Figuras da nossa terra
Na Gafanha do Carmo encontramos a rua dedicada a Mestre Daniel Gonçalves. Este topónimo foi uma proposta da Junta de Freguesia da Gafanha do Carmo em 16 de março de 1978 (Ata JFGC 4/1978-03-16).
O Mestre Daniel Gonçalves nasceu a 31 de dezembro de 1897, sendo natural da Parada de Cima, que na época pertencia à Freguesia de Covão do Lobo.
Devido às poucas perspetivas de vida que a sua terra natal lhe oferecia, decidiu partir em busca de trabalho na Gafanha, à semelhança de muitos outros compatriotas. O próprio Mestre Daniel, nos primeiros tempos em que esteve na Gafanha do Carmo, ficou alojado em casa de uns tios, que tinham tomado decisão idêntica.
Estes jovens, que rumavam para as Gafanhas, assumiam profissões nos ramos da construção naval e civil e foi pela sua atividade neste sector que o Mestre Daniel será recordado.
Ser construtor civil significava, naquele tempo, especializar-se em várias áreas que o sector exigia, desde produzir materiais, como os adobes, assim como trabalhar a madeira e o ferro, destinados a portões, janelas e portas. O Mestre Daniel Gonçalves tinha mesmo, para este fim, uma oficina devidamente equipada em sua casa.
De referir que esta casa ainda hoje é conhecida como a Casa da Palmeira, devido às duas palmeiras que estavam no jardim. Foi também sede de diversas associações cívicas, culturais e religiosas, em que Daniel Gonçalves participava ativamente, visando sempre a melhoria das condições de vida do povo da Gafanha. Destas destaca-se a Comissão de Melhoramentos da Gafanha do Carmo que muito lutou para que a freguesia tivesse o seu próprio cemitério. Os defuntos tinham de ser enterrados em Ílhavo, causando grandes transtornos às populações, uma vez que a estrada que liga a Gafanha do Carmo à Vista Alegre era um caminho de areia muito difícil de percorrer.
Como homem que se empenhava profundamente no bem-estar da sua terra, foi sacristão e assumia muitas vezes o papel de diácono, ao fazer celebrações da Palavra e ao rezar novenas.
De referir que Daniel Gonçalves contraiu matrimónio com Júlia de Jesus Cuco, cuja família tinha estado emigrada no Brasil. Desta união resultaram 9 filhos.
Em finais de junho de 1952, sabemos pelo jornal O Ilhavense (10 de julho) que o mestre se encontrava muito debilitado, sendo admitido no Hospital de Ílhavo a fim de ser operado ao estômago.
Faleceu a 31 de julho de 1952, com 60 anos.
NOTAS:
1. O Padre João Gonçalves, um dos filhos de Mestre Daniel, refere, numa conversa que teve com membros do Centro de Documentação de Ílhavo, que a atribuição do topónimo não deixou “indiferente a família, nem os amigos, nem aqueles que guardam a memória do cidadão, o artista, o serviçal e o interlocutor bem humorado, que nele encontraram um modelo de trabalho e de dedicação familiar e social, que desde jovem adotou esta terra [Gafanha do Carmo] como sua para trabalhar, servir, morrer, e por fim, descansar no cemitério local, por ele próprio construído”.
2. Mestre Daniel Gonçalves (Foto cedida por Amélia Gonçalves, filha do Mestre Daniel.)