Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa da Sagrada Família
A apresentação de Jesus, no Templo de Jerusalém, constitui um acontecimento marcante na série de factos que manifestam a sua identidade e missão, o primeiro dos quais é a sua família. É também uma nova Epifania que está centrada no encontro de Simeão e de Ana, símbolos de uma humanidade insatisfeita com o presente e aberta ao futuro da esperança. Lc 2, 22-40
“Um aspeto do mistério da encarnação, cujo aprofundamento esta celebração permite, afirma Manicardi, gira em torna do facto de que Jesus nasce e cresce num ambiente familiar, social, cultural e religioso específico… Do texto transparece, numa perspetiva hermenêutica, o problema da responsabilidade educativa dos pais e o laço da relação entre a família e a comunidade. A família enriquece a comunidade e a comunidade apoia a família no seu trabalhoso caminho humano e de fé”
A apresentação é uma festa judaica que contém em gérmen e desvenda em profecia o propósito que dá sentido à vida de Jesus: “Estar na casa do Pai”, fazer a sua vontade e anunciar o Evangelho do Reino. É um ritual familiar que celebra uma etapa significativa na inserção religiosa e social de Maria e José que vão apresentar o seu Menino ao Senhor e serem reconhecidos pela autoridade do Templo, cumprindo os preceitos da Lei. Que belo exemplo deixam aos pais que sentem o impulso natural de apresentar os seus filhos a Deus, agradecer o dom da vida e pedir a bênção para a aventura iniciada e as surpresas inesperadas!
Peregrinos, como quaisquer outros, que alegria e gratidão não sentiriam ao empreenderem a viagem a Jerusalém e ao entregarem, ao Senhor, aquele que haviam recebido e estava confiado aos seus cuidados! Que surpresa e admiração teriam ao ver o gesto acolhedor e abençoado de Simeão e ao ouvir o que, entusiasmada, dizia Ana a respeito do seu Menino! Que força discreta esconde Maria e que silêncio eloquente anima José, neste encontro recheado de novidades inquietantes!
Simeão representa a humanidade que toma o Menino nos seus braços e sente realizada a sua paciente espera ao reconhecer, na fragilidade da criança, a salvação posta ao alcance de todos. Admira e contempla, atitudes indispensáveis para ver em profundidade e intuir o sentido da mensagem a anunciar: Jesus é a luz das nações e a glória do povo eleito. Fica tão satisfeito que se declara pronto para partir em paz. Tinha conseguido o que tanto ansiava. Belo testemunho de uma vida realizada. Feliz velhice que revela a sabedoria acumulada ao longo dos anos. Encanto de mensagem que desvenda o futuro do Menino: ser sinal de contradição, ruína para uns e edificação para outros, futuro condicionado pelas escolhas de cada um. A profecia de Simeão antecipa, de algum modo, o alcance do oferecimento de Jesus no Templo: a última Páscoa de Jesus.
Ana, a primeira evangelizadora, não pode calar o que o coração experiencia com alegria indizível. E fala a todos. Ela, a pobre viúva, sem voz nem vez na sociedade judaica! Que avozinha mais amorosa, totalmente dedicada ao serviço do Senhor, nas suas limitadas capacidades. Que lição para toda a “geração sénior”, responsável pela transmissão de valores fundamentais à sã convivência de todas as idades.
Maria e José, terminadas as festas rituais, voltam à vida ordinária, ao seu dia-a-dia, velando pelo crescimento do Menino, crescimento em robustez e sabedoria, crescimento que faz brilhar a beleza com que Deus o agraciou. Com eles, vamos também nós ao encontro de Jesus e renovemos a nossa disponibilidade para o serviço do Senhor no cuidado de quem está em necessidade.
O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 2021, dedicada a educar em ordem à cultura do cuidado afirma a necessidade de um processo educativo que tem como bússola o respeito dos princípios sociais da Igreja.
“A educação para o cuidado nasce na família, núcleo natural e fundamental da sociedade, onde se aprende a viver em relação e no respeito mútuo. Mas a família precisa de ser colocada em condições de poder cumprir esta tarefa vital e indispensável. Sempre em colaboração com a família, temos outros sujeitos encarregados da educação como a escola e a universidade e analogamente, em certos aspetos, os sujeitos da comunicação social”, nº 8.
Pe. Georgino Rocha