Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XV do Tempo Comum
Jesus sai de casa, em Cafarnaum, e vai sentar-se à beira mar, assim narra Mateus o início de um dia de trabalho. Aqui, ocupado com os seus sonhos da missão, vê-se rodeado de numerosas pessoas desejosas de o ouvirem. Ao vê-las, levanta-se, entra numa barca, afasta-se da margem e começa a falar em tom familiar, narrando a parábola do semeador que lança à terra a semente. Mt 13, 1-23
O Papa Francisco, no seu comentário intitulado “limpar o terreno do nosso coração” afirma: “A parábola diz respeito sobretudo a nós: com efeito ele fala mais do terreno que do semeador. Jesus faz, por assim dizer, uma «radiografia espiritual» do nosso coração, que é o terreno sobre o qual a semente da Palavra cai. O nosso coração, como um terreno, pode ser bom, e então a Palavra dá fruto – e muito -, mas pode também ser duro, impermeável. Isto acontece quando ouvimos a Palavra, mas ela escorrega, precisamente como numa estrada: não entra”. .
A narração da parábola de Mateus compara a Palavra de Deus a uma semente, cheia de vigor, que o agricultor lança à terra. Jesus tem perante si a multidão encantada com os seus ensinamentos e quer iniciar os discípulos na compreensão dos mistérios do Reino. Está na margem do Lago de Tiberíades, onde se encontram barcos arrumados após a faina da pesca.
Mateus – o autor do relato – escolhe este cenário para dar início à parábola do semeador, a primeira de sete. De permeio, aduz a razão de Jesus optar por lhes falar em parábolas: “Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo”.
As “coisas ocultas” referem-se ao Reino de Deus, presente de forma velada na humanidade e agora anunciado explícita e publicamente por Jesus. Reino que é presença benfazeja, garantia de situações mais humanizadas, gérmen de um plenitude desejada, realidade promissora sujeita às leis do tempo e condicionada pelas forças que se cruzam na natureza e na história. Reino que, sendo de Deus e tendo o seu dinamismo, é realizado por Jesus e prosseguido por aqueles que aceitam a sua palavra e se fazem seus discípulos (Igreja nascente). Reino que é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” Rm 14, 17.
“Felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem” declara Jesus, com selo de garantia sem prazo de limite de validade, aos discípulos desejosos de compreenderem o alcance do que estava a acontecer. Felizes os que têm o olhar puro e apurado, descobrem as sementes do reino, quais sinais da presença de Deus no mundo, e exultam com os esforços humanos por lhes dar rosto pessoal na convivência social e nas comunidades cristãs.
Felizes os que ouvem os gemidos de tantos milhões e as boas notícias de quem procura ajudá-los na sua libertação do jugo infernal da fome, da sede, da doença, da ignorância, da guerra. Felizes os voluntários de todas as causas humanitárias que testemunham confiadamente os valores da solidariedade fraterna, do compromisso libertador, da entrega generosa por amor de doação. Esta é a boa semente que produz a cem por um.
“O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura – afirma o Papa Francisco - por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se” (A Alegria do Evangelho, nº 9).
Pe. Georgino Rocha