Já descansa no coração maternal de Deus
quem serviu os mais pobres
Em 8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição, o Pe. João Gonçalves, conhecido no país por Pe. das Prisões, faleceu em Aveiro, após dolorosa doença. Nesse dia e hora, ingressou no regaço maternal de Deus, recebendo a recompensa divina pelos serviços prestados na comunidade humana em prol dos que mais precisam de pão e de uma palavra amiga, de conforto e estímulo. Ao apelo dos pobres, de pão e de amor, o Pe. João deixava a refeição a meio, se preciso fosse, e corria em socorro de quem estava em apuros.Este sacerdote, oriundo da Gafanha do Carmo, onde nasceu em 24 de Março de 1944, no seio de uma família profundamente cristã, filho de Daniel Gonçalves e de Júlia de Jesus Cuco, não era de muitas palavras, mas apostava no agir em conformidade em prol dos feridos da vida, dos que, caídos nos lamaçais da existência, não conseguiam reunir forças para renascer para uma vida nova.
O Pe. João tinha, com toda a naturalidade, um sorriso franco e aberto, reflexo de uma alma simples e disponível para os outros, simplicidade e disponibilidade que herdou dos seus pais e que soube partilhar junto dos paroquianos, mas não só. Muitos devem imenso ao Pe. João, um homem de acolhimento, de partilha, de disponibilidade e de espírito solidário, com a palavra e o gesto sempre prontos, o conselho na ocasião oportuna, o carinho na hora da cama hospitalar, a atenção ao recluso, no qual via o próprio Cristo. Tinha também o dom de indicar caminhos de bem, de justiça, de liberdade, de paz e amor, rumo a uma sociedade mais fraterna. E não esquecia as famílias dos presos, porventura os mais atingidos pelo repúdio das comunidades e pela falta de meios para o pão de cada dia. Mas ainda se envolvia na reintegração dos que, desejando regressar à vida normal, se deparavam com suspeitas, incompreensões e calúnias. As palavras, os gestos de apoio e o trabalho estavam bloqueados.
Foi ordenado presbítero por D. Manuel de Almeida Trindade em 21 de Dezembro de 1969. Coadjutor e pároco da freguesia da Glória-Sé, o seu múnus foi valiosíssimo também no serviço social como capelão do Hospital de Aveiro, diretor das Florinhas do Vouga e da Casa Sacerdotal, assistente da Irmandade de Santa Joana e coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, entre outras responsabilidades diocesanas.
Na paróquia da Glória-Sé implementou diversas iniciativas, de que importa destacar o Carnaval e outras festas comunitárias, por entender que a alegria saudável deve ser norma de vida dos cristãos.
O seu precioso trabalho na Pastoral Penitenciária mereceu de Inês e Daniela Leitão, irmãs, um filme-documentário que foi passado na televisão, mas não só, sendo louvado pelos seus méritos. De Inês Leitão foi publicado ainda em livro, “O Padre das Prisões Portuguesas”, um ensaio baseado na vida do Pe. João Gonçalves, que mostra à evidência o seu exemplar trabalho em prol da Igreja e dos famintos de pão e de amor.
Fernando Martins