sexta-feira, 20 de março de 2020

DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A BONANÇA


Depois do descanso imposto pela saúde e pelas circunstâncias, olhei o céu sombrio com chuva miudinha, mas persistente. Se houvesse fogos e secas seria ouro sobre azul, mas chove porque o inverno dita as suas leis. Rua deserta ou quase. Silêncio…Silêncio e as notícias a caírem em catadupa sobre a tristeza de não se vislumbrar o fim à vista do drama que se abateu impiedoso sobre o mundo. 
Os números não enganam ninguém e deixam-me a pensar sobre o que ainda estará para vir. Desde menino que ouço o ditado com a garantia de que “Depois da tempestade vem a bonança”. Por isso, vou/vamos acreditar que assim será.

A CAMINHO DA PÁSCOA - JESUS QUER ABRIR-ME OS OLHOS

Reflexão de Georgino Rocha

O cego de nascença encontra-se nos caminhos da missão de Jesus. Jo 9, 1-41. Constitui um símbolo de todos nós que, de um modo ou de outro, sofremos da falta de visão, não “enxergamos” o sentido humano da vida, não reconhecemos nos outros o próximo semelhante, não consideramos os bens da terra a defender como pertença de toda a humanidade, não apreciamos a nossa relação filial com Deus e, a partir d’Ele, a dignidade própria de cada pessoa.
“No cego de nascença e nas atitudes das várias personagens do evangelho personificam-se as diversas cegueiras da vida”, afirma J. L. Saborido, comentador da revista Homilética. 
Jesus quer libertar-nos da cegueira que fecha todos estes círculos em que nos movemos e agimos, em que crescemos como seres individuais solidários, em que interagimos e humanizamos a convivência em família, sociedade e Igreja. Em que construímos a nossa própria identidade. Que proposta admirável nos faz Jesus. Vale a pena acolhê-la com serena confiança e colaboração responsável. Vale a pena alimentar a fé recebida no nosso baptismo para que mantenha viva e possa crescer e irradiar, já que “o homem vê com os olhos, o Senhor olha com o coração”. Vale a pena viver a situação de alerta que o vírus corona provoca não apenas na saúde, mas na economia e na política, na Igreja e suas instituições, mas nos países mais pobres e nas pessoas mais indefesas. Parece que o mundo está a dar conta de que necessita realmente de uma nova ordem global, em que prevaleça a dignidade humana e bem de todos.

quinta-feira, 19 de março de 2020

UM RAMO DE FLORES SOBRE A NOSSA REGIÃO


VAGA A ORIGEM, FUTURO INCERTO


Ur-Mesopomâmia, talvez a origem...
Talvez a origem dos barcos moliceiros.
Talvez Tartessos dos velhos marinheiros,
Névoas de génese que não me afligem.

Mais me atormenta o porto da viagem,
O passado recente das Gafanhas, Murtosas,
Os painéis e legendas, ingénuos, escabrosas,
Cisnes, patos bravos, maçaricos, miragens.

O chiste, os pés doridos, a vela, a gaivota,
Moliço, maresia, o lodo e o patacho,
Ancinho na lama mole... Mas eu acho
Que tão vária imagem meus sonhos enxota.

Como a um bando de belos flamingos
Tão leves, esbeltos, talvez comendo crico.
E as viagens-miragens passam e eu fico
A cismar no futuro... desses barcos lindos.

O. L. 

Timoneiro, Janeiro de 1989

NOTA: Reedito este poema de O. L., julgo que iniciais do meu amigo Oliveiros Louro, cujos escritos, nomeadamente poemas, bastante aprecio, mas cuja modéstia o leva a guardar nas gavetas a sua arte. 

RECORDANDO O MEU PAI


O meu pai e a minha mãe estão sempre presentes na minha vida. Nem podia ser de outro modo. Deles recebi tudo o que sou. Hoje, porém, falo apenas do meu pai, neste dia dedicado a São José, o pai adotivo de Jesus. De São José sabemos pouco, mas cultivamos a ideia de que era um homem bom, justo e carinhoso com seu filho e esposa. Trabalhador e atento às necessidades da família. Meu pai também foi assim. 
O meu pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, ficou órfão de pai aos 12 anos. O meu avô Manuel Martins faleceu com 46 anos de diabetes, doença que dele herdei, deixando cinco filhos — quatro rapazes e uma menina. Todos tiveram de se fazer à vida, que os tempos não eram de fartura. A minha avó, Maria de Jesus Lourenço (Briosa, de alcunha), não teria grandes meios para o sustento dos filhos. Contudo, todos constituíram família e viveram bem. Deles retenho na minha memória a bondade, a honestidade e o amor ao trabalho. 
O meu pai passou pelas marinhas de sal, em menino, e cedo foi para a pesca do bacalhau. Teria uns 15 anos. E foi essa dureza de vida que o fez homem honrado, trabalhador e dedicado à família. Nunca o vi revoltado nem violento. Pelo contrário, sempre foi compreensivo e respeitador, mas não descurava a defesa da justiça, enquanto promovia a generosidade e a cultura dos afetos. E quando a minha mãe ralhava comigo e com o meu saudoso irmão, que já está com ele no seio de Deus, o meu pai tinha o dom especial de apaziguador. 
O meu pai faleceu no dia 26 de fevereiro de 1975 com 61 anos. Um enfarte traiu-o. Resistiu cerca de um mês, mas à época a cura era muito difícil. Nunca o tinha visto doente. Confesso que acreditei na sua capacidade de resistência, mas a sua partida para Deus tornou-se inevitável. 
Diariamente, vinha à minha casa. Os quintais eram contíguos. Com chuva ou sol, vinha sempre. Cigarro na boca... o seu vício talvez tenha contribuído para a sua morte.  Era um homem tranquilo. Com os netos brincava e ria-se a bom rir. Falava o essencial e ajudava quando era preciso. Ficava feliz quando tal acontecia. 
No meu dia a dia, espero por ele a caminhar sereno através do meu quintal. Vou à janela e lá vem ele. Sorriso franco e a pergunta: — Onde é que está a malta? 

Fernando Martins

PRESIDENTE MARCELO DECRETA ESTADO DE EMERGÊNCIA

As cinco razões do Presidente da República 



Primeira – Antecipação e reforço da solidariedade entre poderes públicos e deles com o Povo. Outros países, que começaram, mais cedo do que nós, a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas, que exigem maior adesão dos povos e maior solidariedade dos órgãos do poder. Nós, que começamos mais tarde, devemos aprender com os outros e poupar etapas, mesmo se parecendo que pecamos por excesso e não por defeito.
O Povo Português tem sido exemplar. Mas este sinal político, dado agora, e dado não apenas pelo Governo, mas por Presidente da República, Assembleia da República e Governo é uma afirmação de solidariedade institucional, de confiança e determinação, para o que tiver de ser feito nos dias, nas semanas, nos meses que estão pela frente.

Segunda – Prevenção. Diz o povo: mais vale prevenir do que remediar. O que foi aprovado não impõe ao Governo decisões concretas, dá-lhe uma mais vasta base de Direito para as tomar. Assim, permite que possam ser tomadas, com rapidez e em patamares ajustados, todas as medidas que venham a ser necessárias no futuro. Nomeadamente, na circulação interna e internacional, no domínio do trabalho, nas concentrações humanas com maior risco, no acesso a bens e serviços impostos pela crise, na garantia da normalidade na satisfação de necessidades básicas, nas tarefas da proteção civil, em que, nos termos da lei, todos já são convocados, civis, forças de segurança e militares. O que seria, mais tarde, se fosse necessário agir, num ou noutro caso, neste quadro preventivo e ele não existisse?

Terceira – Certeza. Esta base de Direito dá um quadro geral de intervenção e garante que, mais tarde, acabada a crise, não venha a ser questionado o fundamento jurídico das medidas já tomadas e a tomar.

Quarta – Contenção. Este é um estado de emergência confinado, que não atinge o essencial dos direitos fundamentais, porque obedece a um fim preciso de combate à crise da saúde pública e de criação de condições de normalidade na produção e distribuição de bens essenciais a esse combate.

Quinta – Flexibilidade. O estado de emergência dura quinze dias, no fim dos quais pode ser renovado, com avaliação, no terreno, do estado da pandemia e sua previsível evolução.

Ler mais aqui 


NOTA: Permitam-me que considere excelente e oportuna a mensagem do Presidente da República proferida hoje com elevado sentido de Estado. Se dúvidas houvesse sobre a capacidade de intervenção responsável de Marcelo Rebelo de Sousa, com a palavra certa para o momento dramático que estamos a viver, não podemos deixar de reconhecer que temos um Chefe de Estado à altura das circunstâncias. 

quarta-feira, 18 de março de 2020

COVID-19 — UMA GUERRA SEM FIM À VISTA?


Com o coronavírus (COVID-19), estamos a viver uma guerra de efeitos imprevisíveis e sem fim à vista. Depois de tantos desastres naturais, convulsões sociais, calamidades, pestes e outros males, um vírus danado ainda não controlado veio incomodar, e de que maneira!, o mundo em que vivemos. Com 80 anos de vida, passei por épocas difíceis, perturbadoras, inquietantes, com doenças devastadoras que fizeram estragos no país e no planeta. Tudo, ou quase tudo, foi atingido e depois ultrapassado, deixando rastos de violência e mortes sem conta. Quem olhar apenas para a história do século passado, sabe que foi assim. Mas também sabe que de todas as guerras brotaram ressurreições! 
O COVID-19 continua  a resistir à luta possível que lhe é dada, mas o medo perdura por não se ver o fim dos dramas no horizonte. O dia a dia das pessoas está a ser bastante perturbado e alterado, a economia em todos os quadrantes vai sofrer abalos inimagináveis e o pessimismo tenta cortar as asas à esperança em dias de futuros risonhos, de sonhos desejados, da tranquilidade para todos há tanto esperada. 
O que vai ser o dia de amanhã para a humanidade? Sem ousar cair em desânimos, que não conduzem a nada, defendo que é preciso acreditar que os homens e mulheres do nosso tempo são tão corajosos, determinados e audazes quanto foram os homens e mulheres que nos antecederam. A guerra provocada pelo coronavírus será, se quisermos, a raiz de uma nova era. 

Fernando Martins

RECORDAR É VIVER - FIGUEIRA DA FOZ

O que publiquei há 10 anos


Por enquanto tenho a sorte e o prazer de poder sair, um dia que seja, para respirar diferente. Vou andar por aqui a ver o mesmo mar e a olhar sonhos de férias que me ocupam a imaginação e a ânsia de viver em plenitude, ao gosto da minha idade. Depois, claro, direi um pouco do que vi, estimulando outros a olhar, que isto ainda não custa dinheiro. O belo pode estar em qualquer esquina.

NOTAS:

1. Recordar é viver.
2. Há dez anos, estava longe o COVID-19. Teríamos outros problemas? 


terça-feira, 17 de março de 2020

UM LIVRO DE RAUL BRANDÃO PARA ESTES DIAS



Para os dias de isolamento, sugiro a ocupação de parte do tempo com leituras agradáveis. As notícias do coronavírus (COVID-19) e os conselhos que de todos os lados surgem, por vezes contraditórios, não podem ocupar a nossa mente com caráter obrigatório durante todas as horas do dia. Penso que os noticiários normais das televisões, rádios e jornais são mais do que suficientes. Para além disso, ler, ver e ouvir tudo é brutalizar a nossa liberdade de viver. Venho, então, com uma proposta de leitura, até porque, no dia a dia de cada um de nós, com a azáfama de trabalhos e outras obrigações, não temos muitos momentos para apreciar bons livros. Comigo também acontece isso. Na minha modesta biblioteca, há obras à espera de vez. Hoje, porém, recomendo “A Vida e o Sonho” de Raul Brandão, um dos escritores que mais aprecio. 
“A Vida e o Sonho” é uma antologia com inéditos e guia de leitura organizada por Vasco Rosa comemorativa dos 150 anos do nascimento de Raul Brandão (1867-1930), um escritor que cantou como poucos a nossa Ria da Aveiro, na minha modesta opinião, que não passo de um simples e apaixonado leitor. Como apreciei “Os pescadores”, “As ilhas desconhecidas”, “Húmus”, “Memórias” e outros!

segunda-feira, 16 de março de 2020

COVID-19: O SOL BENFAZEJO VEM A CAMINHO


Mais um dia de isolamento por razões óbvias. A minha idade permite-me este luxo. Não há compromissos profissionais ou outros. Há o compromisso apenas de evitar contactos que possam ser perigosos. O coronavírus (COVID-19), como outros vírus, não se vê. Atua escondido e pode ser fatal. Em outubro, época da vacina contra a gripe, já poderemos respirar mais fundo, sem descuidar a vigilância, que outros vírus hão de nascer, ninguém sabe como nem quando. O que sabemos é que ao longo da história do homem e da mulher neste planeta sempre houve vírus malignos, pestes, doenças incuráveis e calamidades. E o ser humano foi vencendo, século após século, tudo isso com determinação, imenso trabalho, muito saber e coragem sem limites. 
Vamos esperar mais um tempinho. O sol benfazejo vem a caminho. Os vírus têm medo dele. 

F. M.

PELA POSITIVA - 15 ANOS COM 15 MIL MENSAGENS



Ultrapassei a barreira das 15 mil mensagens no meu blogue Pela Positiva. Mensagens minhas e de alguns colaboradores que me têm acompanhado ao longo de 15 anos. Quase todas com ilustrações a condizer. E o mais curioso é que não me sinto cansado. A enxada não é assim tão pesada e com o treino os músculos e os neurónios até a tornam mais levezinha. 
Ao longo destes anos, convidei amigos para uma colaboração regular, mas a moda não pegou. Houve alguns, contudo, que me acompanharam, gentileza que agradeço. 
A vida, pelo meu lado, vai continuar enquanto Deus quiser e eu tiver forças e apetite para partilhar sentimentos, emoções, sugestões e informações úteis. 
Defendo, há muito, que o futuro passa, hoje mais do que nunca, pela comunicação e partilha de ideias e valores por todos os suportes existentes e pelos que hão de vir, porventura inimagináveis. Quem fugir deles, pessoas e instituições, estará condenado a perder a carruagem do progresso a todos os níveis. 

Fernando Martins

domingo, 15 de março de 2020

EM TEMPO DE QUARENTENA



Em tempo do quarentena imposta pelo Coronavírus (COVID-19), que ele anda por todo o mundo a fazer estragos, fui à procura de recordações de décadas para espairecer. É o melhor que é possível fazer, se elas forem sinais evidentes de felicidade. Desta feita, fui até Castelo Branco com a Lita, onde contemplámos e registámos para a nossa história o monumento dedicado ao Dr. João Rodrigues, mais conhecido por Amato Lusitano (1511-1568). E junto ao tribunal, ficou a Lita, num recanto aprazível. 
Sobre Amato Lusitano, vale a pena ler o que diz o Google. Segundo um seu biógrafo, era um poliglota, pois dominava o Português, o Latim, o Grego, o Hebraico, o Árabe, o Castelhano, o Francês, o Italiano e o Alemão. 

QUERIDA AMAZÓNIA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Na sequência do Sínodo sobre a Amazónia, que se realizou em Roma de 6 a 27 de Outubro do ano transacto, Francisco publicou, no passado dia 2 de Fevereiro, uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal, a que deu o título “Querida Amazónia”. 

Nela, formula quatro grandes sonhos: 1. O sonho de “uma Amazónia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e a sua dignidade promovida.” 2. O sonho de “uma Amazónia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.” 3. O sonho de “uma Amazónia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.” 4. O sonho de “comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazónia que dêem à Igreja rostos novos com traços amazónicos.” 

E explicita e concretiza os sonhos: 

1. Um sonho social. Impõe-se a indignação e um grito profético a favor dos mais pobres e explorados, contra os interesses colonizadores, antigos e presentes, que lucram “à custa da pobreza da maioria e da depredação sem escrúpulos das riquezas naturais da região” e dos seus povos. “Os povos nativos viram muitas vezes, impotentes, a destruição do ambiente natural que lhes permitia alimentar-se, curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava identidade e sentido.” Danificar a Amazónia, não respeitar o direito dos povos nativos ao território e à autodeterminação tem um nome: “injustiça e crime”.

A MAIOR REVOLUÇÃO RELIGIOSA

Crónica de Bento Domingues
 no PÚBLICO

A conversa sobre o papel das mulheres na Igreja não avança porque não se liga nada à importância que Jesus lhes atribuiu.


1. É muito complexa a história do povo samaritano. Segundo a investigação de 2019, existiam apenas 820 samaritanos. Parece que num passado remoto ultrapassaram o milhão [1]. Apesar da sua reduzida expressão numérica actual, a liturgia cristã não os pode esquecer. Ao longo do ano litúrgico, são muitas as referências, extremamente simpáticas, dedicadas a esse povo semita que era detestado pelos judeus por ter conservado, da herança comum, apenas o Pentateuco e ter levantado um lugar de culto rival do templo de Jerusalém. Mas porque será que os textos do Novo Testamento construíram, por contraste, figuras samaritanas que apresentam como exemplares para todos os tempos e lugares?
Esses textos não são as actas factuais do comportamento de Jesus de Nazaré. São interpretações contextuais dos seus atrevimentos, mas não há dúvida que este galileu insólito não suportava aquele ódio fratricida nem a justiça do olho por olho, dente por dente [2]. Esses textos de inapagável beleza atribuem a um judeu a apresentação de figuras samaritanas – figuras de um povo rival – como exemplo do que deve ser um discípulo da Lei Nova do Evangelho. O Nazareno não fazia acepção de pessoas. Tanto curava judeus como samaritanos ou gentios. Eram doentes, e só por isso deviam ser socorridos sem mais considerações. Mesmo assim, destaca que entre os dez leprosos curados só um samaritano veio agradecer.

sábado, 14 de março de 2020

CORONAVÍRUS - LAVAR AS MÃOS


AS MÃOS


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre,
In O Canto e as Armas, 1967

sexta-feira, 13 de março de 2020

IGREJA CATÓLICA RESPONDE À CRISE DO COVID-19


O nosso bispo, D. António Moiteiro, vai celebrar a Eucaristia no próximo domingo pelas 10h00 na Sé de Aveiro. A celebração será transmitida em direto no canal de facebook da nossa Diocese.

COVID-19

Notas do meu diário 



O caso é muito sério. Na minha vida passei por situações muito difíceis, mas nunca vi nada parecido com o coronavírus (COVID-19), que está a atingir o universo. Daí a pandemia. 
Não será o fim do mundo porque a inteligência humana saberá dar a volta a esta guerra provocada por um vírus que mata sem armas, sem bombas atómicas, sem estratégias militares. Um simples vírus que quer destruir economias, gerar fomes, aniquilar comércios e indústrias, provocar pânicos e alimentar incertezas. 
Contudo, vamos acreditar que a humanidade sairá reforçada.

Fernando Martins

SACIA-TE NA FONTE DE ÁGUA VIVA

Reflexão de Georgino Rocha: 
A caminho da Páscoa

«A solidariedade nas causas justas humaniza-nos, reforça os laços da família que constituímos e abre o coração a novas dimensões: a ética da convivência social, a cultura do suficiente, o estilo de vida sóbrio e partilhado, a fraternidade sem limites, a dignidade acrescida, fruto do reconhecimento agradecido a Deus Pai por nos constituir seus filhos e irmãos em Jesus Cristo.»

A samaritana acorre ao poço de Jacob, para buscar água fresca. Leva consigo o cântaro vazio, símbolo do seu coração ansioso que procura saciar as sedes que manifestamente o inquietam e perturbam. Habita-a o sonho de felicidade, sempre adiada, apesar das tentativas fugazes de prazeres efémeros. Acolhe o pedido ousado do judeu desconhecido e questiona-o sobre o seu atrevimento. Abre-se ao diálogo num “taco-a-taco” impressionante pelo realismo personalizado e pela caminhada espiritual de abertura e comunicação. Jo 4, 5-42 
Jesus, paciente e confiante, situa-se ao nível da samaritana. Aproveita a oportunidade de estar cansado e de ser pleno dia, para manifestar a necessidade de saciar a sua sede. “Dá-me de beber” – diz-lhe. “Como?” – pergunta ela. “Se conhecesses quem te pede” – acrescenta Jesus, abrindo horizontes novos às sedes humanas que só podem ser satisfeitas por águas vivas oferecidas por quem as possui e está pronto a reparti-las.
“Por muito que nos desconcerte, afirma o cardeal Tolentino de Mendonça, Jesus dirige-nos essas mesmas palavras, na boca do poço que representa este momento das nossas vidas. «Dá-me o que trazes contigo. Abre o teu coração. Dá-me o que és». A quaresma é uma chamada a reactivar o dom da graça”.

quinta-feira, 12 de março de 2020

O DOURO COM TODA A SUA BELEZA


Sem apetência por qualquer tema, que o coronavírus (COVID-19) me tem envolvido demais, aqui fica o Douro com toda a sua beleza para me fazer esquecer, se é que tal é possível, os dramas da pandemia que nos envolve.

ÍLHAVO - Recordações


Com a qualidade possível, já que não sou nenhum especialista em digitalizações, ofereço 12 registos, tipo selo, do que me chegou às mãos.  A data situa-se na década de 1960.

terça-feira, 10 de março de 2020

A LITA FEZ ANOS HOJE


A Lita completou hoje, 10 de março, a sua 80.ª primavera. Diz-se, não sei por que razão, que não se deve perguntar nem dizer a idade das senhoras, como se tal desse azar ou coisa do género. Penso que a Lita tem motivos de sobra para se regozijar pela idade que tem. Já viveu, até agora, uma vida longa,  e todos, os que a amamos, queremos continuar a usufruir da sua juventude, sempre disponível para servir, mesmo quando lhe faltam as forças… próprias das canseiras. 
Permitam-me que diga, de passagem, que a vida não é só a que o calendário inexoravelmente regista e os documentos atestam. A vida não tem idade no dia a dia da nossa existência terrena. Cada minuto com sonho lindo apaga anos de sombras indefinidas. 
Costumamos dar uma volta por aí no dia 10 de março, mas este ano, por força dos sustos coronavíricos, ficámos por casa, mas prometemos que na próxima oportunidade sairemos para saborear o ar fresco da maresia que nunca nos cansa, decerto em dia com céu azul a franquear-nos horizontes de paz e de cumplicidades bem próprias de um matrimónio com 55 anos, alimentado pelas bênçãos de Deus e pelo apoio indispensável de familiares e amigos. 
Com incómodos de saúde aqui ou ali, agora ela depois eu, ambos em simultâneo algumas vezes, o rolar da vida vai passando por invernos frios, logo seguidos de primaveras e verões reconfortantes… E o outono da existência não nos rouba a alegria dos filhos, netos e demais familiares, nem a simpatia de amigos sem conta.

Fernando Martins

Carlos Matos expõe “Do Sagrado: Figurações”

Casa da Música
Sexta-feira
20 de março
18 horas 

Carlos Matos no seu Nicho D'Artes (Foto do meu arquivo)
Com organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, vai ser apresentada ao público, na Casa da Música, no próximo dia 20 de Março, pelas 18 horas, uma exposição do artista Carlos Matos, que tem por título “Do Sagrado: Figurações”. A mostra de alguns dos seus múltiplos e expressivos trabalhos ficará patente de 20 a 22 de março. Uma exposição para ver e pensar. 
Diz o título da exposição que se trata de figurações do sagrado, o qual faz parte de forma notória da sua sensibilidade criativa, que me espanta diáriamente com os seus apelos ao divino, ao transcendente. Estou, pois, com curiosidade de apreciar os trabalhos expostos, indubitavelmente selecionados por si. 
Para já, os meus parabéns. 

F. M.

Ler mais sobre Carlos Matos 

domingo, 8 de março de 2020

O ESSENCIAL E O SECUNDÁRIO

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

"Para que as celebrações da Quaresma e da Semana Santa não se percam no ritualismo fundamentalista, importa não se deixar dominar pelo que está mandado ou proibido. Uma festa precisa de um ritual, mas não há nenhum ritual que faça a festa de uma comunidade ou de um povo."

1. Algumas Igrejas cristãs – católica, ortodoxa, anglicana, luterana – fazem preceder a Páscoa de um grande retiro, a Quaresma, para vincar que as “cerimónias litúrgicas”, sem a transformação da vida, são uma mentira.
Os rituais e tradições da Quaresma podem ser muito diferentes de continente para continente, de país para país e mesmo dentro de cada país, as expressões, sobretudo as da Semana Santa, podem revestir aspectos que uns consideram fidelidade à religião popular e outros apreciam-nas como folclore bizarro para turistas do insólito. Também não falta quem as denuncie como traições à pureza da fé cristã.
Certas tradições foram esquecidas, outras alteradas e são, agora, em muitos casos, objecto de investigação histórica e até de reconstrução etnográfica. Não convém esquecer que foram, por vezes, modos muito criativos de inculturação popular da fé cristã, mais ou menos ortodoxa. O mundo rural em que nasceram e se desenvolveram ou já não existe, ou existe de forma tão precária, que as reconstituições parecem sobretudo trabalho de arqueologia da memória. Em algumas zonas do país, onde o clero não impôs a sua ortodoxia oficial, ainda hoje são fiéis às expressões da fé que os alimentaram durante séculos [1].

A MULHER NA IGREJA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 

“Toda a forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa por razão do sexo deve ser vencida e eliminada, por ser contrária ao plano divino.” 
Vaticano II

1. Neste Dia Internacional da Mulher, retomo o que já aqui escrevi em 2011: “As mulheres têm motivo para estar zangadas com a Igreja, que as discrimina. Jesus, porém, não só não as discriminou como foi um autêntico revolucionário na sua dignificação, até ao escândalo.” 
Veja-se a estranheza dos discípulos ao encontrar Jesus com a samaritana, que tinha tudo contra ela: mulher, estrangeira, herética, com o sexto marido, mas foi a ela que se revelou como o Messias. Condenou a desigualdade de tratamento de homens e mulheres quanto ao divórcio. Fez-se acompanhar — coisa inédita na época — por discípulos e discípulas. Acabou com o tabu da impureza ritual. Estabeleceu relações de verdadeira amizade com algumas. Maria Madalena constitui um caso especial nessa amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro intuiu e fez a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado não foi entregue à morte para sempre, pois é o Vivente em Deus, como esperança e desafio para todos os que crêem nele, a ponto de Santo Agostinho, apesar da sua misoginia, a declarar “Apóstola dos Apóstolos”, precisamente por causa do seu papel fundamental na convocação dos outros discípulos para a fé na Ressurreição — na morte, não caímos no nada, pois entramos na plenitude da vida em Deus, Deus de vivos e não de mortos. Aliás, já São Paulo, na Carta aos Romanos, pede que saúdem Júnia, “Apóstola exímia”. 

E a vida, depois da sesta de espírito, continua...

Notas do meu Diário 




Quando estou sem apetência para o trabalho de casa, de mistura com leituras e escrita, abro a porta de trás e vou espairecer para o quintal. O nosso quintal já não é como dantes, quando predominavam culturas de batatas e diversos legumes, com uma álea de pomar. Desde que as forças começaram a limitar-nos, ficou campo aberto para as galinhas, resistindo as árvores de fruta, relva e pequenos jardins um pouco por cada canto. 
Embora não seja muito dado ao tratamento do pomar, porque alguém o fará por nós, revejo-me em tudo o que me cerca. O colorido e a serenidade da natureza, o pulsar da vida vegetal e animal, o ar puro que de cada canto dimana para me libertar o corpo e a mente de stresses, o chilrear da passarada que se ouve apenas quando os gatos sonolentos não resistem ao cansaço das brincadeiras entre eles, tudo isto contribui para o meu rejuvenescimento diário. E a vida, depois da sesta de espírito, continua...
Bom domingo para todos.

F. M.

sábado, 7 de março de 2020

Voluntariado Hospitalar em Aveiro


Sensibiliza-me sempre a disponibilidade de quem se dá aos outros, deixando a comodidade das horas vagas, das férias periódicas, da aposentação merecida. Em vez de se fixarem no direito de nada fazer, olham para quem mais precisa. Estão estes nos grupos de voluntariado, ajudando instituições e pessoas. 
Quando vou aos hospitais, distingo os voluntários que colaboram em tarefas diversas, deixando livres alguns funcionários para outros trabalhos mais tecnicamente exigentes compatíveis com as  suas habilitações profissionais. 
Ontem, no hospital de Aveiro, tive a oportunidade de apreciar, brevemente mas com atenção, o desempenho de voluntários, mas ainda tive  o gosto de encontrar pessoa amiga muito compenetrada na tarefa de ajudar quem chega para exames complementares de diagnóstico. Sorridente, reconheceu-me, dando-me a oportunidade de a saudar pela sua disponibilidade para servir a comunidade. Os meus parabéns.
Uma saudação amiga para todos os voluntários hospitalares. 

F. M.

sexta-feira, 6 de março de 2020

LEVANTAI-VOS E VAMOS EM FRENTE

Reflexão de Georgino Rocha 
para o domingo da Transfiguração


A caminho da Páscoa

Jesus proporciona aos seus amigos mais íntimos uma experiência profunda, surpreendente e gratificante. “Que bom estarmos aqui” – diz Pedro em nome do grupo. A experiência inicia-se quando Jesus os toma consigo e, na sua companhia, sobe à montanha. Que terão pensado no percurso, eles que não se haviam refeito do susto do anúncio da paixão e permaneciam abatidos perante o desabar das suas alimentadas ilusões! Confiam mais uma vez no Mestre, acolhem o convite/apelo e lançam-se na aventura. Acontece algo de extraordinário que lhes provoca tal satisfação que Pedro se propõe “armar” tendas, para assim continuarem indefinidamente. Da desilusão ao encantamento!
Era o coração humano a falar, a expressar o desejo intenso de felicidade, a antecipar o sonho de estar sempre com o Senhor. Era a voz da consciência a libertar as aspirações mais profundas que, tantas vezes, permanecem caladas ou são mesmo silenciadas. Santo Agostinho salienta esta marca indelével do ser humano que vive inquieto e peregrino enquanto não encontra Deus e se senta no seu colo de Pai.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Navio-museu Santo André reabre ao público em julho

O Navio-museu Santo André está a ser alvo de requalificação para garantir a sua manutenção, beneficiação e melhoria das condições de segurança para as visitas. Está prevista a sua reabertura ao público em julho do corrente ano.

O PÚBLICO tem 30 anos

O PÚBLICO completou hoje 30 anos de vida. Já adulto, é certo, mas começou como novidade a que aderi desde a primeira hora. Tinha ares de moderno e suporte de vida garantido. E foi mudando ao sabor dos tempos e dos desafios. Hoje, para mim, é leitura obrigatória online. Não preciso, por isso, de correr apressado para o comprar nos quiosques, alguns dos quais vão desaparecendo por falta de clientes que se viram para outros interesses... Mas hoje queria a edição de papel por desejar voltar, um dia que fosse, à leitura de há tantos anos. Como era gratuita, fiquei a ver navios... 
Os meus parabéns ao PÚBLICO e a quem o dirige e nele trabalha... 

F. M.

Os montes de sal de outros tempos

Palheiro mais moderno e montes de sal 
Marnoto... mais moderno
(…)
Em certas manhãs, doiradas pelo sol nascente, a Ria parece toda um espelho onde, apenas, um trémulo de evaporação – ténue e vibrátil – põe um vestígio de movimento ritmado.
E, então, os malhadais, os montes de sal, os palheiros exíguos e pintados a zarcão, duplicam-se, invertidos, nas águas quietas onde, de vez em quando, uma gaivota, maleabilíssima e ágil, raspa uma tangente quase imperceptível.
As pálpebras cerram-se sobre a pupila magoada por esta duplicação da luz que se remira no espelho da água e, no silêncio inundado de sol, o chap chap de uns remos, ou o golpe da ponta de uma vara que empurram o barco que desliza, põem uma nota fugidia de onomatopeia.
Um homem de músculos individualizados – como num quadro mural de anatomia – corre sobre a borda de uma bateira mercantel como se andasse sobre o asfalto de uma avenida. Visto de longe, recortado na luz diáfana da manhã que lhe aviva as linhas e delimita os contornos, não sabe a gente se tem na frente um ginasta, se um bailarino. Os pés parece que não pisam e os movimentos de vaivém, desembaraçados e leves, semelham passos coreográficos.»

Frederico de Moura
"Aveiro e o seu Distrito", n.º 5, junho de 1968

terça-feira, 3 de março de 2020

A Natureza precisa de nós – Nós precisamos da Natureza

Notas do meu diário

Aldeia caramulana 
Falo muito da natureza, mas não sinto o seu pulsar como gostaria com frequência. Houve tempo em que acampava em aldeias, com serras à vista, em margens de rios os nos arredores de vilas e cidades com história, conheci pessoas de diversas origens e estratos sociais, apreciei marcas de séculos e arejei as ideia... no encontro e reencontro de paisagens de milénios. 
A natureza envolvia-me sobremaneira com a sua pureza alheia à mão do homem e endurecida por calores tórridos e invernos rigorosos, oferecendo a quem ousa embrenhar-se nela água pura e ar lavado, deixando convites para novas visitas, nunca admitindo que um dia o progresso poderia estragar tudo. 
Conviver com a natureza é comungar paz e fraternidade no dizer do Santo de Assis, reconhecer a beleza da harmonia, beber o sentido do divino e perceber que está em nós o dom de receber o bem que urge partilhar. E se nós precisamos da natureza também a natureza precisa de nós. 

F. M. 

segunda-feira, 2 de março de 2020

Salinas - Espelho do céu?



Há anos, olhando as salinas de qualquer ângulo, elas eram, de facto, as janelas do céu, com cabanas cobertas de colmo e cones de sal cristalino a embelezarem as nossas paisagens. No sábado, do comboio a correr para o Porto de Aveiro, em dia de inauguração, a objectiva do João Marçal captou esta imagem que reflecte desolação. Não será de ter pena?

Março de 2010

domingo, 1 de março de 2020

O Douro fica sempre na alma de quem o visita

De um passeio ao Douro 
11 de Setembro de 2008



“Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho…
Beleza não falta em qualquer tempo, porque onde haja uma vela de barco e uma escadaria de Olimpo ela existe.”

Miguel Torga, 
in “Portugal”

Ler o que então escrevi aqui 

Ares de Inverno - O triste-belo


Os ares de inverno, com frio e chuva, ofereceram-me esta imagem com o seu quê de expressivo. Sinto a invernia, que tarda em desaparecer, mas é possível perceber o triste-belo, 
Bom domingo.

Não bastam palavras


"O documento do Papa é longo e magnífico em quase tudo. Para não ficar só em palavras, precisava de uma decisão urgente que não aconteceu."

1. As concepções de Igreja que deformaram o Evangelho de Cristo, durante séculos, foram muito alteradas no Vaticano II (1962-1965), mas não foram apagadas. Tiveram muitas reaparições depois, como aliás já comecei a referir no Domingo passado. Por exemplo: o cardeal Jan Pieter Schotte (1928-2005) foi, no pontificado de João Paulo II, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos de 1985 até 2004. Ao falar do Direito Canónico já revisto, declarou: “Não vos enganeis, na Igreja católica, um pároco não tem de prestar contas a ninguém salvo ao seu bispo; um bispo não tem de prestar contas a ninguém salvo ao Papa; o Papa não tem de prestar contas senão a Deus.” Uma declaração destas justifica a observação de Bergoglio, segundo a qual “o clericalismo engendra uma divisão no corpo eclesial”.
O citado cardeal continuou, mesmo depois do Vaticano II, dependente da ideologia do Papa Pio X que, em 1906, descreveu a Igreja como uma “sociedade de essência desigual que compreende duas categorias de pessoas: os pastores e o rebanho. (…) Essas categorias são tão claramente distintas entre si que só no corpo pastoral residem o direito e a autoridade necessários para promover e dirigir todos os membros rumo às finalidades sociais; e que a multidão não tem outro dever senão o de se deixar guiar e de seguir, como um dócil rebanho, os seus Pastores”.

O Sagrado e suas configurações (2)

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Dou continuação à crónica da semana passada.
A pessoa religiosa refere-se sempre ao Sagrado, à Ultimidade, que, pela sua própria definição, não pode alcançar, menos ainda dominar ou possuir. Percebe-se, pois, que o Sagrado seja figurado e representado de múltiplas formas.

1. Uma das figuras ou representações é a de o Ser supremo. Aparece, portanto, como o Deus celeste, criador e senhor das criaturas.

2. Quanto ao politeísmo (vários deuses e deusas), houve quem o interpretasse como uma degenerescência ou queda do monoteísmo. De facto, é preciso saber que o monoteísmo em sentido estrito é recente, mas isso não significa que haja religiões propriamente politeístas. Penso que o politeísmo é sobretudo a atribuição da Força divina originária a várias divindades, que aparecem como suas "personificações". Atente-se, por exemplo, no politeísmo grego e romano, talvez os mais conhecidos.

3. No quadro de tentativas de compreensão do mal, surgiram representações dualistas - pense-se no mazdeísmo, gnosticismo e maniqueísmo. Mas dificilmente se poderá dizer que haja um verdadeiro dualismo no sentido de dois princípios simétricos e supremos. Pode é dar-se uma espécie de luta no interior do Uno, com expressão no mundo e na História, que seriam a continuação desse combate a caminho da reconciliação e da vitória do Bem. No fim, o Bem triunfará.

Gafanha da Nazaré - Pesca do Bacalhau



Fonte: Arquivo do Distrito de Aveiro - 1935

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Teresa Machado deixou-nos o seu exemplo de tenacidade

Teresa Machado com seu filho e Rosa Mota na Junta de Freguesia, onde foi homenageada
Faleceu hoje a atleta olímpica Teresa Machado. Todos ficámos mais pobres, mas o seu exemplo de tenacidade e espírito de vitória permanecerão connosco, os que tivemos o privilégio de a conhecer e admirar. Perdemos nós e perdeu o desporto nacional, porque uma campeã deste nível não surge todos os dias... Apesar dos limitados apoios e dos parcos recursos de treino, Teresa Machado atingiu pódios só alcançáveis pelos maiores do mundo. Valeu-lhe, garantidamente, também, o saber e o incitamento do seu treinador, Júlio Cirino, que soube indicar-lhe as portas dos grandes êxitos. 
Neste momento de luto, sentimos ser nossa obrigação desejar que a semente dos seus triunfos crie raízes e cresça nesta terra, e não só, onde nasceu para a vida e para o atletismo, apostando forte em atingir altos voos à custa de uma determinação cujos limites só estariam ao alcance dos atletas privilegiados. 
Aos familiares, em especial seu marido e filho, apresentamos sentidas condolências.

NOTA: O funeral realiza-se no domingo, 1 de março, na Gafanha da Nazaré, pelas 11 horas.

Ler entrevista que me concedeu em 2009

Ler sobre a homenagem

A CAMINHO DA PÁSCOA

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Primeiro Domingo da Quaresma 


DE CORAÇÃO PURIFICADO, ACOMPANHEMOS JESUS

“A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas pessoas que sofrem”, afirma o Papa Francisco na mensagem para a Quaresma que estamos a viver.
Ao longo dos próximos domingos iremos meditando diversos passos do percurso feito por Jesus até Jerusalém onde é condenado como malfeitor pela autoridade romana e, na manhã de Páscoa, ressuscitado por Deus Pai como o vencedor da morte por amor.
Hoje, a liturgia apresenta-nos o Evangelhos das tentações. Mt 4, 1-11. Após o baptismo, ainda antes de iniciar a missão pública, Jesus vê confirmada a sua dignidade de Filho de Deus que o Tentador questiona e pretende comprovar.
Mateus – o narrador do episódio – elabora um diálogo atraente, que é uma verdadeira catequese, sobre como proceder perante as tentações. O Papa Francisco diz que com o diabo não se dialoga, mas responde-se com a Palavra de Deus. Assim faz Jesus.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Turismo: Casas flutuantes na Ria de Aveiro


A Ria de Aveiro é um rincão sedutor para o turismo. Sempre a conheci atraente para os residentes nas suas margens, mas também para visitantes e turistas com olho para o diferente. O espelho de água, sereno por norma, e os ventos à medida para velas de embarcações típicas, com moliceiros a comandar as frotas, mais as paisagens que tudo rodeiam são desafios para os empreendedores turísticos e para o povo que gosta de ver valorizada a laguna. 
Há projetos em marcha para breve, como dá conta o PÚBLICO. Então, em Abril, os amantes da Ria já poderão passar uns dias numa casa flutuante, com tudo o que ela poderá oferecer, penso eu: dormida com jeito do balancear de berço para um descanso mais tranquilo e o sabor a maré dos petiscos regionais. 

Ler aqui e aqui

As amizades são para a vida

Sinto-me muito bem com as minhas amizades, até porque as vou assumindo para a vida. Algumas vêm da infância e juventude e outras vão surgindo ao sabor da maré ou dos ventos que nos refrescam as ideias. Algumas, porém, são levadas pelas ventanias sem me aperceber… e muitas resistem a todos os temporais. 
As amizades, quando o são na sua plenitude, resistem a tudo e, mais do que isso, vão-se consolidando com o passar dos anos. E eu gosto muito de sentir que tenho inúmeros amigos. 
Nas minhas amizades, não há políticas que as perturbem nem cores clubistas, por mais “fanáticas” que sejam, que as toldem, nem opções religiosas que possam suscitar controvérsias. Aceito os amigos como são: cultos ou iletrados, artistas ou nem por isso, intelectuais os semianalfabetos. Exijo apenas que sejam sérios, tolerantes, compreensivos, leais, autênticos no seu pensar e viver, fraternos. 
As amizades são riquezas que devemos cultivar, regando-as com a franqueza, com a verdade, com o respeito mútuo. 
As amizades, as autênticas amizades, são mesmo para a vida. 
Um abraço para todos os amigos… 

Fernando Martins

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Que cada família ajude a promover a cultura do encontro

Da mensagem do Bispo de Aveiro
para a Quaresma

Na sua mensagem para a Quaresma de 2020, rumo à Páscoa, o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, sublinha que o amor vivido nas famílias «é força permanente para a vida da Igreja e da sociedade», manifestando o desejo de que a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa «seja um desafio concreto» que nos leve a percorrer «o caminho de levar a esperança de Cristo às famílias», aprofundando e fortalecendo «a dimensão comunitária da família, em ordem à realização da sua vocação e missão». «Que cada família ajude a promover a cultura do encontro: com Deus, com os outros, com a criação, abrindo as portas ao frágil e ao pobre, para, assim, viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa», frisa D. António Moiteiro.  

Este ano a  renúncia quaresmal destina-se a apoiar a missão diocesana na Ilha do Príncipe, ajudar na construção da Igreja Matriz de S. Paulo em Cabo Verde e apoiar o Fundo de Emergência Social, da Caritas Diocesana, adianta o Bispo de Aveiro.

Ler toda a mensagem aqui 

Sinto-me assim...


Estou tão ansioso que nem imaginam. Espero pela primavera como quem espera por uma prenda de alto valor simbólico que me dê mais alegria para viver. O frio dá-me tristeza e incómodos, rouba-me a vontade de trabalhar, limita-me as saídas de casa. Prende-me… Sinto-me assim. Pronto!

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue