em 27 de Outubro de 2009
Homenagem merecida a um dos grandes escritores da Língua Portuguesa. Penso que não há nenhum português, minimamente letrado, que não conheça O Amor de Perdição, obra famosa de Camilo Castelo Branco.
Não consta que o escritor, falecido em 1890, com 65 anos de idade, alguma vez tenha passado por esta nossa terra, ainda longe de figurar no mapa de Portugal com o título de freguesia, o que só aconteceu, como os leitores do Timoneiro sabem, em 1910. De qualquer forma, e porque é hábito no nosso País baptizar as ruas com nomes de gente célebre, compreende-se, perfeitamente, a lembrança, para quem passa, de Camilo Castelo Branco.
Desde a minha juventude que me deixei seduzir pelas estórias, com enredos, ora simples ora complicados, que Camilo, possuidor de uma escrita bastante rica, soube retratar nos seus livros, reproduzindo cenas e vidas do quotidiano, felizes ou dramáticas, na verdadeira acepção das palavras.
De tal modo que, ainda hoje, me encanta a releitura de obras suas, pela boa disposição que criam em mim. Algumas com uma actualidade ajustada a todos os tempos, sobretudo quando descreve a figura de políticos que deixaram tristes seguidores. Amores e desamores, paixões e paixonetas, adultérios e dramas pungentes, santos e pecadores, de tudo um pouco nos mostra Camilo em dezenas de livros, ou não vivesse ele daquilo que escrevia e publicava em tudo onde coubesse bom Português.
Camilo também protagonizou os seus dramas. Estudou, foi seminarista, valdevinos, conquistador, adúltero, polemista temido, visconde e escritor multifacetado: romancista, novelista, dramaturgo, poeta, cronista, etc.
Fugiu com uma senhora casada, Ana Plácido, atitude que o obrigou a esconder-se, andando com ela de terra em terra. Por fim, decerto cansado de viver em refúgios, cai na prisão da Relação, no Porto, onde terá delineado e escrito, em 15 dias, o célebre Amor de Perdição, baseado na vida de um apaixonado parente. Aí foi visitado pelo Rei D. Pedro V e se encontrou com o famoso Zé do Telhado, encontro esse que foi descrito em Memórias do Cárcere.
Em S. Miguel de Seide, onde viveu com Ana Plácido, um filho dela e dois filhos do casal (Jorge, doente mental, e Nuno, um irresponsável), começa a acentuar-se a perda de visão, recebe um oftalmologista de Aveiro, Dr. Edmundo Machado, que atendeu o pedido que o escritor lhe dirigiu, para que o fosse observar. Depois da consulta, Ana Plácido acompanhou o médico à porta. Camilo percebeu do oftalmologista a impossibilidade de cura para a sua cegueira. Pegou numa pistola e disparou um tiro na cabeça. Pouco passava das 15 horas do dia 1 de Junho de 1890. Morreu às 17 horas desse mesmo dia.
Fernando Martins