A ria é sempre um desafio
Hoje saí de casa porque tinha de ser. O confinamento dá cabo de nós, por muito que gostemos de estar em casa a saborear silêncios e a alimentar o espírito com leituras e conversas despretensiosas, daquelas até de animar quem está na mesma situação, especialmente os da minha geração, mas não só.
Quase não me aguentava em pé, com a cabeça desequilibrada e as pernas trôpegas. Não caí, mas pouco faltou e o cansaço não deu tréguas à minha vontade de respirar o ar da maresia, debaixo de um sol escaldante. Cheguei à conclusão de que tenho (teremos) mesmo de arriscar, desafiando o receio da pandemia que teima em avassalar a nossa liberdade de andar, de olhar e de conviver à distância de uns dois metros com máscaras a despersonalizar-nos.
Passei por uns amigos que me saudaram... mas até parece que nem nos conhecíamos. E não conhecemos mesmo durante uns breves segundos. De máscaras, todos os gatos são pardos. Os amigos nem se identificam à primeira. Falta de treino de quem está confinado, como eu, pelas paredes da minha casa e pelos muros do meu quintal. Vou passar a sair com mais frequência, porque a vida tem de ser mesmo vivida, como sempre ouvi dizer. E é verdade.
Ofereço aos meus leitores, com amizade, alguns registos do que vi à distância de um clique.
Fernando Martins