segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Natal de Jesus, Luz do Mundo

Reflexão de Georgino Rocha
para este Natal de Jesus



A narrativa do nascimento de Jesus em Belém possui uma densidade simbólica singular, além de elementos históricos consistentes. Constitui um foco irradiante que se projecta sobre toda a humanidade e realça a dignidade de quem vive situações semelhantes e necessita de satisfazer necessidades fundamentais. 
José e Maria, com parcos recursos, chegam de uma longa viagem por obediência à lei do recenseamento. Tentam um lugar de abrigo, a casa de algum parente, a hospedaria dos passantes. Tudo se fecha. Têm de se abrigar num curral de gado. E aqui, ocorre o parto de Maria que nos dá o Menino Jesus, sob o olhar solícito de José, 
O Papa Francisco, referindo-se a este facto, salientou há dias,: “Este ano esperamos restrições e desconfortos; mas pensemos no Natal da Virgem Maria e de São José: não eram rosas e flores! Quantas dificuldades! Quantas preocupações! No entanto, a fé, a esperança e o amor guiaram-nos e sustentaram-nos. Que seja assim para nós também”. 
Rosa e flores, poesia e música, enfeites e consoadas vieram depois para expressar a vibração do coração humano perante tal maravilha. Mas sem esta, o Natal é folclore, o Menino é um boneco de loja, José, um venerável ancião e Maria a mãe aflita prostrada. A maravilha do Natal é esta: Deus faz-se humano e vive como humano para nos comunicar o seu ser divino e nos tratarmos como irmãos. Maravilha que nos alegra e faz exultar. 
Nestas festas natalícias, afirma Emma Martínez a quem devo a inspiração para esta reflexão, celebramos e recordamos, de maneira simbólica que Jesus, desde o seu nascimento, experimentou a fragilidade de um recém-nascido, “deitado e enfaixado numa manjedoura de gado”, pois não havia lugar para eles no povoado por seus pais serem pobres transeuntes; experimentou, como os que vivem na periferia, a vulnerabilidade e a falta de cuidados sanitários, a insegurança dos sem-abrigo nem lugar para ocasionalmente se refugiarem, a incerteza sobre a sua própria vida sujeita a restrições de convivência, mas em harmonia simbólica e cooperante dos três seres humanos com os animais; experimentou a alegria de acolher pastores e magos com os dons da natureza que traziam. E vive o medo da insegurança, da ameaça e da perseguição, a ponto de ter fugido para outro país onde viveu uns anos em exílio preventivo. “Não eram rosas e flores! Mas havia confiança e fé. 
A celebração do Natal de Jesus está muito condicionado pela pandemia; força-nos a “podas” no humano tradicional e na galeria de enfeites e prendas, e cria condições para nos centrarmos no essencial. E com Eva Martinez podemos descobrir na pandemia uma oportunidade para aprendermos as lições que ela comporta e viver um Natal mais autêntico, mais solidário, mais compreensivo, mais acolher, mais contemplativo do rosto do Menino nas situações dramáticas que atormentam milhões e milhões de irmãos nossos em humanidade e, muitos, na fé. 
Podemos recordar não apenas o que passou a Jesus e sua família, mas descobrirmos os milhares de famílias que hoje estão vivendo situações semelhantes ou até piores; podemos sentir-nos indignados por não haver quem acolha uma mulher grávida e o Pai legal de Jesus, e não protestamos e reclamamos justiça para todas as pessoas que vagueiam pelas nossas ruas, fugindo de guerras, cheias de fome, sem condições higiénicas, totalmente descartados da nossa sociedade. 
Todavia, o Natal de Jesus, luz do mundo, faz-nos ver com novo olhar o rosto escondido de Deus em cada pessoa que se arrasta na vida. Diz o Papa Francisco, na «Fraternidade humana e amizade social»: “É nosso dever respeitar o direito que tem todo o ser humano de encontrar um lugar onde possa não apenas satisfazer as necessidades básicas dele e da sua família, mas também realizar-se plenamente como pessoa”. FT 129. 
Natal de muitas cores, como o arco-íris que anuncia a paz universal. Ousemos dar-lhe a cor que mais expressa a solidariedade amorosa do Menino-Deus para connosco, a humanidade, que mais irradia do nosso olhar. 

Pe. Georgino Rocha

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