A nossa Rádio completou
hoje 34 anos de vida
Foi no já distante 12 de julho de 1986, que, ao final da manhã, os primeiros sons foram emitidos. Ao passar pelas antigas instalações da Cooperativa Cultural e Recreativa, outrora Cooperativa Eléctrica da Gafanha da Nazaré, vi concluir os trabalhos de colocação de um poste para fixação da primeira antena emissora, ainda de baixa potência.
A curiosidade e a vontade de comunicar fizeram o resto: após o almoço, vi o que se passava e tornei a entrar lá à noite, para conhecer melhor as pessoas e perceber o que poderia ser feito para melhorar a emissão.
Com muito material técnico cedido pelo Paulo Caçoilo (Misca) e por outros amigos que quiseram intervir na causa, de que lembro a cedência (sem reservas) da eclética discografia do meu irmão Dinis Casqueira, os programas foram nascendo e o éter foi sendo ocupado com muita imaginação e alguma experiência, como foi o caso do saudoso Álvaro Morgado (Almor da Costa, para rememorar tempo idos em Moçambique, em que trabalhou em inúmeros programas).
À falta de melhores conteúdos, e ainda sem grelha definida, passar apenas música não era suficiente, de modo que o acesso à Biblioteca Popular instalada no salão da Cooperativa Cultural ajudava a preencher parte da emissão. Da poesia que líamos, recordo Silva Peixe, nosso conterrâneo, bem assim alguns contos de autores mais consagrados, como Torga e Vergílio Ferreira, sendo deste autor um dos mais complicados de adaptar ao microfone.
Depois vieram instruções preciosas de pessoas muito atentas e preocupadas em tornar este órgão de informação e cultura num modelo de excelência. De todos, permitam-me que destaque o Engº Vasco Lagarto, José Alberto Loureiro e o professor Fernando Martins, que iam deixando diárias dicas para aperfeiçoar o que as intuições nos possibilitavam, mas que não eram suficientes.
E permitam-me recordar a primeira oferta de um disco à RTN. Foi no dia 15 de julho, ali pelas 10 e qualquer coisa. O estúdio ainda funcionava na sala à esquerda da porta de entrada, cuja mesa de trabalho nos colocava de costas para a janela, de onde se ouviram uns toques insistentes do senhor José (Nôro) a deixar o LP Retrato Sagrado, de Nel Monteiro. A partir dessa primeira oferta, outras se sucederam, nomeadamente enviadas por editoras ou deixadas por artistas que iam marcando presença em atuações próximas, com quem pude realizar entrevistas muito interessantes a figuras cimeiras do panorama musical português. Mas uma que lembro com maior saudade foi feita ao nosso Ex-Presidente da Junta, Sr. Albino Miranda, no âmbito da comemoração do vigésimo aniversário da elevação da Gafanha da Nazaré a Vila, ali em outubro de 1989.
E posso afirmar que ter a habitação a pouca distância pode ter sido uma canseira (quantas vezes!), principalmente quando havia que arranjar a música pedida pelos ouvintes e era só correr uns minutos para a levar ao estúdio, pressa e preocupação que crescia quando se tratava de substituir algum programa da grelha. , mas foi indubitavelmente um benefício muito enriquecedor para a vida futura.
Ganhámos e aprendemos a ter muitos amigos, alguns dos quais já não estão entre nós, mas a sua presença ficará sempre ligada a muitas horas de convívio e cultura, de dia ou de noite, quantas vezes em horas menos próprias, mas que nos enriqueceram imenso com a troca de experiências e saberes entre todos.
A rádio foi, é e será sempre isso.
Parabéns!
Hélder Ramos