terça-feira, 7 de março de 2006

Um artigo de Francisco Perestrello, na Ecclesia

Los Angeles,
o Retrato
de uma Cidade O thriller, filme de acção e contexto geralmente policial, é hoje um dos géneros mais frequentes no cinema americano. Quando possível procura-se fugir às linhas mais batidas, de forma a que o espectador não seja levado a sentir-se a rever obras anteriores. «Colisão» é, sob este aspecto, um caso muito particular. O filme contém todos os elementos para se incluir no género referido. Tem acção, muita polícia e muitos criminosos, e vê-se bem a luta entre as duas frentes. Mas, habilidosamente, o realizador Paul Haggis evita qualquer situação de violência gratuita e limita a acção ao que se torna necessário em termos da narrativa.
Não há excessos, não há uma concentração excessiva sobre qualquer das personagens, diversificando-se a acção por múltiplas pequenas histórias que se cruzam entre si.
O que se obtém é o retrato de Los Angeles e da sua população, dos choques sociais em que se realça o racismo, seja ele da maioria sobre as minorias seja a inversa, também ela bem viva na população.
Para defesa do povo há a polícia, mas também esta tem elementos de carácter mais que duvidoso, o que torna difícil a sobrevivência dos mais fracos.Dentro de um contexto bastante sombrio o filme deixa saída para algum optimismo, mostrando inclusivamente a possibilidade de regeneração quando obtidas as condições adequadas. Aprofunda o estudo do carácter de alguns intervenientes, mesmo quando estes passam no filme em sequências relativamente breves, mas que não deixam por isso de ser muito expressivas.
«Colisão» distingue-se assim pela originalidade e eficiência na forma de tratamento e, sobretudo, por um conteúdo temático muito equilibrado, que nos dá o retrato vivo da cidade, dos seus problemas raciais e dos processos de actuação policial, que variam entre a dedicação exemplar e a defesa de interesses pessoais em prejuízo de terceiros.

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