Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa da Epifania do Senhor
A festa da Epifania do Senhor realça figuras que dão rosto singular à realeza: Os magos, Herodes e o Menino. Mateus pretende destacar traços comuns a quem se dispõe a percorrer um itinerário de iniciação cristã, a ser discípulo missionário. Vamos, ainda que brevemente, deter-nos no que pode ser para nós, hoje, uma epifania existencial do Senhor Jesus. Mt 2, 1-12.
Herodes fica perturbado ao ouvir a notícia do nascimento do Rei dos Judeus. E com ele os habitantes da cidade de Jerusalém. Sobressalto é o mínimo que pode experimentar e a origem da força emocional da acção que vai empreender: Disfarça secretamente o móbil da sua vontade – o de evitar veleidades, matando o potencial candidato a rei – declarando querer ir adorá-lo. E a mim que me causa sobressaltos?
Os Santos Inocentes, observa «Vers Dimanche», da rede mundial do Apostolado da Oração, fazem parte da Epifania e convidam-nos a não desviar o olhar do trágico da humanidade. Hoje, acontece no Oriente próximo, na África Central e do Magrebe e em tantos outros países que não vislumbram uma nova estrela para a vida atormentada e, por vezes, completamente desfeita.
Os magos, como tantos procuradores do sentido para a vida seriam hoje esta multidão de “peregrinos” que no seu deambular ainda têm forças para sonhar, pôr-se a caminho, correr riscos, aguentar enganos, reanimar-se até alcançar o bem desejado. Afirmam assim o valor da esperança confiante que a tudo se aventura e suporta.
O Prior da Comunidade de Taizé em mensagem recente afirma: “Sim, no meio das difíceis realidades do presente, é possível perceber motivos de esperança e, às vezes, até de esperança contra toda a esperança. Para isso, juntemo-nos a quem tem diferentes opções de vida, a cristãos de outras confissões, a crentes de outras religiões, a agnósticos ou a ateus que também estejam comprometidos com a fraternidade e a partilha. E exorta a que vivamos a fraternidade.
A narração de Mateus, feita em estilo popular, tem suporte histórico e alcance simbólico. Apresenta o itinerário da fé cristã. Na pessoa dos Magos, destaca a importância da atenção à novidade dos sinais, a ousadia confiante de se pôr a caminho em busca do que o coração pressente, o entusiasmo discreto e alegre da chegada e do encontro.
Os cansados visitantes fixam a atenção no Menino e na sua Mãe e, certamente em José (embora não mencionado). Por isso, entram, vêem, prostram-se e adoram, abrem os alforges e oferecem presentes, contemplam em silêncio e retiram-se discretamente, saboreando a serenidade e a alegria vivenciadas.
A fé cristã realiza em nós esta maravilha: faz-nos ir ao encontro de Deus na realidade da vida, penetrar na espessura dos factos e no sentido de que são portadores, levantar os olhos e ver horizontes rasgados, descobrir a beleza e a bondade da relação solidária, apreciar a gratuidade da entrega no gesto da doação.
D. Rui Valério, bispo das Forças Armadas e de Segurança portuguesas, deslocou-se à Republica Centro-Africana, para visitar as Forças Destacadas, e se encontrar com o arcebispo de Bangui, cardeal Dieudonné Nzapalainga.
O Arcebispo havia chegado de uma visita à cidade de Birao, a 1.300 quilómetros de Bangui, cidade onde se refugiam os fugitivos da guerra e da fome. Quis levar-lhes notícias dos esforços de paz, que se estão fazendo na capital do País, estar com eles e celebrar para os cristãos, confirmar (há dez anos que não recebiam este sacramento), alimentar-lhes a esperança.
D. Valério recorda o encontro, dizendo: “O mais importante que me disse foi a possibilidade de, através da presença das Forças Armadas e de Segurança portuguesas naquele país, levar as crianças novamente para a escola. Isto para mim foi das melhores prendas de Natal… Saber que os nossos militares estão a garantir a segurança e defesa do presente, mas a garantir que as crianças possam regressar à escola, começar a construir o futuro”. Isto é epifania!
As prendas oferecidas pelos magos revelam o melhor do ser humano, perante o Menino-Deus que se manifesta: O ouro do serviço humilde; o incenso da vida sofrida e purificada no caudilho do sofrimento e da cruz; a mirra da fragilidade humana, do risco de levamos “em vasos de barro“ o tesouro que nos foi confiado.
“Deixemos que Cristo renove o nosso olhar: através dele reconhecemos mais claramente a dignidade de cada ser humano e a beleza da criação; a esperança, longe de ser uma confiança ingénua, nasce e renasce porque se enraíza em Cristo; uma alegria serena preenche‐nos e, com ela, a coragem de assumir as responsabilidades que Deus nos confia na Terra”. Na epifania do Senhor, brilha a grandeza do homem. O modelo - Jesus Cristo - foi-nos dado para nos servir de medida e de estímulo.
Pe. Georgino Rocha