Reflexão de Georgino Rocha
para o XIII Domingo do Tempo Comum
"Seguir Jesus em tempos de pós-pandemia é evitar desigualdades gritantes"
Jesus termina, segundo Mateus, o discurso da missão com uma série de exortações, de que se destaca a liberdade. A expressão “quem quer”, usada várias vezes, indica bem o sentido do seguimento. A liberdade de escolha traduz-se em preferência radical. Antepor Jesus a tudo, mesmo o mais querido ao coração humano, designadamente pai ou mãe, filho ou filha. Seguir Jesus é deixar-se envolver pelo seu amor e, assim, revigorado impregnar todas as acções pessoais e todas as relações humanas, religiosas e sociais. É tomar a cruz da vida e aceitar consumi-la, como a vela acesa, e perdê-la como na morte por martírio portadora de sementes da ressurreição.
“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim”. E o Papa Francisco comenta: “O afeto de um pai, a ternura de uma mãe, a amizade meiga entre irmãos e irmãs, tudo isto sendo muito bom e legítimo, não pode ser anteposto a Cristo. Não significa que Ele nos quer sem coração ou privados de reconhecimento, pelo contrário, mas que a condição do discípulo requer uma relação prioritária com o mestre…. Talvez a primeira pergunta que devemos fazer a um cristão seja: Mas tu encontras-te com Jesus? Tu rezas a Jesus?”
A liberdade prolonga-se e aplica-se à hospitalidade e partilha de bens, tão belamente expressas no receber um profeta ou justo, e no dar um copo de água fresca. Quer dizer: A opção do discípulo contagia todos aqueles que beneficiam da sua missão e tudo aquilo que lhe serve de apoio ou está ao seu alcance.
“Pegando no discurso do papa (27 de Março de 2020), observa o cardeal Tolentino de Mendonça, há que dizer a verdade: não é a pandemia que nos adoeceu; nós já estávamos doentes. A pandemia descobriu, revelou, uma doença, que são, no fundo, os nossos estilos de vida, onde já não há lugar para o humano, não há lugar para o encontro, não há lugar para o transcendente, não há lugar para uma vida interior rica, digna desse nome, não há lugar para uma oração. Tudo é cronometrado, tudo passa pelo taxímetro”.
Seguir Jesus em tempo de pandemia em que a esperança ganha força com alguns êxitos alcançados, embora localizados, é assumir uma atitude pessoal de vigilância sobre nós e de defesa dos outros, ser cuidadosos e respeitar as regras estabelecidas pelas autoridades sanitárias, valorizar o que surge e aponta um futuro digno da nossa condição humana, evitar a nostalgia da ordem que provocou esta desordem mundial, solidarizar-se com os que mais sofrem, repartir os seus bens para minorar a fome que se avoluma em tantas partes, talvez à nossa volta, rezar ao Senhor da vida para que os investigadores encontrem meios eficazes de combate à pandemia, designadamente a tão desejada vacina.
Seguir Jesus em tempos de pós-pandemia é evitar desigualdades gritantes e a má gestão dos bens da natureza, fomentar uma nova época de solidariedade em que se reconhece realmente a igualdade de dignidade de cada ser humano, pôr os olhos no Senhor e dar prioridade sempre às pessoas.
Livres para seguir Jesus é ser membro activo da humanidade que se renova como um todo que valoriza cada parte.
Pe. Georgino Rocha