Este ano, temos pela frente um enorme desafio: Viver um Natal de Esperança imposto por um confinamento carregado de ameaças, temores, dores e angústias. O Covid-19 surpreendeu tudo e todos com o seu insidioso e camuflado ataque em todo o mundo, não respeitando rico ou pobre, poderoso ou débil, culto ou inculto, sábio ou ignorante. Sem olhar a fronteiras, até parece que tem predileção especial pelos homens e mulheres do nosso tempo, novos e velhos, estando todos nos seus horizontes de destruição e morte. E os cientistas, cuja missão e trabalhos não podemos deixar de louvar, empenham-se desde que o vírus surgiu e foi identificado, dando-lhe luta, tenaz e sem tréguas, no sentido de o dominar e aniquilar, já lá vão uns dez meses.
Do mesmo modo, louvamos todos os profissionais de saúde que diariamente defendem os atingidos com os meios de que dispõem, sabendo que estão na linha da frente dos que podem vir a ser contaminados. E é neste ambiente de pânico, luto e dor, que chegamos ao Natal, a festa do nascimento do Menino-Deus que veio para nossa salvação, à consoada das famílias que procuram a paz, ao encontro sempre ansiado para quem vive um ano de trabalho a todos os níveis, ao convívio entre gerações nem sempre possível durante meses e meses, à partilha de lembranças, por mais simples e simbólicas que sejam, à troca de sorrisos gratificantes. Condicionados pelas máscaras que nos roubam a identidade mas nos protegem do contágio, pelos confinamentos e distanciamentos que a pandemia impõe, o Natal deste ano não tem paralelo no mundo das últimas gerações.
As cerimónias natalícias foram limitadas ao mínimo, preservando o essencial litúrgico, mas o povo, que espontaneamente vibra com a chegada do Menino, desta feita não poderá dar asas espontaneamente à sua alegria em ambiente de partilha comunitária e familiar. Tudo tem de ser comedido, mantendo distanciamentos, sem beijos nem abraços, sem mesas cheias de convivas e com proximidades bloqueadas. Ninguém sabe quem está infetado ou quem está livre desse perigo, que o vírus pode estar à espreita.
Como cristãos, que alimentamos no dia a dia o sentimento da esperança, vamos viver o Natal e a Consoada dentro das normas estabelecidos pelas leis gerais do nosso país e pela prudência bem medida pelas nossas consciências. No próximo ano será diferente. Deus será a razão da nossa esperança.
Fernando Martins