Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XVII do Tempo Comum
Parábola do Tesouro Escondido - Rembrandt |
"Feliz o homem que tem a sorte de achar o tesouro da sabedoria e,
ainda mais feliz, se o mantiver, fizer crescer e irradiar"
Atitude decidida e coerente, fruto de um coração inteligente e de uma vontade determinada. Atitude assumida com firmeza pelo homem que passa no campo e sente o seu olhar “golpeado” pelo brilho de um tesouro. Atitude emblemática de tantas outras que, ao longo dos dias, somos chamados a considerar e fazer nossas. Mt 13, 44-52.
O homem da parábola concentra todas as energias na realização da maior aventura da sua vida: obter a preciosidade vislumbrada. Definida a meta dos seus desejos, reorganiza e reordena todas as suas rotinas, reelabora a sua escala de valores, redimensiona a distribuição do tempo. Nestas diligências, sente o seu ânimo transbordar de alegria e toma decisões arriscadas.
Por isso, prossegue sem demora o seu plano de acção: pôr a salvo o tesouro descoberto, desfazer-se dos bens a fim de conseguir a importância indispensável à compra, adquirir o campo onde está o achado. Em todo este processo, uma confiança revigorante galvaniza as suas forças anímicas e energias espirituais.
A fortuna da vida consiste em manter a esperança em toda a caminhada para alcançar o bem maior. Daí, a necessidade premente de concentrar as energias no possível. Daí, a conveniência de alargar progressivamente as margens do possível. Só assim, será respeitado o ritmo da aspiração, aberta sempre ao melhor, e os limites da acção condicionados pelas circunstâncias e possibilidades reais.
Também aqui a metáfora é eloquente: face à dispersão e ostentação, concentração e “mergulho” interior; face à correria, calma e ponderação; face ao nivelamento de valores, escala de prioridades e observância fiel; face ao adiamento, decisão oportuna e acertada; face ao efémero e imediato, atitude consistente e duradoira.
O “mergulho” na interioridade facilita o conhecimento de si mesmo, a escuta da consciência onde se fazem ouvir as ressonâncias da voz de Deus gravada na natureza humana: Se renuncias a algo, é por um bem maior; ninguém se sente feliz com o coração vazio; a pérola mais preciosa do mundo és tu mesmo; o que tens e compras vale menos do que o teu eu mais profundo; apreende a sabedoria e terás um coração inteligente; acolhe a boa notícia de Jesus de Nazaré, meu enviado; a graça custa caro, tem um preço elevado, mas provoca uma alegria contagiante; basta lembrares o Evangelho e o esforço humano do dono do campo.
Estas e outras ressonâncias podem ouvir-se na consciência humana iluminada pela razão e pela fé, liberta de preconceitos que ensurdecem e de meias verdades que desvirtuam. Exemplos atractivos iluminam a história com os clarões da sua vida intensa e coerente: Mendes de Sousa, Tomás Moro, Padre Américo, Maria Goreti, Paulo de Tarso, Jesus Cristo.
O lavrador do campo acha e agarra a pedra preciosa na ocupação diária. Aqui o espera a surpresa. Aqui dá a resposta criativa e ousada. Aqui surge o encontro apetecido em que à alegria humana corresponde o sorriso divino.
Feliz o homem que tem a sorte de achar o tesouro da sabedoria e, ainda mais feliz, se o mantiver, fizer crescer e irradiar.
Pe. Georgino Rocha