segunda-feira, 6 de julho de 2020

José Régio - Toada de Portalegre



Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Morei numa casa velha, 
Velha, grande, tosca e bela, 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela... 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, 
– Quis-lhe bem como se fora 
Tão feita ao gosto de outrora 
Como ao do meu aconchego. 
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada 
De montes e de oliveiras 
Do vento soão queimada 
(Lá vem o vento soão!, 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão...) 
Em Portalegre, dizia, 
Cidade onde então sofria 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for, 
Na tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela, 
Tinha, então,
Por única diversão, 
Uma pequena varanda 
Diante de uma janela. 
Toda aberta ao sol que abrasa, 
Ao frio que tolhe, gela, 
E ao vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda 
De redor da minha casa, 
Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos e sobreiros, 
Era uma bela varanda, 
Naquela bela janela! 
Serras deitadas nas nuvens, 
Vagas e azuis da distância, 
Azuis, cinzentas, lilases, 
Já roxas quando mais perto, 
Campos verdes e amarelos, 
Salpicados de oliveiras, 
E que o frio, ao vir, despia, 
Rasava, unia 
Num mesmo ar de deserto 
Ou de longínquas geleiras, 
Céus que lá em cima, estrelados, 
Boiando em lua, ou fechados 
Nos seus turbilhões de trevas, 
Pareciam engolir-me 
Quando, fitando-os suspenso 
Daquele silêncio imenso, 
Eu sentia o chão a fugir-me, 
– Se abriam diante dela 
Daquela 
Bela 
Varanda 
Daquela 
Minha 
Janela, 

Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Na casa em que morei, velha, 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, 
À qual quis como se fora 
Tão feita ao gosto de outrora 
Como ao do meu aconchego... 
Ora agora, 
Que havia o vento soão 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão, 
Que havia o vento soão 
De se lembrar de fazer? 
Em Portalegre, dizia, 
Cidade onde então sofria 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for, 
Que havia o vento soão 
De fazer, 
Senão trazer 
Àquela 
Minha 
Varanda 
Daquela 
Minha 
Janela, 

O testemunho maior 
De que Deus 
É protector 
Dos seus 
Que mais faz sofrer? 
Lá num craveiro, que eu tinha, 
Onde uma cepa cansada 
Mal dava cravos sem vida, 
Poisou qualquer sementinha 
Que o vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda, 
Achara no ar perdida, 
Errando entre terra e céus..., 
E, louvado seja Deus!, 
Eis que uma folha miudinha 
Rompeu, cresceu, recortada, 
Furando a cepa cansada 
Que dava cravos sem vida 
Naquela 
Bela 
Varanda 
Daquela 
Minha
Janela

Da tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela... 
Como é que o vento soão 
Que enche o sono de pavores, 
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados, 
E atira aos desesperados 
A corda com que se enforcam 
Na trave de algum desvão, 
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria 
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for, 
Me trouxe a mim essa esmola, 
Esse pedido de paz 
Dum Deus que fere ... e consola 
Com o próprio mal que faz? 
Coisas que terei pudor 
De contar seja a quem for 
Me davam então tal vida 
Em Portalegre; cidade 
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Me davam então tal vida
– Não vivida!, mas morrida 
No tédio e no desespero, 
No espanto e na solidão, 
Que a corda dos derradeiros 
Desejos dos desgraçados 
Por noites do tal soão 
Já várias vezes tentara 
Meus dedos verdes suados... 
Senão quando o amor de Deus 
Ao vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda, 
Confia uma sementinha 
Perdida entre terra e céus, 
E o vento a traz à varanda ~
Daquela 
Minha 
Janela

Da tal casa tosca e bela 
À qual quis como se fora 
Feita para eu morar nela! 
Lá no craveiro que eu tinha, 
Onde uma cepa cansada 
Mal dava cravos sem vida, 
Nasceu essa acaciazinha 
Que depois foi transplantada 
E cresceu; dom do meu Deus!, 
Aos pés lá da estranha casa 
Do largo do cemitério, 
Frente aos ciprestes que em frente 
Mostram os céus, 
Como dedos apontados 
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens, 
Se a alma lhe não secou, 
A tudo transfere a esperança 
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais, 
De humanizar coisas brutas, 
E ter criancices tais, 
Tais e tantas!, 
Que será bom ter pudor 
De as contar seja a quem for! 
O amor, a amizade, e quantos 
Sonhos de cristal sonhara, 
Bens deste mundo, que o mundo 
Me levara, 
De tal maneira me tinham, 
Ao fugir-me, 
Deixando só, nulo, atónito, 
A mim que tanto esperava 
Ser fiel, 
E forte, 
E firme, 
Que não era mais que morte 
A vida que então vivia, 
Auto-cadáver... 
E era então que sucedia 
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada 
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros, 
Aos pés lá da casa velha 
Cheia dos maus e bons cheiros 
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória 
De antigas gentes e traças, 
Cheia de sol nas vidraças 
E de escuro nos recantos, 
Cheia de medo e sossego, 
De silêncios e de espantos, – A minha acácia crescia. 
Vento soão!, obrigado 
Pela doce companhia 
Que em teu hálito empestado, 
Sem eu sonhar, me chegava!
E a cada raminho novo 
Que a tenra acácia deitava, 
Será loucura!..., mas era 
Uma alegria 
Na longa e negra apatia 
Daquela miséria extrema Em que vivia, 
E vivera, 
Como se fizera um poema, 
Ou se um filho me nascera.

In "FADO"

José Régio


Nas buscas do confinamento, achei hoje a foto que regista a minha passagem pela Casa do Poeta José Régio, em Portalegre, onde foi professor do Liceu. A Casa do Poeta não era um museu tradicional com peças expostas ao jeito museológico. Era, sim, um autêntico armazém de tudo o que o poeta foi encontrando e adquirindo, com predominância de Cristos. 
A cicerone, simpática, lá nos foi explicando o que estava à vista, mas o que mais me marcou foi o original da Toada de Portalegre, pousada na escrivaninha alta para o escritor se manter de pé ou sentado em banco alto, precisamente ao lado da janela "toda aberta ao sol"que o inspirou. Ficou-me para a vida. 

F. M. 

Felicidade



"Ninguém é dono da sua felicidade, 
por isso, não entregue sua alegria, 
sua paz e a sua vida nas mãos de ninguém, 
absolutamente ninguém!" 

Aristóteles, 
filósofo grego (300 anos A.C.)

Ria de Aveiro na literatura

Ribeiro Couto 
terá estabelecido relações literárias 
com Mário Sacramento 



RIA DE AVEIRO

Na ria de Aveiro
Quero um pequenino
Barco moliceiro.
Também sou menino.

Na ria de Aveiro
Podeis vir comigo,
Barco moliceiro
Nunca tem perigo.

Nunca se naufraga
Na ria inocente:
Da crista da vaga
Vêm braços à gente.

Quer vão ao moliço,
Quer soltem as redes,
O mar é submisso
Aos barcos que vedes.

Brancas, amarelas,
Na ria de Aveiro
Se espalham as velas:
Brinquedo ligeiro.

Também sou menino,
Ó moças de Aveiro!
Dai-me um pequenino
Barco moliceiro.

RIBEIRO COUTO
1944

Ribeiro Couto (1898-1963) terá passado por Aveiro em 1944 – pelo menos é essa a data do seu poema –, onde se deixou cativar pela graça quase alada dos barcos moliceiros. Caso Curioso, na mesma época estabeleceria relações de Índole literária com Mário Sacramento.“Aveiro e o seu Distrito”, n.º 20, Dezembro de 1975

Helder Pitarma Felgas recordado por amigos

Celebração  no Cemitério da Gafanha da Nazaré, 
dia 13 de Julho, 
14h30



Caros Amigos, conterrâneos e contemporâneos! 

Um grupo de Amigos do Helder Manuel Pitarma Felgas, na proximidade, da passagem dos 50 anos do falecimento (13 de Julho 1970-2020), em Pirada-Guiné, aquando do Serviço Militar nesta ex-Colónia Portuguesa, vem convidar todos aqueles que queiram e possam associar-se, com a sua presença, à Celebração que vai ter lugar no Cemitério da Gafanha da Nazaré, no próximo dia 13 de Julho, pelas 14h30. 
A Celebração vai ser presidida pelo nosso Pároco - Sr. Pe. César Fernandes, que com o Helder tinha(tem) uma coisa em comum, a saber: ambos da mesma família - Paraquedista! O Sr. Pe. César é Ex-Capelão Militar, com a patente de Tenente-Coronel Paraquedista. Em nome de todos os Amigos do Helder, queremos aproveitar para agradecer a disponibilidade do Sr. Pe. César, pois desde o primeiro momento abraçou a causa e disponibilizou-se, apesar de não conhecer o Helder, nem a sua Família. Muito obrigado, desde já, em nome de todos os Amigos! 
A Cerimónia consta do seguinte: 

Fanático, Idiota, Cobarde

"Quem não quer pensar, é fanático; 
quem não pode pensar pensar, idiota; 
quem não ousa pensar, um cobarde"

Francis Bacon (1561-1626), 
filósofo e ensaísta inglês

Em Escrito na Pedra de o PÚBLICO de hoje

Mário Sacramento - Um político inteiro


domingo, 5 de julho de 2020

Açores: São Miguel - Ribeira Grande

O antigo bem tratado

Asseio e limpeza

Espaço aberto e livre

A Ribeira com pouca água mas ornamentada

Para uma visita aberta a quem sabe apreciar o cuidado que há nas ruas e casario. E ainda o silêncio que tranquiliza quem ali vive e para quem  visita os Açores. Uma sugestão de férias tranquilizadoras. 

"ZÉ Rito" vence regata dos moliceiros


«Velas ao vento! Realizou-se, ontem, mais uma edição da Grande Regata de Moliceiros, que, ligando a Torreira a Aveiro, reforçou a promoção da identidade regional e do turismo com base na memória das tradicionais embarcações.
Com um tempo na ordem de uma hora e cinco minutos, o vencedor foi o moliceiro “Zé Rito”, do arrais José Maria Vieira. Em 2.º lugar ficou “Ferreira Nunes”, de António Nunes, e o último lugar do pódio foi ocupado por “O Conquistador”, de Domingos Cunha.
Assinale-se ainda o 4.º lugar de “Um Sonho”, embarcação de José Lopes, e o 5.º do moliceiro da Câmara Municipal da Murtosa, sob o comando do mestre Jorge Vieira. A competição de 2020 foi disputada por dez grandes embarcações e por duas pequenas, sendo que apenas um barco não conseguiu chegar ao destino.
O jovem [de 27 anos] Bruno Dias, da Glória, em Aveiro, participou pela primeira vez na regata, como tripulante do vencedor “Zé Rito”. “Sempre engracei com isto dos moliceiros”, salientando que aproveitou a oportunidade que lhe surgiu para comprar uma destas embarcações. É um apreciador do carácter tradicional destes barcos e projecta horas de muito lazer a navegar.»

Texto e foto do Diário de Aveiro

Será possível a reforma na Igreja?

Crónica de Bento Domingues 


"É revelador o desconforto que as abertas entrevistas e declarações de D. José Ornelas, bispo de Setúbal, estão a provocar em certos meios católicos, quando, de facto, se inserem no mais genuíno espírito do Vaticano II"

1. O grande acontecimento na Igreja Católica, no século XX – e sem o qual seria impensável o Papa Francisco no século XXI – foi o Concílio Vaticano II (1962-1965). O próprio general De Gaulle considerou-o o maior acontecimento do século. O secretário-geral da ONU, Charles Malike, acrescentou: “Talvez o maior acontecimento de vários séculos.”
O Concílio Vaticano I (1869-1870), convocado por Pio IX, num clima de enfrentamento com o mundo moderno e de conflitualidade com os Estados soberanos europeus, teve de ser encerrado devido à ocupação de Roma pelas tropas de Garibaldi.
Como nessa Assembleia tinha sido proclamada a infalibilidade do magistério papal, segundo condições muito precisas, não faltava quem julgasse que, doravante, um concílio era dispensável: o Papa podia falar e decidir por todos.
Essa posição denunciava uma eclesiologia simplista e falta de inteligência acerca do que significa e representa um concílio. Revelava uma concepção mecânica da vida da Igreja e da própria fé.

sábado, 4 de julho de 2020

Os irmãos Serafim

José Maria e Manuel 

Em maré de recordações, evoco hoje os irmãos Serafim, o José Maria e o Manuel, de cuja amizade me orgulho e com quem já não converso há uns tempos. Gente boa, como se diz na Gafanha, cruzei-me com ambos em circunstâncias diversas, apreciando neles qualidades de fidelidade a princípios sãos, abertos ao diálogo, simpáticos por natureza, conversadores sem fastio, amigos dos seus amigos e solidários com toda a gente. 
Os irmãos Serafim cultivam a arte e o gosto  pela música, atuando sempre que solicitados, quer ao serviço da comunidade, em geral, quer de diversas instituições, em particular. Este prazer pela música traduz uma sensibilidade enorme, já que, tanto quanto sei, são autodidatas. O Manuel tem ainda uma paixão especial pelo colecionismo de antiguidades que seleciona com saber e apurada atenção. 
Vem esta referência a propósito de ter encontrado, neste tempo de confinamento, a foto que partilho aqui e agora. O confinamento, aliás, tem de ser aproveitado sadiamente. 
Um abraço para o José Maria e para o Manuel, com votos de muita saúde e otimismo. 

F. M. 

Tolentino Mendonça no "Jornal de Letras"

Cardeal Tolentino de Mendonça 
e José Carlos Seabra Pereira 
no “Jornal de Letras”




O cardeal José Tolentino de Mendonça, primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, é a figura de capa da mais recente edição do “Jornal de Letras” (JL), que lhe dedica oito páginas, a que se acrescenta o destaque dado ao atual responsável, José Carlos Seabra Pereira.
«A qualidade e repercussão da intervenção de José Tolentino de Mendonça na comemoração do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, e a sua distinção como o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, vieram de novo chamar a atenção para uma rara personalidade da cultura e da literatura, do pensamento e da Igreja em Portugal», acentua, no editorial, o diretor do quinzenário.
Nenhuma das vertentes que caracteriza o arquivista e bibliotecário da Santa Sé se sobrepõe, «antes mutuamente se enriquecendo e completando, constituindo um todo harmónico, fortalecido e valorizado pela forma de ser e de estar da pessoa, do cidadão», assinala José Carlos Vasconcelos, que conclui com um excerto das «belíssimas palavras» proferidas, no mosteiro dos Jerónimos, no Dia de Portugal.
«Toda a sua vida tem sido navegação», aponta o título do texto redigido pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que salienta: «O acolhimento de que goza, nos vários leitores e auditórios, confessionais ou não, advém-lhe certamente da forma, que é apurada e luminosa. Mas principalmente da maneira como ouve, da interrogação que induz e do horizonte que abre. Cultura é cultivo, sementeira, para um fruto que virá depois, surpreendente».

Ler mais no no site da Pastoral da Cultura

Desconfinar a Igreja. 2

Crónica de Anselmo Borges 


Igreja de saída

1. Quem está interessado na Igreja, seja por razões de fé, religiosas, ou simplesmente históricas, é com certeza assaltado pela pergunta: o que se passa? De facto, os dados estão aí, clamorosos. Concretamente na Europa e em países como a França, a Espanha, os Países Baixos, a própria Irlanda, para não falar na República Checa, onde 80% dos habitantes se confessam ateus, a prática religiosa cai vertiginosamente, sobretudo entre os jovens, sendo dramática de ano para ano a diminuição do número de baptismos, de casamentos..., os seminários esvaziam-se, o clero envelhece... 
O que se passa? Há razões exteriores à Igreja e outras de que ela própria é responsável. Vivemos numa sociedade que vive da imediatidade e do prazer, num consumismo devorador, que afastou do seu horizonte as perguntas essenciais, metafísico-religiosas, menosprezando a questão do sentido, do sentido último, esperando fundamentalmente respostas da tecnociência e das novas tecnologias. Mergulhados no mundo da imanência, a transcendência desaparece. 
Mas as responsabilidades da própria Igreja não podem ser ignoradas. Como é patente a quem não queira fugir à verdade e à lucidez. A fé viva começa sempre com uma experiência de encontro. Jesus fez uma experiência avassaladora de Deus como Pai-Mãe, amor incondicional.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

A pestilência lagunar de 1755

Senos da Fonseca
«O actual estado pandémico, esta mortandade todos os dias antevista e logo amanhã, dolorosamente assumida, esta permanente vizinhança com o vírus letal, para nós se.... ou para um qualquer próximo, a impotência para dominar a onda invasora viral, não pode deixar de trazer à colação, e relembrar, a pestilência lagunar de 1755. 
Provavelmente, as comunidades hoje alapadas à beira da Laguna, desconhecerão o então sucedido, com uma dimensão trágica, proporcional, muito superior ao actual ataque covidiano. 
Vamos pois, em breves palavras, rememorá-la no essencial.» Começa assim o texto que Senos da Fonseca escreveu no seu blogue, que foi transcrito pela revista BORDO LIVRE do Clube de Oficiais da Marinha Mercante. É óbvio que a “pestilência lagunar de 1755” não será conhecida de muitos portugueses, em geral, e de muitos aveirenses, em particular, mas é facto que dizimou imensa gente, deixando dramáticos rastos na história regional, com registos dolorosos... 
Aconselho, pois, a leitura do texto de Senos da Fonseca no seu blogue TERRALAMPADA. 

Oração de Jesus: Eu Te bendigo, ó Pai

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIV do Tempo Comum

(foto da rede global)
"Temos de encontrar novas linguagens; 
este tempo é um laboratório."

Jesus percorre aldeias e cidades para ensinar e pregar reino de Deus. Está no início da missão. Que sentimentos e sonhos alimentaria! Os ouvintes reagem de modos diferentes: Uns, como as crianças que se divertem na praça pública, como povo infantil; outros, como fariseus rígidos nas suas convicções e intolerantes; outros ainda, como um “resto” fiel, aberto à novidade de Deus e confiante na realização das promessas feitas.
Perante esta diversidade, Jesus não se lamenta nem reage com aspereza, mas adverte com seriedade e faz uma oração de bênção a Deus Pai, exclamando: “Eu Te bendigo, ó Pai…”, oração que apresenta uma leitura da situação e abre horizontes de esperança para o futuro enraizado no presente. Mt 11, 25-30. Oração que vamos meditar, procurando lançar a sua luz no tempo de pandemia que vivemos.
“Eu Te bendigo, ó Pai” porque deste a conhecer o teu projecto de amor a todos e queres realizá-lo com a cooperação de cada um; confirmaste esta decisão de muitos modos ao longo da história, mas agora por meio da missão que me confiaste e, a partir de mim, àqueles que escolhi – os meus discípulos e seus sucessores; abençoaste a minha preferência pelos pequeninos do reino, pelos mansos e humildes de coração.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Praia no fim de semana

Na praia do Farol. Foto de uma história com graça 

Tudo indica que vamos ter um fim de semana à moda do Verão, com temperaturas a condizer e sem chuva. Será um convite à descontração nas praias portugueses, de Norte a Sul, sem esquecer as praias fluviais um pouco por todo o lado. Portugal é rico em praias, já toda a gente sabe, pelo que nos podemos orgulhar disso, aproveitando os benefícios que resultam de uma vida ao ar livre. 
Não sendo muito dado a praias, de vez em quando também as visito. 
Todos sabemos que as regras impostas pela presente pandemia têm de ser cumpridas e aconselhadas aos mais descuidados. Isto de aconselhar é importante, mas o mais frutuoso será o bom exemplo de cada um. Então, daqui vão os meus votos de bom fim de semana, com ou sem praia.


A pureza da flor para este dia



Uma flor, de cores suaves, é sempre uma forma de nos prepararmos para aceitar um novo dia com todas as emoções que surgem de mansinho. As boas dão-nos vida; as menos boas serão um desafio à nossa imaginação para a luta do dia a dia.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Quantos são os nossos antepassados?

Veja que interessante, 
a quantidade dos nossos antepassados:


Pais: 2
Avós: 4
Bisavós: 8
Trisavós: 16
Tetravós: 32
Pentavós: 64
Hexavós: 128
Heptavós: 256
Octavós: 512
Eneavós: 1024
Decavós: 2048

Num total de 11 gerações, 4094 ancestrais. Isto tudo em, aproximadamente, 300 anos antes de nascermos! Se somarmos 20 gerações, nosso ancestrais somam mais de 1 milhão de pessoas!
Pare por um instante e pense!

De onde vieram?
Quantas lutas travaram?
Por quanta fome passaram?
Quantas guerras viveram?
Por quantas vicissitudes todos nossos antepassados sobreviveram?
Por outro lado, quanto amor, força, alegrias e estímulos nos legaram?
Quanto de sua força para sobreviver, cada um deles teve dentro de si para que, hoje, nós estejamos aqui, vivos?
Nós só existimos graças a tudo o que cada um deles passou.
Portanto, curve-se e reverencie seus antepassados!
Tenha gratidão a todos os nossos ancestrais, pois, sem eles, cada um de nós não teria a felicidade de conhecer a VIDA!

(Autor desconhecido)

Li aqui 

AMÁLIA

Se fosse viva, completaria hoje 100 anos. Nasceu, efetivamente, em 1 de Julho de 1920, mas foi registada no Fundão em 23 do mesmo mês e ano. Faleceu em 6 de Outubro de 1999 em Lisboa e está sepultada no Panteão Nacional, ocupando um lugar para a posteridade, ao lado de outros que, como ela, dignificaram a cultura portuguesa.
Considerada a Rainha do Fado, Amália Rodrigues está na memória de muitos portugueses, bem como de povos das mais diversas nacionalidades, para quem cantou nos múltiplos espetáculos em que participou. 
A sua extraordinária voz, à qual associou um estilo expressivo e único, espalhou pelo mundo alguns dos maiores poetas portugueses, nomeadamente, Camões, David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, Ary dos Santos, Alexandre O'Neill e Manuel Alegre. E o fado, canção típica de Lisboa, foi ouvido e entendido em castelhano, galego, francês, italiano e inglês. 
Evoco-a hoje com esta breve nota, depois de ouvir uns CD em sua memória. 

F. M.

NOTA: Foto da rede global

terça-feira, 30 de junho de 2020

A festa dos Grandes Veleiros



Com a pandemia, limitadora das nossas liberdades para bem de todos, em toda a parte do mundo, não haverá tão cedo uma festa como a que nos foi proporcionada com a estadia dos Grandes Veleiros no Porto de Aveiro, mesmo ao lado das portas dos gafanhões. Vistosos, enfeitados, com a alegria contagiante dos marinheiros e abertos para visitas, os Veleiros deixaram marcas no rol das nossas boas recordações.

FESTA NA RIA – Regata dos moliceiros


No próximo fim de semana, a Ria de Aveiro vai estar em festa com a Grande Regata dos Moliceiros, uma iniciativa da CIRA (Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro). Este evento, emblemático da laguna aveirense, pretende dar a conhecer “riqueza do território na suas mais diversas expressões”, já que o turismo sai naturalmente enriquecido, lê-se no comunicado daquela comunidade, que abrange 11 municípios. 
A festa é constituída, essencialmente, pela partida dos  moliceiros inscritos, na Torreira, no sábado, 3 de Julho, pelas 15.30 horas, estando prevista a chegada por volta das 17 horas, nos canais urbanos de Aveiro. 
A regata pode ser vista das margens da laguna aveirense, em zonas adequadas.

Ler mais aqui

Caldeira no Forte da Barra




Sou deste tempo, sim senhor. Recordo perfeitamente a caldeira e o pavilhão para proteger algumas embarcações. Também recordo os trabalhadores que nas barcaças transportavam as lamas ou lodos que as dragas arrancavam do leito da laguna. Nas margens, cada trabalhador tinha de descarregar a barcaça à pazada. Corpos e roupas pretos ao jeito de quem mergulhava na lama. Trabalhos duros e sujos que a nossa juventude nem imagina. Trabalhos de escravos em pleno século XX.

Fonte: JAPA

segunda-feira, 29 de junho de 2020

A Arte da Xávega


A Arte da Xávega, que muitos conhecem pela utilização de juntas de bois que puxam a rede para a praia, não começou assim. O padre João Rezende diz, na sua Monografia da Gafanha, que “Até cerca de 1887 estava ainda em uso o processo de pesca no mar pelo arrasto ao cinto, que consistia em cada um dos pescadores prender, por uma laçada especial, a corda do cinto às duas cordas especiais da rede (o rossoeiro e a corda barca) e assim ligados, ou atrelados se quiserem, arrastarem a rede para fora da pancada do mar.” Diz o mesmo autor que foi Manuel Firmino, proprietário de companhas e político de Aveiro, quem primeiro substituiu, naquele ano, o arrasto ao cinto pela tracção do gado bovino.

Nota: Foto da rede global

Feliz és tu, Simão Pedro

Reflexão de Georgino Rocha 
para a festa de São Pedro e São Paulo, 
Apóstolos - 29 de Junho

Jesus declara feliz Simão Pedro pela resposta dada à pergunta que havia feito ao grupo dos apóstolos: “E vós quem dizeis que Eu sou?” Espontâneo e emotivo, diz sem hesitação: “Tu és o Messias, o filho de Deus vivo”. Jesus acolhe esta resposta que o identifica na sua realidade mais profunda, revela que Pedro foi agraciado por uma revelação especial de Deus Pai e anuncia a nova identidade que ele viria a assumir na Igreja encarregada de propor a verdade, de estabelecer laços de comunhão, de ser pedra sólida na construção de uma nova civilização - a do amor.
A missão de Pedro emerge da identidade de Jesus Cristo e configura-se no seio de uma Igreja marcada pela fidelidade e responsável pelo testemunho coerente e oportuno. Assente nos seus traços principais, a missão de Pedro e dos papas, seus sucessores, tem procurado, ao longo da história, a melhor forma de levar à prática o exercício desta missão. Nem sempre fácil, como demonstram os factos. Mas a harmonia na comunhão e o respeito pelas diferenças legítimas são sempre desejados e, ultimamente, foram expressos como “pedido” oficial ardente por João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

domingo, 28 de junho de 2020

Responsabilidade ética das religiões

Crónica de Bento Domingues 

"O apelo ao diálogo inter-religioso é fundamental, mas no pressuposto de se tratar, verdadeiramente, de religião e quando os interlocutores consentem nesse caminho."

1. Jean Druel é um dominicano francês, especialista da patrística copta, da língua árabe, da gramática árabe medieval e director do conceituado IDEO – Instituto Dominicano de Estudos Orientais do Cairo (Egipto), onde vive. Com esta apresentação, podia dar a ideia de uma pessoa confinada na investigação científica, a escrever só para especialistas. Mas não. Tornou-se um conferencista muito escutado e passou a escrever livros breves, de vários géneros, para mostrar que a vida diária, carnal, intelectual, sexual, afectiva, social, cultural, desportiva, literária, musical é o verdadeiro e concreto espaço de Deus connosco. É no Seu insondável mistério que vivemos, nos movemos e existimos.
Nessa nova biblioteca, publicou uma deliciosa introdução aos princípios do diálogo inter-religioso, fruto da sua longa experiência de diálogo com o mundo muçulmano. Recomendo-o vivamente. A escuta paciente das raízes das diferenças é a boa regra para viver no seio dos conflitos que habitam todos os aspectos da vida, a começar pela vida familiar [1].

Poesia


"A história provou a capacidade demolidora da poesia 
e nela me refugio incondicionalmente"

Pablo Neruda (1904-1973), poeta

Publicado hoje no PÚBLICO, 
em Escrito na Pedra

Quase simetria

Jardim 31 de Agosto na Gafanha da Nazaré

Quase simetria para quem gosta de algum equilíbrio na vida. Votos de excelente domingo com sol que já  aquece o corpo e a alma.

A minha aldeia

Um poema de António Gedeão
para este domingo

Marina do Forte da Barra - Gafanha da Nazaré
Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence. 

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões. 

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valência de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.

António Gedeão


NOTA - Durante a arrumação de papéis e livros encontrei este poema num caderninho (6 Poemas de António Gedeão) oferecido pelo PÚBLICO, provavelmente em 1995. Aqui o partilho em homenagem a um grande poeta. 

sábado, 27 de junho de 2020

Aldeia abandonada...

Aldeia do Caramulo

Estávamos longe da crise que presentemente vivemos, envolvidos pelo mistério do seu fim ou do início do recomeço sem temores, quando registei a minha passagem pelo Caramulo em férias. A aldeia, cujo nome não consegui averiguar, dá sinais de ter sido abandonada, decerto por outras crises de que pouco se fala. Crises de desemprego, de vontade de mudar de vida, porventura de fome, de aventura com sonhos de um futuro melhor. Ali abundava em sossego o que faltava na mesa do dia a dia. O nosso interior oferece belezas ímpares sob vários pontos de vista. Porém, não consegue esconder o atraso a que foi votado durante séculos. O progresso estabeleceu-se no litoral, onde o mar convida a outros desafios.

F. M.

Desconfinar a Igreja. 1

Crónica de Anselmo Borges 

Chegam-me vozes a cantar esperança no novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, bispo de Setúbal. Eu próprio disse a Natália Faria, do Público, quando imediatamente a seguir à eleição me perguntou se a sua escolha constituía garantia de rejuvenescimento: “Neste momento em que, no meu entender, a Conferência Episcopal precisa de um novo impulso, ele será capaz de assegurar o rejuvenescimento necessário. Trata-se de uma figura destacada do ponto de vista intelectual, e, por outro lado, dedicado aos outros e à sociedade. E tem uma gigantesca experiência internacional.” Tendo vivido em Roma como superior-geral dos padres dehonianos, presentes em 38 países, conhece o que se passa também no Vaticano e, sobretudo, vive o espírito do Papa Francisco. Anima-o o desprendimento pessoal e uma “Igreja em saída”, em desconfinamento, no sentido do abandono de estruturas de poder medieval, como insiste Francisco. 
Quando se lê a sua primeira longa entrevista, ao jornal Público, as esperanças não são defraudadas. Pelo contrário. As suas declarações têm duas vertentes: uma ad intra, para dentro da própria Igreja; a outra ad extra, para fora, para a sociedade em geral, como voz político-moral. 
Declarações ad intra. 

Museu de Ílhavo volta a navegar

Museu Marítimo de Ílhavo 
reabre em 1 de Julho


«Depois de um período de "capa", o Museu volta a "navegar" em segurança, a partir de 1 de julho. A pandemia Covid-19 trouxe novas formas de estar e de conviver nos espaços públicos e no Museu Marítimo de Ílhavo a prioridade, após a reabertura, será também a segurança de todos os visitantes e colaboradores. Para isso, há um conjunto de normas para poder "embarcar".»

Há garantias de que não haverá  perigo, se todos respeitarem as normas estabelecidas para evitar o contágio do Covid-19. 

Ver horário aqui 

sexta-feira, 26 de junho de 2020

A Igreja e a cultura


Painel da Igreja de São Jacinto/Nossa Senhora das Areias. 
Design de Jeremias Bandarra; Execução cerâmica de Zé Augusto

O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, afirmou,  no ciclo “Espiritualidade, Arte e Poesia”, a decorrer até 9 de Julho,  por videoconferência, que,  “Por vezes pensa-se que a Igreja, se não é hostil à cultura, pelo menos é indiferente, quando é o contrário: a Igreja foi sempre não só favorável à cultura, como a promoveu e a foi sustentando ao longo dos séculos».
Qualquer catedral, sé, igreja simples, ornamentação, música, escultura, poema e outros sinais de espiritualidade e  arte de expressão cristã retratam a componente cultural do catolicismo através dos séculos. 

Ler mais aqui 

Sísifo



Sísifo

Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

Miguel Torga, Diário XIII.

Livres para seguir Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o XIII Domingo do Tempo Comum

"Seguir Jesus em tempos de pós-pandemia é evitar desigualdades gritantes" 

Jesus termina, segundo Mateus, o discurso da missão com uma série de exortações, de que se destaca a liberdade. A expressão “quem quer”, usada várias vezes, indica bem o sentido do seguimento. A liberdade de escolha traduz-se em preferência radical. Antepor Jesus a tudo, mesmo o mais querido ao coração humano, designadamente pai ou mãe, filho ou filha. Seguir Jesus é deixar-se envolver pelo seu amor e, assim, revigorado impregnar todas as acções pessoais e todas as relações humanas, religiosas e sociais. É tomar a cruz da vida e aceitar consumi-la, como a vela acesa, e perdê-la como na morte por martírio portadora de sementes da ressurreição.
“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim”. E o Papa Francisco comenta: “O afeto de um pai, a ternura de uma mãe, a amizade meiga entre irmãos e irmãs, tudo isto sendo muito bom e legítimo, não pode ser anteposto a Cristo. Não significa que Ele nos quer sem coração ou privados de reconhecimento, pelo contrário, mas que a condição do discípulo requer uma relação prioritária com o mestre…. Talvez a primeira pergunta que devemos fazer a um cristão seja: Mas tu encontras-te com Jesus? Tu rezas a Jesus?”

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Dia do Marinheiro


Sagres - Símbolo da nossa tradição marítima

Arte da Xávega - Vagueira
Porto de Pesca Longínqua - Gafanha da Nazaré

Celebra-se hoje, 25 de Junho, o Dia do Marinheiro, também denominado Dia da Gente do Mar, criado pela Organização Marítima Internacional e oficializada pela ONU. Pretende-se homenagear todos os marinheiros, navegadores e trabalhadores marítimos do mundo, mas também  para mostrar como todos  são importantes para o progresso da humanidade. 
Como terra de marinheiros e de gente que do mar vive e dele depende, direta ou indiretamente, este dia poderia ser evocado e celebrado de forma mais sentida e contagiante. Como o mar é palco de muitas aventuras e de sonhos sem limites, aqui deixo, como filho de marítimo e como gafanhão, a todos uma saudação muito amiga. 

Fernando Martins

A Nina



OS GATOS

Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem

Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa

Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
e compassivo o deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos

Manuel António Pina

NOTA: A Nina, a nossa gata, tem carta branca para cirandar pela casa e arredores. Um pouco vadia, ou não fosse essa a sua origem, gosta de dar as suas voltas pelo quintal, mas regressa sempre. Dorme bem, que os gatos, pelos vistos, são dorminhocos, e quando acorda aprecia a companhia das pessoas, mantendo um silêncio misterioso. Hoje, depois do passeio matinal, procurou-me no sótão. Olhou-me fixamente, talvez a tentar descobrir o meu estado de espírito neste tempo frescote e de confinamento, e desandou para a janela. Olhou a paisagem, mirou quem passava, voltou-se para mim e deu-me ordens para lhe tirar o retrato. E como não sou poeta, lembrei-me deste poema de António Pina que diz tudo o que eu não seria capaz de dizer.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Lotação das nossas praias

Agência Portuguesa do Ambiente 
decide lotação das praias 
do concelho de Ílhavo

Praia da Meia Laranja - 2300 pessoas 
Praia da Barra - 11 800 pessoas 
Praia da Costa Nova - 11 000 pessoas 
Praia do Oudinot - 400 pessoas 

Árvore parada



Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria,

no livro POESIA

terça-feira, 23 de junho de 2020

Romaria ao São João

Neste dia, há 13 anos, 
alinhavei as notas que republico,
pela sua oportunidade 
São João, painel cerâmico
Capela de São João na Praia da Barra

Fogueiras,  promessas, cravos, sardinha

Hoje vai ser noite de São João, um pouco por todo o lado. Cada terra com seus usos, uns persistentes e outros a caírem com o tempo, famosas são as festas em honra do precursor no Porto e em Braga, para lembrar apenas as mais famosas e cujos ecos chegam até aqui. Mas isso não quer dizer que nas Gafanhas e arredores não haja São João, que esse santo, afinal, porque é um dos três santos populares, não pode ficar esquecido.
Nos meus tempos de menino e moço, o que lá vai há muito, por esta hora era um corrupio de romeiros a caminha da Barra, onde ainda existe a capelinha em honra do santo que baptizou Cristo, para depositarem aos pés do São João os cravos das suas promessas. Das suas promessas, pois claro, pois não é verdade que o santo se encarregava na altura de pedir a Deus que limpasse a pele dos suplicantes dos cravos, ou verrugas, que inexplicavelmente lhes deformavam a derme? Vinham eles (os romeiros, claro), de toda a parte, de perto e de longe, com seus farnéis, em jeito, também, de quem quer inaugurar a época balnear.
Agora já se perdeu esse hábito de vir ao São João em romaria. Os cravos ou verrugas já saem mesmo sem promessas, com um simples e adequado unguento, e até parece que o São João passou à história. E de tal modo assim é que, aquando da criação da paróquia da Praia da Barra, denominada da Sagrada Família, ninguém se lembrou dele para padroeiro daquela terra, a que tantas e tão boas recordações me ligam. Ninguém se lembrou, não! Eu lembrei-me, mas ninguém considerou oportuna a ideia. O São João já não fazia milagres (nem nunca os fez, acrescento eu, que isso é responsabilidade exclusiva de Deus) e portanto está tudo dito.
Ainda havia as fogueiras, em plenas ruas, para queimar o que havia a mais nos quintais. Saltava-se a fogueira entre risadas, cantava-se e dançava-se à roda, até às tantas, passava-se de rua em rua, a ver qual era a maior (seria?), os rapazes decerto para ver as moças e estas à espera deles, sempre sob os olhares curiosos e atentos dos mais velhos, bebiam-se uns copitos e pouco mais.
Agora, a música é outra. Há sardinha e mais sardinha, com boroa, caldo verde e vinho, mas o São João fica esquecido. As tradições, hoje, não são o que eram. Nem têm que ser sempre cópias fiéis de antanho. Respeite-se, no entanto, algo do essencial. O importante é que o povo se divirta, saudavelmente. Com ou sem marchas, com ou sem sardinhas, porque a alegria cura muitos males.

Fernando Martins

Arvoredo com sombras


No parque Infante D. Pedro, em Aveiro, não faltam sombras do arvoredo para podermos sentir a frescura em dias de calor mais forte, se eles vierem, como se espera.

domingo, 21 de junho de 2020

Um Verão tranquilo



Esta minha fotografia não é para servir de modelo ao Verão deste ano, registado para a história como o Verão do coronavírus. É só para lembrar que estamos na estação das praias, desta feita sem os ajuntamentos, como determinam as circunstâncias. Tem havido abusos e as autoridades vão estar atentas, porque o Covid-19 anda por aí a fazer estragos. 
Como regularmente tenciono apresentar mensagens com ares do Verão, lembrei-me de partilhar com os meus amigos esta inquietação motivada por quem ainda não percebeu que a desobediência de alguns pode afetar muita gente. Um Verão tranquilo para toda a gente.

Nota: A partir de hoje, vou passar a escrever os nomes das estações do ano com a primeira letra maiúsculo.

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