sábado, 10 de outubro de 2020

GAFANHA - Água abençoada



À Gafanha, a Verdemilho, a São Bernardo e à Presa eram os passeios que eu mais preferia nas minhas férias de professor de Coimbra.
Quem me levava sobretudo à Gafanha era a água que, taumaturga por excelência, com o seu contacto, com o seu murmúrio, com as suas frescas exalações, me aquietavam brandamente os nervos, mais ou menos fora do ritmo pela continuidade das excitações académicas; e para tal ela não precisava mais do que duma sessão: à primeira vez era logo.»

D. João Evangelista

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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

D. António Marcelino faleceu há 7 anos

Evocando um bispo dinâmico e interventivo

Na tarde de 9 de Outubro de 2013, faleceu no Hospital Infante D. Pedro D. António Baltasar Marcelino, que foi Bispo de Aveiro. Foi um bispo que muito me marcou. Ordenou-me diácono permanente e convidou-me para tarefas ligadas à informação: coordenador do secretariado diocesano das comunicações  sociais e diretor do semanário "Correio do Vouga". Apreciava nele o dinamismo interventivo e contagiante, a rapidez na forma de agir, a capacidade de decisão e a frontalidade corajosa. 
Talvez por me ter envolvido na comunicação social, tarefas a que me dediquei com entusiasmo, até ao limite das minhas capacidades, partilho hoje, neste meu blogue, um artigo que escrevi sobre a sua ação nesta área, que foi publicado na revista "Praxis"

FELIZES OS CONVIDADOS PARA A CEIA DO SENHOR

Reflexão de Georgino  Rocha 
para o Domingo XXVIII


“Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade” 

Papa Francisco 

A sala enche-se de convidados para a festa nupcial, como narra Mateus na parábola do rei que pretendia celebrar as bodas de casamento do seu filho. (Mt 22, 1-14). Esteve em risco de ficar vazia, contrariando todas as expectativas. Salva a situação, a insistência paciente do pai do noivo que resulta em pleno. O amor desdobra-se em convites, face às recusas recebidas. A lista convencional tem de ser profundamente alterada. Quem, segundo a praxe, estava em primeiro lugar, dá preferência a outros interesses e não quer participar, sobrepõe as preocupações reais ou fingidas, liberta-se de incómodos, dá largas a velhos ressentimentos, exercendo violência e eliminando os portadores do convite. 
Antes da aceitação do convite, havia uma praxe rigorosa. O convidado procurava informar-se, cuidadosamente, sobre os possíveis participantes. A escala social é padrão de referência e introduz níveis de oscilação no apreço e na consideração de cada um. Entre os comensais e entre estes e quem organiza a festa. 
“Os que se negam a ir à boda são gente de alta posição social e de muito dinheiro. Têm «terras» e «negócios», anota José Maria Castillo, Os que entram na boda são gente que não tem nada, os vagabundos dos caminhos. Como rezamos no Pai nosso: «venha o teu Reino». Quer dizer, pedimos-Lhe: Senhor, que esta vida seja um banquete para todos. Como é lógico, os que já estão satisfeitos … querem seguir com os seus privilégios, distinções e distâncias…”. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

LICÍNIO CARDOSO - Ordenado presbítero há 31 anos

Sé de Aveiro 
8 de outubro de 1989

Licínio Cardoso nasceu a 15 de novembro de 1963 na freguesia da Gafanha da Encarnação e foi ordenado presbítero por D. António Baltasar Marcelino a 08 de outubro de 1989, na Sé de Aveiro. Faz hoje, precisamente, 31 anos, razão mais do que suficiente para o saudar de forma especial, estendendo as minhas felicitações aos seus pais e restante família. 
Conheço o Pe. Licínio desde a sua juventude e sempre apreciei as suas capacidades e ações alimentadas pela fé que o anima desde o berço. Habituei-me a sentir quanto e como se envolvia nos projetos abertos às várias faixas etárias pelas quais foi passando, estendendo a sua atenção aos que mais necessitavam da sua ajuda. E também tenho apreciado, sobremaneira, a sua simplicidade, cultura e dedicação à Igreja. 
Esta efeméride leva-me a evocar umas férias que passei com minha esposa em Vilamoura, Algarve, por gentileza de um amigo que já faleceu. A dado passo, ocorreu-me que o Pe. Licínio se encontrava por lá e telefonei-lhe. Tanto bastou para que viesse ao nosso encontro, de bicicleta, para uma simples cavaqueira, que entretanto passou disso. 
De carro, andou a mostrar-nos, de forma até minuciosa, a Quarteira, paróquia da qual fazia parte Vilamoura. E percebemos, nesse deambular, quanto se empenhava nos trabalhos paroquiais, colaborando afincadamente em tarefas da comunidade, nomeadamente, na juventude, na catequese e noutros serviços. Recebidos pelo pároco, compreendemos quanto era estimado e apreciada a sua envolvência, cheia de dinamismo. Nas visitas de reconhecimento, pudemos confirmar que, sem ele, eu e minha esposa ficaríamos a leste da realidade concreta daquela zona turística. 
Nas celebrações da sua ordenação presbiteral, quero felicitá-lo, ao mesmo tempo que elevarei as minhas preces ao SENHOR da vida para que lhe conceda as maiores bênçãos, carregadas de paz e de amor,  que se estendam a quem mais precisa. 

Fernando Martins 

Rei do silêncio

 

"É melhor ser rei do teu silêncio do que escravo das tuas palavras" 

Shakespeare

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

AVEIRO - Duas maneiras de ver


Aveiro, 24 de Maio de 1958 

«Gosto desta terra. Não por se parecer com outras lá de fora com que se não parece, aliás, mas por ser a realidade portuguesa que é — uma originalíssima expressão urbana, ao mesmo tempo firme e movediça, dentro do corpo da pátria, cais de embarque e terreiro de discussão, doce e salgada no sabor, e perpetuamente arejada por uma fresca brisa de maresia e revolta.» (…) 

Miguel Torga 


«(...) Aveiro (…) que te aconteceu entretanto? 
(…) Eras uma vilazinha apenas, perdida nas brumas do passado (…) Como eu, cresces desajeitada e errabunda (…) pões moderno onde devia ser antigo e antigo onde devia ser moderno (...) cintas os novos edifícios escolares de casario que os abafam, coqueteias com um arquitecto francês a perda do teu carácter, ergues altos fornos nas costas da tua sentinela cívica (…) Deliras, ó púbere!» 

Mário Sacramento 


Em “PARA A IMAGEM ANTIGA DE AVEIRO — O POSTAL ILUSTRADO”, Catálogo da Exposição 10-24 de Março de 1984 - ADERAVE

ARES DE OUTONO: Folhas na relva


 O Outono é vaidoso. Gosta de mostrar-se a quem passa. A relva verde é, garantidamente, o melhor cenário. 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

D. Manuel Trindade Salgueiro

Ruas da nossa terra 

 

Manuel Trindade Salgueiro nasceu em Ílhavo a 28 de setembro de 1898. Filho de Américo Trindade Salgueiro e de Maria Pereira de Jesus. Não chegou a conhecer o pai, porque  este foi vítima de um naufrágio,  o que agravou a condição de precariedade em que a família já vivia.  Apesar disso, Manuel Trindade Salgueiro revelou-se um aluno brilhante, ingressando em 1914 no Seminário de Coimbra. 
A 9 de fevereiro de 1921, foi ordenado presbítero e tornou-se professor do Seminário de Coimbra. 
Como reconhecimento do seu brilhantismo, o Bispo D. Manuel Luís Coelho e Silva, Bispo de Coimbra, a cuja diocese pertencíamos,  envia-o para a Universidade de Estrasburgo para tirar o curso de Teologia e Direito Canónico, que termina em 1924. 
No ano seguinte defende a dissertação de Doutoramento La Doctrine de S. Augustin sur la Grâce d’après le traitè a Simplicien
Em 1934, assume a Reitoria da Capela da Universidade de Coimbra e em 1937 a regência das disciplinas de História e Filosofia Medieval e Moral da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 
A 23 de fevereiro de 1941, foi ordenado  Bispo pelo Cardeal Patriarca de Lisboa,  D. Manuel Gonçalves Cerejeira, assumindo, nesse mesmo ano, a Presidência da Junta Geral e Assistente Geral da Ação Católica Portuguesa. 
Inúmeras obras e dissertações de sua autoria revelam uma mestria e emoção profunda e valem-lhe a eleição para sócio correspondente da Academia de Ciências. 
A 14 de março de 1949 foi elevado a Arcebispo de Mitilene, até que em 20 de maio de 1955 foi nomeado Arcebispo de Évora. 
Foi condecorado a 30 de março de 1960 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e a 3 de agosto desse ano recebe a Medalha Naval Comemorativa da Morte do Infante D. Henrique. 
Ao longo da sua carreira não esqueceu a sua terra natal e, em particular, as pessoas ligadas às atividades marítimas, o que lhe valeu o epíteto de Bispo do Mar. Assim, deu a sua bênção a diversos navios bacalhoeiros na hora da partida para a  faina e foi  diretor dos Capelães Portugueses para os Marítimos. Além disso, inaugurou em 9 de dezembro de 1962 o Bairro dos Pescadores e o Centro Paroquial, duas das muitas obras que ajudou a construir na sua terra. 
Faleceu, em Ílhavo, a 20 de setembro de 1965, com 66 anos de idade.


NOTAS:

1. António Pinho, aluno do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré, no âmbito do projeto "Se esta rua fosse minha...", andou a pesquisar e relatou que o seu bisavô José Pata viveu nesta rua da Gafanha, numa casa típica da região revestida a azulejos inspirados na temática muçulmana. 
Além disso, descobriu que no local do atual Centro Comercial Caracas estava implantado o antigo cinema O Piolho [Cine Teatro Triunfo]. Esta rua foi também morada do senhor Dionísio, responsável pela transferência da Banda de Música de Ílhavo para a Gafanha da Nazaré, e que este lecionava música na sua casa.
Na Rua D. Manuel Trindade Salgueiro nasceu o jornalista Luís Miguel Loureiro e Tânia Ribas de Oliveira e sua família também são originárias desta rua. A avó da apresentadora da TV Tânia Ribas ainda têm uma loja de tecidos na rua D. Manuel Trindade Salgueiro.
2. Pesquisas e texto da responsabilidade do Centro de Documentação da Câmara de Ílhavo;
3. Na zona da Malhada, em Ílhavo, encontramos a Rua D. Manuel Trindade Salgueiro (Ata CMI n.º 11/1991, de 17 de Abril). Este topónimo surgiu por proposta do antigo Presidente da Câmara Dr. Amadeu Cachim, em 1965. Na Gafanha da Nazaré, além da Rua D. Manuel Trindade Salgueiro, encontramos o Beco homónimo (Ata CMI 1965-10-21, ratificado pela Ata da CMI n.º 1/2006, 5 de Maio );
4. Fotos da Rede Global.

O MEC faz falta, vê lá tu


É facto indesmentível que todos temos direito a férias. Em qualquer situação de vida, em tempo de trabalho ou de lazer... Que há lazeres que cansam que se farta! Pois o MEC (Miguel Esteves Cardoso), colunista diário do PÚBLICO, está um mês afastado do nosso convívio, com a sua arte de escrever, a sua cultura, o seu olhar arguto, a sua graça e sentido de humor refinados.
O MEC escreve sobre tudo e mais alguma coisa, ao correr da pena (teclado), com a naturalidade que é privilégio de poucos. Realmente, eu, que o leio desde a primeira hora, sem bocejar, sou dos que podem dizer a qualquer amigo, com toda a franqueza: "até tenho saudades do MEC, vê lá tu". 

SER PROFESSOR

Para não cair no esquecimento

Dia Mundial do Professor - 5 de Outubro



SER PROFESSOR

Ser professor é ser artista,
malabarista,
pintor, escultor, doutor,
musicólogo, psicólogo...
É ser mãe, pai, irmã e avó,
é ser palhaço, estilhaço,
É ser ciência, paciência...
É ser informação,
é ser acção.
É ser bússola, é ser farol.
É ser luz, é ser sol.
Incompreendido?... Muito.
Defendido? Nunca.
O seu filho passou?...
Claro, é um génio.
Não passou?
O professor não ensinou.
Ser professor...
É um vício ou vocação?
É outra coisa...
É ter nas mãos o mundo de
AMANHÃ

AMANHÃ
os alunos vão-se...
e ele, o mestre, de mãos vazias,
fica com o coração partido.
Recebe novas turmas,
novos olhinhos ávidos de
Cultura
e ele, o professor,
vai despejando
com toda a ternura,
o saber, a Orientação
nas cabecinhas novas que
amanhã
luzirão no firmamento da
Pátria.
Fica a saudade...
a Amizade.
O pagamento real?
Só na eternidade.”

(poeta desconhecido)

Nota: Ontem, dia 5, não consegui tempo para escrever algo sobre o Dia Mundial do Professor, efeméride que prezo, como devem calcular. Faço-o hoje, na certeza de que, para mim e para muitos, o Dia do Professor é todos os dias, pelos nossos filhos, netos e bisnetos... 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

REPÚBLICA - 5 de outubro de 2020

Presidente da República na Câmara Municipal de Lisboa 


“O 5 de Outubro veio também lembrar que a soberania popular é a fonte da legitimidade dos que mandam e que não há egoísmos particulares que construam uma república, cimentem uma democracia, que dêem força a uma liberdade, que façam viver uma pátria”.

Marcelo Rebelo de Sousa, 
Presidente da República

domingo, 4 de outubro de 2020

Princesa Joana e o trigo para Aveiro

1487 – Outubro, 4 


A Princesa Joana escreveu uma carta aos juízes, vereadores, procurador e homens bons do Porto, pedindo-lhes que levantassem o embargo ao navio «Cadramoz», carregado de trigo, para poder regressar a Aveiro, pois arribara à foz do Douro apenas por causa do mau tempo (Gabinete de História da Cidade do Porto, Livro Antigo de Cartas e Provisões de D. Afonso V e D. João II, fl. 94) – J. 

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

«FRATELLI TUTTI» - Nova Encíclica do Papa



SOBRE A FRATERNIDADE E A AMIZADE SOCIAL 

A nova encíclica do Papa Francisco — «FRATELLI TUTTI» — sobre a fraternidade e a amizade social vem acordar-nos para a necessidade de repensarmos os estilos participação social que temos levado, propondo ao mundo “uma forma de vida com sabor a Evangelho”, ao jeito de São Francisco de Assis”. Logo a abrir, lança o convite a um amor que ultrapasse as barreiras da geografia e do espaço, recordando que se inspirou no santo de Assis para apelar à fraternidade e à amizade social, que estiveram sempre nas suas preocupações. 
“As páginas seguintes não pretendem resumir a doutrina sobre o amor fraterno, mas detêm-se na sua dimensão universal, na sua abertura a todos. Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras. Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade.” 
O Papa sublinha que a história dá sinais de regressão, reacendendo-se “conflitos anacrónicos que se consideravam superados”, ressurgindo “nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos” em vários países, ao mesmo tempo que aparecem “novas formas de egoísmo e de perda de sentido social mascarado por uma suposta defesa dos interesses nacionais”. 
“O bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia. Não é possível contentar-se com o que já se obteve no passado nem instalar-se a gozá-lo como se esta situação nos levasse a ignorar que muitos dos nossos irmãos ainda sofrem situações de injustiça que nos interpelam a todos», refere o Papa Francisco.

Ler a encíclica aqui 

POSTAL ILUSTRADO: Forte da Barra

De uma passagem pela nossa praia em dia luminoso 


De passagem pela Praia da Barra, os meus olhos fixaram ao longe o Forte da Barra. Dois expressivos recantos da Gafanha da Nazaré de que nos orgulhamos. E do longe se fez perto para os unir. Indiferentes a isso, mas atentos à sua paixão, os pescadores continuaram na sua faina, mesmo ao pé de mim. Boa semana para todos.

Ao lado dos pobres

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

Papa Francisco e Frei Gustavo Gutiérrez

«As relações conflituosas entre o Vaticano e a Teologia da Libertação, nas suas diversas expressões, são conhecidas, estão documentadas e publicitadas. Agora, essa teologia tem em Roma o seu foco mais vivo e provocador: o próprio Papa Francisco, libertário e libertador a muitos títulos e de muitos modos.»

1. Fui várias vezes interpelado por alguns leitores sobre a falta, nas minhas crónicas mais recentes, de alusões à Teologia da Libertação (TL) sobre a qual, no passado, neste jornal e noutras publicações, me tinha ocupado com alguma insistência. A leitura de uma curiosa obra, com o título desta crónica, ajudou-me a perceber as deslocações da minha reflexão por fidelidade ao método de me deixar interrogar sempre por novos sinais do tempo.
Depois de ter dirigido os Cadernos de Estudos Africanos – expressão do meu ciclo africano durante a guerra civil em Moçambique e Angola – passei a trabalhar na América Latina, a começar pelo Peru, aterrorizado, então, pela guerrilha do Sendero Luminoso. As primeiras crónicas da minha colaboração no PÚBLICO, há 28 anos, testemunham esse multifacetado ciclo ameríndio [1]. Perguntam-me também se considero a TL ultrapassada e sem significação para o mundo actual. Será que os pobres, como sujeitos sociais, marca dessa teologia, perderam o protagonismo que então lhes foi atribuído?
De facto, preocupei-me mais com a libertação da Teologia do que com a Teologia da Libertação que não precisava de ser justificada. Triste era a teologia da opressão ou, mais precisamente, a conivente com os autoritarismos eclesiásticos, políticos e militares.

sábado, 3 de outubro de 2020

Aveiro - Três imagens

Publiquei há anos

Salineira
Arte Nova
Igreja de Jesus 
 

A barrilha e a Vista Alegre


Um dia destes estava distraído a pensar nem sei o quê. De repente, os meus olhos pousaram na lombada de um livro de José Hermano Saraiva — Itinerário Português – o Tempo e a Alma —, que havia lido há bastante tempo. Dele guardara uma ou outra referência à nossa região. E abri a página 134, onde pontificava um título que nos diz muito: Vista Alegre — Homenagem à porcelana.
A dado passo diz assim:
«A localização da fábrica na região de Aveiro não foi mero acaso. Aveiro tinha tradição cerâmica; nos barreiros da ria tinham aparecido vestígios de caulino; na Gafanha criava-se uma erva, a barrilha, que, calcinada, era usada no fabrico de vidros e cristais.»
Confesso que nunca ouvira falar de tal erva. Mas se ele diz…
Fui ao dicionário e lá estava: 
«Barrilha (botânica), designação comum a plantas do género Salsola e Halogeton, da subfamília das quenopodiáceas, cujas cinzas são especialmente ricas em carbonato de sódio»

A flor ou fruto dessa planta, suponho, trouxe-me à ideia os chuchus ou coisa parecida, os quais segregavam um líquido que gostávamos de saborear... Seria a tal barrilha?
Os botânicos que nos expliquem, por favor.

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NOTA: Há quatro anos publiquei este texto no meu Galafanha. Ao meu pedido ninguém me respondeu por escrito, embora me adiantassem informação sem consistência. Será que algum leitor me poderá elucidar? Fico a aguardar.

O tempo é um luxo



"Quanto mais precisas para viver, mais tens de trabalhar e menos tempo tens para ti. O maior dos luxos é o tempo. O tempo é o meu maior património."

Miguel Esteves Cardoso , 
Revista Sábado, 2008

ARES DE OUTONO - Árvore triste

Puro Outono junto da Vista Alegre


Entro na sala…
Se a turba se cala
Olho em frente….
Não fico indiferente
A árvore triste
Vai-se despindo…
O Outono persiste
E vai colorindo
De nova roupagem
A paisagem!
Tanta beleza
É com certeza
A despedida
Muito sentida
Da natureza!

M.ª Donzília Almeida

22.10.09

Contra o racismo, o idadismo e a eutanásia

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

Pietà de Miguel Ângelo

1. Agora, a seguir ao almoço e ao jantar, vou dar a minha volta junto ao mar, caminhando num passadiço de quilómetros na areia. Dali, contemplo o mar, sempre o mesmo e sempre novo, uma das mais belas imagens do infinito, e o Sol a incidir sobre ele ou a pôr-se (para onde irá ele?) e aquele esplendor de beleza em movimento que deslumbra (quem é que pinta lá no horizonte aquelas cores e figuras que nenhum pintor sabe pintar?). Encontro gente e medito e até organizo os textos que aqui publico e outros... 
Mas, quando estava em Roma a estudar, a seguir ao almoço, ia à Basílica de São Pedro. Para parar e contemplar a Pietà de Miguel Ângelo. Está ali, e nunca se esgota, porque a beleza nunca acaba, pois é outro nome do divino, a compaixão toda do mundo. Não é em vão que se chama a Pietà, a Piedade. Naquela mãe, Maria, com o Filho Jesus morto nos braços, ele que foi vítima de um assassinato político-religioso, a gente vê a ternura toda, as lágrimas todas, de todos, e fica imóvel e mudo, enternecendo-se também, e é outro. 
Veio-me à mente esse tempo, porque há dias a Pontifícia Academia para a Vida postou no Twitter uma fotomontagem da escultura de Miguel Ângelo com um Cristo negro no regaço de Maria. Choveram as reacções, contraditórias: uns elogiaram o gesto, numa mensagem forte contra o racismo; outros indignaram-se com a “blasfémia”: “O que querem com isto? Onde está o nosso Jesus?” Que não se deve tocar em Miguel Ângelo: não há um “Jesus negro” nem “um Jesus branco”, “Cristo é um só”. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Sustentar um blogue...






Alimentar e sustentar um blogue não é tarefa fácil. Exige atualidade, seleção e trabalho, para além de outras preocupações. Ontem, por exemplo, havia sete temas interessantes, segundo o calendário online que consultei: Dia Mundial da Música, Dia Internacional do Idoso, Dia Europeu das Fundações e Doadores, Dia Mundial do Vegetarianismo, Dia do Leitor de CD, Dia Nacional da Água e Início do Ano Hidrológico. Seria muito difícil escrever sobre todos os temas, pelo que optei apenas por dois. Gostaria de me debruçar sobre o Dia Mundial da Música, mas ficará para outra altura. 
Contudo, permitam-me lembrar que a música é a rainha das artes. Todos nós estamos envolvidos pela música: o tiquetaque do relógio, a trovoada, o caminhar na rua, o vento que zune, a chuva que cai e tantos outros sons que nos enchem os ouvidos, uns agradáveis e outros nem por isso. E a propósito, diz George Steiner, numa entrevista à revista LER: «Já a música é-me absolutamente indispensável. Sem música poria termo à vida de imediato. A música é para mim, agora, o mysterium tremendum. O que é a música afinal? Por que razão causa determinada reacção numa pessoa, e noutra algo completamente diferente? Não fazemos ideia de como funciona a música dentro de nós. Se passar por uma janela aberta, e lá dentro estiver alguém a tocar piano, a melodia que ouviu não o abandonará jamais.»

Blogue da Semana - Linguagista

Os amantes da Língua Portuguesa e os curiosos só têm a ganhar se consultarem o blogue de Helder Guégués que selecionei para Blogue da Semana. Chama-se Linguagista e mora na coluna da direita. Diariamente, cata da imprensa vocábulos novos que não constam dos dicionários. Vejam. Estamos sempre a aprender.

Cuidar da Vinha do Senhor. É a nossa vez!

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXVII


Finalmente, nossa! – declaram, alegres e triunfantes, os vinhateiros homicidas na parábola narrada por Jesus. Mt 21, 33-43. A herança, que tanto ansiámos e tanto trabalho nos deu, é nossa. Valeu a pena. Tudo ultrapassámos. Estão neutralizados ou liquidados os enviados do dono para receberem a colheita. Acabámos de dar a morte ao próprio filho. Conseguimos a vinha, apesar de ficarmos com as mãos cheias de sangue. Afirmámos a nossa determinação e rasgámos o contrato. Ouvimos palavras duras, mas escutámos a razão emotiva que clamava pela posse da terra e dos seus produtos. Finalmente livres de quem se aproveita do nosso trabalho! 
“Esta parábola, afirma Castillo, teólogo espanhol, é seguramente a mais dura e directa que ficou recolhida nos evangelhos, como denúncia contra os dirigentes religiosos do judaísmo”. 
O dono da vinha, cheio de paciência, dá-lhes tempo para serem razoáveis. Aumenta, não apenas o número de enviados, mas a sua representatividade. O filho, herdeiro por natureza e por lei, entra em acção. Tudo em vão. Resolve, então, enfrentar os arrendatários usurpadores. E aplica-lhes uma sentença “sem piedade”, cruel. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A água potável começa a rarear



Dia Nacional da Água

Celebra-se hoje, 1 de Outubro, o Dia Nacional da Água, bem precioso que urge preservar e poupar. Como assim? — perguntarão, entre nós, os menos dados à reflexão, que nunca sentiram o que é não ter água para o consumo diário. Saberão, porventura, por reportagens que chegam de muitos cantos do globo, que grupos de pessoas se deslocam com cântaros à cabeça para os encherem de água em princípio potável, longe das suas habitações, imensas vezes paupérrimas. Por cá, chega-nos canalizada a casa. Basta abrir a torneira e temos para beber, cozinhar, lavar e deixar correr para os canais de esgotos com a maior displicência, sem qualquer preocupação de evitar o excesso de consumo.
A verdade, dita por estudiosos e poupados, é que muita se perde, mas toda tem de ser paga no fim de cada mês. Eu sou do tempo em que se tirava água de um poço aberto no quintal. Depois vieram as bombas, mais tarde os motores e nunca nos faltou o precioso líquido. Para os mais exigentes, os gafanhões, homens e mulheres, iam à fonte  nas dunas da mata da Gafanha. Abria-se uma cova e a água surgia a uns palmos, límpida, cristalina, porque, por perto, não havia culturas, nem currais de animais, nem nitreiras, nem lixos. Também por lá se lavava a roupa que se punha a corar ao sol sobre a areia branca. 
Com a evolução dos tempos — concentração de pessoas, crescimento do comércio e indústrias, desperdícios, consumos desregrados, motores a poluírem o ambiente e descuidos de todo o tipo — o ar fica irrespirável e a água potável começa a rarear por todo o mundo. Temos mesmo de estar mais atentos ao que fazemos ou não fazemos em prol do futuro da humanidade.

F. M. 

OS IDOSOS SÃO LIVROS ABERTOS

Dia Internacional do Idoso


É por demais sabido que os idosos são cada vez mais. Os avanços da medicina e da cirurgia, mais a qualidade de vida em crescendo, contribuem grandemente para que a esperança de vida cresça década após década. Contudo, é imperioso olhar para os homens e mulheres de idade avançada com redobrada atenção para que não caiam no desânimo nem se sintam abandonados pela sociedade. 
Os velhos não precisam de compaixão, mas de respeito, ou não fossem eles livros abertos e depositários de saberes acumulados, de experiências feitos, que serão riqueza para os mais novos se forem devidamente aproveitados. 
Eu sou um idoso e vivo feliz por isso. Todavia, sei que muitos da minha idade vivem tristes, esquecidos nos seus cantos, sem amor e sem familiares ou amigos com quem conversar, sem ocupações compatíveis com as suas capacidades e necessidades, sem paz e sem amor, desanimados e sem cuidados compatíveis com as suas carência. 
O Dia Internacional do Idoso pretende que, a nível global, se olhe com atenção para os mais velhos. E se ao menos neste dia pudermos dirigir um pensamento positivo, um olhar de ternura, uma palavra de carinho, um gesto de simpatia, um sorriso franco e uma saudação amiga aos idosos com quem nos cruzamos já estamos a dar um passo significativo no âmbito desta celebração.  Excelente dia para todos, são os meus votos.

Fernando Martins

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

SERRAZES


 Parque de campismo de Serrazes depois dos fogos florestais. Após a morte,  a ressurreição há de surgir. Assim espero.

Evocando Cecília Sacramento

Pela Positiva - Há 15 anos 

Cecília Sacramento,
professora e escritora de muito mérito,
continuará com os seus admiradores e amigos

Na segunda-feira, pouco antes das quatro da tarde, amigos e familiares deram-me a triste notícia, via telemóvel, do falecimento e funeral da Dra. Cecília Sacramento, professora e escritora a quem tantos devem muito. 
Conhecida e respeitada por todos os que com ela privaram de perto, alunos, professores, intelectuais, políticos e gente anónima, Cecília Sacramento cativava pelo seu porte sóbrio, mas elegante, pelo trato afável que aproximava as pessoas, pelo sorriso sereno, pela cultura que possuía e pela capacidade de diálogo, aberta a todos, independentemente das posições políticas, sociais e religiosas de cada um. 
Pessoalmente, jamais esquecerei esta minha professora de Português que incutiu no meu espírito, com que arte e paciência!, na meninice e na juventude, o gosto pelos livros, pela leitura e pela escrita. Ficará para sempre comigo a sua palavra doce, o seu sorriso que reflectia tranquilidade, a atenção que dispensava a todos e a forma como sabia ouvir, mas ainda a sua cultura superior e em especial a sua bondade. 
A Dra. Cecília Sacramento, que personificava a delicadeza em todas as circunstâncias, também foi uma mulher sofredora, mas nunca nas aulas mostrou abertamente o que lhe ia na alma, quando seu marido (o médico, escritor e político Mário Sacramento) era perseguido e preso pela PIDE. Apenas um semblante mais tenso, que denotava a tristeza que de todo não conseguia esconder dos alunos, revelava o drama tantas vezes sentido e calado. 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

RECORTES: António Alçada Baptista


«CAPÍTULO PRIMEIRO — De como o Autor diz por que escreve e de que não vem dizer nada de novo a demais do que lhe disse a sua própria vida e de como, por isso, se fala em angústias não resolvidas pela farmacopeia e em depressões resolvidas pela farmacopeia, em casos que a ele, Autor, aconteceram e a outros de que teve notícia, donde, a propósito, parte para a imigração religiosa e começa assim a história duma relação que teve e está tendo com aquilo a que chamou Deus por não encontrar nome melhor.» 

Do livro “Peregrinação Interior – VOL. I – Reflexões sobre Deus”

Outoniço


(Foto do meu arquivo)

«Outoniço»


Acordo hoje,
Nesta manhã que sendo linda
A mim, doente me parece.
Como as folhas das árvores que o Outono
empalidece.]
Olho o céu que se mostra, aqui, pequeno,
Sem lonjuras onde pouse o meu olhar
Além!
Estou triste, a olhar a minha gente deprimida
E eu, outoniço também.

Senos da Fonseca

Em Maresias, página 277

domingo, 27 de setembro de 2020

POSTAL ILUSTRADO - Guarita

Réplica da antiga Guarita


 

António Barreto - Inventário

Da crónica de António Barreto 
no PÚBLICO

Que pensa quem olha para este inventário? 

Chegámos a um cume nunca antes atingido! 
E ainda não vimos tudo. Um primeiro-ministro, um punhado de ministros, diversos secretários de Estado, vários directores-gerais, numerosos membros de gabinetes, múltiplos gestores, muitos banqueiros, directores bancários sem fim, juízes, procuradores, presidentes da Relação, desembargadores, advogados, professores de Direito, deputados, presidentes de câmara, vereadores, dirigentes de partidos nacionais e locais, chefes da polícia e oficiais das Forças Armadas: há de tudo entre notoriamente suspeitos, investigados, sob inquérito, em curso de instrução, arguidos, à espera de julgamento, condenados, à espera de recurso, a cumprir pena, presos e em detenção domiciliária! O elenco dos suspeitos de corrupção é uma lista de celebridades. 
Não há paralelo na história do país. E parece haver poucos casos semelhantes, se é que existe algum, na história recente da Europa… 

Deus onde está?

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO


Cristo não sacralizou a pobreza. Ao centrar o seu olhar e os seus cuidados 
nos marginalizados, abriu o caminho aos seus discípulos:
 fazei tudo para eliminar as periferias.

1. De Fátima a Meca ou a Jerusalém, o desconsolo é evidente em quem deseja e não consegue participar nas grandes celebrações da fé a que se estava habituado. As assembleias reduzidas, com observância rigorosa do novo ritual que impõe distâncias, uso obrigatório de máscara e um ritmo marcado de purificações das mãos, acentuam um clima de desconfiança mútua num cenário de catacumba.
Não é por causa de qualquer medida contra a liberdade religiosa, mas para defesa das ameaças de um vírus que não pergunta aos seus hóspedes se são crentes, agnósticos ou ateus.
A ciência tem-se mostrado muito lenta, como é normal, a encontrar remédios para o vencer e não surgem milagres disponíveis para a substituir. A oração intensa – nas suas inumeráveis formas – pode ajudar-nos a criar em nós um espírito de resistência e de esperança. Precisamos de abrir os olhos para todas as possibilidades de trabalhar por um mundo, onde a busca da justiça, banhada de sabedoria política dos cidadãos, se torne o nosso pão de cada dia. 

sábado, 26 de setembro de 2020

Prémio para o Expresso


«A Igreja Católica em Portugal atribuiu ontem o Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão à reportagem sobre o ‘adeus dos monges da Cartuxa’, do jornal do Expresso.
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais destacou o “excelente trabalho” escolhido pelo júri, que “interliga o que é um comunicador, o que é uma peça jornalista, perante um espaço que é tão querido como a Cartuxa”.
“Com tudo o que a Cartuxa nos pode revelar, a partir da espiritualidade, do silêncio, do que foi uma história que teve agora uma pausa, que vai continuar com uma nova comunidade”, acrescentou D. João Lavrador, bispo de Angra.
Na cerimónia de entrega do Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão que se realizou no final das Jornadas Nacionais de Comunicações Social 2020, o presidente do organismo da Igreja Católica em Portugal salientou ainda que “é um encanto muito grande” poder contar com estes contributos e, sobretudo, “em áreas tão específicas do que é a cultura íntima e profunda da espiritualidade de um povo como é o povo português que se vê também nestes espaços”.
O trabalho que abordou a saída dos monges Cartuxos de Portugal, em outubro de 2019, tem texto de Christiana Martins, fotografia de António Pedro Ferreira e vídeo e edição de José Cedovim Pinto.»

Fonte: Ecclesia 

Homem Corajoso

"Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista por cima do medo."

Nelson Mandela 
(1918-2013) 
Nobel da Paz 

Escrito na Pedra 
do PÙBLICO de hoje

OS PRAZERES DA COMIDA E DO SEXO: “DIVINOS”

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Papa e Carlo Petrini


1. Quando se fala da Igreja e do sexo, entra-se numa história muito complexa e pouco edificante. 
Significativamente, não é com a Bíblia que há dificuldades. De facto, no Antigo Testamento, lê-se, logo no primeiro livro, o Génesis, que Deus criou também a sexualidade e viu que era boa. Do mesmo Antigo Testamento faz parte um dos livros mais belos a cantar o amor erótico: o Cântico dos Cânticos. 
Já no Novo Testamento, Jesus raramente se referiu ao sexo, aliás nunca por iniciativa própria, mas para responder a perguntas que lhe foram feitas a propósito do divórcio e para defender a mulher. 

2. Factor decisivo para o envenenamento da relação foi a gnose, a primeira grande heresia com que o cristianismo teve de confrontar-se e que, desgraçadamente, não terminou. Segundo a gnose ou gnosticismo, a salvação não se alcança pela fé, mas pelo conhecimento, que é secreto e, em última análise, acessível apenas aos iniciados. Elemento essencial desta doutrina é que o Deus do Antigo Testamento, que é o criador do mundo, não é o mesmo que o Pai de Jesus Cristo. Este mundo, que é o mundo material, procede de uma queda e é mau. Os membros desta heresia insistiam concretamente, na continuação do platonismo, num dualismo radical de alma e corpo, matéria e espírito, sendo o corpo apenas uma espécie de “contentor” da alma: necessário, mas sempre inferior e indesejável. 

Na varanda das memórias

Fotografia de José Manuel Rodrigues em "Jardins de Cristal" da Câmara Municipal do Porto


NA VARANDA DAS MEMÓRIAS

O teu rosto na varanda das memórias
é feito de sol.

Sento-me no banco velho do jardim,
e há palavras novas que se vêm
sentar no meu regaço.

Um pássaro cansado de céu
pousa no muro do outono,
e os meus olhos voam até ao sul,
agitados e brilhantes, no sol
do teu sorriso.

Era o tempo das cerejas,
e a idade dos rios correndo
na euforia das tardes,
até ao mar das palavras quentes.

Elas diziam tanto…
nada dizendo, afinal.

Mas isso que era nada e era tudo
bastava para o pôr-do-sol ser
o horizonte dos teus olhos nos meus.
E as cerejas eram sempre rubras,
tão doces, tão maduras na idade.

A cerejeira já não existe,
mas eu permaneço na varanda.

Sentada no sossego das lembranças,
afago o sol no meu regaço,
o sorriso do teu rosto.

Turíbia

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Rio do Silêncio

Pela Positiva há 10 anos


«Somente quando tiverdes bebido do rio do silêncio é que verdadeiramente cantareis. E quando tiverdes chegado ao cume da montanha é que começareis a escalada. E quando a terra reclamar os vossos membros, então dançareis.»

Khalil Gibran

Em “O Profeta”

Dr. José Rito

Figuras da nossa terra

José Rito nasceu a 19 de março de 1894, na Gafanha da Nazaré, filho de José Francisco Novo e de Custódia de Jesus. Licenciou-se em Medicina e especializou-se em Cirurgia na Universidade de Coimbra, a 30 de outubro de 1918, sendo o primeiro habitante da Gafanha a possuir este tipo de formação. 
Casou com D. Esperança Maria de Azevedo. Deste enlace nasceram dois filhos: Maria Henriqueta (20 janeiro 1932) e Frederico Elísio (13 de maio de 1935). 
Foi Delegado de Saúde de Ílhavo, tendo estabelecido o seu primeiro consultório, alugado, na Rua Arcebispo Pereira Bilhano. Em outubro de 1924, terminou a construção da sua casa na Rua José Estêvão (hoje pertença do CASCI), tendo mudado o seu consultório para esta morada. 
Mais tarde, a família mudou-se para o Solar dos Maias, na Rua de Alqueidão, propriedade que ainda hoje se mantém na família. 
São diversos os relatos que descrevem José Rito como uma pessoa muito preocupada com a comunidade onde se inseria, prestando cuidados às pessoas mais necessitadas de forma gratuita, chegando mesmo a custear-lhes os medicamentos. Aliás, a estima que os ilhavenses nutriam ao seu médico era tal que, a 11 de novembro de 1944, O Ilhavense, para responder às muitas solicitações que vinha recebendo, publicou que o Dr. José Rito se encontrava a aguardar uma intervenção cirúrgica numa casa de saúde de Coimbra, mas que se encontrava fora de perigo. 
Na sua lista de pacientes incluía-se D. Maria Henriqueta da Maia Alcoforado Cerveira, a quem prestou cuidados devido a uma grave depressão que a senhora enfrentou após a morte do marido, António Frederico Morais Cerveira. 
Faleceu a 11 de março de 1946, após doença prolongada. O funeral foi realizado no dia 13 de março, ficando sepultado no cemitério local. 

Notas:

1. Trabalho do Centro de Documentação de Ílhavo, integrado no projeto "Se esta rua fosse minha" 
2. O Dr. José Rito encontra-se representado na toponímia ilhavense, na Gafanha da Encarnação e na Gafanha da Nazaré. Na primeira, o topónimo foi criado em a 03/04/1996 (ata da CMI n.º 11/1996), após proposta da Junta e Assembleia de Freguesia da Gafanha da Encarnação e do Vereador João José Resende Bio. Na segunda, a primeira referência ao topónimo é de 1984 no Plano Geral de Urbanização das Gafanhas.

Curvas

Sugestão para passeio


Curva e contracurva no Caramulo. Nos horizontes que mudam minuto a minuto há necessariamente paisagens raras para quem vive na planície. Eu gosto enquanto penso nos que residem em aldeias isoladas, se calhar sonhando com outros ares. Bom fim de semana que já está a chegar.

Que vos parece? Pergunta Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o XXVI Domingo do Tempo Comum


As autoridades andam preocupadas e dão sinais visíveis de animosidade. E não era para menos. No templo, coração da religião e centro principal da economia, o Nazareno desafiava tudo e todos: expulsa os comerciantes, derruba as mesas dos cambistas e parte as cadeiras dos vendedores de pombas; acaba com o negócio explorador, denuncia a atitude dos que fazem do templo um covil de ladrões e realiza gestos de cura a cegos e a aleijados, gente marginalizada pela classe dirigente. Cita, em jeito de justificação, a Escritura: “A Minha casa será chamada casa de oração”.Mt 21, 28-32. 
Perante tal atitude, os responsáveis do templo aproximam-se de Jesus e pedem explicações, fazem-lhe a pergunta chave: Para procederes desse modo, que autoridade tens e donde te vem? A questão é séria. Está em causa a legitimidade, a honra e a honestidade, que são a base da sociedade de então. A autoridade consiste na capacidade de influir nos comportamentos dos outros e pode provir do nascimento e da posição social alcançada. O seu exercício era credível se o falar e o agir em público estivessem proporcionados ao estatuto social. Se não, era necessária outra forma de legitimação válida. De contrário, surgia a acusação de a pessoa estar inspirada pelo demónio. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Flores

Pela Positiva há 14 anos



Com a chuva que aí está, mais o vento, ora brando ora bravo, teremos de nos habituar a uma vida mais triste? Penso que não.
Há flores que murcham e caem, mas outras, mais dadas ao frio, hão-de resistir. Que a vida, como é habitual, precisa da alegria e da beleza que as flores nos dão.
Mas se elas se forem com o vento, que ao menos saibamos alimentar o prazer da espera pelo seu regresso. E até lá, aprendamos a cultivar outras flores, daquelas que nos enchem a alma com as suas cores e aromas: a amizade, a partilha da nossa alegria, o bem que podemos fazer a quem nos cerca, a aposta na construção de um mundo melhor.

F. M.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O nosso prior - presbítero há 41 anos

Padre César celebra hoje, 23 de Setembro, o 41.º aniversário da sua ordenação presbiteral. Nascido a 24 de Agosto de 1952, na freguesia de Calvão, Vagos, frequentou o seminário local e posteriormente o de Santa Joana, em Aveiro, onde permaneceu até 1971. Frequentou depois o Instituto Superior de Estudos Teológicos em Lisboa e o Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto. 
Conhecemos o Padre César há bons anos e dele sabemos que tem no seu currículo uma vida cheia ao serviço de Deus e dos homens e mulheres do seu e nosso tempo. Como sacerdote passou por uma experiência enriquecedora ao serviço das Tropas Paraquedistas,  onde foi capelão-militar, na guerra e nos quartéis, dando exemplo de coragem e dedicação, tendo sido condecorado. Importa, no entanto, falar dele entre nós, como coadjutor e depois como pároco da comunidade de Nossa Senhora da Nazaré. Sacerdote próximo e compreensivo, atento e dedicado, entusiasta e fraternal. 
Permitam-me que evoque o que nos disse no dia em que assumiu a paroquialidade da nossa terra, 16 de Agosto de 2015. Prometeu ele que iria seguir «as orientações dos sacerdotes» que o antecederam, na linha de obediência ao que o Senhor da Messe nos pede: «Que sejamos seus instrumentos na evangelização deste povo que tem nas suas raízes famílias profundamente cristãs,  sem excluir ninguém, porque pretendemos ser uma Igreja inclusiva.» 
E como desafios pastorais, o Padre César adiantou que, como as crianças, queremos ser pequeninos e humildes, dependentes só de Deus; com os adolescentes e jovens, queremos compreender as suas rebeldias e desafiá-los à generosidade; com as famílias, queremos ajudá-las a viver o amor generoso; com os idosos, já no outono da vida, e com os doentes, queremos ser próximos para lhes dar uma palavra de esperança; e com as autoridades autárquicas e as associações queremos usar sempre de uma colaboração franca e leal, porque o objetivo da Igreja também é o bem do ser humano no seu todo. E acrescentou: Confiantes na nossa Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, que nos acolhe sob o seu manto protetor até chegarmos a porto seguro nesta travessia do mar da vida, sentimos que a proteção da Mãe de Deus nunca faltará. 
Com o meu abraço amigo e a promessa da minha colaboração, apesar das minhas fragilidades, aqui ficam os votos das maiores bênçãos de Deus.  

Fernando Martins 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Outono chegou de castanho

"Floresta" de Gustav Klint, pintor simbolista austríaco, (1862-1918) 
 

OUTONO chegou vestido de castanho e a tiritar de frio com  chuviscos a prenunciarem o que nos espera. Que seja bem-vindo neste meu entardecer da vida ainda carregada de sonhos. De olhos bem abertos e ouvidos à escuta, hei de ter ocasião para deste tempo outonal contar histórias e segredar desabafos misturados pela beleza das artes.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

RETALHOS: Raul Brandão

Pequenas notas 

Pôr do sol (Foto de Ângelo Ribau)

PORES DO SOL 

"Se eu fosse pintor passava a minha vida a pintar o pôr do sol à beira-mar. Fazia cem telas, todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espetáculo extraordinário.
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos, quando as nuvens tomam todo o horizonte com um ar de ameaça, e outros doirados e verdes, com o crescente fino da Lua no alto e do lado oposto a montanha enegrecida e compacta. Tardes violetas, neste ar tão carregado de salitre que torna a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os alicerces dos velhos fortes abandonados ...
Um poente desgrenhado, com nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do norte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas – e não quer morrer... " 

Raul Brandão,
em " Os Pescadores" 

Página 47 da edição Grandes Clássicos da Literatura Universal

domingo, 20 de setembro de 2020

Senhora dos Navegantes

Pela Positiva há cinco anos

Procissão pela Ria 

Procissão pela Ria 
foi manifestação de fé muito expressiva

(...)
A festa, que é enriquecida por uma procissão pela laguna aveirense, estende-se desde a Cale da Vila até à capelinha do Forte, passa por terras de S. Jacinto e Senhora das Areias, que também dedicam merecida ternura à Mãe de Deus e nossa Mãe, permitiu-me a feliz oportunidade de reencontrar muitas pessoas que não via há anos e de falar com outras tantas com quem me cruzo frequentemente. Deu para perceber que a estes festejos da Senhora dos Navegantes não vão apenas os que têm fé, porque há quem simplesmente goste da apreciar o colorido e a alegria de quem participa com os seus barcos e barquinhos na procissão, ao jeito de quem se sente bem ao lado de Nossa Senhora nesta viagem anual.
A Eucaristia, presidida pelo nosso Bispo, D. António Moiteiro, logo depois da procissão, contou com a participação de muitos crentes e a seguir houve música pela Filarmónica Gafanhense e Festival de Folclore. Os foguetes ouviram-se longe e percebeu-se que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré se esmerou na organização, em parceria com a paróquia e diversas entidades públicas e privadas.

Ler mais aqui 

A conversão do Papa Francisco

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Papa Francisco 

1. Para muitos dos baptizados em criança, só fica o seu registo paroquial. Em certos casos, a própria fé de quem apresentava a criança à comunidade cristã não era uma realidade vivida, pensada e celebrada. Era, por vezes, um gesto de memória familiar dissolvido numa festa de interesses, sem confronto e compromisso actuantes com a mensagem e a prática de Jesus Cristo. É talvez uma das fontes da expressão ambígua dos chamados “católicos não praticantes”. Não praticantes de quê? De certas práticas rituais ou das exigências concretas do Evangelho que se inscrevem na vida pessoal, familiar, social, cultural e política?
Note-se que os que foram apresentados, em criança, ao Baptismo por famílias de fé vivida e pensada, celebraram a gratuidade do amor de Deus que não espera que ela seja adulta para a inscrever no seu coração, seja baptizada ou não.
A celebração não é, de modo nenhum, um gesto humanamente absurdo. Os pais também não esperam que os seus filhos cresçam para gostar deles, para os rodear de manifestações de afecto e de todos os cuidados. O rito cristão do baptismo das crianças, em comunidades crentes, não é um abuso nem um acto de magia. Não é um destino imposto, mas um itinerário cristão a ser assumindo, de modo pessoal e livre, ao longo de toda a vida, mediante conversões que marcam cada uma das suas etapas. Mas que também pode ser esquecido ou até renegado.

sábado, 19 de setembro de 2020

Jogo de Damas


Abel Manta, Jogo de Damas, 1927, óleo sobre tela, 106 x 116 cm
 

Já lá vai, há muito, o tempo em que eu gostava de jogar damas cá por casa. Jamais fora dela porque nunca passei de um principiante.

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