Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo IV do Advento do Natal
O itinerário do Advento do Natal destaca figuras emblemáticas que são testemunhas da fidelidade de Deus à Sua aliança: Isaías, o profeta do exílio, João Baptista, o homem precursor do Messias, José, o escolhido para dar nome legal a Jesus e Maria, a virgem de Nazaré, a agraciada para ser a Mãe. Hoje, concentramo-nos no diálogo da anunciação que realça a disponibilidade de Maria ao dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. Lc 1, 26-38.
A disponibilidade de Maria é total, e incondicional a sua entrega. Após uma saudação que a felicita pela graça alcançada e um diálogo que lhe desvenda a densidade do futuro próximo, o seu “sim” é pleno e definitivo, alegre e confiante.
A propósito da atitude de Maria, observa o cardeal Tolentino de Mendonça: “Entre aquilo a que somos chamados e o conhecimento das nossas forças há uma separação que nos estremece, uma distância que nos emudece. Sentimos o peso da nossa fragilidade como uma dolorosa incapacidade para responder. Mas aprendemos que a confiança é sempre dar um salto. Ante a promessa do Espírito Santo que virá, Maria confia e pronuncia o seu sim”.
O episódio tem lugar em Nazaré, aldeia da Galileia com uns cem habitantes. O protagonista é o anjo do Senhor que vem a casa de Joaquim e de Ana. A mensagem expressa-se no convite para ser mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo. O ambiente deixa “respirar” simplicidade e o silêncio faz pressentir a sublimidade do acontecimento. O interlocutor é uma jovem virgem em estado singular: já não “pertence” à família por estar “comprometida” com José, nem ao esposo e seus familiares por ainda não terem celebrado publicamente a boda ritual. Tudo ocorre no espaço onde Maria se encontra, na vida fecunda do lar onde se cultivam as mais nobres tradições e forjam os grandes ideais. Deus inclina-se para ela e para todos os que encontra disponíveis.
Maria, a agraciada do Senhor, em resposta ao convite-apelo dá uma orientação mais profunda à sua vida, ao seu estado de ânimo existencial. A feliz esperança do Messias vai realizar-se de modo admirável. Ela é a contemplada, a eleita entre todas as mulheres, para ser a mãe do Messias esperado. Ela vê confirmada, em si, a expectativa do povo judeu que, ansiosamente, aguardava esse evento. O seu “seja como queres” abre caminho a uma nova e definitiva época da história da salvação. Deus quere-a para ser senhora e ela faz-se escrava. Ele enche sempre as mãos vazias e acolhedoras dos que confiam na sua promessa.
Maria, a virgem-mãe de Nazaré, é a mulher da palavra. Sabe acolher e escutar o mensageiro, dialogar com ele para aprofundar o conteúdo do “mistério”, interiorizar a feliz mensagem, disponibilizar-se para ser cooperante activa, nas mãos do Senhor. A fé confiante envolve toda a sua vida e capacidades. Nada fica de fora, nem o uso do tempo nem a reserva de energias. É fé em crescimento, acompanhando com a razão e guardando no coração as surpresas que, o desenrolar da missão de Jesus, lhe provocam. É a alegria de quem vive totalmente o “sim” dado para ser a Mãe de Jesus.
“A alegria é isto: orientar para Jesus. E a alegria deve ser a caraterística da nossa fé, mesmo nos momentos de escuridão, a alegria interior de saber que o Senhor está comigo, está connosco, ressuscitou. O Senhor, o Senhor é o centro da nossa vida”, proclama o Papa Francisco aos peregrinos na Praça de São Pedro.
A grandeza de Maria prolonga-se, agora, em cada um de nós que, no dia-a-dia, tem coragem de dizer sim, sendo fiel aos apelos do Senhor que provêm de tantas maneiras e encontram eco na nossa consciência. Todos temos uma palavra a escutar e a dizer e que, no fundo, se vem a identificar com a atitude de Maria: dar vida a Jesus em nós e, por meio de nós, a outros que aguardam, confiantes, essa feliz oportunidade.
Com o cardeal Tolentino, podemos rezar com verdade: “Gosto de saber que encontraste os planos de Deus infinitamente superiores a ti e que, mais uma vez, te sentiste pequena, só e não à altura, como tantas vezes eu me sinto. E também por isto, no fundo de mim experimento que me abraças, tu que tudo compreendes”.
Pe. Georgino Rocha