sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O brilho da Estrela que nos guia

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Epifania do Senhor



A festa da Epifania do Senhor realça figuras que dão rosto singular à realeza: Os magos, Herodes e o Menino. Mateus pretende destacar traços comuns a quem se dispõe a percorrer um itinerário de iniciação cristã, a ser discípulo missionário. Vamos, ainda que brevemente, deter-nos no que pode ser para nós, hoje, uma epifania existencial do Senhor Jesus. Mt 2, 1-12. 
Herodes fica perturbado ao ouvir a notícia do nascimento do Rei dos Judeus. E com ele os habitantes da cidade de Jerusalém. Sobressalto é o mínimo que pode experimentar e a origem da força emocional da acção que vai empreender: Disfarça secretamente o móbil da sua vontade – o de evitar veleidades, matando o potencial candidato a rei – declarando querer ir adorá-lo. E a mim que me causa sobressaltos? 
Os Santos Inocentes, observa «Vers Dimanche», da rede mundial do Apostolado da Oração, fazem parte da Epifania e convidam-nos a não desviar o olhar do trágico da humanidade. Hoje, acontece no Oriente próximo, na África Central e do Magrebe e em tantos outros países que não vislumbram uma nova estrela para a vida atormentada e, por vezes, completamente desfeita. 
Os magos, como tantos procuradores do sentido para a vida seriam hoje esta multidão de “peregrinos” que no seu deambular ainda têm forças para sonhar, pôr-se a caminho, correr riscos, aguentar enganos, reanimar-se até alcançar o bem desejado. Afirmam assim o valor da esperança confiante que a tudo se aventura e suporta. 

Ruy Belo para começar o ano



O PORTUGAL FUTURO 

0 Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro

Ruy Belo

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Ano Novo, Vida Nova

Daqui a momentos, se Deus quiser, ao toque da meia-noite, saltamos para 2021. É um momento mágico que nos leva a desejar a quantos nos rodeiam um ano cheio de paz, saúde, amor, alegria e otimismo. Temos a certeza até de que todos formulamos estes votos de coração lavado, na ânsia, de facto, de vivermos um ano melhor do que o que vamos enterrar.
Não será assim em plenitude, sobretudo para os que foram atingidos pelo Covid-19 e para os que, mais pessimistas, ainda vivem receosos de serem atingidos pela pandemia que nos afeta quase há um ano.
Contudo, olhando para trás, podemos constatar que cada ano viveu coisas boas e coisas menos boas. Os homens e mulheres deste mundo parece que nem  conseguem aprender os caminhos da paz e da harmonia universais, teimando, alguns, em construir socalcos pedregosos que dificultam a marcha de quem sonha com uma sociedade de justiça e de fraternidade.
A esperança que nos deve animar permite-nos afirmar hoje, mais do que nunca, que os momentos menos bons que todos enfrentámos precisam de abrir portas à ousadia de ultrapassar o que de menos positivo nos aconteceu, porque o fundamental é assumir o esforço de lutar, pelos meios legítimos ao nosso alcance, para que toda a gente acredite que os tempos da pandemia estarão a chegar ao fim.
Com estes propósitos, desejo a todos os meus leitores e amigos um 2021 muito melhor do que 2020. E julgamos que não será difícil.

Fernando Martins

2020 - Um ano de Triste Memória


Estamos a chegar ao fim de mais um ano civil que ficará batizado com o subtítulo de Triste Memória. Realmente, a pandemia que afetou a humanidade não poderá deixar de ficar como marca indelével de morte, sofrimento, temor, terror, incerteza e muita tristeza para imensa gente de todos os quadrantes da Terra. 
Neste final de ano, vamos dar um salto para 2021 carregando as mesmas dores e muitas dúvidas quanto ao futuro que nos espera. As vacinas que, muito mais depressa do que poderia ser imaginado, chegaram ao mercado, com garantias de uma grande percentagem de eficácia, vieram tranquilizar todo o mundo, mas tardam em ser aplicadas, deixando no ar a ideia de que ainda vai adoecer e morrer imensa gente com praia à vista. 
Afinal, os cientistas conseguiram vencer todas as barreiras em tempo recorde e nunca visto, ao que julgo, na história da descoberta das vacinas, mas que está a demorar demasiado a sua aplicação, lá isso está. Presumo que no meu caso terei de esperar uns meses até me ver protegido do Covid-19. E até lá, ficarei prisioneiro do confinamento com receio lógico do contágio. Na minha idade, poderia ser fatal. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Santa Mãe de Deus, Rogai por Nós

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Dia Mundial da Paz




 
Esta invocação à Santa Mãe de Deus abre a segunda parte da Ave Maria, oração decorrente do diálogo do Anjo Gabriel com ela aquando da anunciação. Nasce e flui como resposta do povo cristão perante a contemplação das maravilhas enunciadas na primeira parte: Maria, a cheia de graça, convidada a alegrar-se, que fica surpreendida e preocupada com a mensagem recebida, que é escolhida para ser a Mãe de Jesus, o filho do Altíssimo, que quer saber o como de tudo isso que contrasta com a sua opção de noivado com José, que confia na verdade narrada, que se disponibiliza para ser a obediente serva e assumir tão grandioso projecto. Maria, a reconhecida por Isabel como Mãe do Senhor, a bendita entre as mulheres que gera no seu ventre um fruto precioso, Jesus. 
“Deus, em Jesus, teve uma Mãe. Uma simples e humilde mulher daquela aldeia que era Nazaré quando Jesus veio a este mundo. Maria educou a Jesus como todas as mães educam os seus filhos…Que Mãe tão genial que soube educá-Lo tão «divinamente». J. M. Castillo La religión de Jesús, 46-47. 
“Rogai por nós, Santa Mãe de Deus” reza, na Salve Rainha, a fé do povo cristão em súplica confiante ao sentir as aflições da vida e os males do mundo, ao fazer a experiência da fragilidade humana e das provocações adversas, ao dar largas às aspirações do coração que quer ser fiel à Palavra do Senhor e à Igreja que a proclama, e participar da sua missão na terra e gozar da sua recompensa no Céu. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Luz e flores para começar o dia



Hoje começo o dia assim: Um recanto da minha casa com flores e plantas que gostam da luz de muitas horas do dia e da temperatura agradável que armazena e que oferece a quem por ali passa. Lá fora, depois de uns raios de sol que as nuvens deixaram passar por breves momentos, a chuva veio de supetão como estava anunciado. Não seria mais agradável se a invernia fizesse uma pausa para passarmos o ano com alguma alegria?

domingo, 27 de dezembro de 2020

Agradecimento de Boas Festas

Os cartões de Boas Festas, simples ou ilustrados com arte, passaram à história, levados pelos ventos da revolução das novas tecnologias da comunicação, em constante mutação. 
Não há caixas do correio repletas de cartões e cartas, nem sequer o estafeta com o recado de um telegrama, com meia dúzia de palavras, sem pontos nem vírgulas, apenas vocábulos que fazem subentender a frase gramaticalmente redigida na imaginação de quem a envia. 
A caixa do correio passou a viver no correio eletrónico ou, mais arrebatador, no Facebook. Neste último caso, com um clique se diz gosto ou se enviam ilustrações e mensagens a condizer,  que o génio de alguém criou para nosso deleite. E aí, também, se remetem palavras que traduzem o prazer que sentimos por se terem lembrado de nós nesta quadra festiva. 
O ano prestes a terminar talvez nos tenha oferecido a obrigação de pensarmos mais nos que sofreram e nos que nos deixaram, ficando apenas nas nossas memórias o prazer dos seus sorrisos e os gestos das suas saudações. 
Bom Ano de 2021 para todos com votos de que venha por bem. 

Lita e Fernando

Um guisadinho bem à gafanhoa

Recordando Ascêncio de Freitas
um escritor gafanhão

«O capitão Armando Vieira, do mesmo modo familiar com que o tinha recebido pela primeira vez logo após a chegada, fez entrar o amigo da juventude pela porta da cozinha, com as manifestações de alegria de quem acolhia em sua casa alguém que tivesse acabado de regressar, ileso, de uma batalha perdida
    e a cozinha estava inundada de um odor forte, saído de algo que estava a cozinhar, que fez recordar ao tio Florêncio a caldeirada de bacalhau
    não obstante ele pensou que não poderia adivinhar de forma tão simples e imediata que seria esse “o jantar gafanhão” que lhe tinha sido prometido, pois a caldeirada não poderia nunca ser considerada um prato gafanhão, nem tão-pouco apenas português
    — Estás a lembrar-te de alguma coisa conhecida neste cheirinho que está aqui na cozinha, não estás, sócio?
mas eu aposto singelo contra dobrado em como não adivinhas o que a Adélia tem ali a cozinhar
— Guiado pelo cheiro, eu apostaria que se trata de caldeirada de bacalhau
    mas ao mesmo tempo qualquer coisa me diz que perderia a aposta, porque este aroma que anda no ar não é exactamente igual ao da caldeirada
    perderia… seguramente
        porque depois de teres prometido um jantar gafanhão, seria falta de imaginação apresentares-me para comer uma banal caldeirada de bacalhau
    embora seja coisa que não como há muitíssimo tempo só que ninguém poderá dizer que se trata de um prato gafanhão os bascos e os galegos também a fazem
— Deixa-te de divagações e vem dar uma espreitadela 

disse o capitão Armando Vieira 
aproximou-se do fogão, retirou a tampa do tacho e uma intensa nuvem de vapor subiu no ar 
    depois de a deixar dissipar, o capitão Vieira fechou os olhos e aproximou o rosto do recipiente, de onde saía, junto com a branda fumarada, o som de um suave borbulhar
    Oh, assim estragas a surpresa, Armando 
    protestou Adélia
mas ele aspirava o vapor que saía do tacho e comentava:
    — Hum, este cheiro a salgado entra-me no nariz e trepa-me até à alma
    vem cheirar, vem cheirar este perfume que nos lembra o mar e é como se fossem as mãos dos anjos a acariciar o que há de melhor dentro de nós
    ah, e como formosa nos parece a vida saboreando estes petiscos
    melhor do que isto só lagosta suada ou bacalhau á Freitas
    o tio Florêncio aproximou-se dele e espreitou para dentro do tacho
    aspirou também o cheiro da comida           
    — Então que tal?
    — Não estou a ver o que possa ser

    cheira a bacalhau… mas ao mesmo tempo há qualquer coisa de diferente neste cheiro
    — São sames, sócio, são sames, que já não deves comer há muito tempo
    —  Sames?
caramba, há mais de trinta anos que não me lembrava sequer dessa estranha palavra, quanto mais comê-los
    — Sim senhor, um guisadinho de sames de bacalhau, bem à gafanhoa
    é ou não é?»



Excerto do capítulo oitavo
do romance “Ai, Amor” 
de Ascêncio de Freitas

Uma distância caritativa?

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO


Sagrada Família

Se o Natal cristão existe como a festa da proximidade, donde poderá vir a alegria com a afirmação pública e ostensiva da distância?

1. Comecei por não achar graça nenhuma à expressão que acabei por escolher para título desta crónica, embora de forma interrogativa. A história é simples. Recebi, como os dominicanos de todo o mundo, uma mensagem de Natal de um irmão filipino muito jovem, eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, em 2019, no Capítulo geral, realizado no Vietname, no qual também participaram dois delegados portugueses como eleitores.
O Mestre Geral chama-se Gerard Francisco Timoner III. Gostei muito da sua carta extremamente fraterna, orientada pela pergunta: Como pode haver alegria natalícia nesta época de pandemia?Passámos a Páscoa ansiosos a lutar contra o medo. Agora, celebramos o Natal ameaçados pelo mesmo vírus, com a obrigação de nos protegermos a nós e aos outros, mantendo o que ele chama uma distância caritativa. Mas, se o Natal cristão existe como a festa da proximidade, donde poderá vir a alegria com a afirmação pública e ostensiva da distância?
S. Paulo exorta-nos a contemplar a glória de Deus a rosto descoberto [1]. Ora, quando as celebrações eucarísticas são possíveis, a conta-gotas e com numerus clausus, as máscaras e as abluções tornaram-se parte da paramentaria litúrgica! As novas tecnologias passaram a ser também, em muitos casos, abençoadas alfaias do culto.
No entanto, o Natal deve continuar a ser a celebração do nascimento do Emmanuel, Deus-connosco em carne viva. Valha-nos Santo Agostinho para nos lembrar o clandestino que tão frequentemente esquecemos: Ele está mais próximo de nós do que nós de nós mesmos. Mas com que linguagem, com que gestos poderemos evocar essa intimíssima proximidade?

sábado, 26 de dezembro de 2020

Gafanha: Mulheres amanham a terra

“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra, durante o tempo (às vezes, dez meses por ano!) em que os homens pescam o bacalhau nos mares distantes da Terra Nova, da Gronelândia, da Costa do Labrador. Elas cavam, semeiam, ceifam e colhem: duramente, com sanha viril. E assim se bastam e aos filhos. Quando o marido vier da campanha, encontrará a casa cheia como um ovo; e branquinha, sem sombra de dívida: Então com a ajuda de Deus, ele poderá comprar mais um pedaço de terra.
É assim com o Ribau, com o Chibante... com muitos outros. Com o Sarabando, também gafanhão e dos sete costados, não será bem assim: muitos filhos e todos pequenos ainda. Mas já alguém o viu triste, ao nosso Sarabando? Eu cá, nunca. Pobrete, mas alegrete.”


In "Nos mares do fim do mundo",
de Bernardo Santareno

Foto de "As mulheres do meu país" de Maria Lamas 

Entre o Ano Velho e o Ano Novo

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



A passagem de ano é sempre, mesmo nesta nossa presente circunstância triste e confinada, um tempo especial: balanço do ano que passou, perspectivação do ano novo que chega.

1 Agora, percebemos melhor que é preciso programar, mas há também o imprevisível. Quem poderia prever há um ano que iria cair sobre nós, nós todos, globalmente, esta catástrofe de uma pandemia: um vírus invisível, com sofrimentos indizíveis por todo o lado, que nos traz a todos em sobressalto permanente? Tivemos de aprender por experiência dura o que não conhecíamos: palavras como covid-19, confinamento, desconfinamento, reconfinamento, "distância social", máscaras (sabíamos, mas era tudo em abstracto)... Sobretudo: que muitos, no fim do ano de 2020, já cá não estão, e foram-se sem uma despedida, como se tivessem desaparecido numa noite de breu, no meio de uma tempestade...

Em família, o Menino crescia em sabedoria

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Sagrada Família



A apresentação de Jesus, no Templo de Jerusalém, constitui um acontecimento marcante na série de factos que manifestam a sua identidade e missão, o primeiro dos quais é a sua família. É também uma nova Epifania que está centrada no encontro de Simeão e de Ana, símbolos de uma humanidade insatisfeita com o presente e aberta ao futuro da esperança. Lc 2, 22-40 
“Um aspeto do mistério da encarnação, cujo aprofundamento esta celebração permite, afirma Manicardi, gira em torna do facto de que Jesus nasce e cresce num ambiente familiar, social, cultural e religioso específico… Do texto transparece, numa perspetiva hermenêutica, o problema da responsabilidade educativa dos pais e o laço da relação entre a família e a comunidade. A família enriquece a comunidade e a comunidade apoia a família no seu trabalhoso caminho humano e de fé”
A apresentação é uma festa judaica que contém em gérmen e desvenda em profecia o propósito que dá sentido à vida de Jesus: “Estar na casa do Pai”, fazer a sua vontade e anunciar o Evangelho do Reino. É um ritual familiar que celebra uma etapa significativa na inserção religiosa e social de Maria e José que vão apresentar o seu Menino ao Senhor e serem reconhecidos pela autoridade do Templo, cumprindo os preceitos da Lei. Que belo exemplo deixam aos pais que sentem o impulso natural de apresentar os seus filhos a Deus, agradecer o dom da vida e pedir a bênção para a aventura iniciada e as surpresas inesperadas!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O Menino estava deitado na manjedoira

 

«Mal os anjos partiram para o céu, os pastores disseram uns para os outros: “Vamos a Belém para vermos o que o Senhor nos deu a conhecer." Foram a toda a pressa e lá encontraram Maria e José e o Menino, que estava deitado na manjedoira. Depois de verem tudo isto, puseram-se a contar a toda a gente o que lhes fora dito a respeito daquele Menino. Todos os que ouviram o que os pastores diziam ficavam muito admirados.»

Lucas 2, 15-18

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Velha Mesa


 Postal dos CTT, 1959, de Raquel Roque Gameiro 

NATAL DA ESPERANÇA

A  NATIVIDADE 


 Vitral criado por Hans Acker (séc. XV), 
catedral de Ulm, Bade-Wurtemberg, Alemanha.

Desejamos  a todos os nossos amigos e leitores dos meus blogues um Santo Natal, que vai ficar na história como o Natal da Esperança, porque a pandemia vai ser vencida pela determinação dos cientistas, pelos redobrados cuidados de todos  e, ainda, pela nossa atenção aos feridos da vida. 

Lita e Fernando 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Os Velhos

Declaração de interesses: Nós somos velhos. Estamos na casa dos 80. Declaro isto por querer alinhavar umas notas sobre os velhos que, resistindo ao tempo, nos dão o prazer de existirem, mesmo que encostados a um canto de um qualquer lar, por mais estrelas que tiver,  ou da sua própria residência, cujos cantos e recantos exibem filmes de vidas decerto muito felizes. Mas os velhos precisam que olhem para eles, forma muito especial de se sentirem pessoas, com direitos e obrigações. Olhar, neste caso, significa falar, ouvindo e perguntando  mais do que ditando conselhos e decretando sentenças. Sem pressas e com paciência. 





É indiscutível que os velhos já foram jovens e pessoas de meia idade, ativos e atuantes na sociedade. Foram pessoas responsáveis, interventivas na comunidade, capazes de pensar o seu presente e o futuro dos seus familiares e amigos. Trabalhadores incansáveis em prol da suas famílias e da sociedade em geral. O peso dos anos talvez explique um certo cansaço, um real afastamento do dia a dia das comunidades que serviram com denodo e das famílias que construíram ao lado de vizinhos que se saudavam diariamente e com quem cavaqueavam quando se cruzavam. 
Se é certo que os anos vividos serviram de suporte a novas famílias, os velhos não perderam o seu lugar no mundo ao qual pertencem por direito e por justiça. Muitos, contudo, vão ficando sozinhos e entregues às suas memórias e aos seus futuros, sem futuro agradável e partilhado com familiares e amigos. 
Vem estas considerações a propósito dos velhos internados nos lares e nos hospitais, isolados nas suas casas, dias e dias sem terem com quem desabafar, com quem conversar com gente capaz de escutar. Haverá, contudo, lugar para os que ainda podem deslocar-se por seu pé, falar mesmo que não convidados para isso, apreciando o ambiente que tanto ajudaram a erguer. 
O Natal, que muitos apregoam que é quando o homem quiser, e não apenas na quadra tradicional, 25 de Dezembro, não passa de miragem para muitos velhos. Todavia, ainda poderá ser uma das raras possibilidades que alguns velhos terão de sentir afeto, atenção e carinho sem lamechices, deles ouvindo histórias imensas vezes repetidas que são estímulos para se manterem vivos. 
Felizmente, a nossa velhice (minha e da Lita) ainda está ativa e com capacidade para acolher, para ouvir projetos lindos dos mais novos, para trocar ideias, para discutir princípios de vida e de futuro, para concordar e discordar do que fazem, dizem e projetam, para aplaudir o bom e belo que fazem. Também nos sentimos felizes quando apreciamos o sol regenerador e a lua sonhadora, as pessoas que passam e nos saúdam, a beleza da natureza florida, o cair das folhas outonais e até a chuva benfazeja quando vem com regra. 
Os velhos, afinal, contentam-se com pouco, mas não toleram a indiferença dos que, por serem mais novos ou mais envolvidos nas canseiras da vida, não descobrem uns minutos para olhar ou conversar com os que carregam o peso dos anos e de trabalhos desgastantes. 
Bom Natal para todos

Fernando Martins

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Natal de Jesus, Luz do Mundo

Reflexão de Georgino Rocha
para este Natal de Jesus



A narrativa do nascimento de Jesus em Belém possui uma densidade simbólica singular, além de elementos históricos consistentes. Constitui um foco irradiante que se projecta sobre toda a humanidade e realça a dignidade de quem vive situações semelhantes e necessita de satisfazer necessidades fundamentais. 
José e Maria, com parcos recursos, chegam de uma longa viagem por obediência à lei do recenseamento. Tentam um lugar de abrigo, a casa de algum parente, a hospedaria dos passantes. Tudo se fecha. Têm de se abrigar num curral de gado. E aqui, ocorre o parto de Maria que nos dá o Menino Jesus, sob o olhar solícito de José, 
O Papa Francisco, referindo-se a este facto, salientou há dias,: “Este ano esperamos restrições e desconfortos; mas pensemos no Natal da Virgem Maria e de São José: não eram rosas e flores! Quantas dificuldades! Quantas preocupações! No entanto, a fé, a esperança e o amor guiaram-nos e sustentaram-nos. Que seja assim para nós também”. 
Rosa e flores, poesia e música, enfeites e consoadas vieram depois para expressar a vibração do coração humano perante tal maravilha. Mas sem esta, o Natal é folclore, o Menino é um boneco de loja, José, um venerável ancião e Maria a mãe aflita prostrada. A maravilha do Natal é esta: Deus faz-se humano e vive como humano para nos comunicar o seu ser divino e nos tratarmos como irmãos. Maravilha que nos alegra e faz exultar. 

O Inverno já chegou



No dia aprazado pelos astros, chegou o Inverno, que se prolongará até Março. Nesta quadra, a chuva, o vento e o frio são reis. Reis que abusam da nossa paciência, embora a natureza precise deles, se vierem comedidos. Não é verdade que noutras estações do ano o tempo tantas vezes não agride gente e natureza? 
Com o Inverno estou mais por casa e como eu muitos outros da minha idade. Será um tempo de opções voltadas mais para dentro e para os que nos estão mais próximos. O crepitar do lume na salamandra ou no salão de sala, que aquece a alma e o corpo, dá um certo prazer à vida, suscitando conversas que a dispersão dos dias quentes e luminosos nem sempre nos permitem estar, falar e ouvir. No fundo, será uma compensação natural que devemos aproveitar. 
Estar dentro de casa no sossego dos dias invernosos tem o seu quê de poético que nos alimenta o dia a dia e nos faz sonhar com a Primavera que já está a fazer as malas para se pôr a caminho. 
Um dos meus passatempos preferidos assenta na leitura, que, sendo hábito diário, se torna mais apetecida em dias desagradáveis. E como tenho tanto que ler, posso estar tranquilo. Nem saídas nem despesas estão nas minhas preocupações neste momento escuro e chuvoso. 
Bom Inverno para todos, isto é, que chova quanto baste, que haja frio com moderação e até que o vento zuna para nos dizer que existe, afastando a pandemia que espreita a hora de nos atacar.

Fernando Martins

Natal de Esperança


Este ano, temos pela frente um enorme desafio: Viver um Natal de Esperança imposto por um confinamento carregado de ameaças, temores, dores e angústias. O Covid-19 surpreendeu tudo e todos com o seu insidioso e camuflado ataque em todo o mundo, não respeitando rico ou pobre, poderoso ou débil, culto ou inculto, sábio ou ignorante. Sem olhar a fronteiras, até parece que tem predileção especial pelos homens e mulheres do nosso tempo, novos e velhos, estando todos nos seus horizontes de destruição e morte. E os cientistas, cuja missão e trabalhos não podemos deixar de louvar, empenham-se desde que o vírus surgiu e foi identificado, dando-lhe luta, tenaz e sem tréguas, no sentido de o dominar e aniquilar, já lá vão uns dez meses. 
Do mesmo modo, louvamos todos os profissionais de saúde que diariamente defendem os atingidos com os meios de que dispõem, sabendo que estão na linha da frente dos que podem vir a ser contaminados. E é neste ambiente de pânico, luto e dor, que chegamos ao Natal, a festa do nascimento do Menino-Deus que veio para nossa salvação, à consoada das famílias que procuram a paz, ao encontro sempre ansiado para quem vive um ano de trabalho a todos os níveis, ao convívio entre gerações nem sempre possível durante meses e meses, à partilha de lembranças, por mais simples e simbólicas que sejam, à troca de sorrisos gratificantes. Condicionados pelas máscaras que nos roubam a identidade mas nos protegem do contágio, pelos confinamentos e distanciamentos que a pandemia impõe, o Natal deste ano não tem paralelo no mundo das últimas gerações. 
As cerimónias natalícias foram limitadas ao mínimo, preservando o essencial litúrgico, mas o povo, que espontaneamente vibra com a chegada do Menino, desta feita não poderá dar asas espontaneamente à sua alegria em ambiente de partilha comunitária e familiar. Tudo tem de ser comedido, mantendo distanciamentos, sem beijos nem abraços, sem mesas cheias de convivas e com proximidades bloqueadas. Ninguém sabe quem está infetado ou quem está livre desse perigo, que o vírus pode estar à espreita. 
Como cristãos, que alimentamos no dia a dia o sentimento da esperança, vamos viver o Natal e a Consoada dentro das normas estabelecidos pelas leis gerais do nosso país e pela prudência bem medida pelas nossas consciências. No próximo ano será diferente. Deus será a razão da nossa esperança. 

Fernando Martins

domingo, 20 de dezembro de 2020

Natal da amizade

O Menino, quando passamos, fixa-nos com ternura

NATAL 

Lá na gruta de Belém
onde nasceu o Redentor
houve falta de agasalho
que sobrou em Paz e Amor
Apoio humano e divino
prendas singulares do mundo
foram presença marcante
nesse Presépio fecundo
cuja pobreza na grandeza
e desamparo era bondade
e que simplesmente deu
rumo à Humanidade.
Que nesta época de Natal
de já rara fraternidade
que ao menos, depois da festa,
Possa celebrar-se a Amizade.

M. Cerveira Pinto

(Um poeta de banca meu companheiro)

Deus não precisa de um templo

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO



Não se procura um templo para Deus, mas uma casa que reúna a comunidade cristã aberta ao mundo, para que não se esqueça do verdadeiro Natal, Deus-connosco, Deus com os pobres e abandonados pelo nosso egoísmo, pelas desigualdades aberrantes entre os seres humanos, nossos irmãos.

1. Calcula-se que o turismo religioso movimenta por ano, a nível mundial, entre 300 a 330 milhões de pessoas à procura de locais considerados sagrados e, sobretudo, daqueles que se tornaram mais significativos para a religião que cada um professa. São os templos monumentais ou santuários que nasceram de visões ou acontecimentos ditos milagrosos que atraem mais peregrinos.
Paulo Mendes Pinto deu a conhecer uma nova versão do fenómeno inter-religioso muito original e, ao que parece, único no mundo. Excede a pura curiosidade turística, mas com virtualidades que importa conhecer e estudar.
No dia 11 de Setembro de 2016, quando passavam 15 anos sobre os atentados de 2001, a Fundação ADFP, de Miranda do Corvo, inaugurou um equipamento que procura ser uma peça dinâmica e significativa na criação de pontes entre as religiões e na difusão de uma cultura de paz, um lugar onde todos são acolhidos, tratados como iguais, num ambiente onde o conhecimento e a quebra e abandono de todos os preconceitos é a única regra. É o Templo Ecuménico Universalista.
No Google, existe uma reportagem pormenorizada e muito ilustrada da significação das construções minimalistas dessa realização, no cume da serra da Lousã.
É uma bela ideia. Reunir pessoas de culturas e religiões diferentes, convocadas para viverem e exprimirem umas às outras as misteriosas fontes de paz, pode tornar-se mais um caminho de esperança, num mundo mergulhado em violências e guerras de todo o género.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Natal: Deus sem máscara

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



1. Ia eu na rua e uma jovem interpelou-me: “Já não se lembra de mim? Até me baptizou...”. E eu: “Puxa um pouquinho a máscara”, e ela puxou. “Continuas linda, Susana!...”. 
Se eu algum dia imaginei que havíamos todos de andar de máscara! Antes também havia muita gente mascarada, mas as máscaras eram outras... Agora, impomo-nos o uso da máscara a nós próprios, por causa de nós e dos outros: para nos protegermos a todos, ao mesmo tempo que nos desprotegemos, porque ficamos sem a presença dos outros. Como faz falta vermo-nos cara a cara, falar cara a cara, tocarmo-nos, sorrir, rir, colocar os sentidos todos alerta na presença viva dos outros. Passámos a vida a dizer às crianças: “Dá um beijo ao avô, um beijo à avó, um beijo à tia...”. Agora, de repente, é tudo ao contrário, como se os outros fossem inimigos, pois até viramos as costas... Apertávamos as mãos, porque apertar as mãos é um gesto de encontro na paz: as mãos livres de armas vão ao encontro do outro, sem medo. Abraçávamo-nos de alegria pelo reencontro ou chorando pelo luto ou antecipando a saudade pela despedida. Agora, não há proximidade, até nos mandam, e bem, manter a distância (e até se dizia: “a distância social”, mas eu espero que seja só a distância física, espero que a outra — a espiritual, a afectiva — se mantenha e aprofunde). 
Foi precisa a pandemia para que se nos tornasse inválida a afirmação de Sartre: “O inferno são os outros”. Afinal, é o contrário: a falta dos outros é que é o inferno, a solidão é um inferno. 

“A Caixa de Correio de Nossa Senhora”

Um livro de António Marujo 
para o nosso confinamento



António Marujo
“A Caixa de Correio de Nossa Senhora” de António Marujo é um livro que merece ser lido pelos devotos de Nossa Senhora de Fátima, mas não só. António Marujo é um jornalista especializado em temas de âmbito religioso, com prémios internacionais que reconhecem o mérito do seu labor numa área não muito apetecida pelo jornalista comum. Daí a sua colaboração em inúmeros programas da rádio e televisão, bem como na imprensa escrita, nomeadamente no PÚBLICO. Também escreveu diversos livros onde pode ser apreciado o seu trabalho metódico e rigoroso, todo vestido por uma escrita escorreita. Presentemente, entre outras tarefas jornalísticas, pode ser apreciado o que escreve e edita no jornal online Sete Margens
Neste livro, que surgiu no mercado depois de “Senhora de Maio”, António Marujo debruçou-se com cuidado e rigor sobre um tema abrangente que permite conhecer o povo português  devoto de Maria,  especialmente,  graças à correspondência que é dirigida ao Santuário de Fátima, claramente endereçada a Nossa Senhora. 
Debruçado sobre oito milhões de mensagens oriundas de todo o mundo, o autor oferece aos seus leitores e à história de Fátima um enorme conjunto de pedidos, súplicas, desabafos, dores, dramas, anseios e mistérios. Diz António Marujo, a abrir, que em cada carta há “a possibilidade de desabafar com alguém em quem se confia e com quem se tem uma relação de proximidade e intimidade”. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Ceia de Consoada com Bacalhau

Na rotunda do centenário, o bacalhau não podia faltar


A ceia de consoada não pode prescindir do bacalhau. Na nossa região, em especial, mas julgo que em quase todo o país, o fiel amigo é rei. Sabe-se, contudo, que o polvo também marca presença noutras regiões. Em mesas pobres ou ricas, na consoada somos mais iguais uns aos outros. E nas palavras também. Boas Festas, Santo Natal, Paz, Fraternidade, Partilha, Mensagens e tantos outros sinais nos aproximam uns dos outros. Postais de Boas Festas caíram no esquecimento. As redes sociais, bem ou mal, ocuparam esse espaço.  Afinal,  somos todos amigos, talvez tocados pela educação que nos revestiu de um Menino que muitos aceitaram como Salvador da Humanidade. 
Voltemos ao bacalhau. A nossa terra  assumiu-se como capital do bacalhau quase desde os seus primórdios. Daqui partiam os lugres e arrastões e voltavam carregados. Aqui se preparava o fiel amigo e daqui partia, espalmado e seco, para as mesas de multidões de meio mundo. Até parece um petisco raro neste dia. 
Boa consoada para todos com bom bacalhau à mesa. Depois virão os doces tradicionais, com destaque para os bilharacos, rabanadas e mais o que houver.

Faça-se em mim segundo a tua palavra

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo IV do Advento do Natal 



O itinerário do Advento do Natal destaca figuras emblemáticas que são testemunhas da fidelidade de Deus à Sua aliança: Isaías, o profeta do exílio, João Baptista, o homem precursor do Messias, José, o escolhido para dar nome legal a Jesus e Maria, a virgem de Nazaré, a agraciada para ser a Mãe. Hoje, concentramo-nos no diálogo da anunciação que realça a disponibilidade de Maria ao dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. Lc 1, 26-38. 
A disponibilidade de Maria é total, e incondicional a sua entrega. Após uma saudação que a felicita pela graça alcançada e um diálogo que lhe desvenda a densidade do futuro próximo, o seu “sim” é pleno e definitivo, alegre e confiante. 
A propósito da atitude de Maria, observa o cardeal Tolentino de Mendonça: “Entre aquilo a que somos chamados e o conhecimento das nossas forças há uma separação que nos estremece, uma distância que nos emudece. Sentimos o peso da nossa fragilidade como uma dolorosa incapacidade para responder. Mas aprendemos que a confiança é sempre dar um salto. Ante a promessa do Espírito Santo que virá, Maria confia e pronuncia o seu sim”. 
O episódio tem lugar em Nazaré, aldeia da Galileia com uns cem habitantes. O protagonista é o anjo do Senhor que vem a casa de Joaquim e de Ana. A mensagem expressa-se no convite para ser mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo. O ambiente deixa “respirar” simplicidade e o silêncio faz pressentir a sublimidade do acontecimento. O interlocutor é uma jovem virgem em estado singular: já não “pertence” à família por estar “comprometida” com José, nem ao esposo e seus familiares por ainda não terem celebrado publicamente a boda ritual. Tudo ocorre no espaço onde Maria se encontra, na vida fecunda do lar onde se cultivam as mais nobres tradições e forjam os grandes ideais. Deus inclina-se para ela e para todos os que encontra disponíveis. 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Outono desconfortável


Lá fora o frio. Chuva de vez em quando. O Sol esconde-se por trás das nuvens, ora escuras, ora esbranquiçadas e esfarrapadas. E por entre as esfarrapadas um raio de sol chega à janela do meu sótão e entra sorrateiro. Uma folha cai. A Nina percebe o regalo e aproveita. É a imagem flagrante desde Outono desconfortável. 

NATAL com arte

Ilustração de Manuel Ângelo Correia
 
O gostinho pessoal continua e enquanto puder vou repetir o que gosto de fazer. Este ano é mais um miminho para os nossos amigos, saído do forno da criação. Aí vai com um abração para todos, cheio de votos de paz e desejo de rápidos  desconfinamentos.
Bom Natal extensivo às famílias.

Manuel Ângelo Correia - Eneida 

NOTA: Foi com muita satisfação que recebemos os miminhos (Ilustração e texto) dos nossos vizinhos com os votos que todos almejamos. O otimismo que devemos cultivar leva-nos a acreditar que o Natal de 2021 será livre de ameaças. E então ficamos à espera que o artista, sensível  e atento, possa ilustrar  os nossos desconfinamentos. Até lá, saúde e paz.

Fernando e Lita 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Beethoven nasceu há 250 anos

Beethoven nasceu há 250 anos. Um génio nunca morre. Ele continue com todos os amantes da música. Durante a tarde, ouvi, serenamente, a Quinta e a Nona sinfonia. A tarde musical foi a minha homenagem ao compositor que mais alto ouviu os acordes divinos. 
Diz-se, com alguma graça, que Beethoven ficou surdo para que os sons terrestres não perturbassem os sons celestes que o seu espírito ia lendo e registando. Durante 200 anos, os melómanos jamais se cansaram de o ouvir. E no futuro continuará ter ouvintes atentos à sua arte única. Muitos outros compositores hão de surgir a nível mundial, mas Beethoven não será esquecido.

NOTA: No You Tube pode ouvir o que desejar

Nova Marina da Barra ainda viável?



Fátima Alves, presidente do conselho de administração do Porto de Aveiro (APA), afirmou, na Rádio Terra Nova (RTN), que a Marina da Barra, de que se falou há duas décadas, já morreu, mas o uso de espaço permanece vivo para responder à náutica de recreio. 
Na qualidade de leigo, nesta como noutras matérias, não sou radicalmente contra tal empreendimento. Penso, contudo, que qualquer obra a fazer-se na Ria de Aveiro deve merecer profundos estudos, no sentido de ter em conta a beleza e riqueza que a laguna contém. A radicalidade das opções não é de seguir nos tempos que vivemos. No meio termo estará a virtude.
Fátima Alves diz, conforme li na RTN, que a área prevista para a implantação continua à espera de propostas, com ideias claras e abertas ao investimento. Aliás, sublinha a presidente do conselho da APA, há um contrato válido com concessão para 60 anos, que poderá abrir caminho a novas ideias e novos projetos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Faleceu o Pe. João Gonçalves

Já descansa no coração maternal de Deus 
quem serviu os mais pobres


Em 8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição, o Pe. João Gonçalves, conhecido no país por Pe. das Prisões, faleceu em Aveiro, após dolorosa doença. Nesse dia e hora, ingressou no regaço maternal de Deus, recebendo a recompensa divina pelos serviços prestados na comunidade humana em prol dos que mais precisam de pão e de uma palavra amiga, de conforto e estímulo. Ao apelo dos pobres, de pão e de amor, o Pe. João deixava a refeição a meio, se preciso fosse, e corria em socorro de quem estava em apuros.Este sacerdote, oriundo da Gafanha do Carmo, onde nasceu em 24 de Março de 1944, no seio de uma família profundamente cristã, filho de Daniel Gonçalves e de Júlia de Jesus Cuco, não era de muitas palavras, mas apostava no agir em conformidade em prol dos feridos da vida, dos que, caídos nos lamaçais da existência, não conseguiam reunir forças para renascer para uma vida nova.

Inês Filipe - Cinco minutos de harmonia



NOTA: Uma artista com raízes gafanhoas. Inês Filipe

Passadiço - Um desafio


Em dias de confinamento, repetitivos e tristes, imagens como esta são um desafio a fugir de casa para caminhar, tranquilamente, para  mais adiante por ali  poder espraiar o olhar pelo horizonte do mar sem fim. Ar puro, alheamento de  realidades doentias, saudades de horas sadias, com um pouco de tudo isto se constrói uma alma diferente. Um dia destes vou lá. 

UNIVERSIDADE DE AVEIRO - PRIMEIRO REITOR

EFEMÉRIDE
1973
15 de Dezembro 


O ministro da Educação Nacional, Professor Doutor José da Veiga Simão, conferiu posse ao primeiro reitor da Universidade de Aveiro, Professor Doutor Vítor Gil, em sessão soleníssima realizada no salão de conferências do Museu de Aveiro, junto do túmulo da Princesa Santa Joana. "Aveiro e o seu Distrito", n.º 16, pgs. 21 e ss.; Correio do Vouga, 21-12-1973; Litoral, 22-12-1973) – J. 

“Calendário Histórico de Aveiro” 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

HÁ DIAS ASSIM


Há dias assim. Ou assim-assim. Como diz o dicionário, nem bem nem mal. Ora triste ou nem por isso. Alegre é que não. Isto deve ser fruto do tempo: chuvoso, carrancudo, frio, cinzento. Também pode ser da idade, alvitra alguém; do confinamento, diz outro. Mas eu não digo mais nada. Amanhã, garanto, já serei outro. Ou talvez logo mais. Para já é assim.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

VEJA-SE AO ESPELHO


Quando passar pelo Jardim 31 de Agosto, veja-se ao espelho. Dá sempre jeito. O que foi Centro Cultural virou Fábrica das Ideias. Tudo bem. O que importa, no entanto, é ter vida com festa que nos alegre.

domingo, 13 de dezembro de 2020

TUDO POR CAUSA DA ALEGRIA

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO



1. O que já podemos saber é que nós ignoramos o que é o ser humano. Pelo pouco que conhecemos do nosso passado, pelo turbilhão do presente e pela incerteza acerca do futuro, verificamos que somos um programa tão aberto que nunca poderá oferecer garantias de que dê sempre certo. Quando repetimos que somos essencialmente desejo, também sabemos que há bons e maus desejos.
Através dos nossos labirintos interiores, das contradições sociais e culturais e da anarquia louca dos nossos apetites, de forma consciente ou inconsciente, somos, apesar de tudo, desejo de plenitude. Muitas vezes criminosamente atraiçoado.
É, na segunda parte da Suma de Teologia, que Tomás de Aquino elabora a sua minuciosa ética teológica. É servida pela reelaboração da ética filosófica aristotélica, com banhos de Santo Agostinho e de outros Padres da Igreja. Importa-me realçar, para o objectivo desta crónica, que essa longa construção é precedida de cinco questões dedicadas, exclusivamente, à investigação das exigências e dos obstáculos para aceder à felicidade perfeita [1]. As evangélicas bem-aventuranças anunciam as condições para atingir essa plenitude. Os trabalhos e os gemidos da história humana, para alcançar novos céus e nova terra, são todos por causa da alegria.
S. Paulo sublinhou esta situação de modo dramático: “Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo.” [2] 
Como crescemos no tempo, vivemos no reino da imperfeição, da “alegria breve”, como diz Virgílio Ferreira. No mesmo dia, podemos passar da alegria à tristeza e do medo à esperança [3].

O MENINO JÁ ESTÁ ENTRE NÓS



O Advento está a caminhar a passos largos para a grande festa dos cristãos que é a celebração do nascimento do Deus-Menino, registado no coração de humildes pastores  há mais de dois mil anos. Tão importante foi esse acontecimento que marcou a nossa era. 
A princípio, terá sido uma criança como outra qualquer, mas quando se fez homem, dele brotou uma mensagem que se tornou revolucionária, essencialmente assente na paz e na fraternidade. O seu legado impulsionou uma nova civilização, a Civilização do Amor, cuja implementação entregou aos seus seguidores. 
Contudo, apesar da beleza e urgência da sua mensagem,  a Civilização do Amor permanece em miragem para imensa gente. Urge reacender,  ano após ano, neste mundo sem fronteiras, a luz da esperança que o Menino-Deus projetou em cada um de nós, a partir da humilde gruta de Belém. 
Bom Natal para todos. 

sábado, 12 de dezembro de 2020

O SENTIDO DA VIDA. 2. A ÉTICA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 



1. Quando demos por nós, já lá estávamos, claro, mas ainda sem consciência de estarmos. Foi um tomar consciência lento, gradual. Mas houve um dia, dias, em que se nos impôs ou foi impondo claramente que nos pertencemos, que somos livres, que somos donos e senhores de nós próprios e das nossas acções, com a responsabilidade de nos fazermos a nós mesmos no mundo com os outros. De qualquer forma, percebemos que já somos, mas ainda não somos e temos de escolher o que queremos ser. Abateu-se sobre nós, gigantesca, decisiva, a única tarefa que temos: fazendo o que fazemos ou não fazemos, por acção, por omissão, estamos a fazer-nos e, no fim, resultará uma obra de arte ou uma vergonha... 
Assim, torna-se claro que a nossa vida, para se erguer num projecto digno, tem de se ir vendo do presente para o futuro e do futuro para o presente continuado, se se quiser, numa imagem mais visual, tem de ver-se de cá para lá e, por antecipação, de lá para cá. Para que lá, no fim, olhando para trás, não nos arrependamos do que fizemos ou não fizemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos pena de não termos feito o que poderíamos fazer e não fizemos. É que — isto é abissal — só vivemos uma vez. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

MAU TEMPO POR ESTES DIAS

Praia da Barra (Foto do meu arquivo)

O mau tempo tem estado a ser anunciado para estes dias, com avisos que que assustam o povo. No litoral, quando havia mau tempo, as nossas praias sofriam as consequências com danos que exigiam avultadas despesas para repor a sua beleza. Esta foto, dos meus arquivos, mostra à evidência o que costumava acontecer. Presentemente, com as obras que têm sido feitas, talvez estejamos livres de desastres como este.
Há anos, um perito afiançou-me que o mar não garante nada e que é sempre imprevisível, por mais obras que se façam. Quando ele se zanga, deixa inevitavelmente um rasto de destruição incalculável. Vamos esperar que o temporal não seja tão mau quanto se anuncia. 
Bom fim de semana.

Um ar de sol



Em tempo outonal, com chuva persistente, um ar de sol entrou no meu quintal. Não aquece, de tão ténue ele ser, mas o ar da sua graça indicia que a esperança não morre.

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