: Idade de Extremos (Hobsbawm 1994), O fim da História e o último homem (Fukuyama 1992), O fim do trabalho (Rifkin 1995), O fim da Ciência (Horgan 1996) e O fim da autoridade (Renaut 2005). Valendo o que valem (e algumas o Nobel da Literatura), todas estas obras têm expressão mundial de referência, sinal do seu poder de sedução que, no fundo, corresponderá ao sentir existencial ansioso deste tempo, época fascinante de avanços técnico-científicos mas em que o calor humano de uma esperança colorida não vai tendo a devida correspondência.
4. Muitas vezes, bem pelo contrário, mais concentração de poderes (técnico-económicos) é sinónimo de mais exclusão e desintegração do projecto HUMANO, consequentemente, mais intolerância. Afinal, porque progridem tanto as literaturas do “fim”? Sinal claro que “algo” continua a precisar de respostas bem mais profundas, existenciais. Aqui, no “sentido da vida” não há tecnologias (nem neurocientíficas) que entrem! Essas respostas necessárias abarcam a totalidade que só o SER pode abarcar.
Alexandre Cruz