domingo, 1 de novembro de 2020

Prenúncio de Inverno

Foto registada em Vouzela
 
O outono continua  para nosso consolo. Foi o que li neste momento: a natureza depenada e seca a contrastar com o verde persistente ao longe.

OS MEUS SANTOS DE TODOS OS DIAS


Hoje todo o mundo católico celebra o Dia de Todos os Santos. Não só os que a Igreja Católica considerou dignos das honras dos altares, mas todos os outros que, por certo, são incontáveis. Nascidos na Igreja Católica e nas outras religiões. Quiçá sem qualquer confissão religiosa. São os chamados santos laicos, os que, pelos seus méritos, Deus acolheu no seu seio. 
Mas os meus santos, aqueles que venero no meu dia a dia, são os que me deram o ser, me acalentaram no seu colo, me levaram a descobrir o bem e o belo, me ensinaram a rezar, me apoiaram nos primeiros passos, me ajudaram a levantar quando caí, me ensinaram a ler e a compreender o mundo, me estimularam a partilha da compaixão, me orientaram para viver o amor, esses é que são para mim os santos que hoje e sempre recordo com muita ternura. E aqui fica uma flor para todos eles.

A vida é um exercício de esperança

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO



Neste doloroso tempo de pandemia, 
as bem-aventuranças estão a ser vividas 
por crentes e não crentes que ajudam 
a resistir à sua cruel devastação.

1. Segundo o grande historiador das religiões, Mircea Eliade, a crença na vida para além da morte está demonstrada desde os tempos mais remotos. As primeiras sepulturas conhecidas confirmam a antiguidade dessa crença. Os enterros direccionados para Oriente – e os usos dos seus rituais – indicavam a intenção de conectar a sorte da alma com o curso do sol, ou seja, a esperança num “renascimento”, a existência num outro mundo com marcas e utensílios das ocupações da vida anterior. Daí a sua conclusão: o homo faber era também homo ludens, sapiens e religiosus [1].
A festa de Todos os Santos e a celebração de Todos os Fiéis Defuntos podem ser estudadas como fenómenos internos do cristianismo, mas também em ligação com outra história subjacente: a história da cristianização de festas e mitos pagãos.
O desejo de viver e de renovar a vida parece fazer parte de qualquer ser humano. Para uns, a morte apresenta-se como o fim dessa utopia. Para outros, é inconcebível que esse desejo natural possa ser frustrado e acreditam, de modos muito diferentes, que a morte não é a última palavra.
Diz-se que a biomedicina actual promete a imortalidade do corpo neste mundo [2]. Veremos, como dizia o ceguinho.

sábado, 31 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 4 - A fraternidade e as religiões

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


"Porque é que hei-de fazer o bem e cuidar do outro em necessidade 
mesmo quando isso agride os meus interesses e me prejudica?" 

1. Do tríptico: liberdade, igualdade e fraternidade, é a fraternidade que, sem a referência à transcendência, tem dificuldade em encontrar um fundamento último sólido. Por isso, Francisco escreve: “Como crentes, pensamos que, sem uma abertura ao Pai de todos, não pode haver razões sólidas e estáveis para o apelo à fraternidade. Estamos convencidos de que só com esta consciência de filhos que não são órfãos podemos viver em paz entre nós. Com efeito, a razão, por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade.” 
A própria ética, embora autónoma, terá dificuldade em estabelecer um fundamento inabalável, sem essa abertura à transcendência. De facto, o ser humano é terrivelmente carente e, por isso, irracionalmente egoísta e está sempre sob o perigo de ser subrepticiamente assaltado pela pergunta: porque é que hei-de fazer o bem e cuidar do outro em necessidade mesmo quando isso agride os meus interesses e me prejudica? Neste contexto, Francisco continua, derrubando a acusação feita por católicos conservadores de fomentar o relativismo: “Quero lembrar um texto memorável de João Paulo II: ‘Se não existe uma verdade transcendente, na obediência à qual o homem adquire a sua plena identidade, então não há qualquer princípio seguro que garanta relações justas entre os homens. Com efeito, o seu interesse de classe, de grupo, de nação contrapõe-nos inevitavelmente uns aos outros. Se não se reconhece a verdade transcendente, triunfa a força do poder, e cada um tende a aproveitar-se ao máximo dos meios à sua disposição para impor o próprio interesse ou opinião, sem atender aos direitos do outro. A raiz do totalitarismo moderno deve ser individuada na negação da transcendente dignidade da pessoa humana, imagem visível de Deus invisível, e precisamente por isso, pela sua própria natureza, sujeito de direitos que ninguém pode violar: indivíduo, grupo, classe, nação ou Estado. Nem tampouco o pode fazer a maioria de um corpo social lançando-se contra a minoria.” 

À ESPERA DA MARÉ


Entre pica e não pica espera pela maré. Há dias assim. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Estou solidário com o povo francês



A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), pela voz do seu secretário geral, manifestou a sua solidariedade às vítimas do atentado bárbaro perpetrado por radicais na Basílica de Nice, França, durante uma Eucaristia, assassinando três pessoas. 
Também o presidente da República Portuguesa enviou uma mensagem ao seu homólogo, Emmanuel Macron, na qual afirmou: “Neste momento difícil, em que a França é novamente confrontada com um vil atentado aos valores que a caracterizam e que nos unem, apresento a Vossa Excelência, em nome do Povo português e no meu próprio, a expressão da mais sentida solidariedade e sincero pesar”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

Não podemos ficar indiferentes aos crimes praticados por  radicais que teimam em assassinar, friamente, quem não comunga das suas ideias. Os defensores e amantes da liberdade não podem deixar de condenar os que matam seres inocentes, tenham eles as ideias que tiverem. 
Em nome da liberdade, manifesto a minha solidariedade ao país que tanto pregou a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. 

ÁGUEDA - Uma passagem fugaz

Câmara Municipal 

Símbolo de um passado já distante 

Ofensa ao Conde de Águeda e à sua terra
 

A minha passagem fugaz por Águeda, uma cidade que muito prezo por amigos que lá tive e ainda tenho, graças a Deus, não me deixou indiferente. Olho o presente, recordo o passado e penso no futuro de uma região de uma beleza ímpar, para mim. Não me perguntem porquê. Ontem olhei o edifício da Câmara Municipal que domina o ambiente de uma zona central, apreciei vestígios do passado e fiquei triste por perceber que há vândalos por todos os lados. A estátua que a edilidade erigiu ao Conde de Águeda foi mutilada por gente sem escrúpulos. A legenda que lembra a figura do conde e esclarece os transeuntes foi roubada da base do pedestal. A partir de agora, os turistas que por lá passarem têm de perguntar quem é o homem que um dia foi homenageado pelo seu povo. Como eu fiz para confirmar. É pena.

A VIDA DOS DEFUNTOS: ESPERANÇA E DESAFIO

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Dia dos Fiéis Defuntos

A fronteira da morte sempre me impressionou de forma interpelante, apesar de acreditar firmemente no convite e na promessa de Jesus: “Vinde a Mim… e encontrareis descanso para as vossas almas”. (Mt 11, 25-30); apesar de me rever na bela imagem da ovelhinha que Ele encontra nos silvados, resgata com esforço e dedicação e, cheio de alegria, conduz aos ombros para junto das outras, para o redil comum. 
“É inevitável que no dia dos defuntos recordemos os que morreram, especialmente aqueles que por vínculos de sangue, amizade ou admiração, representam algo importante na vida, confessa J. M. Castillo. Mas o mais importante não é olhar o que já passou, mas centrar a nossa atenção no que todos temos de afrontar: o problema do futuro, na morte e depois da morte”. Memória agradecida em relação aos que estamos vinculados pela passado, preocupação inquieta e confiante face ao que nos está reservado de acordo com a misericórdia de Deus e com as nossas atitudes fundamentais durante a vida terrena. 
Retomando a minha reflexão que é testemunho, pensava: E agora?. Sinto-me só face aos desafios da vida. Tenho de resolver problemas que não esperava, nem dependiam de mim... Recorro à memória e configuro o rosto dos meus familiares. Peço-lhes que me digam algo, me deem um sorriso, me inspirem uma solução. E o que recebo é um silêncio profundo, definitivo, que procuro interpretar. 

FESTA DE TODOS OS SANTOS

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa de Todos os Santos


ALEGRAI-VOS E EXULTAI, DIZ O SENHOR 

É apelo, que se faz convite e exortação, dirigido por Jesus aos discípulos, ao terminar o ensinamento sobre as bem-aventuranças. E a justificação vem logo a seguir: “Porque é grande, nos Céus, a vossa recompensa”.Mt 5, 1-12. 
Os discípulos são aconselhados a viverem, na alegria exultante, as situações de difamação e insulto, de perseguição e enxovalho à sua dignidade; situações criadas “por minha causa”, por serem coerentes com as atitudes de Jesus, o divino Mestre; atentados provocados por quem não tolera mais o seu estilo de vida, o seu testemunho. 
O quadro de referências está traçado, os termos são claros, é grande a provocação e maior o desafio. A novidade da proposta de realização feliz, de toda a pessoa, vai ser solenemente anunciada. No cimo da montanha, como outrora Moisés no Sinai, Jesus declara honoráveis os pobres, por decisão própria, os espoliados injustamente do seu nome e dos seus bens, os generosos voluntários da paz, os perseguidos por defenderam a justiça. A honorabilidade provém de Deus porque estas atitudes reflectem e concretizam as suas preferências e o seu agir, continuam, na história, o estilo de vida do seu Filho Jesus e vão-se configurando, no proceder de cada discípulo e de cada comunidade cristã. 

Mia Couto - recortes

"...a escrita não é uma técnica e não se constrói um poema ou um conto como se faz uma operação aritmética. A escrita exige sempre a poesia. E a poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam. É uma outra janela que se abre para estrearmos outro olhar sobre as coisas e as criaturas. Sem a arrogância de as tentarmos entender. Apenas com a ilusória tentativa de nos tornarmos irmãos do universo.” 

In “Pensatempos”

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

UMA FLOR COM VIDA


Uma flor do nosso jardim para este dia...Simplesmente. Adormece com a noite e acorda com a luz do sol.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Dia Mundial da Terceira Idade


Celebra-se hoje, 28 de Outubro, o Dia Mundial da Terceira Idade. Terceira idade é a fase da vida que começa aos 60 anos nos países em desenvolvimento e aos 65 anos nos países desenvolvidos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No meu caso, já lá cheguei há muito, quer Portugal seja considerado um país em fase de desenvolvimento quer seja um país desenvolvido. Outras classificações avançam com uma nova fase, a da Quarta Idade, que se estende desde os 78 anos até aos 105. Por esta classificação, eu já lá estou há quatro anos e espero chegar, se Deus quiser, até ao fim da tabela. 
Estas celebrações têm muitas razões de existir, ou não fossem os velhos uma realidade concreta, em fase contínua de crescimento,  que aponta para a atenção que nos devem merecer os idosos, que são as pessoas que passam mais tempo sozinhas. Não direi abandonadas, embora as haja, mas esquecidas, por força das ocupações profissionais e outras dos seus descendentes. 
Os mais novos têm de trabalhar, residem muitas vezes longe dos seus pais e avós, podem ter preocupações económicas, sociais, familiares, recreativas, políticas e culturais, ficando realmente com todo o tempo tomado. E os velhos (não devemos ter medo da palavra) ficam nos seus cantos à espera que alguém apareça para um dedo de conversa, uma palavra de conforto, um sorriso reconfortante, uma compra urgente, uma ida ao médico. 
Espero que os meus amigos não comecem a pensar que me estou a queixar. Nada disso. Eu e a Lita estamos bem, vamos às compras, ao médico, à farmácia, cozinhamos sem pressas, lemos, escrevemos, conversamos, rezamos, rimos e brincamos, apreciamos as galinhas no quintal, os passarinhos que cantam, os gatos que brincam e comem petiscos especiais [a Lita não lhes falta com nada], dormimos a sesta se nos apetecer, telefonamos aos familiares, enviamos e-mails e respondemos a outros, recordamos a vida passada e sonhamos com a futura até Deus querer. Por mim, ficaria ainda por aqui uns bons anos por me sentir lúcido e capaz de cuidar de mim e da minha Lita, se tal for preciso. E ela, com a sua genica, também não está com pressa de partir. 
Uma saudação especial aos velhos da nossa idade. E aos mais novos recomendo que olhem para os seus pais e avós. Vejam se eles estão bem. Procurem visitá-los e se estiverem longe, usem o telefone ou as novas tecnologias da comunicação. Não se esqueçam que um dia ocuparão os seus lugares. 

Fernando Martins

FORTE DA BARRA vai avançar para nova vida


«Uma sociedade imobiliária sediada na zona de Coimbra, com actividade no sector hoteleiro, é a escolhida para a concessão do antigo Forte da Barra, na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo.
A assinatura do contrato será feita, esta quarta-feira, na sede do Porto de Aveiro, numa sessão agendada para as 14:30, com a presença da Secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, e da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.
O concurso de concessão do antigo Forte da Barra, propriedade do Porto de Aveiro, é pelo prazo de 50 anos e, no caderno de encargos, previa uma renda mínima anual de 6.444 euros.
O edifício deverá ser reconvertido para estabelecimento hoteleiro como cerca de 50 quartos, alojamento local ou outro projeto de vocação turística.»

NOTAS:

1. Texto e Foto da Comunidade Portuária;
2. Há anos que se fala do aproveitamento do Forte Novo ou Castelo da Gafanha para novos desafios de utilidade, sem que a sua história fique esquecida. A continuar como até ao presente, o Forte da Barra, como também é conhecido, acabaria por cair no esquecimento e na degradação, porque a manutenção das estruturas tornar-se-ia incomportável. Ainda bem. Estamos ansiosos  por ver o início dos trabalhos e a obra que ali vai nascer. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

ARES DE OUTONO – As nuvens



Gosto muito das nuvens a ilustrarem o céu. O céu azul em toda a sua pureza é bonito, mas com nuvens tem mais vida, mais expressão. Nestas nuvens há mesmo sinais que dizem muito: temporal à vista, anúncio de chuva intensa, conselho para nos aquietarmos em casa, tempo de recolhimento. Seja como for, o outono é para ser sentido e vivido. Sabemos que nos prepara, física e psicologicamente, para a chegada do inverno. E logo depois teremos a sonhada primavera. 

«Isto de ser um ateu católico não é fácil e inquieta»


Pedro Marques Lopes
«“O mundo existe para todos, porque todos os seres humanos nascem nesta Terra com a mesma dignidade”, diz o papa Francisco na última encíclica, “Fratelli tutti”. Não foram estes os ensinamentos que a Igreja me deu, não é essa a história desde há muito tempo.»
A encíclica “Todos irmãos” constitui o principal fundamento para o texto que o comentador político Pedro Marques Lopes na crónica semanal que assina do “Diário de Notícias”, intitulada “Quo vadis, Francisco?”.
«O encantamento com que fui lendo a última encíclica papal, “Fratelli tutti”, foi-se misturando com uma espécie de angústia, perguntas que me ia esforçando por afastar: e se tivesse sido isto? E se fosse esta a prática, tivessem sido estes os ensinamentos? Se fosse este carinho, esta hospitalidade para as nossas fraquezas, esta compreensão da nossa natureza, ter-me-ia afastado da Igreja? Se fosse este o entendimento da nossa vida em comunidade, ter-me-ia afastado da Igreja?», interroga.

Ler todo o texto aqui  e aqui 

GAFANHA DA NAZARÉ: Rua Camilo Castelo Branco

Texto escrito e publicado
em 27 de Outubro de 2009 

Homenagem merecida a um dos grandes escritores da Língua Portuguesa. Penso que não há nenhum português, minimamente letrado, que não conheça O Amor de Perdição, obra famosa de Camilo Castelo Branco.
Não consta que o escritor, falecido em 1890, com 65 anos de idade, alguma vez tenha passado por esta nossa terra, ainda longe de figurar no mapa de Portugal com o título de freguesia, o que só aconteceu, como os leitores do Timoneiro sabem, em 1910. De qualquer forma, e porque é hábito no nosso País baptizar as ruas com nomes de gente célebre, compreende-se, perfeitamente, a lembrança, para quem passa, de Camilo Castelo Branco.
Desde a minha juventude que me deixei seduzir pelas estórias, com enredos, ora simples ora complicados, que Camilo, possuidor de uma escrita bastante rica, soube retratar nos seus livros, reproduzindo cenas e vidas do quotidiano, felizes ou dramáticas, na verdadeira acepção das palavras.
De tal modo que, ainda hoje, me encanta a releitura de obras suas, pela boa disposição que criam em mim. Algumas com uma actualidade ajustada a todos os tempos, sobretudo quando descreve a figura de políticos que deixaram tristes seguidores. Amores e desamores, paixões e paixonetas, adultérios e dramas pungentes, santos e pecadores, de tudo um pouco nos mostra Camilo em dezenas de livros, ou não vivesse ele daquilo que escrevia e publicava em tudo onde coubesse bom Português.

Memórias em Imagens - Costa Nova

Igreja de Nossa Senhora da Saúde e Praia
27 de Outubro de 2012

Igreja de Nossa Senhora da Saúde

Acesso à praia 
 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

domingo, 25 de outubro de 2020

O meu irmão faria hoje 79 anos

O meu irmão, o Menino
Se fosse vivo, o meu único irmão de saudosa memória faria hoje 79 anos. Faleceu no dia 27 de Março de 2007. Feitas as contas, deixou-nos com 66 anos. Sobre ele tenho escrito algumas vezes, sempre com uma saudade indescritível. Foi um rapaz do seu tempo e um homem dinâmico e saudável. As mortes nunca são esperadas; muito menos a dele, que gostava muito de viver. 
O meu irmão assumiu o apelido de Grilo do nosso lado paterno. Era o Armando Grilo. O mesmo nome do nosso saudoso pai. 
Curiosamente, o meu irmão celebrava o seu aniversário de nascimento duas vezes: No dia 25, a data real em que veio para a vida; no dia 29, por erro de registo. Mas ele aceitou alegremente esta circunstância. Até dizia com graça e realismo que no dia 25 celebrava com a família e no dia 29 com os amigos. 
À medida que caminhamos para o fim da nossa existência terrena, alimentamos o gosto de reviver o passado. Eu até o faço com prazer, sobretudo se evoco o que vivi com alegria, com prazer, com sentido de responsabilidade, com amor. E neste caso, meus amigos, são os nossos familiares que mais se instalam nos sofás das nossas memórias para conversas intermináveis. 
Até um dia, Menino. Era assim que o tratava. Ele chamava-me Mano. 

Fernando Martins

A azeitona

Uma azeitona por aqui? A que propósito? — perguntarão os meus leitores. Se a publiquei é porque terei alguma razão. E vou contá-la... 
Há anos, a Lita plantou uma oliveirinha no nosso quintal. Era, realmente, uma árvore com pouco tempo de vida. Disse-lhe, então, que jamais comeríamos azeitonas dela porque as oliveiras precisam de muito tempo para frutificarem. E a oliveirinha lá ficou no quintal dando-me a sensação de que estava sempre igual. A Lita, nas horas de rega, nunca esquecia a pequena árvore, adubando-a também ao seu jeito. 
O tempo inexorável foi passando e ontem, ao fim do dia, quando regressou do quintal, a Lita pousou serenamente esta azeitona em cima do papel colorido para sublinhar a sua existência. Então... a oliveira deu ou não deu fruto? — questionou-me ela com o seu sorriso de vitória. 
Um domingo muito  feliz para todos. 

F. M.

Ninguém pode salvar-se sozinho

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO


Neste tempo de desorientação 
não é nada enganosa a publicidade que repete: 
cuidar de si é cuidar de todos!

1. Estes não são tempos de euforia. As festas que a pretendem imitar acabam sempre em redobrada tristeza. Às loucuras das guerras e novas ameaças de guerras veio juntar-se a devastação mundial provocada pela covid-19 que, além das pessoas que mata e dos recursos que consome, vai deixar muita gente abandonada à miséria. Por isso, não é nada enganosa a publicidade que repete: cuidar de si é cuidar de todos!
É verdade que o incómodo da máscara, da etiqueta respiratória, da limpeza das mãos, da distância física, etc., é muito irritante. Recorrer a sofismas, para dizer que não está cientificamente demonstrada a eficácia desses cuidados, não passa de um exercício de banal e oca retórica.
Ver em todas as medidas governamentais, que tentam impedir o alastramento da pandemia, um atentado à liberdade e aos direitos humanos é uma reacção que roça a paranóia. O coronavírus não costuma respeitar as nossas reais ou fictícias arrelias.
O bom senso, que não precisa de receita médica, aconselha a boa distância entre o pânico imobilizador e o desleixo fatal. O sentido da responsabilidade, pessoal e social, fica mais barato do que o confinamento ou o internamento hospitalar.
Resta um desafio para a nossa imaginação: como reinventar e multiplicar as manifestações de afecto e de bom humor que anulem o mau distanciamento e a indiferença, sobretudo em datas de reunião familiar, como as do Natal religioso ou agnóstico?

AÇORES - Para evocar a solidão


Aqui, em Salsa,  mora a solidão. Debaixo do céu com mar à vista. Longe do burburinho do mundo e da inquietação da vida. Bom domingo. 

sábado, 24 de outubro de 2020

NATIONAL GEOGRAPHIC - Uma revista para este tempo


Tenho sido injusto com a revista NATIONAL GEOGRAPHIC que entra cá em casa há anos. E contudo, lê-la, mesmo que a correr, é ficar a par de variados estudos e descobertas que, doutra forma, como leitor comum, me passariam ao lado. 
O número referente a Outubro oferece-nos “Um novo olhar sobre os dinossauros — A ciência reconstitui a história e o aspecto destes animais pré-históricos”. Uma boa leitura para estes tempos de recomendável isolamento para pessoas idosos como eu, mas não só. 
A revista não se fica por aí, brindando-nos com outros temas de culturas e povos diversos, dos mais variados e inóspitos recantos da Terra. As ilustrações, em todas as páginas da revista, são duma beleza ímpar.
Com esta referência, pretendo tão-só sugerir a leitura desta revista. Lemos, consciente ou inconscientemente, tanta literatura banal!

Hora de Inverno muda às duas da manhã


Às duas da manhã, voltamos à hora do Inverno. Não se esqueça para não ter problemas. Já estamos habituados. Bom Inverno, com menos frio, alguma chuva e dias tranquilos.

FRATELLI TUTTI. 3 - Uma política sã

Cónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


 “é necessária uma reforma quer das Nações Unidas quer da arquitectura económica e financeira internacional, para que seja possível uma real concretização do conceito de família de nações.” 

Papa Francisco 

1. É evidente que é necessário defender o princípio essencial da liberdade, mas é igualmente necessário defender os outros dois princípios, o da igualdade e o da fraternidade. É a tríade que tem de estar sempre vinculada: liberdade, igualdade, fraternidade. 
Se toda a pessoa tem dignidade inviolável e, portanto, o direito de viver com dignidade e desenvolver-se e realizar-se integralmente, impõe-se que o Estado não seja apenas o garante da liberdade, nomeadamente da liberdade de empresa e de mercado. Quem nasceu em boas condições económicas, quem recebeu uma boa educação, quem é bem alimentado, quem possui por natureza grandes capacidades..., esses “seguramente não precisarão de um Estado activo, e apenas pedirão liberdade. Mas, obviamente, não se aplica a mesma regra a uma pessoa com deficiência, a alguém que nasceu num lar extremamente pobre, a alguém que cresceu com uma educação de baixa qualidade e com reduzidas possibilidades para cuidar adequadamente das suas enfermidades. Se a sociedade se reger primariamente pelos critérios da liberdade de mercado e da eficiência, não há lugar para essas pessoas, e a fraternidade não passará de uma palavra romântica.” 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

POSTAL ILUSTRADO: Boca da Barra

Dia bonito: Pescadores e gaivotas à  espera de um petisco. Há sempre observadores e fotógrafos.

Será necessário colete de salvação?



O ser humano é político, mesmo quando garante que não é. Mas há, realmente, políticos brincalhões. Repare-se nas manobras, negociações e mais negociações, com juras e promessas de que tudo está bem quando todos sabemos que não está. Alguns são mesmo brincalhões com caras de gente séria. Uns prometem tudo e mais alguma coisa, outros exigem tudo e mais alguma coisa quando todos sabemos que o país está mal. Quando digo país, digo povo sofredor com falta do essencial para viver dignamente. Um país abafado por uma pandemia terrível a somar infetados e mortos todos os dias. Até parece que vivemos na abundância quando todos sabemos que a fome entra em inúmeras famílias a toda a hora. Famílias de desempregados e muitos filhos de uma economia paralisada, com velhos de olhares perdidos nos horizontes de sonhos irrealizáveis. 
Alguns políticos prometem tudo e chegam a ter graça, mas às vezes assustam-nos. Vem isto a propósito dos “filmes” que retratam as negociações para o Orçamento do Estado passar, decisão fundamental, junto dos nossos credores internacionais, para repor a nossa credibilidade, permanentemente abalada,  e para manter o povo controlado. 
O OE vai passar, não vai haver problemas, garantem uns. As negociações não param, ou param para alimentar o espetáculo que as televisões e demais comunicação social  exigem para deleite do pessoal. Cai o Governo? Vamos para eleições? Tudo pode acontecer. 
A crise vai continuar? Estamos convencidos de que sim. Para já, o barco continua a navegar, com procelas no horizonte. Mas navega, mesmo a meter água. Será preciso colete de salvação? Ninguém sabe. Pelo sim pelo não, valerá a pena metê-lo num saco, com um farnel para uns tempinhos. 

F. M.

INSEPARÁVEL O AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXX


«O centro da vida humana está no amor. 
Ocupar este centro com outros valores e interesses 
é usurpação que desumaniza a pessoa e fragmenta a sociedade»

A esplanada do Templo de Jerusalém é palco de novo episódio questionador. Os responsáveis dos grupos influentes mexem-se com grande persistência e à-vontade. Aproveitam-se de questões progressivamente mais delicadas e comprometedoras. Depois da política, vem a religião. Agora é o sistema e a hierarquia das verdades que se buscam. Assunto sério, se não houvesse uma segunda intenção: a de experimentar Jesus, a de ver como se posiciona face ao complicado conjunto legal - os peritos apontam 613 mandamentos –, a de saber a qual deles dá prioridade, que parecer tem sobre o núcleo central da vida dos judeus fiéis à Lei recebida de Moisés. Mt 22, 34-40. 
Os novos contendores pertencem aos fariseus, alegres por saberem que os saduceus se tinham remetido ao silêncio, após a disputa sobre a ressurreição. Jesus situa-se ao nível da pergunta provocante. Ao desafio responde com uma oração conhecida da tradição judaica e que devia ser recitada diariamente. Não podia ser mais certeiro. Amar o Senhor com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito. E não fica por aqui. Acrescenta uma outra prescrição que faz parte do património religioso comum: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” ( Lv 19, 18), esclarecendo que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro. E sereno, aguarda a reacção que não chega. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Ruas da nossa terra — Padre Américo

Américo Monteiro Aguiar nasceu a 23 de outubro de 1887, em Galegos (Penafiel). Oitavo filho de Ramiro Monteiro Aguiar e Teresa Ferreira Rodrigues. 
Após a conclusão da escola primária em Penafiel e Felgueiras, iniciou a sua vida laboral na área comercial, numa loja de ferragens na cidade do Porto. Seguiu depois para Moçambique, onde trabalhou como despachante ao serviço de diversas empresas. 
Regressou a Portugal com a sólida decisão de dedicar a sua vida ao serviço religioso. Assim, com 36 anos, ingressou no Convento Franciscano de Vilariño de Ramallosa, em Tui. Porém, revelava claras dificuldades de adaptação à vida monástica e solicitou a admissão no Seminário do Porto. Porém, por via da sua idade, o pedido é recusado, sendo aceite, em 1925, no Seminário de Coimbra. 
É em Coimbra que começa a demonstrar enormes capacidades discursivas e de reflexão, tendo escrito para a revista dos alunos daquele estabelecimento de ensino Lume Novo, sob o pseudónimo Frei Junípero. 

Viagem pela Ria de Aveiro




A viagem pela Ria de Aveiro é uma viagem sempre apetecida em qualquer época do ano. Faça uma experiência e depois conte-nos como foi. 

Ver informações detalhadas aqui

Dia Internacional da Maçã


Realmente, todos os dias do ano há algo a celebrar. Hoje, comemora-se o Dia Internacional da Maçã. Achei curiosa esta celebração e dei-me ao cuidado de averiguar o porquê, até porque há cá em casa um filho que faz questão de comer uma maçã ao almoço. Diz ele que a maçã é miraculosa. Vai daí, li na Net que a maçã combate o colesterol. E diz mais: "A maçã beneficia ainda as células nervosas e estimula os mecanismos cerebrais ligados à memória. É uma fruta aliada do cérebro que deve ser ingerida nas pausas do trabalho ou do estudo." Então, vamos seguir as recomendações. Uma maçã por dia, ou uma boa fatia de tarte de maçã, de vez em quando. Bom apetite e melhor proveito. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

A segunda vaga está aí


A segunda vaga do Covid-19 está aí. Anda por todo o lado. Desafia sábios e não deixa dúvidas. Quer e está a incomodar a humanidade. É cego e não respeita nada nem ninguém. Entra quando quer e nem bata à porta. Em casa de ridos e pobres. Velhos e novos. Mata e deixa marcas indeléveis. Não tem havido quem o domine. O tempo passa, mas está tudo na mesma. Os medos instalam-se. Há os que os assumem e outros nem por isso. Até quando?

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Gafanha e Faganha

Texto escrito há 10 anos 

O meu amigo Zé tem tido um medo terrível das modernices dos computadores e da Net, sem razão lógica. Ele, que anda sempre na luta, há anos, pelo progresso social, cultural, político e económico… receia enfrentar coisas tão simples. Nem parece de um progressista!
Mas a história da nossa terra e das suas gentes está desde sempre nas suas preocupações, porque acredita que o exemplo de tenacidade dos nossos antepassados pode servir para nos estimular nos trabalhos de construção de um futuro mais fraterno e mais justo para todos.
Um dia destes teve o bom gosto de me enviar umas considerações sobre Leprosos, Gafaria, Galafanha, Gadanhar. E contou uma história que aqui transcrevo, das suas andanças pela Europa, onde contacta com gafanhões e outras gentes. Diz ele que participou num casamento, numa igreja de aldeia, onde foi levado por uma amizade antiga. Só não sei é se ele rezou pela felicidade dos noivos, mas julgo que sim. Mesmo que ele negue, por se declarar alheio a orações, estou convicto de que rezou. Alguém acredita que o meu amigo Zé já esqueceu o Pai-Nosso aprendido na infância?

O MEC está de volta no PÚBLICO

O Miguel Esteves Cardoso  voltou depois de férias  para o seu cantinho no PÚBLICO. Férias merecidas como trabalhador que é, não de enxada ou martelo, mas de escrita. Lê-se rápido, acicata a imaginação dos leitores, estimula leituras e consultas, critica e aplaude, dá conta de qualquer assunto, enfim, é um cronista ou colunista arguto e informado. E ainda escreve com graça e bem, sem cansar ninguém. 
Perguntou se estava tudo bem e começou logo a brindar-nos com a sua colaboração no PÚBLICO. Veio em boa hora. Falo por mim. Que comunique sempre com um otimismo saudável, são os meus votos. 

F. M.

domingo, 18 de outubro de 2020

Uma estranha caixa de correio

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO
«A Caixa de Correio de Nossa Senhora, de António Marujo,
é o grande livro do ano sobre o fenómeno religioso»

1. O livro de António Marujo, A Caixa de Correio de Nossa Senhora [1], é, para mim, o grande livro do ano sobre o fenómeno religioso, ao desvendar, por uma investigação inédita e rigorosa, um arquivo até agora desconhecido e indispensável para conhecer o Coração que move os peregrinos da maior peregrinação do Ocidente.
O autor é bem conhecido. Integrou o núcleo fundador do PÚBLICO, onde esteve até Janeiro de 2013, sendo responsável pela informação religiosa. É autor premiado de várias obras no âmbito dessa vasta temática e director do 7Margens, jornal digital dedicado a dar a conhecer o que acontece no mundo das religiões e as formas complexas como marcaram e marcam a história vivida dos crentes.
O seu profundo conhecimento da problemática de Fátima já tinha sido bem demonstrado [2]. Entretanto, ao procurar um tema novo sobre a questão religiosa durante a Primeira Guerra Mundial, no que a Portugal dizia respeito, reencontrou-se com o segredo dos segredos de Fátima, de um modo surpreendente, narrado por ele próprio. 

sábado, 17 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 2 - Uma outra Economia

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Como pôr a Economia a funcionar, 
salvaguardando a dignidade de todos?

1. Ninguém é uma ilha. Só somos uns com os outros e precisamos de amor e de reconhecimento. Que importa a existência se ninguém nos reconhecer, se não valermos para alguém? Não é desse reconhecimento que todos andam à procura? Só o valer para alguém é que justifica a existência. E, quando se descobre que valemos para Deus, que Deus nos dá valor e nos reconhece, então a vida está salva, encontrando a plenitude de sentido. 
Um dos pressupostos na nova encíclica — “Todos irmãos e irmãs” — é exactamente esta verdade fundamental: “Ninguém pode experienciar o valor de viver sem rostos concretos a amar. Aqui reside um segredo da verdadeira existência humana.” E daqui arranca a revolução de Francisco, a da dinâmica da fraternidade universal. Este é um ponto de partida, porque esta experiência, se autêntica, irradia e torna-se contagiante, num contágio bom de felicidade: começa-se por baixo, por um, pela família, e vai-se “pugnando pelo mais concreto e local, até ao último recanto da pátria e do mundo. Mas não o façamos sós, individualmente. Todos, retomando a parábola do bom samaritano, somos responsáveis pelo ferido que é o próprio povo e os povos todos da Terra.” Quem na vida foi meu próximo e de quem é que eu fui e sou próximo? Vai-se dando assim o encontro entre o concreto local e o universal, evitando tanto um localismo individualista fechado como um universalismo abstracto, homogeneizante e dominador. Realiza-se, pelo contrário, aquele ideal do poliedro, tão caro a Francisco: a unidade que floresce na variedade da riqueza de perspectivas, do tesouro de cada cultura, um mundo com “o seu colorido variado, a sua beleza e, em última análise, a sua humanidade”. 

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza celebra-se hoje, 17 de outubro, com o objetivo de alertar para a necessidade de defender um direito básico do ser humano. Foi criado em 1992, mas nunca se conseguiu alcançar o almejado objetivo. E com a pandemia em curso todos sabemos que a erradicação da pobreza é meta inatingível a curto prazo, se é que alguma vez o será. Contudo, que ao menos à nossa volta tenhamos a coragem de contribuir para que ninguém seja privado do pão e do essencial para viver  sem fome. 
Sabe-se, há muito, que uns 20% da população portuguesa passam fome ou estão no limiar da pobreza, sem que as estruturas estatais consigam evitar esta lamentável situação, de forma definitiva. No entanto, não podemos deixar de louvar as instituições particulares e as pessoas mais sensíveis que lutam, dia após dia, para matar a fome a quem nada tem para comer. É nossa obrigação, em nome da solidariedade, contribuir com tudo o que pudermos para que a ninguém falte o mínimo para sobreviver dignamente. Não apenas neste dia, mas durante todos os dias do ano. 

F. M. 

POSTAL ILUSTRADO: Mais vale só...


Mais vale só que mal acompanhado, diz um velho e sempre atual ditado. O barquinho por ali ficou à espera de se tornar útil. Ou então optou pelo estado de pose para a fotografia, em moldura bem conhecida das gentes lagunares. Aqui a ofereço para este fim de semana.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

MAIS QUE UMA QUESTÃO DE IMPOSTOS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o DOMINGO XXIX


«Pagar o imposto – questão tão actual – é dever de todo o cidadão, 
não um dever cego, mas ilustrado por uma consciência informada 
e desejosa de cooperar para o bem comum da sociedade»

As controvérsias dos opositores a Jesus vêm crescendo. Os domingos anteriores narram algumas dessas controvérsias. Quase sempre, as perguntas são capciosas e as parábolas respondem com sabedoria, habilidade e subtileza. No evangelho de hoje surgem os fariseus aliados aos herodianos que “passam ao ataque”. Mt 22, 15-21. Trata-se da questão dos impostos a pagar (ou não) a César, imperador de Roma que dominava também naquelas terras. 
«É lícito ou não pagar tributo a César?», questiona a delegação enviada. É uma pergunta armadilhada que não pode falhar. Havia que pôr cobro ao agitador Nazareno que se movimenta tão livremente na esplanada do Templo e desafia o mais sagrado das práticas judaicas. 
Leva consigo uma estratégia aliciante: tecer elogios que, se não fossem hipócritas, eram verdadeiros e reconheciam o agir correcto do Mestre. Pagar ou não tributo, eis a questão crucial. Se dizia sim, era colaboracionista com o ocupante romano e, por isso, insolidário com o povo oprimido. Se respondesse não, caía sob a alçada da lei e podia ser acusado de subversivo e revolucionário. E o exército imperial não tardaria a fazer-lhe o que havia feito a Judas, o Galileu, aquando da sublevação por ocasião do censo destinado a conhecer a população e a introduzir nova carga de impostos, cerca de seis anos antes de Cristo. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Covid-19 ataca em força



O Covid-19 ataca em força e o Governo decreta o uso obrigatório de máscara na rua e a utilização da aplicação StayAwuay covid em contexto laboral ou equiparado, escolar e académico, sob pena de multa até 500 euros. Isto significa que o coronavírus continua a agir, aumentando dia a dia o número de infectados, ao mesmo tempo que mata os mais fragilizados. Os trabalhadores do SNS estão exaustos e vão permanecer nessa situação, infelizmente  sem fim à vista. 
Pelo que tenho visto e lido, vamos ter ainda muito que sofrer. Os cientistas prosseguem no esforço de encontrar a chave de uma vacina e medicamentos que respondam ao ataque do vírus que campeia por todo o mundo,  provocando estragos mortíferos, deixando no escuro sequelas inimagináveis. 
Esforço-me por cumprir o determinado pelos entendidos e aconselhado pelo bom senso. Máscara que utilizo por sistema, mesmo em casa quando entra alguém, mas nada me garante que não possa vir a ser contaminado. No entanto, pelas reportagens da comunicação social e por conhecimento pessoal vou percebendo que não falta gente avessa a ter os cuidados necessários, no sentido de evitar ser infectado ou a infectar com quem se cruze. 
Todos sabemos que a grande maioria das pessoas consegue resistir aos ataques do coronavírus, mas os idosos, os mais fragilizados pela doença ou pela idade, permanecem na linha da frente dos condenados. 
Vêm estas considerações a propósito da decisão do Governo que veio recordar-nos, com veemência, que é mesmo preciso respeitar o uso da máscara e evitar situações de risco. Pela aplicação acima referida, hoje não me cruzei com infectados. 

F. M. 

POSTAL ILUSTRADO: Cais dos Pescadores

Gafanha da Encarnação - Costa Nova do Prado



 

RECORTES: Mia Couto

Do romance Jesusalém

                                                   

                                                                          

Livro Um 

                                                                    A HUMANIDADE

                                                Sou o único homem a bordo do meu barco.
                                                Os outros são monstros que não falam,
                                                Tigres e ursos que amarrei aos remos,
                                                E o meu desprezo reina sobre o mar.

                                                […]
                                                E há momentos que são quase esquecimento
                                                Numa doçura imensa de regresso.

                                                A minha pátria é onde o vento passa, 
                                                A minha amada é onde os roseirais dão flor, 
                                                O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
                                                E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.


                                                    Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 11 de outubro de 2020

Nada de novo. Tudo novo

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO



A nova encíclica de Bergoglio é um grito brutal. 
Quanto ao seu poder mobilizador, é o que ainda não sabemos.

1. Pode parecer estranho, mas a questão política tornou-se inseparável da fidelidade à memória cristã mais antiga.
Creio que foi de um de poeta brasileiro que li, há muito anos, uma brevíssima narrativa sobre a insuportável visão de um crucificado. Manuel Bandeira nunca podia entrar em casa sem dar com os olhos nesse horror. Teve, várias vezes, a tentação de descrucificar aquela imagem. No momento em que ia executar esse gesto libertador, recuou: enquanto houver vidas humanas crucificadas, não posso arrancar da cruz a vítima inocente, condenada por uma coligação dos poderes de dominação das nações gentias e dos povos de Israel, executada com declarado apoio popular. É assim que se lê nos livros mais santos da humanidade [1].
Por outro lado, segundo S. Paulo, foi também, desde o começo do movimento cristão, que se tentou eliminar essa memória vergonhosa. Era, com efeito, uma estupidez e uma loucura, tanto para a cultura grega como para a cultura judaica, no seio do império romano, apresentar como salvador um crucificado, um derrotado, um anti-herói, um condenado à pena de morte mais horrorosa. Não podia ser essa a imagem de um caminho novo para o sentido da vida verdadeira.

POSTAL ILUSTRADO - Trajes antigos


Trajes antigos em gafanhoas atuais. Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. 

Gafanha do Carmo - Mestre Daniel Gonçalves

Figuras da nossa terra


Na Gafanha do Carmo encontramos a rua dedicada a Mestre Daniel Gonçalves. Este topónimo foi uma proposta da Junta de Freguesia da Gafanha do Carmo em 16 de março de 1978 (Ata JFGC 4/1978-03-16). 
O Mestre Daniel Gonçalves nasceu a 31 de dezembro de 1897, sendo natural da Parada de Cima, que na época pertencia à Freguesia de Covão do Lobo. 
Devido às poucas perspetivas de vida que a sua terra natal lhe oferecia, decidiu partir em busca de trabalho na Gafanha, à semelhança de muitos outros compatriotas. O próprio Mestre Daniel, nos primeiros tempos em que esteve na Gafanha do Carmo, ficou alojado em casa de uns tios, que tinham tomado decisão idêntica. 
Estes jovens, que rumavam para as Gafanhas, assumiam profissões nos ramos da construção naval e civil e foi pela sua atividade neste sector que o Mestre Daniel será recordado. 
Ser construtor civil significava, naquele tempo, especializar-se em várias áreas que o sector exigia, desde produzir materiais, como os adobes, assim como trabalhar a madeira e o ferro, destinados a portões, janelas e portas. O Mestre Daniel Gonçalves tinha mesmo, para este fim, uma oficina devidamente equipada em sua casa. 
De referir que esta casa ainda hoje é conhecida como a Casa da Palmeira, devido às duas palmeiras que estavam no jardim. Foi também sede de diversas associações cívicas, culturais e religiosas, em que Daniel Gonçalves participava ativamente, visando sempre a melhoria das condições de vida do povo da Gafanha. Destas destaca-se a Comissão de Melhoramentos da Gafanha do Carmo que muito lutou para que a freguesia tivesse o seu próprio cemitério. Os defuntos tinham de ser enterrados em Ílhavo, causando grandes transtornos às populações, uma vez que a estrada que liga a Gafanha do Carmo à Vista Alegre era um caminho de areia muito difícil de percorrer. 

sábado, 10 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 1

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Bom Samaritano, 1849, Eugène Delacroix

Há sombras negras que pairam no horizonte, 
obrigando a pensar e a exigir que se mude de rumo

1. “FRATELLI TUTTI” (irmãos todos) é o título da nova encíclica do Papa Francisco, abrindo horizontes novos para a Humanidade mergulhada numa profundíssima crise global. Cita Francisco de Assis escrevendo aos seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida segundo o Evangelho, convidando-os a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço: feliz quem ama o outro, “o seu irmão que está longe ou que está perto”. Inspira-se, pois, em Francisco de Assis: não é acidental que, publicada com a data de 4 de Outubro, a tenha ido assinar na véspera sobre o seu túmulo, em Assis. Não é a única fonte de inspiração: estão também presentes outros líderes espirituais e políticos, como Charles de Foucauld, Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi... 
O subtítulo da carta: “Sobre a fraternidade e a amizade social”, explicitado nestes termos: “Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas actuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras.” Embora partindo das suas convicções cristãs, quer dirigir-se a todas as pessoas de boa vontade, num diálogo sincero e plural, para a realização de um sonho comum de dignificação de todos. “Sonhemos como uma única Humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma Terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos.” 

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